Musica Articulata
Scientia
Objetivos
- Articulação de projetos Metas Cenários de
Articulação - Ações MusArtS
- Instituto Virtual MusArtS, FAPESP e o
IRCAM
Música,
Artes, Ciências e Tecnologia. A produção musical da
atualidade está pautada por uma forte conexão com diversas áreas
do saber. Essa conexão se dá de modo direto – como no uso
recorrente de tecnologias de produção e tratamento sonoro e,
recentemente, com novas técnicas de inteligência computacional com
intuito de desenvolver novos processos de organização sonora – e
indireto – como na forte relação da musicologia com disciplinas como
a semiótica, a filosofia, e as ciências cognitivas.
Ciência
e tecnologia
são dois aspectos que cada vez mais se mostram presentes em diversas
etapas da produção musical, bem como nas diferentes formas de
reflexão sobre essa linguagem. No último meio século, as tecnologias
eletro-eletrônicas e a informática têm se inserido de forma
irreversível no fazer musical, cujo desenvolvimento passou a
interagir com o desenvolvimento tecnológico e com o domínio de
conhecimentos em áreas como a acústica e a computação.
É
assim que a atual tecnologia empregada em música lida,
obrigatoriamente, com modelos e sistemas de tratamento e síntese
sonora, acústica de salas, acústica de instrumentos musicais,
criação e performance com suporte tecnológico (digital e analógico),
dispositivos de espacialização e imersão sonora em concerto, criação
de interfaces diversas daquelas tradicionalmente oferecidas pelos
instrumentos musicais (luteria), sistemas de informação para
análise, criação e aprendizado musical e sistemas de organização
sonora apoiados em técnicas de inteligência computacional como
Computação Evolutiva, Redes Neurais Artificiais e, eventualmente,
Robótica.
Por
outro lado, não é possível pensarmos questões de criação musical e
análise sem levarmos em conta também todos os aspectos cognitivos e
psico-acústicos que envolvem a escuta musical. Embora não se
trate de tornar a própria música uma ciência, é preciso reconhecer
que sua histórica proximidade com o saber científico assumiu uma
proporção enorme nas últimas décadas, integrando as atividades de
composição, interpretação ou análise, bem como a própria
experimentação da música com um enorme conjunto de conhecimentos
derivados de outras áreas.
Neste
caso, existe uma forte ligação entre o desenvolvimento recente das
assim chamadas Ciências Cognitivas que estudam relações entre
o cérebro, a ação, a mente e o corpo. Principalmente no que tange às
recentes teorias sobre emergência em sistemas complexos,
auto-organização e criatividade. Postula-se aqui a visão de que o
fazer musical está intimamente ligado às assim chamadas
tecnologias cognitivas e, desta forma, descortinam-se reflexões e
pesquisa recentes em Musicologia Cognitiva.
Nota-se,
então, a formação de uma extensa rede em que diversas
disciplinas podem se conectar tendo a música como elemento
catalisador. Áreas como a matemática, a física, a engenharia de
áudio, a computação e a arquitetura juntam-se a outros campos das
ciências humanas, tradicionalmente mais próximos do fazer artístico,
como a educação, a literatura, a filosofia e a psicologia, para
compor uma extensa trama que serve de suporte para a
música.
Some-se
a isso a própria integração da música com outras artes. Após
a consolidação da idéia de uma música autônoma a partir do século
XIX, o que se observa hoje é justamente um novo movimento de
integração entre as artes. E a tecnologia é, sem dúvida, um dos
fatores que tem promovido essa integração. Não se trata aqui de uma
música funcional, que simplesmente serve de apoio a outras
linguagens, como no caso da trilha sonora, ou na música de
ambientação (sonoplastia). Esse novo movimento gera uma situação em
que muitas vezes não se pode separar onde começa e acaba o
território de uma determinada linguagem dentro de uma mesma criação
artística. Esse espaço “multimidiático” acaba por fomentar relações
entre diversos conhecimentos, abrindo um amplo leque para novas
investigações. Vídeo, dança, iluminação, performance e poesia
unem-se a diversas manifestações sonoras para compor espetáculos que
realmente transcendem a especificidade de cada uma dessas
artes.
No
Brasil, essa integração entre campos diversos ainda sofre uma forte
resistência nos ambientes de pesquisa e formação musicais,
geralmente presos a esquemas relativamente tradicionais. As
pesquisas musicais realizadas no país raramente se aproximam dessas
questões e preferem se manter nos territórios clássicos da análise e
crítica musicais.
Similarmente,
no terreno do desenvolvimento de sistemas para a produção,
armazenamento, distribuição e reprodução musicais, existe no país um
quadro de enorme resistência a se produzir tecnologia musical,
basicamente corroborando uma histórica tendência à importação destas
tecnologias de tão elevado valor agregado, deixando freqüentemente o
cenário de P&D internacional tomar e manter a dianteira na
geração de novas tecnologias de codificadores, de gravadores, de
sistemas de espacialização, de novas mídias e novas linguagens de
representação, contribuindo palidamente com contribuições pontuais,
notadamente algumas de origem acadêmicas, mas que freqüentemente não
conseguem levantar interesse no meio industrial ("setores
produtivos") e parcerias para o desenvolvimento de real tecnologia
musical no Brasil, com vistas ao mercado, para suportar as novas
iniciativas e evoluções da engenharia de áudio e da música como
expressão artística e cultural.
