O DESDOBRAMENTO E O MODELAMENTO DA CONSCIÊNCIA ARTÍSTICA NA INFOERA

Imagination is more than knowledge. Einstein
Lançar os fundamentos da computação hermenêutica é uma das etapas do meu projeto de pós-doutorado para a FAPESP.  A primeira parte desse relatório relata a aventura da consciência artística como vivenciada por seus mais capazes representantes no século XX.  E o objetivo aqui é esclarecer que se os cientistas da computação não forem expostos o mais cedo possível em sua formação a essa vivência  com a arte dificilmente atingirão os objetivos de simular a consciência humana em sua mais elevada expressão e colocar as linguagens computacionais holísticas tais como as baseadas em orientação a objetos centrados no protótipo a serviço da urgente demanda por melhoria da qualidade de vida no planeta.
A conquista na literatura de maior expressividade como mostro na secção sobre Heidegger foi influenciada pelas novas concepções da física. Se os escritores e poetas conscientemente tiveram de inventar formas mais expressivas para comunicar suas idéias, porque os cientistas da computação não podem fazer o mesmo? E de fato o fazem, mas a imensa maioria de programadores não possuem a mesma genialidade.
 Reciprocamente se os artistas não forem treinados para entender as novas concepções sobre espaço e tempo e matéria e gravidade, nunca se poderá desenvolver sistemas biotecnológicos complexos respeitando a terra (o terreno) como sendo o universo inteiro.
Ao se analisar as contribuções de artistas e filósofos e cientistas, percebe-se a dificuldade em estabelecer a unidade entre religião, arte e ciência como uma conquista que     transpareça na vida de cada cidadão ou cidadã.
Mais ainda, o objetivo ao dispender  precioso tempo, descrevendo como os artistas realizaram suas obras-de-arte  e seu relacionamento com  os elementos da obra-de-arte é para mostrar que esses mesmos processos cognitivos estão envolvidos, quando desenvolvo o meu modelo de ecodesign. Quando Brancusi fala  que é enquanto você esculpe...que você descobre o espírito do seu material e as propriedades peculiares a eles. Sua mão pensa e segue os pensamentos do material.  é exatamente assim que me submeto humildemente de corpo e alma às exigências do meu material, no caso o modelo dependente do domínio, o modelo geométrico e o modelo computacional. Sou fiel aos aspectos imanentes e transcendentes do objeto arquitetônico que devem ser manifestados.
É importante enfatizar aqui a complexidade envolvida para captar essa miríade  de aspectos e transformá-los em consciência geométrica.  Transmitir o que significa isso a um público interdisciplinar e não-especialista muitas vezes em nenhuma das áreas específicas em que se situa minha pesquisa é tarefa árdua. Porisso acredito que essa aproximação vai preencher uma lacuna entre o meu modelo e a capacidade hermenêutica do pesquisador em reagir ou responder a ele de acordo com o seu valor semiótico real. E também através da análise do projeto autopoiético do Pavilhão Holandês da Expo2000 que já está pronto perceber que a arquitetura não é mais arranjar blocos de acordo com a geometria euclidiana e decorar fachadas [Mele99].
Galgar os mais vertiginosos picos bem como explorar os mais recônditos mundos subterrâneos se torna mister para desbravar as intricadas trilhas e descortinar horizontes cada vez mais amplos da inesgotável floresta informacional que se estratifica nas camadas cultural, biológica e artefatual.
  Por um lado,esta vem possibilitando o desdobramento gradativo do ser em sistemas sócio-biotecnológicos complexos.
 Por outro lado, abre as portas para o desenvolvimento  de sistemas computacionais abertos a ponto de gerar máquinas quânticas como resultado da visualização e manipulação do átomo através da nanotecnologia capazes de grande capacidade de memória bem como de simular a própria consciência humana.
A interação informacional inter-multi e transdisciplinar se operacionaliza através de mecanismos que viabilizam a transformação dos artefatos  concebidos até hoje por um mental caracterizado por processos cognitivos antes racionais e seqüenciais em sistemas vivos, autoorganizados tendendo  a imitar a natureza  hermenêutica e autopoiética da natureza.
