Minha resposta ao parecer da FAPESP

 

É com grande alegria que tenho a oportunidade de mostrar os meus árduos esforços após 1988 para continuar o desdobramento do meu modelo de ecodesign desenvolvido na dissertação de Mestrado com bolsa da FAPESP por dois anos e meio. Esse empreendimento implicava no eclodir de uma nova consciência geométrica como base projetual e num método computacional que só tomou forma adequada a partir de 1995 através da versão 4.0 de Self, que foi desenvolvida a partir de 1987 pela Universidade de Stanford e Sun Microsystems Laboratories em alinhamento fiel à concepção do modelo de ecodesign.

Apesar da grande contribuição e receptividade que recebi por parte da comunidade internacional dos departamentos de arquitetura e computação, não foi possível a minha ida ao exterior pois os orientadores em potencial ligados à UCLA, Universidade da California em Berkeley, Faculdade de Ciências Arquitetônicas da Universidade de Sydney, Architectural School of Architectural Association de Londres que outorga diplomas em Sustentabilidade Urbana, Universidade de Aarhus e Aalborg da Dinamarca e Universidade de Concordia, Montreal não podiam indicar antes de minha ida ao exterior especialistas em grupos de simetria do plano.

Os meus estudos desse tópico conforme descrição a seguir atesta o nível de maturidade da comunidade de matemática no Brasil e internacionalmente, possibilitando a exploração de um assunto que requer coordenação precisa entre os raciocínios matemático, algébrico e artístico.

*   Leitura dos principais livros sobre M.C. Escher conforma arrolado nas referências da tese de doutorado.

*   No Mestrado, Elementos de topologia e catástrofe (ver programa em anexo).

*   SMA-776 Introdução à Topologia Algébrica. Oziride Manzoli Neto 1989 onde me conceitrei em Complexos Simpliciais.

*   Participação no 17° Colóquio Brasileiro de Matemática realizado no período de 17 a 21 de julho de 1989 no IMPA, realizando o minicurso sobre complexos simpliciais de Jonas Miranda. Ai conheci Antonio Castelo que a partir de 1995 interagiu comigo no ICMSC.

*   SMA-738- Estruturas Algébricas. ICMSC-USP. 1989 ( Única algebrista no ICMSC que iniciou suas atividades em agosto de 1989 lá).

*   Introdução à álgebra (Anéis e grupos). IMPA. 1990

*   Atividade Programada intitulada "The group of the isometries of the plane and linear groups" (ver programa em anexo). ICMSC. 1990

*   Atividade programada sobre grupos discretos do plano (ver atestado em anexo), desenvolvendo a monografia intitulada Urban design generation through prototiles and symmetries of Euclidean space to create the One sob a supervisão do Dr. Christopher Alexander e Oziride Manzoli Neto (ICMSC-USP).

*   Paper de trabalho intitulado A design model reasons on space dovetailing geometric reasoning layers. EESC – USP

*   Paper submetido ao Workshop on Geometric Modelling –IMPA- Janeiro de 1991 intitulado A symmetry gorup theoretical approach to architectural design generation.

*   Em 1996, tentou-se montar um projeto temático com matemáticos do ICMSC e meu orientador de doutorado Prof. Dr. Jorge de Rezende Dantas e mudou-se o projeto de pesquisa para a forma atual. Constatou-se a incompatibilidade de diálogo com os matemáticos naquela fase do projeto, o que me levou a buscar o auxílio do Prof. Dr. José Eduardo Hornos do Instituto de Física de São Carlos USP.

*   Teoria de Simetrias e Mecânica Quântica. 1996. Instituto de Física de São Carlos- USP. Após assimilar a maneira como os físicos utilizam o instrumental matemático para aplicações interdisciplinares, o trabalho tomou um rumo "hermenêutico".

*   Resolução de exercícios e demonstração de teoremas de teoria de grupos , de álgebra linear e de grupos discretos de simetria sob a supervisão de Oziride Manzoli Neto (ICMSC-USP). 1996

*   Estudo de tilings sob a orientação do Dr. Antonio Conde (ICMSC-USP). 1996

Mini-curso em Presentações de Grupos Livres. Prof. Guilherme Leal da UFRJ realizado no IME-USP na XI Escola de Álgebra no período de 09 a 14 de julho de 1990.

*   Mini-curso ministrado por Michel Spira no IMPA na XIV Escola de Álgebra em 1996 .Aqui entrei em contato com o Dr. Said Sidki da Universidade de Brasília. Indicou-me o Dr. Ronai Romeu Rocco como mais indicado para o tópico abordado.

