ARTE & CIÊNCIA: BASES CONCEITUAIS PARA ARTE COMPUTACIONAL No decorrer da evolução, o conhecimento de experiências passadas, estampadas de algum modo no sistema nervoso humano somou-se às memórias das percepções prévias armazenadas durante a vida de cada indivíduo . Juntos, o conhecimento herdado, o conhecimento adquirido e a memória integram a capacidade de percepção e de reconhecimento da realidade de cada indivíduo. (ver (ROCK87) e (CAMP93)) Os neuro-fisiologistas denominam os tipos de respostas que os indivíduos apresentam, numa situação peculiar, de padrões "geneticamente programados" e de "programação aprendida", sendo o fator genético "o responsável pela infraestrutura neural capaz de produzir os novos padrões adquiridos" (ver (TIMO83), pg. 460)). Estes são denominados "padrões de respostas" e organizam-se em "modalidades cognitivas que exprimem a composição simultânea de vários sinais" (ver (TIMO83), pg. 465)). O conjunto desses padrões, congênitos e adquiridos é denominado aqui, genericamente, de matrizes cognitivas ou arquivos da memória. O desconhecimento das relações entre as matrizes cognitivas com que o mundo é percebido e aquelas que o mundo externo apresenta aos indivíduos caracterizam os enigmas com que nos deparamos ao observar o universo. É nesse âmbito que o pensamento artístico e as formulações científicas se encontram e podemos dizer se complementam. O primeiro busca ampliar tais enigmas e articula-os no plano do sensível, criando suas próprias realidades; as segundas ampliam o conhecimento analítico através da construção de modelos idealizados da realidade, procurando respostas aos paradoxos que constantemente a elas se apresentam no esforço de confirmação do real. CONSCIÊNCIA Antes de se prosseguir com a busca de conexões entre o campo das artes e o das ciências, é preciso conceituar o que se entende aqui por consciência. Ao longo da história humana diversas correntes de pensamento vêm tentando defini-la. As principais áreas do conhecimento que tem abordado a questão situam-se nos campos da filosofia, da psicologia, da neuro-fisiologia e das religiões (ver (LOCK89), (TIMO83), (TIMOsd), (PEIR90) e (RUBIsd)). O fenômeno é muito complexo e sobre ele tem-se produzido vasto material bibliográfico, procurando conceituá-lo ou elucidá-lo. Frente à impossibilidade de tratar o pensamento artístico (ver (LAUR91a)) fora dos fenômenos da consciência faz-se necessário abordar este espinhoso assunto. Uma abordagem sucinta corre sempre o risco de parecer superficial, mas é um risco que se precisa correr. O que se pretende é singelamente traçar, em linhas gerais, o que se entende por consciência, modos ou modalidades de consciência, quando estas palavras aparecerem neste documento. Assim, compreende-se a consciência como sendo o processo através do qual o indivíduo apreende e adquire conhecimento acerca de algo que se passa, ou introspectivamente, no interior de sua mente, ou no mundo que se encontra fora dele e cujos reflexos manifestam-se nessa mesma mente. Esse processo é um processo cognitivo (1) que se relaciona com o conhecimento das coisas e dos fenômenos a partir de sensações, de percepções, de recordações, de pensamentos e de intuições; e com as atitudes dos indivíduos para com essas mesmas coisas e fenômenos, atitudes estas que serão evidenciadas pelas emoções, pelos sentimentos e pelas volições. Decorre daí que o processo deve-se às inferências complexas e sutis que ocorrem entre os estímulos e os efeitos, caracterizando as evidências e as contingências, diferentemente, em cada contexto. A consciência recebe e processa as informações através das sensações, intuições, sentimentos e pensamentos. A sensação apresenta-se como a faculdade da consciência através da qual constatamos a existência de algo, diferenciando os fatos interiores dos exteriores; o sentimento como a faculdade que avalia os objetos e as situações com que se defronta a consciência; a intuição. Para Peirce a intuição é uma premissa primeira, original, não inferida de nenhuma outra premissa anterior. É a "habilidade da mente" de apanhar conjuntamente "sugestões de sentido" estritas e abrangentes numa forma concreta inteligível (ver.(PEIR90), pg. 17) como a faculdade que possibilita o estabelecimento de conexões acausais entre diferentes fatos, objetos e situações, detectando as coincidências expressas por padrões significativos; e o pensamento como a faculdade que interpreta o que foi percebido anteriormente, organizando através da dedução, da indução e da abdução (também denominada processo de inferências) o conhecimento acumulado pelas outras faculdades. Para Peirce são três as categorias básicas e gerais da consciência (ver (PEIR90), pg.14): Primeiridade caracteriza a consciência passiva da qualidade que se faz presente por meio do sentimento; Secundidade caracteriza a consciência ativa, binária, que se apresenta como resultado da polaridade inerente à energia; Terceridade caracteriza a consciência sintética, mediadora, que reúne tempo, sentido de aprendizado e pensamento. Juntamente com essas categorias Peirce define três elementos como sendo os mais básicos e genéricos que caracterizam a consciência. "Sentimento imediato é a consciência do primeiro; o sentido da polaridade é a consciência do segundo; e consciência sintética é a consciência do terceiro ou meio." (ver (PEIR90), pg.16 pr. 382) Esses três elementos misturam-se em diversos graus que ele denomina "degenerados". Esses graus vão caracterizar o que chamou de tipos de consciência e que são, em primeira instância, a consciência do querer, a consciência da polaridade e a consciência da ação e reação. A teoria pierceana é muito consistente e deixo ao leitor a sugestão de aprofundá-la em sua beleza e complexidade. Tomo-a por base nas reflexões realizadas no decorrer da experiência prática. Assim, nos parágrafos seguintes procurarei sintetizar aquilo que denominei, ao longo deste documento, como modos ou modalidades de consciência. Estas modalidades podem, provavelmente, ser consideradas dentro da teoria pierceana como tipos de consciência degenerados, já que nelas as várias categorias se misturam. Resumindo o que foi dito anteriormente, a consciência é entendida aqui como um processo de apreensão e aquisição de conhecimentos, que se manifesta na mente do indivíduo e que decorre de inferências entre estímulos e efeitos existentes num dado contexto. A maneira como tais inferências se relacionam e se interconectam vão caracterizar os modos ou modalidades de consciência, conforme a classificação abaixo: 1. A consciência básica, de ação e reação, é aquela necessária para a sobrevivência das espécies e está presente em todos os seres vivos. Caracteriza-se pela ação e reação direta aos estímulos; 2. A consciência informacional é a que permite resgatar, através da recordação, as matrizes cognitivas ou os arquivos da memória dos seres vivos. Estes arquivos caracterizam-se pelos conhecimentos congenitamente herdados, pelos conhecimentos aprendidos e pelos conhecimentos adquiridos. Estes últimos extrapolam o nível individual restrito e, no caso humano, estendem-se por bibliotecas, museus e gigantescos banco de dados que podem ser acessados através das redes de comunicação que se tecem sobre o planeta; 3. A consciência comunicacional ou sígnica diz respeito às relações semânticas que se estabelecem entre os indivíduos através das diferentes linguagens (matemática, verbal, visual, sonora, corporal, gestual, táctil, olfativa e gustativa (ver (FORM73), (PIGN89) e (MORI75b)); 4. A consciência reflexiva ou crítica é a que decorre do processo de pensamento por meio dos raciocínios lógicos (dedutivo e indutivo), analógico (abdutivo) e dos procedimentos de análise, de diferenciação, de síntese e de generalização dos conhecimentos adquiridos, herdados ou aprendidos. (ver (PEIR90) e (RUBIsd)) Esses tipos de raciocínio e esses procedimentos imbricam-se na tessitura do processo de pensar. São interdependentes, associam-se, engendram-se e complementam-se na procura da significação. Sua separação conceitual visa apenas ajudar a elucidar a compreensão de algumas das etapas do processo. A polaridade inerente ao processo de pensamento, pode ser encarada não apenas como dualidade, mas como uma binariedade de forças, gerando uma tensão que se resolve com a produção de energia. A prevalência de um raciocínio, ou de um procedimento, pode ocorrer contingencialmente num contexto específico. Muitos equívocos, entretanto, têm sido produzidos quando se tenta transformar contingências em dogmas. É preciso pois compreender o processo, mesmo sem entender completamente suas entranhas, suas especificidades, ou sua totalidade complexa; 5. A consciência imaginativa relaciona-se com a capacidade de conectar, volitivamente, conjuntos de impressões dispersas, dando-lhes novos significados. Significados estes que podem vir a se transformar num plano, numa idéia a ser elaborada, num projeto ou até mesmo numa teoria; (ver os mundos imaginativos criados por Poincaré em (POIN88), pg. 53 à 67, ou a novela de muitas dimensões "Flatland" de Abbot em (ABBO91). Ver também os experimentos mentos mentais de Heisemberg em (HEISE87) e as reflexões de Hadamard em (HADA54), entre muitos outros.) 6. A consciência intuitiva é aquela que possibilita o estabelecimento de conexões significativas, acausais, entre elementos diversos que se desvelam ("insights"), independentemente da ação volitiva; (ver (LAUR91), pg. 49 à 61, (PEIR90), pg. 16 e 17 pg. 383, (JUNG58), (JUNG75), (JUNG86), (PEAT88), (FRAN85) e (GARD85)) 7. A consciência criativa é a que induz a ação transformadora. Para isto ela constela a atenção do indivíduo, motivando-o, através da vontade, a assumir as ações transformadoras e, persistentemente, a cumprir as etapas sucessivas de aprofundamento, necessárias para realizar a idéia, o projeto ou o plano anteriormente imaginado; 8. A consciência holística que engloba todas as demais e que se realiza através da concentração total, vigilante e ativa, que permite observar o próprio processo de conhecimento. (ver (LAUR91a) Este é o limite do discurso acadêmico. Apenas o discurso poético e mítico, a experiência artística, a vivência mística, o relato religioso, a alucinação provocada pela loucura ou o conceito de singularidade matemática situam os momentos sublimes que ocorrem quando esta modalidade de consciência se manifesta. "Neste momento, terminam todos os nomes e definições do nosso mundo conceitual tridimensional. Aqui nos tornamos conscientes de uma sucessão infinita de maiores dimensões (nas quais estão contidas as que conhecemos), para as quais ainda não encontramos formas adequadas de expressão, apesar de podermos pressentir a existência daquelas dimensões(...)." (ver (GOVI60), pg. 82)) Partindo das considerações acima procurei situar a experiência artística como uma experiência que pode englobar muitos dos modos de consciência citados acima. Podemos mesmo dizer que, embora estejam presentes em muitas outras atividades humanas os quatro últimos modos são aqueles onde o artista se sente mais à vontade. O CAMPO DAS CIÊNCIAS: A FÍSICA E A GEOMETRIA COMO PARTE DO FAZER ARTÍSTICO No campo das ciências é preciso estar-se sempre ciente da simplificação dos modelos criados face à realidade fatual. Passo a passo tais modelos vão incluindo novas teorias e ampliando o conjunto conceitual que representa o conhecimento limitado que temos do mundo. No campo das artes, por outro lado, mesmo trabalhando com dados discretos e limitados, é possível criar sensações unificadoras que são expressas através da multiplicidade complexa e que criam metáforas poéticas adequadas ao contexto onde existem. Entender, no entanto, mesmo que sucintamente, o conjunto conceitual que embasa a ciência deste século torna também possível a compreensão das pesquisas que eclodem no campo das artes visuais, cênicas e musicais. São elas que vão criar, complementarmente, as metáforas capazes de expressar os paradigmas cognitivos de uma época. Novas e inauditas realidades já podem hoje ser apreendidas, não apenas conceptualmente mas também pelos sentidos do tato, da visão e da audição. Os confins do universo e os segredos da matéria podem ser transformados em imagens. Formas hoje restritas à expressões analíticas matemáticas podem ser visualizadas e sentidas. Interrelações isomórficas entre expressões matemáticas, formas, cores, sons e imagens em movimento criarão novos repertórios expressivos que, intermediados por computadores "inteligentes", poderão em breve ser manipulados individualmente ou grupalmente. A experiência de compor provavelmente possibilitou o desenvolvimento da capacidade humana de abstrair (ver (OLIV87), pg. 61). Esta