A transição da consciência mental para a consciência supramental ou espiritual que é característica da arte, permitindo essa transformação só ocorre, quando o indivíduo começa a perceber que o intelecto é capaz de perceber o sim e o não de uma mesma questão.  Isso o força a descobrir as verdadeiras forças que desencadeiam essa percepção. Surpreso acabará gradativamente percebendo que são as mesmas que atestam da unidade entre a religião, arte e ciência.
Portanto trata-se aqui de processos cognitivos inteiramente novos e que não são  sequer incentivados no sistema educacional instituído.  No entanto, é o modo natural de ser dos grandes gênios que impulsionaram o progresso científico, cultural e espiritual da humanidade.
O esquema a seguir mostra o desdobramento do ser possibilitado pela floresta informacional de acordo com o espectro que vai de  rocklike things até spiritual like things por intermédio de thoughtlike things .
Embora esse esquema não reproduza a realidade de modo holístico, desafia o nosso intelecto e agudiza a nossa percepção. Por exemplo, os sistemas que se auto-organizam podem ser  biológicos ou não-biológicos. Assim o pensamento se introjeta nesses sistemas. De particular interesse para o meu relatório é o pensamento visual característico dos cristais. O artista gráfico M.C. Escher utiliza os grupos de simetria do plano e os do plano sem ponto para expressar o infinito. Os grupos de simetria de similaridade e similaridade conforme são fractais. Os templos hindus 500 a.C. expressavam as altas esferas espirituais através da geometria fractal. Apenas em 1977 através de Mandelbrot o Ocidente despertou para essa nova consciência geométrica.
Acostumados a um ensino  compartimentalizado mal percebemos as diferentes dimensões do ambiente em que estamos mergulhados. Conseqüentemente  os processos cognitivos associados para se entender essa complexidade que o esquema deixa transparecer não são estimulados, levando ao atual impasse que a hnumanidade enfrenta. Não estamos acostumados a pensar o complexo partícula quântica rocklike – onda piloto quântica thoughtlike associada ou seja a natureza dupla dascoisas do mundo que nos cerca.
 

Rocklike things  partículas clássicas
    ondas clássicas rocklike
                  corpo
    cérebro

Thoughtlike things silicon-chip
    moléculas inteligentes
    sistemas que se auto-organizam: biológicos:         mente
                 ‘abelhas’
                 ‘formigas’
          compostos
          orgânicos
          complexos
                   não-biológicos:  cristais
              sistemas autopoiéticos
    sistemas alopoiéticos:    produto manual
                       feito à máquina
                 intelectual : software
    Kunstdinge:        os carvalhos de Beuys
                    os combinados de Rauschenberg
                               poesia-coisa de Rilke
    produto-de-arte:  Sanduíche Ecológico (Pavilhão holandês/Expo2000)
    partículas quânticas thoughtlike
um quantum de energia = um quantum de informação = infon

Spirituallike things         obra-de-arte:    templos hindus
      obra de Escher
      sistemas baseado em conhecimento autopoiéticos
    música
    Deus
    quantum chip
    consciência humana
    onda piloto quântica thoughtlike

Figura 1. Desdobramento do ser de acordo com a árvore do conhecimento.

Vou recordar aqui as origens implícitas desse comportamento. Na Grécia arcaica,  a noção de physis  (lei-natureza) formava uma unidade. Nos sentimentos dos gregos antigos, nomos é primariamente a justiça distributiva da qual ninguém podia escapar. Cada qual tinha acesso a um terreno durante sua existência sem necessidade de leis escritas.  Com o advento da moeda e a mudança da comunicação oral para a escrita, um novo espaço e tempo político surgiu acompanhado com a dissolução  do basileus – figura central do poder comunitário arcaico.  A lógica da  polis prevaleceu e então a dissociação do cosmos.
Isso abriu as portas para a concepção de Platão da criação do cosmos como um Demiurgo cuja criação é anthropoi, humana e masculina, fazendo nos ver a Terra como um recipiente passivo.  A separação da physis e do cosmo bem como a segregação das mulheres levou a um comportamento entrópico em relação ao terreno e ao planeta.
Mais ainda, Platão estava interessado no Sendo (Being, Étant) ou no mundo das formas eternas.
