MusArtS, FAPESP e o IRCAM


A beleza singela da praça Igor Stravinsky, junto ao Centro Pompidou, em Paris, conduz, naturalmente, o olhar para as lúdicas e sedutoras esculturas de Niki Saint Phalle. Com isso, pode-se até deixar de notar o belo edifício de esquina, onde está instalado o Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique, o IRCAM, criado, em 1969, por Pierre Boulez, um dos mais influentes músicos do século 20. Na frente do edifício, uma placa descreve de forma sintética e precisa a missão do instituto: a) desenvolver pesquisas sobre acústica musical e tecnologia; b) transferir conhecimento para diversos setores da indústria; c) promover atividades educacionais para especialistas e para o público em geral.
Desde então, o IRCAM tem sido referência internacional e fonte de inspiração para a organização da pesquisa nessa interface entre Música, Ciência e Tecnologia. Músicos e pesquisadores de todo o mundo fazem estágios para frequentar seus cursos, utilizar suas instalações e interagir com a excelência científica e musical do seu ambiente.
É fascinante observar a coincidência dessa missão com a definida pela FAPESP para os seus dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão, CEPIDS - um programa experimental que está testando um novo paradigma da organização da pesquisa. De fato, cada um desses centros deve: a) realizar pesquisas multidisciplinares em suas respectivas áreas de conhecimento; b) desenvolver estratégias eficazes de transferência do conhecimento gerado por meio de parcerias com empresas e com o governo; c) implementar projetos educacionais inovadores em todos os níveis - isto é, tanto para especialistas como para estudantes do ensino fundamental e médio.
Inspirada no modelo do IRCAM e na experiência da FAPESP com os CEPIDS nasceu a proposta do novo programa, Musica Articulata Scientia, MusArtS, o Instituto Virtual da Música e Tecnologia. O MusArtS deverá ser um programa da FAPESP dedicado à pesquisa sobre música e tecnologia, aberto à participação de todos os pesquisadores do Estado de São Paulo, com uma missão idêntica à do IRCAM, mas com uma estrutura virtual e descentralizada. Trata-se de utilizar a mesma estratégia bem-sucedida dos projetos Genoma e Biota - este estudando toda a biodiversidade do Estado - para o desenvolvimento de projetos de grande complexidade. Essa estratégia colaborativa, sem custos de infra-estrutura de prédios e de administração, é ideal para a nossa era dominada pela Internet.
O que torna viável um programa como o MusArtS é, sem dúvida, a qualidade dos pesquisadores que vêm trabalhando no Estado, muitos com o apoio da FAPESP, em projetos na interface Música-Tecnologia. Só o entusiasmo dessas lideranças e sua disposição para trabalhar de forma cooperativa poderá levar ao sucesso do empreendimento.
Finalmente, a FAPESP está orgulhosa dessa iniciativa lançada com a presença do IRCAM em São Paulo que, além de marcar o início dos trabalhos do MusArtS, se constitui em evento cultural de importância histórica. A Fundação também está feliz por ter propiciado uma inovadora parceria com o IRCAM, o Instituto Cultural Itaú, o Centro de Documentação Tecnológica (CenDoTec), o Consulado Francês em São Paulo, a Rádio Cultura FM e tantos outros que tornaram possível este evento*.

José Fernando Perez
Diretor Científico da FAPESP
agosto/2003

* escrito para a ocasião do Forum IRCAM_Brasil