faculdade permitiu ao homem identificar no mundo determinados conjuntos e relações que ele agrupou por semelhança. A manipulação subseqüente desses conjuntos possibilitou a experimentação de diferentes relações entre seus elementos, lançando as bases da geometria. (2) O espaço territorial pode então ser construído e o espaço celeste observado. Desde então, a geometria acompanhou o desenvolvimento do pensar abstrato humano, tornando-se cada vez mais analítica: fórmulas complexas escritas em linguagem matemática representam o espaço, concebendo-o como modelo simplificado da realidade. É bom também relembrar aqui que a geometria acompanhou o desenvolvimento tanto dos raciocínios lógicos que estruturaram o pensamento abstrato, como dos raciocínios analógicos que emergiram com o desenvolvimento das manifestações artísticas primitivas, intimamente associadas às tecnologias e mitologias de cada época. (ver (CAMP93) pg. 19) Tal interação provavelmente impulsionou muitas das transformações ocorridas ao longo da evolução humana. No entanto, nos últimos cem anos a geometria ultrapassou, em sua concepção e conceitos, a noção de espaço e tempo como é, naturalmente, apreendida pelos sentidos. Tornou-se tão complexa que, hoje, ela só é acessível ao artista através da intuição. Somente a interação entre arte e ciência, desde que caracterizadas suas diferenças e convergências, tornará disponível para o artista o novo mundo imagético que se esconde dos sentidos nas fórmulas analíticas. Somente esta interação permitirá ao matemático ver os conceitos que formula e desenvolve sendo reelaborados pelos artistas. Tal reelaboração pode desvelar até mesmo outros possíveis significados quando utilizados nos repertórios poéticos criados pelos artistas. Novas formulações concebendo espaços com dimensões e curvaturas incompreensíveis ao senso comum vem comprovando-se relevantes quando se investiga o muito grande, o muito pequeno, o não linear, ou o complexo (ver (ADLE58), (HILB52), (LIET68), (PEIT86) e (WAER83)). Poderão os indivíduos ou grupos de indivíduos compartilhar o ato de projetar-se sensorialmente para espaços curvos como os concebidos analiticamente pelos matemáticos? ESPAÇO A representação dos objetos tridimensionais no período renascentista, por meio de perspectivas, trouxe para o nível consciente o espaço como fonte de experiências sensoriais humanas. A característica até então alegórica das representações transformaram-se. O espaço tridimensional passou a ser organizado segundo as regras mensuráveis da percepção visual, regras estas que o descreviam matematicamente, aproximando-o da realidade apreendida pelos sentidos. Neste período, tais noções atingiram enorme grau de sofisticação. No final do século XIX e no início do século XX as geometrias denominadas não euclidianas começaram a ser concebidas , simultânea e independentemente, pelos matemáticos Bolay (Hungria), Lobachevsky (Rússia), Gauss (Alemanha) e posteriormente por Riemann (Alemanha). A geometria denominada Riemanniana postula que "o menor trajeto entre dois pontos é determinado pela estrutura do espaço, assim como o menor trajeto entre dois pontos em uma superfície é determinado pela forma da superfície" (ver (SZAM88), pg. 175 e (POIN88), pg. 45 à78). As geometrias não euclidianas baseiam-se no raciocínio lógico e muitas vezes contradizem impressões sensoriais e não apresentam relações aparentes com modelos reais observáveis. A teoria geral da relatividade de Einstein apoiou-se nessas geometrias para estudar os movimentos das estrelas e dos planetas. Tais movimentos decorrem das mudanças na estrutura geométrica do espaço em relação ao tempo e devem-se à presença das massas dos corpos celestes. A matéria curva o espaço e este movimenta a matéria, movimento que caracteriza o tempo: espaço, tempo, matéria e movimento só podem ser abordados considerando sua interdependência. O novo modelo possibilita conceber situações paradoxais como inerentes ao mundo físico. Matéria, espaço e tempo podem tanto se expandir ilimitadamente, como se reduzir até deixar de existir, caracterizando-se como um ponto matemático denominado singularidade (ver (SZAM88)). Esta palavra traz subjacente ao seu significado o limite conceitual que o pensamento consciente pode abarcar, já que o cérebro humano não possui outro referencial exceto o espaço-temporal. Qualquer que seja a penetração que a mente humana possa alcançar, ela pode apenas trabalhar com os órgãos sensoriais que os seres humanos possuem. (ver (LANG72)) À medida que os modelos sensoriais humanos e os modelos matemáticos distanciavam-se, os últimos pareciam adequar-se melhor para explicar a natureza. Assim, geometrias nada evidentes ao senso comum tornaram-se a base dos modelos cosmológicos contemporâneos. (sobre as novas geometrias e modelos cosmológicos ver (ADLE58),(ADLE67), (HILB52), (GRIB88), (GLEI89), (FEYN88), (HEIS87), (DYSO81), (DUQU86), (CALD88), (BOS 85), (MONK37),, (PENR93), e (POIN88)) A inexistência de força de atração gravitacional entre os corpos como previa a mecânica newtoniana criou uma primeira ruptura com a física hoje denominada clássica. A seguir, quando Max Plank descobriu que a descontinuidade e a dualidade são propriedades fundamentais da natureza, a mecânica quântica começou a ser formulada. Configurou-se a partir de então uma ruptura conceitual sem precedentes na maneira de conceber o mundo físico. Em 1926, Heisemberg percebeu, quando estudava a posição e velocidades de partículas em micro física, que havia um conflito conceitual nesse campo. Formulou então experimentos mentais verificando ser impossível obter informações simultâneas sobre a posição e a velocidade das partículas elementares num instante conhecido. Essa verificação consiste no que foi denominado de "princípio de incerteza". Heisemberg rompeu com todo e qualquer determinismo clássico ao escrever que "por uma questão de princípio, não podemos conhecer o presente em todos os seus detalhes" (ver (HEIS87), (SZAM88), pg. 190 e (PENR93), pg. 274 à 278). Para lidar com os fenômenos com que trabalhava criou o conceito de "ondas de probabilidades", concebendo campos onde eventos probabilísticos se propagam no espaço e no tempo. As ondas de probabilidade são ondas conceituais a evidenciar o aspecto espaço-temporal no movimento dos elétrons. Em 1927, Bohr formulou o "princípio da complementaridade" que possibilitou conceber as duas propriedades da matéria - onda e partícula - desde que só se utilizasse um dos conceitos de cada vez: ambos os modelos representam a realidade mas não podem ser compreendidos simultaneamente devido à estrutura interna (perceptiva) do cérebro humano e seus modelos sensoriais" (ver (GRIBB88), pg. 73, 74, 75, 82, 83, 90, 91, 92). A partir da teoria de Bohr, outro físico, Wolgang Pauli, verifica que "em um sistema físico, dois elétrons não podem estar no mesmo estado". Essa afirmação constituiu-se no "princípio de exclusão de Pauli" (ver (SZAM88), pg. 198). A estrutura conceitual de uma nova teoria estava formada. Ela possibilitou ao matemático Dirac inventar um modelo ainda mais complexo de universo, invisível e imperceptível, onde o espaço vazio está preenchido por partículas com energia negativa, levando ao descobrimento de uma nova espécie de matéria: a anti matéria. Desde então partículas virtuais, inobserváveis por princípio, são fundamentais para a explicação de fatos observáveis. Incerteza, probabilidade, complementaridade, previsões estatísticas e interferência no sistema observado pelo ato de observação constituem conceitos fundamentais responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias dos super condutores, dos chips, do raio laser e dos micro computadores, além de terem permitido o descobrimento da molécula helicoidal do DNA e o subseqüente desenvolvimento da engenharia genética (ver (GRIBB88), pg. 88, 104 a 107). Um panorama mais complexo agora se apresenta: a sociedade pós-industrial construiu um mundo onde a indeterminação, o dinamismo, a multiplicidade das alternativas, caracterizam um novo modo de vida. Rupturas conceituais continuam processando-se. Um fenômeno tão simples como aquele que faz com que a água entre em ebulição é às vezes extremamente difícil de analisar e compreender. Nessa situação os cientistas lançam mão de metáforas para explicar o comportamento de fenômenos complexos, evitando perder-se em paradoxos lógicos. Dentre as metáforas em foco atualmente interessa aqui aquelas pertinentes ao estudo do acaso e que desembocam nas idéias de complexidade e de sincronicidade. COMPLEXIDADE De Euclides (cerca de 300 AC) até Hilbert (1943) o conjunto das matemáticas (álgebra, geometria, topologia, etc) foi progressivamente formalizado. Conjuntos de regras de inferências lógicas foram precisamente formulados e definidos. Essas regras de inferências lógicas foram elaboradas sobre um número finito de axiomas. Os axiomas são proposições gerais, fundamentais, totalmente explícitas, cuja verdade deve ser auto-evidente. Partindo-se dos axiomas pode-se aplicar as regras de inferências lógicas construindo-se listas de asserções denominadas teoremas. Os conjuntos dos teoremas, por sua vez são organizados em teorias, de tal modo que sempre se possa deduzir sistematicamente se a asserção é verdadeira ou falsa. (ver (RUEL93), pg. 196 e 197 e (PENR93), cap. 7) Os matemáticos acreditaram durante certo tempo que, por meio de tal processo de ordenação lógica, poder-se-ia paulatinamente conhecer os conjuntos de propriedades fundamentais que caracterizam um dado problema complexo, criando estruturas lógicas isentas de contradições. Essa crença foi demolida em 1931 quando o lógico austríaco Kurt Göedel publicou um teorema denominado teorema da incompletude. (3) O físico David Ruele em seu livro "Acaso e Caos" exemplifica a relação existente entre o teorema de Göedel com o acaso. Ele mostra que através da produção de "uma seqüência de propriedades dos números inteiros que são, ao acaso, verdadeiras ou falsas" pode-se "definir uma seqüência de números binários" (4) de tal modo que "não se possa determinar os números seguintes da série, sendo a "seqüência (...) completamente incalculável". (ver (RUEL93), pg. 201) A teoria do caos aborda o lado irregular e descontínuo da natureza. Ela usa algoritmos computacionais que utilizam o acaso, para gerar certos tipos de imagens gráficas, e para apresentar certos tipos de previsões e de explicações de alguns fenômenos dinâmicos como por exemplo a previsão do tempo, o comportamento dos fluídos e das turbulências entre muitos outros. Embora haja muito acaso no universo existe também regularidades. Dentre estas encontramos os processos de recombinação, ao acaso, de mensagens genéticas, que são essenciais à vida e sua evolução. Provavelmente foi o caráter dessas mensagens mutantes que permitiu o surgimento da vida. A este caráter mutável aliaram-se os processos de seleção natural. É provável que a seleção natural tenha propiciado a conservação e a reprodução daquelas mensagens genéticas cujo remanejamento mostrou-se mais flexível e adequado aos diferentes contextos complexos do universo, que são por sua vez cheios de acaso, mas que possuem uma ordem e uma estrutura subjacente às quais essas mensagens adaptaram-se. (ver (RUEL93), pg. 205 à 208) Assim, proliferaram-se os fenômenos complexos, engendrando multiplicidades de formas e mecanismos que se desdobram num devir interminável de recombinações. Por mais obscuros que tais assuntos possam parecer a nós leigos eles, no entanto, desempenham "um papel central em nossa compreensão da natureza das coisas" e tem permitido alcançar resultados práticos importantes. (ver (RUEL93), pg. 220) Resumindo pode-se dizer que o conhecimento científico nos permite compreender o universo como um complexo campo de probabilidades combinatórias em permanente devir. Para analisar os fragmentos desse campo, que são chamados de fenômenos, os cientistas lançam mão de métodos estatísticos. Estes métodos são muito eficientes para explicar "uma pequena parte do que há para compreender". (ver (RUEL93), pg. 169) Entretanto os métodos estatísticos são geralmente inadequados para explicar o evento singular. Assim, o fenômeno singular e complexo é muitas vezes caracterizado como "irracional", "abissal", ou "insondável". (ver Herman Weil in (FRAN85), pg. 18 e 19) sendo provisoriamente delegado ao conjunto nebuloso dos fenômenos que podem ser vivenciados mas não compreendidos. É neste conjunto nebuloso que vamos encontrar os fenômenos psíquicos que ocorrem na mente durante o processo criativo. É interessante notar que até mesmo cientistas das áreas denominadas exatas, como o físico David Ruelle e o físico- matemático Roger Penrose, têm especulado sobre a natureza dos processos mentais da mente e da consciência, (ver (RUEL93) e (PENR93)) da dinâmica dos processos perceptivos e de tomada de consciência do conjunto de certos fatos e das relações que acontecem durante o processo criativo e que conduzem finalmente ao ato de criação. Cientistas como Wolfgang Pauli, Feigenbaum, Peter Coveney, David Peat, Libchaber, David Bohm, John Wheeler e Illya Prigogine, entre muitos outros, têm procurado compreender como é que a mente humana consegue lidar com o caos da percepção. Visam entender como é que o acaso e a desordem dão origem à ordem e à organização. Para isso eles têm estudado certos tipos de padrões inesperados de comportamentos que acontecem nos sistemas dinâmicos. A segunda lei da termodinâmica postula que um sistema fechado, deixado entregue a si mesmo, sempre se desorganiza e decai em desordem e caos. No entanto, algumas dentre as estruturas dinâmicas estudadas pelos cientistas citados acima, e que são denominadas estruturas dissipativas, apresentam-se como sistema auto- organizadores e desenvolvem formas mais elevada de ordem.