Objetivos - Articulação de
Projetos
Este
programa está dirigido à articulação de projetos que proporcionem a
aproximação entre a criação musical e os âmbitos científico e
tecnológico. Serão privilegiadas as iniciativas visando uma
abordagem experimental de pesquisa musical em que o desenvolvimento
de pesquisas aplicadas e tecnologia possam ser integradas à produção
musical da atualidade.
Consideramos
importante articular e estimular justamente as pesquisas que vêm
ampliando este quadro de contato, voltando-se, sobretudo, para os
seguintes eixos fundamentais que permitem coordenar tais
áreas:
- a escuta (implicando
na acústica de salas, respectivo instrumental, e o estudo da
fenomenologia da escuta musical)
- a reflexão teórica
sobre a natureza cognitiva do fazer musical
- a criação com
suporte tecnológico
- a construção de
dispositivos tecnológicos para suportarem a produção e reprodução
de todo o material artístico e mídias envolvidas e associadas à
musica.
Articular
projetos temáticos que visem a pesquisas que relacionem música,
tecnologia e acústica sob três aspectos:
- acústica de
salas
- análise e síntese
musical (com auxílio de computador e/ou dispositivos
eletro-eletrônicos)
- interatividade
(composição e performance musicais que tenham o computador ou
outros equipamentos empregados como instrumento interagindo em
tempo real)
O
programa se estabelece como importante base para a articulação
de iniciativas distintas de pesquisadores individuais e
centros de pesquisa que estejam atuando em projetos voltados
para a exploração e também para o desenvolvimento de recursos
tecnológicos e científicos aplicados à música. Desta forma, o
MusArtS busca integrar a produção em pesquisa musical e
ciências afins no estado de São Paulo, e formar um Centro de
Excelência que possa servir de referência na área. Essa
ação tornará também possível no futuro atrair a participação e a
colaboração de outros pesquisadores e instituições de outros estados
brasileiros ou do exterior.
Cenários de Articulação - Ações
As
articulações em vista envolvem ou abrangem diversas ações possíveis,
como por exemplo:
- Integração de
trabalhos realizados em centros de pesquisa alocados em
departamentos distintos, de diferentes universidades;
- Aproximação entre
pesquisadores que atualmente trabalham isolados;
- Contato com
pesquisadores visitantes (do exterior e outros centros de pesquisa
brasileiros)
- Promoção de
workshops e encontros científicos com pesquisadores provenientes
de instituições internacionais reconhecidas na área (p.ex.
realização das atividades do Forum IRCAM no Brasil);
- Realização de
encontros periódicos para mostra de trabalhos científicos
desenvolvidos – seja diretamente ligados a projeto (com apoio da
fapesp) seja indiretamente (projetos em desenvolvimento junto a
outras instituições fora do estado de São Paulo). Tais encontros
poderiam ser realizados na forma de colóquios e
tutoriais.
- Apresentação
periódica de trabalhos de criação, com ênfase nos trabalhos cuja
realização seja fruto direto ou indireto das pesquisas suportadas
por este programa
- Publicação das
pesquisas e divulgação de trabalhos em meio impresso e digital
- Registro das
produções artísticas (em CD, DVD ou vídeo) decorrentes dos
projetos suportados
- Estimulação das
parcerias entre os grupos de pesquisa e desenvolvimento com
eventuais parceiros industriais interessados nas novas
tecnologias, processos ou sistemas.
MusArtS - Instituto
Virtual
A
consolidação do MusArtS como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Música, Artes e Tecnologias suportado pela FAPESP se torna uma
realidade através da constituição deste sítio eletrônico na
Internet.
O
MusArtS é um instituto distribuído, descentralizado, cujos grupos,
projetos, espaços e infra-estruturas se conectam virtualmente sob um
mesmo signo, objetivos e sistemáticas.
Este
site também deverá ser num futuro próximo alvo de pesquisa
intrínseca, na medida em que a própria Internet será estudada como
nova mídia para divulgação, criação e performance musical. Para
tanto serão alvos de pesquisa a utilização de recentes tecnologias
de sistemas distribuídos e multiplataformas.
O programa
principal está previsto para cinco anos, prazo para que se possa
consolidar as pesquisas em música e tecnologias em curso nas
instituições participantes, de modo que aos resultados específicos
no campo da criação musical (fato que já ocorre atualmente)
corresponda uma produção técnica no domínio da produção de sistemas
e aplicativos com penetração no panorama internacional de
tecnologias e produção musicais.
Leia também:
MusArtS, FAPESP e o IRCAM (texto de José
Fernando Perez, diretor Científico da
FAPESP)
2004©MusArtS last
update 18JAN2005
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