Aristóteles refutou suas idéias e introduziu o método científico na Terra. Suas idéias despontaram no horizonte em sintonia  com as idéias científicas da auto-organização e já combatia a degradação ambiental no tempo dos gregos. Para ele,  a pesquisa física deve lidar com condições e características dos objetos físicos sem contrastá-los com as propriedades das coisas eternas.  Isso causou departamentalização mas émais que um método. Acarreta uma certa autonomia para o assunto tratado.  Em resumo, Platão se ocupa dos motivos transcendentais e Aristóteles dos motivos imanentes.  Com o advento da possibilidade de se modelar a consciência humana através do  quantum chip, já é tempo para se incorporar esses aspectos imanentes e transcendentes nas nossas aproximações [Lour971], [Lour97b].
Ao longo desse relatório, o pesquisador vai perceber que os processos cognitivos platônicos e aristotélicos se cruzam eo chão parece que vai desabar enão se sabe mais qual direção tomar.
De fato, o aparecimento do mensageiro de Deus o Báb e sua Declaração de 1844 sobre a vinda do manifestante divino da Era Moderna, Baha’u’llah, fundador da fé baha’i na Pérsia e anunciado por todas as religiões torna a análise de qualquer texto sobre arte ou filosofia baseado nas teorias platônicas difícil. Pois são inconsistentes com o atual estágio de evolução conquistado pela sociedade humana  graças à emancipação da mulher, o advento da era da sustentabilidade onde a Mãe Terra é a Gaia de Lovelock e a era da cidadania.
Curiosamente não só o Báb e o Bhaú’llah são herdeiros do pensamento socrático e platônico,mas tambémo Báb se oferece ao sacrífício tal qual Sócrates para abrir caminho  à doutrina de Baha’u’llah.  Ambos subvertem a visão platônica sobre a Mãe Terra e a mulher. Pregar a igualdade da mulher na prisão na Pérsia no século passado é algo que transcende a compreensãomental. Mais ainda confessar que era inspirado por uma moça pura  que lhe aparecia nos momentos mais difícei.  Anunciou com segurança o advento da mulher,  a globalização e a infoera.
No Canal Espiritual  de minha dissertação de Mestrado, organizo filmes internacionais, música e novelas brasileiras, orbitando ao redor da ópera A Flauta Mágica  de Mozart, que obviamente trata dos  processos de individuação da mulher baseado em ideais platônicos.  Mas modifico o seu final que aponta para idéias aristotélicas  e em consonância com os ensinamentos baha’i’s.  Só me tornei baha’i em 1992.
Já o meu modelo de ecodesign não é apenas uma indubitável valorização da Mãe Terra. É uma verdadeira aproximação baseada no Becoming  aristotélico ao invés do platônico Being.   A sua natureza é totalmente emergente e aprendo com ele  a cada instante, ao invés de lhe ditar regras de cima para baixo.
As diversas secções a seguir esclarecem o esquema da figura 1. Espero com essa aproximação que o pesquisador perceba que só rompendo fronteiras e ampliando horizontes é que se chega ao cerne dos aspectos transcendentes e imanentes que tal qual a mão e a luva estão envolvidos no modelo dependente do domínio e se refletem nos modelos geométrico e computacional num processo semcostura tal como o sistema baseado em conhecimento para gerar cidades sustentáveis que venho desenvolvendo.
O fato de ser sucinto, baseado nas ondas primárias e nos processos  homeostase, continuidade, diferenciação e repetição que tratam das relações do objeto arquitetônico com o meio ambiente e nas ondas secundárias que introduzem a consciência geométrica baseada  nos grupos de simetria do plano e do plano sem ponto e imitam a liberdade intrínsica do artista  aplicados aos elementos arquitetônicos a saber conforto ambiental, sistemas estruturais, atividades, instalações hidráulicas, etc reflete a  minha formação em literatura, arte e ciências biológicas aliada a um raciocínio físico, matemático e espiritual.
 

I. A unidade entre a religião, arte e ciência
Corajosamente inspirada nos conhecimentos da mecânica pós-quântica [Sarf00], deixo transparecer aqui que a elaboração do meu modelo de ecodesign vem ocorrendo em um nível além do mental. Se o homem já pode elaborar máquinas espirituais que simulam a consciência humana, para o próprio bem da humanidade devemos exigir desses cientistas que  essa consciência se assemelhe  à dos gênios. Nesse caso, não há o que temer mas o relato a seguir é para provocar a suspeita de que chegar nesse nível seria conferia à máquina poderes que só Deus transmitiu ao homem. ONGs deveriam começar a se movimentar para garantir que essas máquinas estarão a serviço do bem estar da humanidade, enquanto uma  entidade única.