(5) Muitas são as teorias que têm sido elaboradas nas quais os fenômenos dinâmicos são estudados. Essas teorias lançam mão do conceito de campo físico (6) de tal modo que os ritmos emergem do movimento total do campo e não através de uma força que atua sobre um dos elementos desse campo, definindo por exemplo sua trajetória. Certos padrões, denominados "solitons" (ver (PEAT88), pg. 74 à 77), emergem do campo dinâmico e possuem propriedades que podem ser expressas por uma certa classe de equações não lineares. Esses "solitons" podem emergir do campo como uma expressão da totalidade desse campo. Eles assemelham-se "a ondas solitárias", (ver (PEAT88), pg. 74) como uma holografia que contém, em cada uma de suas partes, a totalidade da imagem representada. Os "solitons" têm sido encontrados nos circuitos elétricos, nos impulsos nervosos, nas ondas de pressão atmosférica, nos superfluídos e supercondutores, entre outros. Os "solitons" podem se mover em trajetórias e interagir uns com os outros, mas não subsistem fora do meio que lhes dá origem. Eles são considerados como manifestações não lineares da meteria, que se apresentam como fenômenos locais cuja existência depende da atividade global do campo. No livro entitulado "Synchonicity" David Peat especula sobre a possibilidade de virmos a compreender o fenômeno da sincronicidade utilizando-se o conceito de "soliton". (ver (PEAT88), pg. 53 à 56 e 74 à 76) Antes de abordar o conceito de sincronicidade é preciso, entretanto, verificar como os físicos estão ampliando o conceito de tempo. TEMPO Dentre os muitos aspectos essenciais de nossa percepção do mundo fenomenal, encontramo-nos agora a indagar sobre nossas sensações relativas à passagem do tempo, sobre o papel prático do acaso na nossa compreensão dos fenômenos naturais e mentais, e sobre a articulação entre o acaso, o tempo e as conexões destes com o processo criativo. A insondável natureza do tempo tem-se apresentado, há séculos, como um mistério para a mente humana, mistério este louvado por poetas, especulado por filósofos e inquirido por cientistas. Inúmeras são as hipóteses formuladas sobre os possíveis padrões temporais existentes: unidirecionalidade, reversibilidade ou irreversibilidade, multiplicidade e ciclicidade. Cientistas de diversas áreas do conhecimento têm ampliado o conceito de tempo, desenvolvendo teorias que o conceituam de diferentes maneiras. O tempo da física de Newton é linear, reversível e determinista, podendo ser representado parametricamente em equações matemáticas que nos permitem equacionar a evolução de certos fenômenos físicos da realidade cotidiana dentro de determinadas situações. O tempo da relatividade geral de Einstein e de parte das teorias da mecânica quântica é também um tempo simétrico e reversível. De acordo com a teoria da relatividade o fluxo do tempo depende do movimento do observador e de seu posicionamento no espaço-tempo. O intervalo temporal é relacionado com a distância percorrida no espaço durante este intervalo, sendo a velocidade da luz a velocidade limite para a realização do percurso. (ver (PENR93), pg.335 à 338), Preconiza-se também a existência de um tempo que existe desde antes do "nascimento do nosso tempo" e que exige apenas a existência de um fenômeno de flutuação energética - uma instabilidade - para atualizar-se. Esta instabilidade pode mesmo "fazer nascer outros universos", conforme observa Ilya Prigogine em um estudo que realizou sobre o tempo (ver (PRIG91), pg. 59, 60, 65, 71, 73, 74 e 75). Para Alberto Lautman, esse tempo seria um tempo cosmogônico, como um campo onde "ocorreriam acidentes topológicos" (ver Alberto Lautman in (FRAN85), pg. 124)). Para Beauergard, ele existe como uma imagem mental de um "alhures" onde "sistemas de carga de energias superiores são desenvolvidos", um alhures atemporal e tetra- dimensional, que "participa do mundo da informação ou da representação de imagens mentais, (...) algo psíquico, algo inconsciente e algo onde se estruturam as representações." (ver Beauregard in (FRAN85), pg. 122 e 123) Para Ilya Prigogine, o "tempo é criação". O universo, no sentido não da degradação mas do aumento da complexidade, resulta do surgimento de estruturas complexas em todos os níveis: do galáctico e estelar ao biológico. O tempo denominado interno, que existe em estado potencial em certos sistemas dinâmicos indica-nos como formas mais elevadas de ordem podem surgir a partir de fenômenos caóticos. (ver Prigogine in (COVE92), pg. 280 e (PEAT88), pg.77/78) O desenvolvimento da vida decorre de tais estruturas. Para Prigogine, a vida "é o reino do não linear, é o reino da autonomia do tempo, é o reino da multiplicidade das estruturas" (ver (PRIG91), pg. 75). Ele entende que poderemos encontrar os padrões evolucionários de nosso universo, de nossa cultura e de nossa vida apenas se considerarmos o tempo como irreversível e estabelecermos vínculos entre entropia (7) e probabilidade. Dentre as inúmeras experiências laboratoriais hoje estudadas, muitas relatam fenômenos comunicacionais extraordinários entre elementos materiais que, em determinadas situações, mudam seu comportamento como se as moléculas comunicassem umas com as outras. Entre esses fascinantes estudos sobre auto-organização (8) encontramos o conceito de tempo imbuído de duas facetas: a irreversibilidade e a repetição. Muitos são os estudiosos contemporâneos que especulam, através do estudo de fenômenos termodinâmicos, como por exemplo as estruturas dissipativas, sobre a probabilidade da evolução do universo de ocorrer da ordenação de estados similares aos existentes nos fenômenos irreversíveis, denominados fenômenos auto-organizadores. Ao considerarem que a ordem pode muitas vezes emergir da desordem, eles recolocam o conceito de irreversibilidade do tempo. O tempo como fenômeno irreversível não mais é sinônimo de um colapso inexorável que conduziria para a desordem e a morte de um universo decaído no final dos tempos. Um novo modo de consciência parece agora delinear-se. Os ciclos temporais e os padrões que discernimos no mundo ao nosso redor unem-se no conceito de tempo irreversível. Se a seta do tempo ("the arrow of time") indica um tempo irreversível, heraclitiano, preconizando a mudança e a contínua transformação do mundo físico, ela não exclue a metáfora de um tempo cíclico cuja importância é vital quando procuramos compreender os padrões estampados nos fenômenos naturais ao nosso redor. O mundo apresenta-se assim muito mais rico do que é possível expressar com uma única linguagem. Condensar numa única descrição os múltiplos aspectos de nossa experiência é reduzir nossa própria capacidade de apreensão, renunciando às possibilidades de explorar novas fronteiras cognitivas, diminuindo nossas possibilidades de conhecimento e permitindo a regressão ao domínio das crenças que, geralmente, são expressas em alegorias e transformadas em dogmas.(ver também (POLI92), (DRUC91, (RHEI92), (PIME93) e (PESS93)) SINCRONICIDADE E INTUIÇÃO O papel do acaso, tanto no processo criativo como na compreensão que temos dos fenômenos naturais e mentais, propiciou indagações no decorrer do trabalho. Estas indagações, por suas vez, conduziram ao estabelecimento de certas conexões entre ordem e acaso na estruturação do pensamento visual criativo. O conceito que melhor se adequou para explicar essas conexões foi o de sincronicidade. O conceito de sincronicidade aborda os padrões de coincidências significativas que acontecem nos eventos naturais, procurando compreende-los. Parte da concepção holística de um universo em permanente transformação, no qual variedades multifacetadas desdobram-se em flutuações, exprimindo ocorrências singulares locais. (ver (PEAT88), pg. 58 e 59) Eventos sincronísticos são aqui entendidos como fenômenos do tipo aleatório relacionados com uma dada constelação de fatos únicos e imprevisíveis que emergem numa dada situação singular. Os fenômenos sincronísticos exigem para sua compreensão a ampliação do conceito de tempo. São fenômenos que podem ser compreendidos como ocorrendo conjuntamente num campo ativo de informação que se expressa morfologicamente (ver (PEAT88), pg. 163 e 164). Neste campo torna-se possível o estabelecimento de relações entre eventualidades e significados, permitindo-nos perceber padrões e contextos mais abrangentes. Causalidade e sincronicidade apresentam-se como percepções duais complementares de uma mesma realidade. Nos eventos causais existe uma conexão constante entre uma causa e um efeito, permitindo-nos estudar os fenômenos que se apresentam seqüencialmente no tempo. No evento sincronístico, diferentes situações e objetos congregam-se para, juntos, formarem um padrão significativo singular que se destaca no contexto espaço-temporal onde ocorre. Na ordem sincronística a organização é compreendida através de níveis de significados. Cada nível é condicionado pelos outros níveis ao seu redor e dependerá de todos os demais níveis, que são constelados num dado momento, caracterizando o campo naquele instante. Isto é, tomamos consciência de um evento sincronístico quando os níveis se arranjam formando um padrão global. Esse padrão se expressa através da congregação dos eventos que se interrelacionam em função do que significam para nós. São assim destacados do contexto, emergindo espontaneamente na consciência. Para o físico David Peat, os arquétipos (9) são os elementos básicos que constituem a nossa mente cuja estrutura pode resultar da atuação dinâmica desses mesmos arquétipos. Embora os arquétipos não possam ser observados diretamente, eles podem ser sentidos através dos diversos modos como se manifestam na consciência, tais sejam os sonhos, as imagens mentais, os mitos, os símbolos, etc. Para Peat os arquétipos podem ser comparados a certos campos denominados em física como "campos mórficos". O "campo mórfico" é um "campo ativo de informação que se desdobra dentro de várias estruturas e processos", na natureza em geral e na matéria em particular. (ver (PEAT88), pg. 167) Esse campo possui níveis de sutilezas inumeráveis. Ele é uma espécie de memória que retém e libera informações no decorrer de certos processos naturais. Peat, a partir desse conceito, caracteriza o inconsciente ou mente coletiva como uma totalidade profunda e abrangente, mantida por uma atividade dinâmica constante que atua sobre a consciência através dos arquétipos. (ver (PEAT88), pg. 110) A consciência, por outro lado, atua de volta, modificando os padrões preexistentes estampados na mente. Peat sugere que, se os arquétipos forem concebidos como campos de informação formativa, ou "campos mórficos", eles podem atuar tanto na consciência como na matéria, possibilitando a compreensão de inúmeros fenômenos até agora inexplicáveis, entre eles os fenômenos sincronísticos e os "insights". (ver (PEAT88), pg. 167) O fenômeno sincronístico pode assim ser pensado como uma expressão do estado de atividade dinâmica da mente. Através dessa atividade os arquétipos são ativados em padrões que conectam o pensamento com certos arranjos materiais. Quando tais fatos acausais são percebidos simultânea e paralelamente, eles apresentam um significado particular que os relaciona, permitindo-lhes emergir na consciência como um evento singular e único. Assim, as sincronicidades podem ser concebidas como padrões que emergem espontaneamente das contingências e do caos da natureza. (ver (PEAT88), pg. 57/65) Elas nos possibilitam detectar certas intuições que nos levam a uma compreensão muito mais sutil das relações entre mente e matéria. Conseqüentemente, essa compreensão, torna os processos criativos