*   Realização do Trabalho Programado intitulado A natureza autopoiética da morfogênese urbana para o doutorado da FAUUSP e que consistia essencialmente da análise dos grupos de simetria do plano e do plano sem ponto. Fiz afirmações naquela época que foram endossadas pelo Prof. Dr. Jorge de Rezende Dantas devido ao seu conhecimento de fractais. Só quando encontrei o livro de Jablan é que a tese tomou sua forma definitiva e consiste numa iniciação dos arquitetos aos aspectos geométrico-algébricos do ecodesign. Quando toda essa teoria for implementada por computador, nenhum designer terá problemas para compreendê-la. Tudo será gerado em segundos, aproveitando-de do poder elucidativo da imagem geométrica.

*   O Dr. Ronai Romeu Rocco ficou de suplente na minha banca de doutorado com a incumbência de emitir parecer sobre a parte matemática da tese e aprová-la caso estiver de acordo. Não participou da banca, pois a FAPESP não dispunha de recursos para trazê-lo de Brasília. Os professores de São Carlos não se sentiam à vontade com o meu discurso interdisciplinar, embora o Prof. Dr. Antonio Conde tenha sido meu co-orientador de Mestrado e participou da Banca de Mestrado. Já o Prof. Dr. Antonio Castelo, matemático do departamento de Computação e com três anos de formação em engenharia civil se sentiu sempre perfeitamente à vontade para interagir comigo e ficou decidido que ele representaria São Carlos na banca examinadora de doutorado.

Passo a relatar os objetivos a serem atingidos no projeto de pós-doutorado:

*   Lançar os fundamentos filosóficos da computação hermenêutica que ainda estão por serem definidos a nível internacional. As referências relativas a essa parte na sua maioria na língua alemã já foram lidas e analisadas nos primeiros 4 meses desse ano e após a execução das etapas a seguir pode-se proceder a um relatório.

*   Já se encontra em desenvolvimento um tutorial de Self, visando facilitar a programação das aplicações predominantemente gráficas do modelo de ecodesign.

*   A primeira etapa da proposta de um sistema baseado em conhecimento desenvolvida no nível de doutorado permite a projetação de plantas baixas de pavimentos tipos de conjuntos habitacionais conforme ilustrado no final da fita de vídeo entregue com o projeto em fevereiro e no capítulo XVIII da tese de doutorado em anexo.

*   A segunda etapa visa a transformação de uma planta na outra através da utilização das relações de subgrupos nos grupos cristalográficos.

Futura direção da pesquisa

Se bem sucedida a etapa acima, passa-se para o segundo ano do pós-doutorado, quando proceder-se-á à integração das plantas baixas parciais para se obter a planta baixa do pavimento tipo otimizada que representa a integração otimizada das plantas baixas parciais geradas ao se rodar cada elemento do modelo de ecodesign.

Nessa etapa estar-se-á preparado para se obter a planta definitiva do pavimento tipo do prédio de apartamentos ao se expandir a metodologia para abranger a ecologia do comportamento humano ao longo do ciclo de vida, de modo que o sonho dourado da arquitetura de realizar uma casa que se transforme de acordo com os ciclos de vida de bebê a idoso poderá se transformar em realidade.

Conclusão

Vencida essa etapa, coloca-se à disposição da comunidade de arquitetura a resolução do nó górdio para a projetação e planejamento de cidades sustentáveis ou seja a possibilidade de se trabalhar em grandes equipes, respeitando os processos cognitivos do artista e a introdução da contribuição científica em termos de desenvolvimento sustentável urbano. O método hermenêutico desenvolvido na explicação do projeto de pós-doutorado é a chave para se entender como vai se projetar desde uma casa até uma cidade inteira.

Resposta à observação da FAPESP

Quanto à observação da FAPESP, acredito não ser apropriada apesar de perceber as dificuldades com que a FAPESP lida no seu anseio de se esforçar para que o sol brilhe para todos independentes de se estabelecer áreas prioritárias. No entanto, as áreas interdisciplinares que visam a aplicação do conhecimento das assim chamadas ciências "puras" cada dia mais são fundamentais para garantir o progresso da humanidade. E assim como o pesquisador interdisciplinar percebe isso, o pesquisador de áreas puras devia se esforçar para perceber a importância de se transformar a "Mãe Terra" e apoiar a interdisciplinaridade .Em vez de competição desalmada, sinergia e compreensão, gerando integração.