O meu modelo de ecodesign representando o modelo dependente do domínio foi desenvolvido no Mestrado (1985-1988) e os modelos geométrico e computacional,  reflexos desse reforçando sua natureza hermenêutica e autopoiética no doutorado (1993-1998). É uma vasta aplicação de conhecimentos, por um lado  refletindo minha formação em biologia e arquitetura portanto favorecendo a transformação do conhecimento em coisa, em artefato em objeto arquitetônico. Por outro lado, sou genotipicamente física e a abertura da terceira visão ocorrida em15 de junho de 1976 contribuiu para revelar os processos intrínsicos aos fenômenos físicos, quânticos e pós-quânticos  que impressionam nossa consciência. Isso permitiu que apresentasse o período de  minha vida entre 15 de junho de 1976 a 14 de junho de 1988 como um mero produto de tese!!! O canal espiritual representa a minha atuação no corpo astral na forma de filmes, novela e músicas. É uma interação global em termos de comunicação extra-sensorial.  A mecanica pós-quântica de Jack Sarfatti explica cientificamente como isso pode ocorrer. Sócrates se pronunciava que a maior virtude era a coragem. Sem essa, todas as outras virtudes pouco fazem para mudar a superfície do planeta.
Portanto, é inútil tentar ensinar às pessoas como modelar, reduzindo o conhecimento ao aspecto meramente mental e cognoscível. No entanto, para atingir os meus objetivos pretendo me tornar cineasta e simultaneamente fundar uma ONG para construir cidades sustentáveis.  É necessário ensinar as pessoas a conviverem umas com as outras e nada melhor do que colocando como base o desenvolvimento de  processos cognitivos que liberam o potencial criativo humano.
 
 

A essência da arte  segundo Heidegger  é revelar a verdade.
Todos os artistas abstratos que iniciaram o Movimento Moderno estudavam teosofia. Até que ponto tinham consciência das coisas que sei, não se sabe, mas tenho certeza de que sua consciência era pós-quântica. Até que ponto Kandinsky não era capaz de prever as Grandes Guerras e a Revolução Russa?
O fundador da fé baha’í Baha ‘ú’llah na Pérsia a partir de 1844 na prisão previa isso. Elegantemente toda sua doutrina se baseia em princípios aparentemente mentais e modernos! De fato a modernidade começou com ele.
Assim se Wheeler, Sarfatti, Penrose, Hofstadter, Bohm não hesitam em se vangloriar dos progressos da mecânica pós-quântica a ponto de se produzirem computadores quânticos que simulariam a consciência humana, porque devo calar essas informações que estou passando agora se já se tem conhecimento científico para elucidá-las?
É claro além de facilitar a compreensão do que vou introduzir a seguir  onde procurarei me manter num plano mental principalmente, essa corajosa aproximação  desencadeia “insights”  no pesquisador, fazendo-o perceber que se quebrar o seu ego, os potenciais que jazem latentes em seu verdadeiro eu são ilimitados. Tal como o efeito Lorenz, se uma borboleta voando em Moscou é capaz de produzir um tornado na América do Norte, de que não é capaz um ser consciente? Será que as máquinas quânticas imitarão o tipo de consciência que estou descrevendo?
Assim num contexto o  mais amplo possível, esta floresta apresenta por um lado uma gama de informação que tenta apreender desde a totalidade do macrocosmo até a a mais ínfima partícula do nanocosmo. Por outro lado, seu crescimento vertiginoso se deve  à espécie humana e aos misteriosos processos cognitivos que o espécime homem apresenta.
  Portanto, num ato de auto-reflexão é relevante adentrar nos processos cognitivos globais do homem relacionados quer seja à religião, arte ou ciência.