mais controláveis, permitindo combinar as explicações objetivas de um fenômeno com seu significado subjetivo. Considerando mente e matéria como manifestações de um todo indivisível, alguns cientistas começam a incorporar um potencial criativo de considerável energia, ao integrar o enfoque causal da natureza, mais fragmentário e analítico, com o enfoque sincronístico, mais holístico e valorativo. Este último parece mais adequado para a compreensão de certos aspectos da teoria quântica que não se coadunam com o enfoque causal. Roger Penrose, no livro "A Mente Nova do Rei", descreve como um dos exemplos de tais aspectos a existência de certos estados superpostos que estão na realidade espacialmente muito separados entre si e são denominados como "superposição linear quântica". Esses estados possibilitam considerar um fóton como estando "em dois lugares ao mesmo tempo, a uma distância de mais de um ano luz um do outro!" (ver (PENR93), pg. 282) O PROCESSO DE CRIAÇÃO Utilizando o conceito de sincronicidade procurei tomar consciência dos movimentos da mente durante o processo criativo. Considerei a mente como um campo espaço-temporal no qual emergiam pensamentos descontínuos e inconstantes que se conectavam pelo significado e não por meio de ligações associativas de causa e efeito. (ver (JUNG58), pg.254, (JUNG86), pg. 168 e 169, (FRAN85), pg. 8, 58, 65, 124, 126 e 132) Durante o processo de criação acontecem encadeamentos probabilísticos e aleatórios de ideias visuais. Encadeamentos probabilísticos porque resultam de escolhas racionais e lógicas, fruto do aprendizado e das leis que regulam a percepção humana; aleatórios porque as escolhas decorrem de processos de associação de ideias que emergem sincronisticamente. Estes encadeamentos possibilitam a tomada de consciência dos eventos significativos que ocorrem e que caracterizam as escolhas realizadas durante o processo de criação. O conteúdo informacional carregado pelos significados que se encontram em constante mutação são o cerne dos eventos sincronísticos que se estabelecem durante o processo de criação. O processo é, por sua vez, realimentado constante e criativamente pelo emergir de novos conteúdos a partir daqueles que anteriormente foram constelados. Através da ação formadora o raciocínio tridimensional constela qualidades sensoriais, afetivas, racionais e intuitivas que são articuladas em campos de acontecimentos. O resultado é o desenvolvimento exponencial de gamas de possíveis resultados a serem explorados. Assim, a compreensão de conceitos como caos, estruturas dissipativas, irreversibilidade do tempo, auto- organização, desordem organizadora e complexidade estão permitindo o desenvolvimento das redes neurais, a melhor avaliação de dados de sistemas complexos, a melhor compreensão do processo criativo e dos fenômenos naturais do dia à dia. (ver (PEAT88), (COVE92), (PESS93) e (RUEL93)) No "laboratório" Terra, a vida organizou-se como um sistema homeostático; proliferou-se e evoluiu vindo a possibilitar o desenvolvimento da consciência humana. Pelo que até agora conhecemos a vida caracteriza-se por opor-se ao aumento paulatino da entropia do universo (ver (YOUN68)). Isto é, a vida opõe-se ao aumento da desordem que poderia levar ao colapso inexorável de um universo que caminha impreterivelmente para sua "morte", como tem sido preconizado por algumas cosmologias modernas. Considerando a vida como um sistema auto-organizador, por sua própria natureza, (ver (PEAT88) e (COVE92)) será que podemos especular ter ela a função de propiciar um cíclico recomeçar? A proliferação dos signos visuais tem algum papel nessa organização? É relevante para um artista compreender a ciência de seu tempo? Os fundamentos teóricos delineados neste ensaio buscam delinear algumas respostas e formular outras questões. Eles decorrem de reflexões que emergiram durante a experiência prática realizada e operam com conceitos de diversos campos do conhecimento. O intuito foi o de estabelecer uma visão abrangente, identificando as possíveis convergências existentes entre tais campos. A experiência prática da criação de simulações estereoscópicas visou ampliar e inventar repertórios visuais poéticos. Estes constituem matéria prima formal para a imaginação. Ao mesmo tempo, fomentam campos experimentais, visando o resgate de sensações. Daí a utilização de conceitos que emergem de campos do conhecimento tão diversos como o das artes e poéticas visuais, por um lado, o da física e o da geometria, por outro. Assim, detectar e desenvolver possibilidades morfológicas, emergentes em algumas áreas científicas contemporâneas e, através do uso das tecnologias computacionais, aplicá-las no contexto da produção artística, embasou todo o trabalho, desde seu início. As possibilidades morfológicas, resultadas da expressão de conteúdos cognitivos, apresentam-se como matrizes configuradoras das realidades ilusórias criadas. Elas carregam dentro de si conjuntos potenciais de organizações formais e espaciais. No campo científico, muitos cientistas têm procurado, atualmente, romper com dogmatismos imobilizadores em seus domínios de conhecimento, evitando a transformação de teorias em crenças cristalizadas. Garantem desse modo a evolução da ciência através da crítica constante. Mas mesmo entre tais cientistas vamos encontrar, com raras exceções, o discurso sobre a importância pragmática da pesquisa experimental e objetiva, garantindo a validade dos experimentos realizados. O fato que eles geralmente questionam é o da transformação das teorias e métodos científicos em verdades absolutas e irrefutáveis. Questões como a reversibilidade do tempo, o determinismo aplicado redutoramente e indiscriminadamente a situações complexas, a desordem e o acaso como antítese da organização, a disjunção entre conhecimento objetivo, subjetivo e intuitivo são hoje assunto de sérias reflexões por parte de teóricos e cientistas.(ver Henri Atlan, Ilya Prigogine, Edgar Morin, Paul Feyerabend in (PESS93) e Peter Coveney (COVE92)) A postura crítica tem permitido modificar, ampliar ou até mesmo refutar as teorias que perderam a coerência. Tal postura induz o progressivo desenvolvimento e aprofundamento de novas idéias, gerando novas inferências a serem testadas. O motivo principal de buscar-se aqui uma visão mais abrangente de campos tão diversos é considerá-los complementares e não opostos. A reflexão especulativa, resultante da detecção de possíveis convergências entre estes campos, é incrivelmente fecunda do ponto vista da criação artística. Na contemporaneidade o fazer poético tem sido desvalorizado e tal desvalorização tem sido reconhecida por eminentes cientistas e epistemólogos. Paul Feyerabend chega mesmo a temer uma maior eliminação da "poesia como meio de explorar a realidade". (ver (PESS93), pg. 101) O artista, entretanto, precisa saber, ao menos em linhas gerais, as especificidades de sua época. É preciso procurar ompreender os papéis dos distintos modelos conceituais dentro de seus contextos peculiares, sem misturar seus conteúdos e seus métodos de pesquisa. Até mesmo as palavras chegam hoje a assumir diferentes significados dentro de um mesmo campo do conhecimento e da cultura. As diversas áreas do conhecimento especializaram-se demasiadamente. Seria um erro emprestar conceitos de campos do conhecimento científico que utilizam métodos de pesquisa organizados para garantir a objetividade de seus experimentos, num outro campo, como o campo das artes por exemplo, onde os métodos de investigação visam despertar o saber subjetivo sensorial, buscando expressar fenômenos singulares, idiossincrasias, especificidades e até mesmo paradoxos. O terreno artístico configura-se a partir das teorias que dele emergem e o diferenciam. Tais teorias, ora são baseadas em períodos históricos que caracterizam determinadas manifestações artísticas, ora são baseadas em conjuntos de elementos e premissas que criam os códigos e a atmosfera teórica propícia ao desenvolvimento de um fazer. As teorias possibilitam a identificação e o intercâmbio dos indivíduos que compartilham empaticamente o mesmo código. O campo da arte requer a existência de um ambiente artístico onde seus códigos são criados. Diálogos e polêmicas compõem ou antepõem posições conceituais sobre as quais serão tecidas as teorias. Na contemporaneidade, ver algo como arte requer um conhecimento do contexto de onde surgiram as obras e dos códigos aos quais elas se referem. Depois de Duchamp, o que diferencia um mictório de um trabalho artístico é o ambiente e o contexto legitimador onde ele se apresenta (ver (DANT64), pg. 133). O conceito de arte varia conforme a época e o contexto onde é empregado. Duchamp, entre muitos outros, rejeitou ser designado como artista. As denominações de arte e de artista, como usualmente concebidas, não mais são adequadas ao contexto atual, face aos fenômenos de expansão dos códigos e de multiplicação das linguagens. Por mais inadequados que se mostrem os conceitos, o universo do sensível continua a ser elaborado e os valores estéticos reinventados, enriquecendo constantemente nossa subjetividade. Na falta de terminologia mais apropriada, as palavras arte e artista continuarão a ser aqui utilizadas. A primeira refere-se ao campo do conhecimento onde valores estéticos são reapropriados, inventados e testados criando linguagens. A segunda refere-se aos indivíduos que auscultam "com os sensores da intuição, os caminhos da sensibilidade a serem abertos através do potencial com que as novas tecnologias" os desafiam. (ver (SANT92a), pg. 102) Lúcia Santaella no artigo denominado OUTR(A)IDADE DO MUNDO coloca claramente a questão da relatividade dos conceitos frente aos diversos contextos com que nos deparamos. Ela escreve que: "Hoje sabemos que toda interpretação depende dos referenciais que sustentam o pensamento de quem interpreta." Destaca outrossim que o caráter radicalmente diferencial das imagens simuladas resultam de "sínteses sígnicas" e fazem do real "apenas uma das atualizações do possível." (ver (SANT92a), pg. 64-65). O CAMPO DAS ARTES As teorias artísticas constituem o panorama de fundo permeando o fazer artístico. Elas focalizam e sistematizam conjuntos de premissas para subseqüentes reelaborações, rearticulações, refinamentos e alterações por parte daqueles que as utilizam. Esta dialética leva ao estabelecimento de novos códigos e novas linguagens que se destacam, num dos centros legitimadores, por um período (o "breaktrough"), até serem reincorporados no campo como parte do panorama de fundo, onde realimentarão escolhas futuras. É como se o campo artístico fosse um laboratório experimental para a geração e aprimoramento de novos códigos e linguagens. Laboratório onde conjuntos de estratégias constelam-se, são testados e reestruturados. Esta metáfora conjectural ajuda, talvez, a aclarar as relações, as restrições e as conexões entre os diferentes sistemas sígnicos que emergem no campo artístico contemporâneo. A complexidade aparentemente desconcertante desse campo possui uma riqueza fantástica. Agrupamentos de possibilidades conceituais são expressos através de imenso número de movimentos que neles coexistem ou coexistiram: suprematismo, construtivismo, arte conceitual, arte concreta, arte programada, minimalismo, tachismo, vídeo arte, "land art", "sky art", arte por computador, arte cibernética, arte cinética, arte eletrônica, entre muitas outras mais. (ver (MORA91) As categorizações, entretanto, parecem ineficazes quando começamos a colocar quais artistas pertencem a quais correntes. Os conjuntos interceptam-se, as fronteiras diluem-se e esboroam-se. É difícil distanciar-se da própria época. Talvez as gerações futuras nos catalogarão como o período caracterizado pelo exercício criativo da manipulação de possibilidades permutacionais de conceitos e de sensações. Os códigos produzidos, expressos com cores, sons, formas, texturas e movimentos, incluem, conscientemente, o imponderável no fazer artístico. No campo artístico, como no campo científico, os métodos de investigação podem, também, transformar-se em dogmas cristalizados, conduzindo à imobilidade e à morte caso não se renovem. Observar, portanto, a maneira como os cientistas realizam sua autocrítica e buscar os meios de realizá-la no campo artístico, consideradas as diferenças já apontadas, pode tornar-se um exercício muito salutar. Pretende-se assim, para começar este exercício, situar a produção realizada no contexto artístico deste século. A seguir serão sintetizadas as características mais relevantes de alguns movimentos artísticos também deste século. Destaco os movimentos que possuem interfaces significativas com o trabalho prático que venho desenvolvendo, detectando