Em primeiro lugar, o meu orientador de doutorado Prof. Dr. Jorge de Rezende Dantas foi (ou é) assessor da FAPESP. Exibe uma invejável cultura em arquitetura, planejamento urbano, computação, matemática (inclusive fractais) e geografia. Mais ainda, o meu contato com a FAPESP ocorreu através do Prof. Dr. Luís Gastão de Castro Lima, coordenador da área de arquitetura na FAPESP na década de oitenta e meu orientador pró-tempore que me explicou o trabalho que realizou para mostrar à Diretoria que um arquiteto também faz pesquisa. O Prof. Dr. Gian Carlo Gasperini, ex-coordenador da FAPESP participou da banca de aprovação do modelo de ecodesign e declarou que escrevi todos os aspectos da dissertação com brilho e metodologia de doutorado (!). Já o Prof. Dr. Ualfrido del Carlo, ex-diretor do IPT e da FAU-USP não solicitava auxílio à pesquisa, pois tinha medo de que minha bolsa de Mestrado nem seria renovada no segundo ano. Esses equívocos contribuíram para sua aposentadoria precoce aos 50 anos!!! Acreditei piamente que meu esforço ultra-sintético, descrevendo o misterioso e inspiracional ato do design, via de regra uma verdadeira caixa preta, seria elogiado.

Vou tecer algumas considerações na tentativa de dissolver o equívoco. A filosofia visa desvendar a essência do mundo das coisas e do homem. Revela a linguagem que está implícita na coisa. Assim possibilita a transmissão do conhecimento e da experiência de níveis mais sutis tal como a experiência da arte. Em seu artigo, A origem da obra de arte extraído do livro Holzwege (Descaminhos) , Heidegger me possibilita jogar luz no conflito sobre o uso de linguagens computacionais. É comum dizer que se pode programar qualquer coisa até com Basic! E enquanto isso linguagens como Self não são divulgadas apesar de sua reconhecida superioridade. A que se atribui isso? Certamente, à falta de abstração no mundo pragmático da computação.

Assim o nó górdio da questão está em que ao se organizar o conhecimento por situações a nível interdisciplinar, essa tarefa requer necessariamente um sistema aberto e portanto sistemas computacionais abertos. Nada é mais aberto na natureza que a molécula do DNA que gera a miríade de formas de vida existentes. Tal qual a vida, implantar uma casa ou uma cidade é um processo específico e requer soluçõe particulares e únicas. Os principiantes constróem padrões adaptados à situação pequenos, estáticos e rígidos com uma bagagem de conhecimento analítico grande. Já os expertos desenvolvem padrões adaptados à situação maiores, dinâmicos e elásticos (fuzzy) com uma bagagem de conhecimento analítico mais restrita.

Christoper Alexander analisou o meu modelo e me considerou uma virtuosidade intelectual.

Enquanto a sua A Linguagem de Padrões que até hoje é conhecida como a maior tentativa de tornar o ato do design uma caixa branca não teve sucesso, pois não conseguiu elaborar o modelo geométrico e computacional correspondente (e o que escreve simula de fato o pensamento filosófico e suas obras nunca constam com menos de 1000 páginas), no entanto inspirou os chamados Design Patterns dentro do paradigma orientado a objetos em computação. Apesar da prolixidade de Alexander e de Erich Gamma se está simulando mundos no computador que só entende linguagens claras, precisas e objetivas!!!!

Igualmente, se o meu modelo de ecodesign cobre em potencial todos os elementos de projetação e planejamento de cidades sustentáveis não pondo limites, pois pode se expandir infinitamente, sem desrespeitar os processos cognitivos do designer que exigem liberdade e criatividade, é contraditório dizer que escrevo com linguagem prolixa e escura. Se esse fosse o caso as idéias não seriam implementáveis. E na implementação, simulo inclusive a fase de desenho a mão livre que é considerada vital para o designer. O apelo à filosofia hermenêutica lançado pelos cientistas da computação é exatamente para elucidar e tornar

acessível à compreensão esses processos cognitivos herméticos. Não científico é fechar os olhos para os graves problemas que enfrentam a população humana e os defensores do meio ambiente por não conseguirem nos últimos 6000 anos lançar as bases científicas da projetação e planejamento das cidades.

Colocamo-nos ao inteiro dispor da FAPESP para se estabelecer critérios justos na educação que auxiliem o país a estreitar as diferenças entre os países desenvolvidos do Hemisfério Norte e os países em desenvolvimento do Hemisfério Sul no sentido de envidar esforços para colocar o país na estrada real do desenvolvimento sustentável e de salvação da Mãe Terra.