Salta aos olhos que existem “três mundos cognitivos”, a saber, o Platônico, o físico e o mental [Penr95]. Platão imaginava alguns cidadãos presos numa caverna algemados, de modo a não poder ver as formas perfeitas atrás deles que eram projetadas como sombra da luz do fogo em frente delas. As formas perfeitas representam as formas matemáticas e as sombras, o mundo fisico real. O mental é o domínio da filosofia, simbolizado pelo uso da razão. Cada vez mais se percebe que o que existe é um mundo cognitivo uno onde predomina um ou outro desses aspectos que podem levar tanto a soluções acertadas quanto equivocadas.
Alfredo Pereira Jr [Pere94] mostra como as filosofias de Hegel e Aristóteles se afinam com as idéias científicas da auto-organização. Solmsen [Solm60] esclarece que na Física, Aristóteles  lida com as condições e características dos objetos físicos sem contrastá-los com as propriedades das coisas eternas. O mundo das formas não é mais como no Timeu o background  a partir do qual os acontecimentos no mundo real são desencadeados.A discussão do lugar não necessita realidades que não estão no lugar como um contraste para aqueles que estão. O tempo pode ser entendido sem referência à eternidade.  Isso pode ser compartimentalização, mas é cada vez mais um método e um  hábito mental (reducionismo x holismo [Hofs80]).
Carrega consigo uma certa autonomia para o sujeito assim tratado.O que deve ser estabelecido para a física e de fato no começo dela é a natureza dos princípios físicos básicos. Mas logo, torna-se claro que esse sujeito e a realidade contraditória da gênese da criação se tornam tão entrelaçados que é impossível discutir um sem prestar atenção ao outro (a fusão do reducionismo/holismo ocorre, apresentando-se como um terceiro modo principal de processo cognitivo – característico da arte). Deve-se sempre ter em mente os aspectos transcendentes (platônicos)  e os imanentes (aristotélicos) de uma questão. Espero que minha exposição promova essa abertura no pesquisador.
Já um dos maiores desafios à razão humana é  a teoria Pinda-Brahmanda de uma escola de filosofia hindu que propõe a existência de uma correspondência entre o macrocosmo e o microcosmo. O cosmos inteiro pode ser visualizado como ontido numa cápsula microcósmica,com a ajuda do conceito de elemntos sutis chamados ‘tanmatras’.   O princípio cósmico total se replica continuamente em escalas cada vez menores. Assim inclusive o homem contém dentro dele o cosmos inteiro. (Eu sou o cosmos, ressona com a minha introdução acima!). Baseados nessa concepção metafísica, a arquitetura do templo hindu se desenvolveu 500 a.C. Há uma correspondência entre as formas desses templos e as imagens geradas por computador baseadas na geometria fractal de Mandelbrot (1977!).
A nova mecânica pós-quântica de Jack Sarfatti [Sarf00] tendo o físico David Bohm como precursor corrobora cientificamente semelhante estrutura de pensamento. Porisso servirá como estrela guia na ‘incursão’ ao território enigmático da arte e filosofia. Elucidar a natureza dos processos cognitivos se torna mister. Sua dupla natureza fica cada vez mais evidente ora se apresentando como partícula ora como onda imitando o comportamento da luz.
Embora cada vez mais os desenvolvedores de software como Dough Lea lamentem “If only software engineering could be more like X  onde X significa alguma profissão relacionada ao design, estão longe de apreender o que significa organizar o conhecimento por situação ou baseado no artefato real ou intelectual.  Processos cognitivos dos mais simples na arte tais como o raciocínio analógico que qualquer artista exercita através do desenho não fazemparte do dia a dia da maioria dos profissionais. O simples querer desenhar implica na abertura de uma visão interna conduzindo a processos pós-quânticos. E que dizer dos processos cognitivos hermenêuticos emergentes intrínsicos à natureza da arte e que se assemelham ao jogo ou à experiência?
Devido à estrutura precária do pensamento racional baseado na linguagem, a qual não apresenta níveis de abstração correspondentes aos que são desenvolvidos na arte, semiótica, religião, cálculo infinitesimal, teoria da catástrofe, fractais, etc, optei por mostrar como representantes da arte e da literatura desse século venceram essas dificuldades.
O pesquisador interessado numa abordagem mais profunda poderá recorrer a minha dissertação de Mestrado [Lour88] e tese de doutorado [Lour98] que explicita esses níveis de abstração através da aplicação da teoria da catástrofe, dos grafos, dos grupos de simetria do plano e do plano sem ponto, semiótica, etc. Apenas que esse conhecimento foi tecido para desenvolver especificamente o modelo de ecodesign para gerar e planejar cidades sustentáveis.