aspectos identificadores, complementares ou diferenciadores entre eles e este trabalho. Primeiramente algumas postulações teóricas da primeira metade deste século serão resgatadas. De início é preciso relembrar Herbert Read (ver (READ55)) e suas considerações sobre a ampliação da consciência decorrente da evolução técnica, social e econômica que ocorreu, com o passar dos séculos, nas sociedades humanas. Tal processo possibilitou o desenvolvimento da compreensão formal do mundo como entidade em si mesma, entidade essa produto do esforço construtivo, que resultou em subseqüente ampliação da consciência por meio de processos sucessivamente cumulativos. Read abordou as manifestações artísticas em períodos históricos caracterizando-os ou pela prevalência, ou pela integração de dois pólos conceituais básicos: o vitalismo e a harmonia (ver (READ55), pg. 33, 36 e 76). Ele considerou tais pólos como característicos de todas as manifestações artísticas ao longo da evolução humana. A complexificação e diferenciação destas manifestações resultaram, portanto, da maneira como cada contexto social identificou e organizou sua produção artística, ora apoiando-se em um ou outro desses pólos, ora buscando maneiras de integrá-los. Tais pólos conceituais foram formulados primeiramente por Worringer (ver (WORRsd), pg. 27, 32/33, 38, 70/72, 82/84, 89/93), ao estudar os processos psíquicos que orientavam, no campo das artes, as matrizes criadoras. Na concepção deste pensador estas matrizes norteavam as tendências humanas de relacionamento com o mundo. Ele concebia este relacionamento como ocorrendo seja através da empatia como função direta do sentimento seja intermediado pela atividade abstrata cognitiva, através do desenvolvimento da capacidade de relacionar e de estabelecer categorias como forma de conhecimento. Com o passar do tempo, os graus de diferenciação entre os diversos processos que ocorriam na mente e que decorriam da imaginação e da apreensão da sensação em si mesma passaram a resultar paulatinamente da experiência individual indireta. Os paradigmas vigentes em cada época passavam aos poucos a intermediar a atividade cognitiva, distanciando o indivíduo da experiência direta com o mundo. Olhando tal fato ao longo da história, verifica-se que esse distanciamento levou o homem, algumas vezes, a perder o nexo com a experiência das sensações estéticas diretas como resultado do uso dos seus próprios sentidos. Nestes períodos, os artefatos artísticos tornaram-se repetitivos e estereotipados devido à aplicação recorrente de regras convencionais, perdendo sua natureza singular (ver (READ55), pg. 87). Nos primórdios da evolução humana, o pólo onde encontrar-se-iam esta ou aquela atividade artística pode ser detectado analisando as marcas deixadas pelo homem primitivo. Estas parecem o resultado material da projeção automática das imagens da memória. Posteriormente, com a geometrização da percepção em signos abstratos, teria ocorrido uma possível etapa relacionada com a estruturação da linguagem verbal. Essa estruturação pode ter conduzido os indivíduos a vivenciarem novas formas de experiência. A descoberta da composição formal e das leis harmônicas para manipulação das imagens pode ter provocado, em decorrência, novas organizações sígnicas. Estas novas experiências recorriam às imagens da memória, transformando-as, subseqüentemente, em novas imagens, signos ou símbolos. Cumulativamente tais experiências possivelmente amplificaram os raciocínios lógico e o analógico. O raciocínio lógico provavelmente permitiu o surgimento das ciências e o analógico possibilitou o desenvolvimento das manifestações artísticas. Para Read, a arte é o campo do conhecimento onde sentimentos e emoções são configurados, manipulados, gravados e/ou perpetuados; pode ser um ato mental de imaginação e concorrentemente de expressão. O trabalho artístico, naquilo que tem de mais característico, é uma tentativa bem sucedida de tomar conhecimento de uma dada sensação estética. Resulta ele da tentativa de dar "vida" a entidades ou objetos singulares. As sensações podem manifestar-se tanto no nível corporal como no nível mental. Neste último, elas resultam dos reflexos provocados pelo mundo sobre o indivíduo. No decorrer da evolução humana, a consciência do espaço e do tempo desenvolveu-se e modificou-se lentamente pelo exercício da prática artística. Propiciou o surgimento de novas áreas exploratórias da sensibilidade. Esse refinamento ocorreu lentamente. Entretanto a descrição do processo como esse refinamento aconteceu, assumindo ora um determinado conjunto de características, ora outro, ao longo da história humana, não é relevante para o escopo deste trabalho. O que aqui se pretende enfocar é o desembocar desse processo no surgimento de novas modalidades de consciência. Em primeiro lugar, descobriu-se a existência de processos inconscientes na psique humana (ver (READ55), pg. 106); e em segundo lugar, descobriu-se as possibilidade de experimentação sensorial de novas e intangíveis realidades ilusórias. Tais modalidades deslocam as manifestações artísticas da mimesis para a descoberta e exploração de novos limites subjetivos da consciência. Esse despertar não foi abrupto. No século XIX começou a ocorrer, de início descoordenadamente, a possibilidade do artista expressar o caráter único de sua individualidade. Read coloca este fato como sendo a grande expansão da consciência humana da sua época (ver (READ55), pg. 109 e 110). O intuito, ao destacar tal fato, não é psicologizar as manifestações artísticas, mas procurar compreender o processo cognitivo elementar de ideação que as embasa. Susan Langer considera que a percepção moldada pela imaginação possibilita o conhecimento do "mundo do lado de fora" (ver (LANG53), pg. 370). Segundo ela as questões psicológicas surgem e podem levar para o campo da antropologia, da biologia, ou mesmo da neuro-fisiologia. Assim, esbarra-se em outros campos do conhecimento devido às características inerentes à natureza dos fenômenos envolvidos. Fugir de tais assuntos é bloquear o progresso do pensamento sistemático. Os fatos devem ser estudados especificamente no campo do conhecimento de onde emergem, mas ignorá-los é um ato inconseqüente (ver (LANG53)). O fenômeno de busca dos conteúdos inconscientes para expressar o mundo da pura subjetividade é considerado por Read como uma grande ampliação conceitual porque incorpora a diversidade individual nas atividades artísticas. Ao tornar válida a experiência individual, assegura-se a todo e qualquer indivíduo o poder potencial de explorar outras fronteiras além daquelas estabelecidas como paradigmas vigentes (ver (READ60)). Talvez o fenômeno não tenha sido devidamente estudado, a não ser como exclusivamente psicológico, por ser muito recente do ponto de vista histórico. No campo artístico tal fenômeno assume características diferenciadas daquelas que apresenta no campo psicológico, pois a busca profunda desses conteúdos é intencional, consciente, assim como o resultado final da elaboração de tais vivências. Read, ao abordar a questão, pergunta-se sobre a possibilidade de o artista contemporâneo ter encontrado um método para observar o próprio "self" isolado do mundo exterior, "self" esse que considera uma mina inexaurível de imagens (ver os conceitos de inconsciente, arquétipo e "self" em (JUNG75) e (JUNG86). Ao falar em subjetividade, em expressão individual ou auto-expressão, não se está a referir a traços superficiais que caracterizam os personagens assumidos pelo artista durante sua vida. Antes, procura-se analisar as características subjetivas que permitem acessar canais de comunicação com níveis coletivos e arquetípicos que ultrapassam o nível superficial do ego e não são ainda bem compreendidos. Paul Klee caracterizou tais níveis como "lugares onde situam-se os poderes primevos de toda evolução", chamando-os também indistintamente de cérebro, criação, ou coração (ver (LAZZ72)). Para ele, o caminho estava na criação de imagens objetivas que incorporam valores impessoais absolutos. A nova modalidade de consciência, resultado da união do "self" com as forças naturais que nutrem toda a evolução, permitiria a criação de realidades artísticas, visando elevar a vida além da mediocridade. Para Read, a tarefa do artista moderno consistia em construir pontes entre os diversos indivíduos entre si, ou entre sua personalidade particular e os valores considerados por ele como universais. Parece-me que sua asserção começa a tornar-se realidade à medida que tecem-se redes de comunicação informacionais sobre o planeta. As interfaces de acesso a estas redes estão tornando-se tão interativas que a "construção de pontes" vinculando lugares e indivíduos transforma-se numa meta para muitos artistas. Fatores de convergência e síntese esboçam-se. São convergências e sínteses que poderão ultrapassar as fronteiras entre os diversos campos do conhecimento hoje ainda tão estanques. Prigogine denomina essa situação de nova aliança (ver (PRIG82)) e considera que ela decorre da interpenetração dos diversos campos do conhecimento uns pelos outros. A não segregação do pensamento parece tornar-se imprescindível e desejável num universo que assume, cada vez mais, características holísticas. Por que não parafrasear Klee e Prigogine, imaginando novas realidades artísticas a explorar fronteiras onde as trocas se permeiam, onde o lógico e o analógico se completam na tentativa de tomar consciência do próprio ato de perceber, pensar, sentir e criar enquanto se processam? O artista, quando projeta diretamente os conteúdos subjetivos de sua mente no seu trabalho (seja ele figurativo ou não), encontra-se no pólo caracterizado como vitalismo ou empatia. Quando cria campos sensoriais compondo e organizando sincronicamente realidades ilusórias, encontra-se no pólo da harmonia ou abstração, sem contudo precisar abandonar sua subjetividade. Pode assim elaborar realizações artísticas que se tornam, elas mesmas, novas realidades. Essas realizações artísticas não visam a representação do mundo, mas a criação de um mundo; perseguem um absoluto; engendram forças expressivas que se constróem, ou o resultado de construções que se expressam. Para Mondriam, a abstração era a expressão da pura realidade. Ele procurava expressar a unidade básica fundamental pela abolição da forma particular. Para ele, tal busca era uma necessidade vital e apaixonada. Ele procurava estabelecer uma lógica livre das limitações pessoais e utilitárias para atingir a perfeição formal num nível acessível apenas à pura intuição (ver (READ55), pg. 131). Essa procura da perfeição e da unidade pode ser encarada como uma busca arquetípica: a de expressar a totalidade de si mesmo ou do "self". Expressar, exprimir são palavras que carregam em si a sensação de desvelar e descerrar conteúdos. Se esses conteúdos são compostos por sentimentos e sensações vitais, ou por profundos simbolismos do "self", ou ainda por conteúdos conceituais racionais não é relevante para uma análise geral do que parece ser a característica mais singular dos movimentos artísticos do século XX: aquela que identifica, em sua essência, parte da atividade humana cognitiva como expressão, não de desejos, mas de relações, sem nenhuma conexão aparente, entre diversos conteúdos sensoriais, possibilitando o despertar de novos estados de consciência (ver (LANG53)). O objeto artístico criado constela esses estados. Ele configura-se na consciência do seu criador durante a concepção e durante a ação implícita para sua elaboração, caracterizando-se como objeto plasticamente configurado (ver (READ60), pg. 26). Ao constelar-se, ele traz à tona sistemas de memória previamente mapeados no cérebro (ver (YOUN68)). Amadurece então como sensação identificadora de um contexto, de uma matriz, ou de uma nova situação que aparece durante o ato de construí-lo (ver (READ60)). Emerge como objeto, material ou imaterial, resultante de uma manifestação singular, de um fazer, de uma criação. O conhecimento que temos da estrutura neuro-fisiológica do cérebro e suas funções é ainda muito limitado. No entanto, vários desses estudos já identificaram que, ao escolher uma alternativa, o indivíduo constela em seu cérebro um enorme conjunto de outras alternativas possíveis, que não serão escolhidas. Esse sistema é mapeado na memória e lá permanece latente e adormecido, mas pronto para ser acessado. Aquelas informações aprendidas, que são vitais para a sobrevivência da espécie, são incorporadas no código genético dos indivíduos no período de algumas gerações (ver (YOUN68)). No caso humano cogita-se ser a capacidade de reativar e reelaborar as matrizes estampadas na memória, através da imaginação, que