Desse modo os processos cognitivos envolvidos no desdobramento e modelagem da consciência artística não são explicitados e o modelo de ecodesign é de difícil compreensão para quem não é um arquiteto e desenhista urbano sustentável. Mas exemplifica claramente através do modelo do ecodesign e seus modelos geométrico e computacional o jogo hermenêutico e autopoiético da consciência artística ao imitar a vida.
Na próxima secção, procuro deixar o pesquisador mais confiante, mostrando como  a nova ciência da consciência baseada nos conhecimentos pós-quânticos facilita a compreensão da unidade entre a religião, ciência e arte.

I.1  Processos cognitivos envolvidos na formação da sociedade moderna e suas falhas
Os físicos quânticos iniciaram  a nova ciência da consciência, culminando na Post-quantum Theory de Jack Sarfatti. Seu último paper Progress in Post-Quantum Theory se encontra em suas home pages http://www.well.com/user/sarfatti/index/html  ou
 http: //stardrive.org/title.shtml .
Jack Sarfatti baseado nas teorias da consciência de David Bohm iniciadas na década dos cinqüenta [Bohm52] [Bohm80], [BP87], John Archibald Wheeler [Whee98] e Henry Stapp [Stap97] propõe os seguintes níveis de consciência:
Nível 1 da matéria-geometria onde partículas e campos elétricos, magnéticos, gravitacionais, etc no espaço físico tridimensional mudam no tempo.
Nível 2, não material mas físico,guiando campos de informação quântica fora do Nível 1 material.
Nível 3 pós-quântico é o campo da consciência espontânea onde qualidades ligadas à experiência do incognoscível ocorrem.  Conhecido como Alma.
O físico Wheeler [Whee98] descreve o nível 2 como everything is information, coincidindo com a semiótica do matemático Peirce que será abordada  em
Henry Stapp se refere ao nível2 como teoria quântica da mente-matéria [Stapp97].
Já para o físico David Bohm [Bohm51] e David Peat [BP87],mente é igual ao campo da informação quântica.
Esses físicos percebem que uma teoria universal da consciência necessita explicar todos os fenômenos relatados pelos místicos.
Além disso tem de ser uma teoria para todas as Mentes,humanas ou não. O nívelatingido pela teoria pós-quântica de Sarfatti já satisfaz essa condição.
Esta realiza o princípio de relatividade de Einstein concebido no Nível 1 no Nível 3. A consciência (sentience) é a curvatura do nível 2 do campo de informação quântica pelo nível 1 da matéria-geometria bem como o nível 1 da gravidade universal é a curvatura do nível 1 geometria pelo nível 1 matéria como mostrou Einstein em 1915. A mente é não-material, não-Nível 1,mas física. Ocorre aí um completo entrelaçamento.
As propriedades dos campos de consciência pós-quânticos segundo Ken Jenkes [http1]:
Apreciação da beleza e êxtase
Senso de humor
Criatividade original e imaginação
Amor e responsabilidade e engajamento a ponto do auto-sacrifício
Escolha consciente
Apreciação do encantamento
Apreciação do desconhecido
Auto-transcendência que deve ultrapassar o estreito ego.
Sarfatti adverte que o ego equivale à limitada unidimensionalidade de Herbert Marcuse,descrevendo a Big Science como dominada por homens de baixo nível espiritual que tem um problema com the vision thing.
Esses cientistas não desenvolveram em si as propriedades do nível 3 do campo pós-quântico da consciência da informação mental e o resultado é o desvio de enormes recursos para pesquisas cujo resultado para a evolução da consciência humana de acordo com essas propriedades é duvidoso. Existe mesmo uma drenagem injusta de recursos pelos países industrializados para realizar tais pesquisas, levando a mais gastos com armamentos para se defender o patrimônio desses países, ao invés de se buscar a unidade humana tão bem expressa por Bahaú’llah, o fundador da fé baha’i em 1844:  A Terra é um só país e seus habitantes, seus cidadãos.