possibilitou o desenvolvimento da linguagem verbal e até mesmo o surgimento de modos diferenciados da consciência. No início deste século o ser humano conquistou, virtualmente, a liberdade de escolher e aprender com essa escolha. No passado, a escolha errada poderia significar sua própria morte. Foi entretanto no campo do fazer artístico que o homem conquistou o poder de atuar com maior liberdade. A partir do advento da arte moderna o artista, que trabalhava por encomenda, viu seu esse trabalho ser cada vez mais desvalorizado. O "verdadeiro" artista passou a ser o indivíduo que determinava seu campo de experimentação e atuava nesse campo por meio de um conjunto de procedimentos e meios visando um objetivo. Este objetivo era escolhido por ele mesmo ou pelo grupo ao qual pertencia. Todos os fatores eram por ele determinados. Ele era livre para os escolher e escolhia-os baseando-se na sua sensibilidade e experiência pessoal, atribuindo-se o livre arbítrio para modifica-los. Esse ato consciente de escolha, livre e pessoal a partir da própria experiência, é aqui denominado auto-expressão. A palavra carrega conotações que a relacionam com os movimentos surrealistas e expressionistas. Foi utilizada, no entanto, por ser aquela cujo sentido geral mais se aproxima daquele acima descrito (ver (BRET68), (LIPM81), (LUCI85), (MARS89), e (STAN91)). À medida que o método rigoroso e específico das ciências se desenvolve buscando compreender as leis da matéria, o enfoque dos trabalhos artísticos desloca-se para a desmaterialização do objeto: seja como expressão dos estados psicológicos interiores dos artistas, seja como experimentação radical com formas, com cores, com materiais e com conceitos. (ver (MORA91), pg. 15) Repertórios poéticos são assim criados e estabelecem-se sobre leis organizadoras, amplas e variadas, que orientam a criação sem tolher a liberdade de sentir, de expressar, de explorar ilimitadamente as sensações e as imaginações. É interessante notar como muitas vezes neste século duas tendências aparentemente opostas, mas em geral complementares, acabam sendo reunidas numa terceira tendência que identifica a complementaridade existente, recombinando-as. Por exemplo, o minimalismo e a arte cinética, de modo diverso um do outro, unificam e reconciliam o suprematismo, o construtivismo para, por sua vez, serem conjuntamente incorporados nas experiências mais radicais da arte conceitual. No contexto deste documento procurei identificar interfaces conceituais com alguns dos movimentos artísticos deste século. Principalmente aqueles movimentos que levaram tais posturas às suas últimas consequências, experimentando com as possibilidades materiais que tais escolhas ofereciam. Detectei algumas características, nesses movimentos, com as quais sinto maior identidade, e outras das quais me diferencio. A partir delas, escolhi o conjunto das premissas que embasaram a experiência prática realizada. Dos inúmeros movimentos artísticos deste século, sumariarei a seguir aqueles com os quais dialoguei, destacando apenas os artistas que mais me influenciaram. SUPREMATISMO Movimento artístico surgido em 1913 na Rússia. Proclamava a sensação e a energia como sendo a essência do conteúdo da arte, cujos produtos (pinturas e esculturas) não possuiam relação com mundo visível, mas exprimiam formas originadas na mente humana. As formas simples e as cores puras foram utilizadas em requintadas proporções geométricas, pelos artistas desta corrente, para a elaboração de composições pictóricas e escultóricas. Nelas os artistas procuravam substituir a experiência espiritual pelo exercício autotélico da sensibilidade pura, equilibrada e harmônica. As composições tinham por base um conjunto de "axiomas composicionais" definido pelos seus autores. Com seu emprego visava- se atingir a transcendência do ser, remetendo o indivíduo a visões cósmicas desmaterializadas, livres da mímesis e da representação dos objetos. (ver (CHIP88), pg. 313 à 369, (MORA91), pg. 70 e 71 e (STAN91), pg. 100 à 102) O suprematismo liberou os planos da pintura que, desligados dos objetos do mundo, podiam ser preenchidos pelos significados poéticos das novas organizações formais neles engendradas. O movimento nasceu de uma "luta para estabelecer uma linguagem artística auto-suficiente" centrada na dinâmica da composição e em "um mundo artístico não objetivo". (ver (RAKI92), pg. 31) Kasimir Malevich foi o artista fundador desse movimento e também o mais radical, polêmico e prolífico de seus mentores. Escreveu inúmeros livros expondo suas investigações analíticas para a pesquisa artística aplicada que denominou "Ciência da Arte". Para Malevich a idéia de dinamismo agregava-se à noção de arte como pura energia . Energia e tensão energética são temas sempre presentes no seu trabalho: "eu pinto a energia e não a alma". (ver (RAKI92), pg. 27) Numa postura simbólica, que considero uma atitude artística das mais significativas deste século (zz a outra foi a de Duchamp ao expor "A Fonte", remeter para tópico ARTE CONCEITUAL)), Malevich, na exposição 0.10 em 1915 em Petrogrado, substituiu o ícone russo pelo quadrado preto. Ele organizou o espaço da exposição como hoje organizamos o espaço das "instalações" ou "ambientes". Seu quadrado preto foi considerado por alguns críticos como uma blasfêmia, por outros como o ato precursor de uma nova era cósmica. (ver (SHAT92), pg. 39 à 52) Assim, o quadrado preto tornou-se o símbolo da arte de vanguarda ("Avant-Garde") sendo reapropriado posteriormente por muitos outros artistas. O suprematismo coexistiu com o construtivismo sendo, às vezes, considerado como uma tendência deste. CONSTRUTIVISMO E NEOPLASTICISMO Esse movimento artístico surgiu na Europa pouco antes da primeira guerra mundial (1914). Nele, as categorias estéticas e funcionais influenciadas pela ciência, pela tecnologia e pelas ideologias da época foram apaixonadamente elaboradas pelos artistas, "designers" e arquitetos que dele participaram. Tais categorias baseavam-se nos processos e técnicas de produção seriada desenvolvidos pela tecnologia da sociedade industrial que então afirmava-se como modo de produção dominante. Os artistas construtivistas preconizavam a construção do mundo visível através de uma nova plástica construtiva. O escultor Avatar Morais considera que "a tecnologia de multiplicação de uma matriz ou produção em série, determina não só um tipo de forma, mas toda uma estética de amplas dimensões sociais. Não apenas uma estética, mas o referencial ideológico do desenho industrial", artes e arquitetura (Avatar Morais, texto inédito, ver (MORAsd)). Esses artistas desenvolveram os critérios estéticos, as morfologias e metodologias que permeiam toda a produção industrial contemporânea. Como no suprematismo, os artistas construtivistas voltaram-se para a arte como construção mental. Procuraram organizar as leis composicionais que explicitavam relações perfeitas e novas harmonias, visando livrar as obras de arte " de qualquer influência pessoal do artista". (ver (CHIP88), pg. 313) São inúmeros os artistas construtivistas e neoplasticistas. Interessa-me aqui destacar, dentre eles, o russo Vladimir Tatlin e o holandês Piet Mondriam. Tatlin perseguiu a idéia da hegemonia plástica absoluta, integradora do fazer e do sentir. Para ele, a percepção visual realizava-se através da sensação táctil do olho percorrendo a escultura e a visão deveria ser colocada sob o domínio do tato: "o olho vê e toca o trabalho". (ver (RAKI92), pg. 30) Ele deslocou seu interesse para os objetos comuns necessários à sobrevivência cotidiana, delineando o perfil atual do "designer" industrial que procura fazer do objeto industrial um objeto com certas características artísticas. A adequação que Tatlin conseguia entre a natureza dos materiais e as formas dos objetos viabilizou a obtenção de espaços ricos em sensações e significações. Seu projeto de monumento para a convenção denominada "Terceira Internacional" foi adotado pelas vanguardas artísticas ocidentais como um monumento à liberdade absoluta, um símbolo de uma nova consciência artística. O monumento à "Terceira Internacional" seria composto por uma torre metálica cuja forma era a de uma gigantesca espiral. Nessa estrutura ficariam suspensos, em diferentes níveis, um cilindro, um cubo e uma esfera, cada um girando em diferentes velocidades, culminando com um aparelho para projetar imagens nas nuvens. (ver (STAN91), pg. 119) Embora nunca tenha sido construído, esse monumento tornou-se um ideal artístico de integração entre pintura, escultura e arquitetura, influenciando muitos dos artistas cinéticos que se seguiram. Piet Mondrian, pintor holandês, preconizava a concepção da arte pela mente que assim poderia impor sua ordem racional. Ele considerava "a beleza universal" como um processo determinado pelo "ritmo dinâmico" decorrente das "relações múltiplas (...) e inerentes" que se estabelecem entre as formas. (ver (STAN91), pg. 174) Para ele toda forma tinha sua expressão própria, tornando-a inseparável de seu conteúdo. Mondriam negava a "concepção naturalista e a orientação descritiva" (ilustrativa), literária ou decorativa da arte. Para ele as leis de equilíbrio dinâmico permitiam a "construção de um ritmo de relações mútuas (...) juntamente com as relações de posição e dimensão" governando as composições. A grande luta dos artistas consistia em conseguir expressar o "movimento dinâmico em equilíbrio" que ele dizia ter tentado obter com a obra "Victory Boogie Woogie". (ver (CHIP88), pg. 353 à 369) CONCRETISMO E NEO-CONCRETISMO BRASILEIROS No Brasil o concretismo, influenciado pelo construtivismo e suprematismo russos principalmente, estabeleceu-se por volta de 1950. Desenvolveu-se, entretanto, com características próprias, misturando várias tendências. O movimento é considerado como uma das vertentes da arte concreta internacional que surgiu por volta de 1930. Seu objetivo era "criar uma nova realidade", (ver (MORA91), pg. 27) enfatizando a idéia como sendo a mola propulsora da criação artística. Apoiava-se na matemática como instrumento conceitual para realizar tais idéias e concentrava suas preocupações nos problemas da linguagem. Esta era considerada como o fator estruturador que possibilitava atribuir aos signos novas significações ao desloca-los de seu contexto. (ver (MILL92), pg. 151 e 152) Nessa época o país se industrializava, se atualizava tecnologicamente e a proposta desenvolvimentista empolgava a sociedade que ansiava e ainda anseia pela modernização. O questionamento entre o novo e o velho era constantemente investigado. A mutação e a ruptura permanente tornaram-se metas e criaram um ambiente intelectual formado por grupos de pessoas que tinham em comum o horror à estagnação. Assim, na busca inquieta do novo, com uma voracidade antropofágica e uma criatividade exuberante, os artistas concretos buscaram "ultrapassar as limitações provincianas", (ver (MILL92), pg. 19) procurando "liberar significações, propor condições de apropriações diversificadas delas e, principalmente, gerar possibilidades para a elaboração de novas significações". (ver (FABB94), pg. 8 e 152) Procuro mostrar meu entusiasmo, sem constrangimento, assumindo as influências que absorví dos artistas concretos e neo-concretos brasileiros. Centro-me, no entanto, nos dois artistas que, em minha opinião, são os mais radicais: Waldemar Cordeiro e Lygia Clark. Estes dois artistas levaram a seus extremos a "aventura da razão", a aventura do sentir, a aventura do ser livre, assim como a aventura de contactar o "fluxo imagístico do inconsciente". (ver (MILL92), pg. 34) Waldemar Cordeiro foi um artista radical, polêmico e polemizador, cujo trabalho era pautado por princípios próprios, pelo rigor lógico, pela auto-disciplina e por uma racionalidade capaz de incorporar o "programa" e a "desordem". Suas estruturas aleatórias são campos probabilísticos e transformáveis que incorporam o espectador que é estimulado a delas participar. (ver (BELL86), pg. 27) Em 1968 Cordeiro iniciou a série BEABA realizando operações combinatórias através do cálculo de probabilidades por meio de programas computacionais, gerando palavras ao acaso. No ano seguinte, criou o primeiro trabalho de arte digital ou computacional no Brasil, denominado "As Derivadas de Uma Imagem", suplantando o atraso técnico dos computadores existentes naquela época através de um "enorme esforço artesanal". (ver (BELL86), pg. 32 e 33) Explorou processos aleatórios pesquisando a definição de imagens criadas por meio de dígitos em impressoras matriciais, passando posteriormente a trabalhar com traçador gráfico ("plotter") de quatro cores. A arte digital ou computacional foi chamada por Cordeiro de "ARTEÔNICA". Nela as linguagens artificiais são utilizadas através de programas que permitem ao ser humano fazer com que as máquinas executem, com rapidez e eficiência, tarefas que poderiam consumir toda uma vida para sua realização. Assim, o artista pode experimentar grande número de variações de uma mesma composição visual ou sonora, ampliando sua sensibilidade e seu repertório. Ainda hoje é preciso clareza, disciplina e método para conceber e realizar trabalhos intermediados por computador, embora já seja possível brincar. No entanto, na época de Cordeiro a descrição exata das diversas etapas, juntamente com a formulação lógica e clara dos objetivos a serem alcançados era absolutamente imprescindível. Apesar do enorme trabalho artesanal envolvido, pois as instruções eram fornecidas ao computador por meio de cartões perfurados, o grande número de combinações obtidas por Cordeiro já dava para antever a revolução que se anunciava e que de fato poderia vir a possibilitar a aventura que se delineava como sendo uma aventura da razão. Lygia Clark por outro lado ampliou, como nenhum outro artista brasileiro contemporâneo, as fronteiras da experiência sensorial. Anarquista e radical, Lygia emaranhava vida e obra num processo transformador que resgatava a poesia. Integrava assim, o artista, a obra e o fruidor. O artista se expressava, o objeto seduzia e o fruidor experimentava ampliando os limites de sua sensibilidade e revivendo sensações adormecidas na memória do seu corpo. Recuperava dessa maneira, o prazer de agir e de transgredir e o privilégio de criar. (ver (MILL92), pg. 30, 31, 94 e 96) Lygia deixava-se invadir pelo inconsciente num jogo de submissão e liberação que lhe dava "insigths", "percebendo a potencialidade transformadora do imaginário posto em ação". (ver (MILL92), pg. 32 à 34) Ela movia-se pela "necessidade de abrir espaços (e) criar situações onde o ser possa exercitar sua liberdade". (ver (MILL92), pg. 35) Seus "objetos relacionais" permitem a elaboração das percepções através de um processo de transformação que restitui aos fruidores sua corporalidade. Os fruidores tornam-se o foco dos trabalhos. O interesse desloca-se da obra que permanece, para a inovação que se processa a partir da proliferação combinatória dos signos. Proliferação esta que acontece através das experiências sensoriais e que produz modos de conhecimentos não convencionais naqueles que vivenciam tais objetos. Depois de penetrar nos "objetos relacionais", onde as experiências sensoriais são amplificadas e desvelam sutilezas de sons, de texturas, de tensões e de interações, nada mais me parece revolucionário. Fico a perguntar quais sensações poderíamos despertar no mundo virtual das simulações computadorizadas, que ainda privilegiam muito o olhar, e que não poderiam ser vivenciadas de outra maneira. Será possível explorar os limites dos sentidos em ambientes computacionais, tecendo sensações interpessoais, que propiciem experiências coletivas com virtualidades de outra maneira improváveis? Qualquer coisa menos ousada desmereceria essa pesquisadora do sensorial e mensageira do devir que nos precedeu. Lygia integrou a arte brasileira no contexto internacional. Deu-lhe certas características decorrentes da entrega a um sentir libertador que leva o indivíduo a entrar em contacto com seu corpo e com o corpo do outro e não pela utilização de aspectos folclóricos da cultura brasileira. Lygia fez da poesia visual e da criação um estado existencial que conduz à sensibilização interpessoal transformadora. ARTE CONCEITUAL A arte deste século caracterizou-se pela experimentação sensorial em todos os níveis, culminando, na década de 60, com a experimentação autotélica com as próprias idéias, tendências e conceitos que surgiam no campo artístico, reoperando-os. Marcel Duchamp em 1917 declarava estar "mais interessado nas idéias do que no produto final": "a arte como idéia". (ver (STAN91), pg. 182 e 183) Ao expor em Nova Iorque o trabalho denominado "A Fonte" (um mictório) e os objetos industriais existentes (os "ready made"), Duchamp inaugurou o questionamento irreverente sobre o estatuto do objeto artístico. Depois desse fato o ato criativo foi reduzido "à decisão singular, intelectual e largamente aleatória de chamar "arte" a este ou aquele objeto ou atividade". (ver (STAN91), pg. 182) Desde então arte passou a ser tudo aquilo que os artistas, os críticos de arte e os teóricos da arte decidiram chamar de arte. Partindo dessa premissa a arte conceitual vai atrair os artistas que se propunham a investigar a poética do pensar visual através de propostas de criações mentais. Eles baseavam-se na exploração de conceitos, de processos e de situações significantes. As idéias tornaram-se a matéria prima dos artistas que as reoperavam incessantemente, sempre exigindo a participação ativa do espectador. Inúmeros experimentos reelaborando aspectos sensoriais, conceituais, cinéticos, cibernéticos, entre muitos outros foram realizados. Embora a diversidade de tendências dentro dessa corrente seja enorme (arte processual, arte do corpo, arte da terra, arte performática, arte de informação, etc) o que as congregou foi a extrema preocupação com a linguagem utilizada, que muitas vezes tornava-se material e tema dos trabalhos realizados. Por mais radicais que tenham sido, as propostas conceptualistas não eliminaram o objeto artístico, nem o mercado de arte. Entretanto elas serviram para expandir sua flexibilidade, possibilitando transformar quaisquer signos em signos artísticos para com eles experimentar, criando outros signos. Os significados, assim desmaterializados, foram renovados, revitalizados, existindo apenas como processos admiráveis de transmutação, proliferação e obsolescência dos repertórios sígnicos. MINIMALISMO No movimento minimalista, como no construtivismo e suprematismo, os objetos artísticos caracterizaram-se pela ausência de referências líricas, ideológicas ou literárias. (zz ver (MORA91)) Os artistas minimalistas procuravam buscar a vivência da sensação em si mesma como fenômeno a ser experimentado, explorando sutís variações sensoriais. Eles tentavam transcender os limites de sua própria individualidade, libertando-se da auto-representação e da representação do mundo imediato que os cercava. Para atingir essa meta eles delimitavam conjuntos redutores de alternativas, criando condições para a vivência de todas as possibilidades combinatórias que se poderia experimentar com os conjuntos delimitados. A qualidade da sensação, a ser vivenciada, era exacerbada pelos artistas minimalistas através da repetição de formas, da sombra projetada, da dimensão ou do arranjo inusitado de certas configurações. O espectador por sua vez era confrontado com inumeráveis reorganizações sutís de conjuntos de variações combinatórias. O artista brasileiro Almir Mavigner, por exemplo, cria pequenas diferenças de textura e de sombreamento, provocando a disposição aleatória de volumes similares de tinta espessa que são dispostos com extremo rigor sobre a tela. Os artistas minimalistas negaram toda e qualquer representação decorrente de sua subjetividade imediata. Reduziram seu repertório a um número mínimo de estruturas básicas que repetiam reiteradamente, incorporando pequenas variações. Esgotavam assim as relações pertinentes entre tais elementos que eram definidos previamente. Os artistas minimalistas buscaram apresentar, no sentido de desvelar, os elementos componentes de suas obras: os materiais que utilizavam, o suporte que empregavam para o trabalho, as relações que estabeciam, as forças naturais e cósmicas com as quais lidavam. Todos os elementos perderam seu caráter representacional, passando a ser eles mesmos os objetos de conhecimento e de reflexão através da repetição exaustiva do maior número possível de pequenas variações combinatórias. Quando somos colocados frente à frente com variações minimalistas sobre uma única forma, uma única cor, uma seqüência sonora, ou mesmo sobre um material qualquer da natureza que passa então a constituir-se numa entidade singular, somos súbita e intensamente confrontados com o impacto decorrente da sensação que essa entidade provoca em nós no momento de sua apreensão. Um bom exemplo, entre os inúmeros trabalhos de artistas que pertenceram a este movimento, é o livro do artista plástico Sol Lewitt entitulado "Lines in Two Directions and in Five Colors on Five Colors with all their Combinations". (ver (LEWI89)) Como seu nome já explicita, este livro trás um conjunto de todas as combinações de linhas em duas direções e cinco cores, sobre superfícies em cinco cores. Ao folheá-lo somos confrontados com a riqueza das variações obtidas pelo artista e com nossa própria capacidade de detectar padrões tão sutís de variações. ARTE CINÉTICA Nesta corrente as relações espaço-temporais foram explicitadas pela exploração do movimento levado até suas últimas consequências. O estudo do movimento passou a ser o foco consciente da extensa pesquisa realizada. O eixo das pesquisas deslocou-se da busca individual para a pesquisa grupal. Proliferaram os grupos de pesquisa: Grupo de Pesquisa em Artes Visuais (GRAV), Grupo N, Grupo Zero, Grupo T, Grupo Nouvelle Tendance entre muitos. (ver (BRETT68) e (POPP68)) Todos utilizaram intensivamente os meios tecnológicos desenvolvidos pelo sistema industrial de produção e os novos materiais por ele produzidos. O ponto comum às diversas manifestações centrou-se na tentativa de trazer o movimento dinâmico para o campo das artes visuais. O movimento sempre esteve presente nas configurações visuais estáticas produzidas anteriormente; apresentou-se em sequências narrativas como nos arcos de triunfo; ou mesmo esteve apenas virtualmente presente nos temas ou nas atitudes características de situação de movimento. É impossível negar na "Vitória de Samotrácia" a presença marcante do voo. No entanto, o movimento estudado pela arte cinética caracteriza-se como resultado do deslocamento de algo no espaço por um período de tempo conhecido. Este tipo de movimento passou a ser o foco consciente da extensa pesquisa realizada. Muitos conceitos empregados pelos artistas cinéticos podem ser encontrados nas novas geometrias. Traduziram a geometria em máquinas construídas como uma extensão do homem, com qualidades ergonômicas, e estabeleceram com elas uma perfeita interface. Utilizaram também os conhecimentos astronômicos e atômicos, formulando com eles novos enigmas, expressando as novas cosmologias através de metáforas. Vários são os artistas atentos às descobertas de seu tempo. Gostaria de destacar Júlio le Park, do Grupo de Pesquisas em Artes Visuais, e Nicolas Shoeffer, cujas produções caracterizaram-se pela constante experimentação. Eles incorporaram no seu trabalho tanto os novos materiais (aço, alumínio, plásticos), como o dinamismo essencial da civilização contemporânea e de sua ciência. As palavras de Shoeffer caracterizam bem sua postura teórica: "L'introduction de l'indétermination superposée aux structures ouvre une étape nouvelle dans l'evolution des concepts que régissent les fondements de l'art...Rigueur plus indétermination égalent l'infini. Toute ouverture de formes est provoquée par la catalyse de ces deux contraires"(ver (HABAsd)). Em suas pesquisas Shoeffer continuou a desenvolver as posturas de artistas construtivistas como Naum Gabo e Nicholas Pevsner. Colocou a síntese entre o audível e o visível no centro de suas preocupações e tentou unificar estes dois modos de expressão de natureza tão distinta. Utilizou a idéia magistral de recorrer à cibernética para animar torres escultóricas gigantescas. Pequenos motores incluídos nas obras atuavam junto com o equipamento cibernético . Possibilitaram eles ilimitadas combinações de elementos e introduziram um grau de indeterminação no comportamento cinético da obra. A pesquisa realizou-se com a colaboração do engenheiro François Terny da Philips. A aplicação cibernética abriu enormes perspectivas para as artes visuais. A introdução do elemento temporal em obras animadas permitiu a incorporação do espaço e do tempo como aspectos interdependentes e indissociáveis da realidade. Anamorfoses óticas foram obtidas através de deformações nas estruturas de base por meio de luzes coloridas e em movimento projetadas sobre elas. Famílias de formas rigorosamente escolhidas e estruturadas foram "abertas" pela introdução de parâmetros diversos que permitiam a recriação perpétua dando à obra um caráter mutável. Ao incorporar em sua obra a noção de espetáculo urbano Shoeffer realizou o projeto construtivista sonhado por muitos dos artistas que o antecederam. Formas luminosas dinâmicas em torres espaciais gigantescas difundindo música eletro-acústica e poemas