Curiosamente a sua previsão Haverá de chegar o tempo em que a necessidade imperiosa da convocação de uma vasta e ampla assembléia de homens será universalmente percebida. Os governantes e os reis da Terra terão de tomar parte nela e, participando nas suas deliberações, deverão considerar métodos e meios capazes  de assentar os fundamentos  para a Paz Maior, mundial, entre os homens [Casa85] acaba de se concretizar na Cúpula do Milênio realizada nos dias 6, 7 e 8 de setembro na sede da ONU em Nova York, visando a paz mundial no Terceiro Milênio.  Reuniu mais de 150 chefes de estado. Além disso se na Rio-92 apenas 60 delegados dos 20000 representantes das 8000 ONGs foramadmitidos nas mesas redondas dos chefes-de-Estado,agora qualquer delegado poderá apresentar suas propostas através do encaminhamento da Carta do Fórum do Milênio realizado em maio na ONU pelas ONGs.  Esse conteúdo é idêntico aos tópicos principais abordados por Baha‘u’llah  para a realização da paz mundial na Terra [Mill00].
Se Sarfatti critica os cientistas obsecados pelo ego, o mesmo se pode dizer desses chefes de Estado. Encontraram-se num panorama mundial onde a crise causada pelos altos preços de petróleo ameaça paralisar a economia ocidental. Ao invés de procurarem soluções para a possibilidade real de esgotamentos de recursos não-renováveis, atrelam-se a querer manter a situação que os trouxe ao atual desenvolvimento baseado no consumo de três quartos dos recursos e energia do mundo!!

A teoria do nível 1 de Shannon da informação clássica é para a matéria. A nova teoria de Bohm do nível 2 de informação quântica é pré-requisito para a mente. A mente é o diálogo ou troca entre os nível 1 de informação de Shannon e o nível 2 de informação de Bohm. Pode-se pensar o nível 1 como corpo, o nível 2 como mente e o nível 3 como espírito. É um tipo de princípio da Trindade.
A movimentação mundial de ONGs desde a década de oitenta, contando com a participação maciça das mulheres indica que essa globalidade é inerente ao ser humano, independente do seu nível educacional, pois foram as mulheres da África as primeiras a alertarem sobre as conseqüências da escassez de recursos. São mais holísticas que os homens, pois realizam a tarefa de educar os filhos também [Ecod  ].
 Newton percebia a unidade entre ciência e religião.  Baha’u’llah se posicionava explicitamente  pela unidade entre a religião, arte e ciência. Os rumos atuais tomados pela ciência ferem a dignidade humana (o maior laboratório genético humano na Islândia  prenuncia aonde vai levar a decodificação do genoma humano, que consiste em bilhões de gens e os cientistas têm a pretensão de quererem descobrir a função de cada um).
Os artistas abstratos modernos baseados nas revelações sobre o mundo atômico romperam com a representatividade e buscaram revelar o divino. Visavam à purificação do artista e a criação de uma nova escala de valores para plasmar uma sociedade mais humana.   Baha’u’llah passou metade do século passado na prisão na Pérsia, sofrendo todo tipo de torturas para lançar os fundamentos de uma nova civilização.  Todos se baseavam em princípios platônicos e socráticos. Curiosamente Báb, o mensageiro de Deus da fé baha’i desempenha o mesmo papel de Sócrates em relação a Platão, no sentido de abrir caminho para a doutrina de Baha’u’llah.
Mas o objetivo aqui é explicitar processos cognitivos atuantes. O fundador da fé baha’i em condições execráveis consegue articular uma doutrina onde a mulher é igual ao homem   e a Terra deixa de ser um mero recipiente passivo.  Já a história do Ocidente nos últimos 150 anos pode ser entendida como uma série de tentativas de preencher o ...vazio deixado pela erosão da teologia cristã.
Heidegger coloca Rilke [Heid52a] e Nietzche [Heidb] como profetas da Modernidade. Hitler se baseou em Nietzche e os próprios alemães concordam que Nietzche teria dificuldade para editar seus livros hoje em dia pois ferem muitos direitos humanos. Rilke em suas Duineser Elegien ...em1923 aconselha as mães a ensinarem suas filhas a se entregarem aos heróis para amaciarem suas energias viris e esses a tratá-las com indiferença para realizar o progresso humano!