eletrônicos afirmaram o caráter distintivo das cidades que as construíram: o sonho de Tatlin realizou-se. A CONTEMPORANEIDADE E A PROLIFERÇÃO DOS SIGNOS Abordar a modernidade de modo tão sucinto reduz demasiadamente sua complexidade. É preciso ressaltar que o fenômeno com o qual dialogo é ambíguo e contraditório. Muitos artistas investiram em construir para criar uma nova ordem (ver (BRETT68) e (POPP68)), outros procuraram subverter a ordem existente, mostrando o irracionalismo destrutivo e coersor que a permeava (ver (BRETT68) e (POPP68)). A coexistência complementar de tais tendências reflete os paradigmas básicos do período. Em seu conjunto, as diversas tendências que caracterizaram a modernidade, evidenciam a complexidade e a multiplicidade de nossa época. Do ponto de vista do trabalho que realizei, a sistematização, mesmo que sumária, das tendências pelas quais sinto maior empatia permitiu a identificação e a escolha do conjunto das premissas com que tenho trabalhado. A empatia que sinto pelos movimentos artísticos citados levou-me a escolhe-los, entre tantos outros, para com eles dialogar. Quando as possibilidades de escolha criam número excessivo de conjuntos combinatórios, é preciso selecionar algumas destas possibilidades como ponto de partida. A escolha, entretanto, é apenas estratégica, pois restringir a incorporação de características, inadequadas num dado momento criativo mas adequadas a outros, seria restringir a tão prezada liberdade. As correntes artísticas escolhidas são pois apenas algumas dentre as inúmeras que coexistiram sincronicamente na modernidade. Muitos artistas transitaram entre elas de acordo com sua vontade, suas convicções, suas crenças, suas ideologias e suas visões de mundo. Eles dilataram as fronteiras cognitivas e perceptuais, esgotando as possibilidades experimentais da realidade factual conhecida. A compreensão do fenômeno artístico em sua totalidade, como atividade criativa, possibilita-nos ampliar o conceito de arte. Isso propicia a incorporação nele da aventura exploratória decorrente da criação de objetos virtuais imaginários. Esses objetos são capazes de constituirem-se nos futuros repertórios sígnicos da ordem histórica que Jaques Attali denomina de "ordem dos códigos". (ver (PESS93), pg. 172/190) Joseph Campbell, ao estudar comparativamente as mitologias, refere-se a dois tipos básicos de seres humanos: "...o ser humano animal, prático, e o ser humano suscetível de deixar-se seduzir pela beleza divinamente supérflua." (ver (CAMP93), pg. 12) Parece-me no entanto, que o maravilhoso fenômeno chamado "vida", ao permitir os mecanismos da reprodução, da interação e da outo-organização, provavelmente mesclou tais tipos humanos. Talvez decorra dessa afirmação a minha identificação com a esperança utópica dos suprematistas de poder despertar nos indivíduos sensações que os tornem suscetíveis à sensibilidade pura, equilibrada e harmônica. Tal tipo de sensibilidade parece totalmente supérflua, no mundo agônico das sociedades contemporâneas. Hoje, ainda mais do que na época de Malevich, a violência, a angústia e o conflito transformaram-se em espetáculo crú e explícito. Talvez por isso mesmo sinto ser tão necessário ampliar o espaço para a veiculação dessas poéticas, nas redes hipermidiáticas que constituem os sistemas de comunicação informatizados. Urge começar a construir a paz através do exercício da harmonia, antes que a devastação inconseqüente, as doenças epidêmicas e a guerra se espalhem pelo planeta. Para Edgard Morin, o pensamento humano é algo de singular que "não reflete o real, ele o traduz, não reflete o mundo, faz uma representação dele." (ver (PESS93), pg. 92) As matrizes de mundo congenitamente mapeadas no nosso cérebro são consideradas como sendo as responsáveis pelos modelos de realidade externa que determinam a percepção humana. (ver (YOUN68), (LANG72) e (MERL71)) Será possível induzir transformações nessas matrizes, por pequenas que sejam, abalando a visão dualista e determinista de mundo, através da produção no receptor da sensação de harmonia, unidade e totalidade? Este caráter holístico foi comum a muitas das antigas cosmologias humanas e parece profundamente estabelecido no nosso modelo de mundo, como podemos deduzir pelos inúmeros mitos que chegaram até nós. A fusão dos conceitos de espaço e tempo como características interdependentes passa a constituir, na atualidade, um novo modelo cosmológico que amplia o conhecimento e a compreensão que temos do universo. O espaço e o tempo perderam o caráter que os distinguia e que os caracterizava como duas "instâncias independentes e distintas", sendo hoje concebidos como uma totalidade. (ver (SZAM88)) A função da cosmologia hoje, como no passado, continua a ser a de ampliar a nossa compreensão do universo conforme o que dele conhecemos. Ela coloca-nos assim em harmonia com esse universo. A nova dimensão da consciência, que precisamos agora buscar, deriva-se dessa harmonização. Seu propósito é unir o individual, o coletivo e o universal, atuando de modo construtivo e transformador através da modalidade criativa da consciência. O fenômeno criativo visa fazer emergir a sensação do admirável, possibilitando concretizar a razão criativa humana. Apenas algumas obras de arte produzem admiração irrestrita sem necessidade de explicação. Para Charles S. Peirce, a ciência e arte fazem avançar a razão criativa humana. Para ele, ação, sentimento e criação são dimensões indissociáveis da razão. (ver (PEIR90), (SANT92b) e (SANT92a)) A arte torna mais surtis os sentidos humanos, desencadeando sensações e regenerando a sensibilidade. O artista explora, descobre e concretiza as virtualidades que imagina. Visa apenas exercitar a sensibilidade, despertar a curiosidade e a vontade do outro - o receptor - impulsionando-o para a ação. A arte resgata o universo das possibilidades, provocando no outro uma qualidade integral de apreensão através do ato de admirar. Ela leva a consciência para um estado de disponibilidade esvaziada de tudo que não seja a pura sensação do efeito que a produziu. Assim, dilue as fronteiras entre a qualidade que se apresenta e a reação que produz na mente do receptor. (10) A semiose humana caracteriza-se como sendo a vocação para o conhecimento. (11) Considero que as fronteiras da atividade artística encontram-se hoje junto às simulações ilusórias de realidades imaginadas. Novas realidades podem ser concebidas e experimentadas, contempladas e transformadas. Por sua própria natureza elas são permeáveis à manipulação e à intervenção. Assim, ao vivenciar as aventuras da razão, do sentir, do libertar e do contactar o fluxo de imagens do inconsciente procuro desbloquear o caminho para o conhecimento desbravando fronteiras do desconhecido. REFERÊNCIAS (1) segundo Peirce todos os tipos de consciência entram na cognição, ver (PEIR90), pg. 16 # 379 à 383 e pg. 306, pg. 586) (2) geometria significava, em grego, medir a terra (3) O teorema da incompletude de Göedel nos diz que "se fixamos as regras de inferência e um número qualquer de axiomas, haverá asserções precisamente formuladas sobre as quais não podemos demonstrar nem que são verdadeiras nem que são falsas." (ver (RUEL93), pg. 197) Esse teorema mostrou que teorias matemáticas aparentemente simples como a aritmética dos números inteiros possuem uma complexidade cujo alcance não podemos imaginar. (ver (RUEL93), pg. 201 e (PENR93), pg. 117 à 119) O exemplo mais simples de aplicação desse teorema que podemos formular é escolhermos duas teorias matemáticas e considerarmos suas diferentes ferramentas (axiomas, regras de inferências e teoremas) como objetos matemáticos. Ao aplicar recursivamente esses dois objetos matemáticos (ou essas duas ferramentas) a qualquer uma das teoria escolhidas poder-se-á obter resultados totalmente diversos daqueles alcançados caso se utilizasse apenas as ferramentas próprias da teoria em questão. (ver (RUEL93), pg. 201 e (PENR93), pg. 117 à 131) Göedel demonstrou com esse teorema que os axiomas fundamentais da matemática possuem uma certa dose de acaso (incompletude) que pode conduzir a contradições, isto é , partindo-se de um mesmo conjunto de axiomas pode-se provar algo e também o seu oposto. (ver (FRAN85), pg. 16) (4) Os números binários são números escritos com os caracteres 0 e 1. Em lugar da base 10 do sistema decimal a que estamos acostumados, o sistema binário de numeração possui base 2. Isto quer dizer que no lugar da unidade temos 2 elevado à potência 0 que é 1, no lugar das dezenas temos 2 elevado à potência 1 que é 2, no lugar das centenas temos 2 elevado à potência 2 que é 4, e assim sucessivamente. O valor absoluto do número é dado pela soma das potências de 2: por exemplo o número binário 101 corresponde à 5 (1*2^0 + 0*2^1 + 1*2^2 = 1+ 0 + 4 = 5) 5. Estruturas dissipativas é o nome dado por Ilya Prigogine a certas "instabilidades" existentes na natureza que dissipam energia. São vários os exemplos de estruturas dissipativas (zz ver (RUEL93), (COVE92), (PEAT88) e (PRIG93) pg. 38) que se auto-organizam em determinadas condições: 5.1. Existem certas colônias de organismos unicelulares independentes ("slime molds") que, em determinadas situações ambientais, diferenciam-se e agregam-se formando um único organismo multicelular mais complexo, podendo voltar novamente à forma de colônia de organismos unicelulares face a outra situação ambiental; 5.2. Em determinadas situações correntes estáveis de convecção instalam-se na água quente produzindo padrões hexagonais estáveis; 5.3. Os relógios químicos foram identificados a partir de reações químicas particulares, que se processam em séries, mudando de cor e de padrão a intervalos regulares de tempo. Constituem-se de trilhões de moléculas atuando de modo muito complexo e em uníssono, cada uma parecendo "saber exatamente o que cada uma das outras está fazendo - elas podem 'comunicar-se' uma com as outras." (zz ver (COVE92), pg. 36) O fenômeno da auto-organização em certos sistemas vem sendo estudado como resultando de flutuações iniciais de comportamentos desordenados ( não lineares) dos componentes do sistema. Esses comportamentos são simultaneamente aleatórios e deterministicamente previsíveis, repercutindo e propagando-se através de todo o sistema. O conceito de caos como algo indiferenciado dá origem ao conceito de caos como algo criador e fecundo a originar as mutações, as inovações e as transformações que caracterizam o processo dinâmico do sistema. 6. Campo físico é a denominação dada a certas fenômenos naturais ondulatórios que são expressos matematicamente como campos vetoriais. Os exemplos mais conhecidos de campos físicos são os campos magnéticos e os campo elétricos. (ver (PENR93) pg. 205 à 208) 7. Entropia em grego significa evolução (ver (PRIG93) pg. 45), em termodinâmica quer dizer "uma espécie de desordem manifesta" (ver (PENR93) pg. 343) que permanece constante nos sistemas fechados ou aumenta quando os processos são irreversíveis (ver (RUEL93) pg. 147). O "termo 'irreversível' refere-se apenas ao fato de que não foi possível acompanhar, nem controlar, todos os detalhes relevantes dos movimentos das partículas individuais no sistema." (zz ver (PENR93) pg. 343) 8. Ver nota 5. 9. Por arquétipos entende-se certos conjuntos de procedimentos mentais primordiais que povoam a imaginação humana e que possuem caráter geral e universal. Os arquétipos são formados por imagens, motivos ou idéias estampados na mente humana ao longo evolução e que se constelam, num dado momento, representando certas probabilidades psíquicas cujas ocorrências evocam ressonâncias similares na mente da maioria dos indivíduos da espécie (ver (JUNG58), pg. XXI e 277). (10) Santaella - notas de aula - A sensação, no sentido pierciano do termo, é o requisito básico para a apreensão da qualidade de algo que se apresenta na mente do receptor, no momento exato em que este toma consciência desse algo e de seu efeito, instantaneamente ao ser este produzido. (11) Santaella - notas de aula- A semiose é o fio conector que liga todas as coisas no universo e na natureza: as estrelas, as galáxias, os homens, os animais, as plantas, os minerais, assim como a arte, a ciência e a cultura. A semiose é a ação do signo: ação mediada por um propósito, por uma meta; ação que não precisa ser nem consciente nem humana. BIBLIOGRAFIA: (ABBO91) Abbott, E. (1991). Flatland. USA: Princeton University. (ADLE58) Adles, Claire Fisher (1958). Modern Geometry. USA: Mac Graw-Hill. (ADLE67). Adler, I. (1967). A New Look at Geometry. Londres: Dennis Dobson. (ALBE92) Alberti, Leon Battista. (1992). Da Pintura. Brasília: Editora UnB. (ANDR89) Andrew, J. D. (1989). 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