O artista abstrato Mondrian teorizava sobre a inferioridade do feminino e devotou uma defesa detalhada da intrínsica ‘masculinidade’ da arte abstrata  [Chee91:119-129]. O próprio Hitler citava o seu trabalho para estigmatizá-lo.
Mondrian invocava o seu paradigma de pureza para reivindicar que a arte estava se liberando de fatores opressivos que encobriam a expressão pura da vida; o que é verdadeiro emarte também deve ser  135].
A arquitetura inspirada nas idéias desses artistas criou um ambiente opressivo onde não há lugar para a mulher e a criança e o resultado foi o estourar dos movimentos feministas da década de sessenta.
Mondrian invocava os mecanismos de purificação do artista que excluem elementos como o feminino ou episódios inteiros da história da arte de um modo obviamente opressor. Opressão objetiva – as dificuldades impostas por forças externas, ambas econômicas e políticas – e opressão subjetiva que resulta da ‘visão limitada’só podem ser superadas através da purificação, um processo que Mondrian descreve nesse contexto usando metáforas militares e patriarcais: a arte plástica nos revela que a fim de vencer a opressão objetiva, elementos e formas existentes devem ser relacionadas cuidadosamente ou se possível transformadas. Para dominar a opressão subjetiva, a transformação de nossa mentalidade é necessária.
Hitler faz um discurso semelhante ao descrver a vocação da nova arte alemã: promete desencadear uma guerra incansável de purificação contra os elementos últimos de putrefação na cultura alemã.
A intenção aqui é revelar o difícil jogo da consciência revelado através de seus expoentes máximos e a sua fragilidade. Independente da busca do ser através de tendências platônicas, aristotélicas  ou meramente mentais, pode-se chegar a certos equívocos.
Sem dúvida a arte abstrata abriu caminho para a tomada de consciência do Ser e iniciou a época da Modernidade. Igualmente a existência de Baha’u’llah foi a mola propulsora do desencadear de uma nova civilização baseada na igualdade entre o homem e a mulher e onde a Terra é a Gaia de Lovelock. Ocupa o mesmo papel desempenhado pelo apóstolo Paulo ao implodir a civilização romana ou o de Mozart ao implodir a aristocracia francesa. É bem conhecida a polêmica gerada entre Beethoven e Mozart. Beethoven encarna os princípios da Revolução Francesa e no entanto morreu misantropo.
Essa argumentação evidencia que os mais elevados expoentes humanos em termos de consciência são impotentes para explicitar uma escala de valores que sirva em qualquer época e em qualquer lugar e que exaure todos os aspectos da consciência humana e cósmica.
. O mérito de Baha’u’llah consiste em deixar claro que as doutrinas são para uma determinada época e um determinado lugar e que Deus sempre envia mensageiros de acordo com a época e o lugar. Porisso devemos respeitar todas as religiões.
Não  há esfera de consciência mais rica para mostrar essa diversidade que as próprias tendências da arte ocidental neste século. A liberdade de que o artista goza faz com que não haja entraves a sua imaginação e o resultado é uma exploração das manifestações do ser das mais liberadoras e enriquecedoras.

II   O desdobramento da consciência artística  no século XX

De modo grosseiro na pintura da natureza do séculoXIX tardio, detecta-se três tendências:
1) a representação fiel da aparência visual do objeto (impressionistas, Cézanne)
2) a revelação e ênfase dos materiais e processo de pintar,a arte na arte (impressionistas,Cézanne)
3) deformação da realidade para expressar idéias e sentimentos (van Gogh, Munch, Gauguin, Seurat e Cézanne)
O cubismo de Picasso é o ponto de mudança e funciona como a cabeça de Janus. Olha para trás na sua análise da realidade visual e para frente na subjugação da realidade visual em direção à completa desconsideração do objeto na pintura não-objetiva.
Ênfase na última, o revolucionário aspecto do cubismo oclta o primeiro aspecto tradicional do cubismo. Abre as portas para o abstracionismo de Kandinsky.
Basicamente,a arte deste século segue sete tendências básicas [BRR99]:
1) Realidade –deformação : Aqui se concentram as pinturas expressionistas.
2) Abstração- espiritualidade: Em busca do Absoluto, do divino. A paisagem e o espaço se abstraem enfatizando-se a ordem geométrica pura e o desenho minimal. Principalmente a escola De Stijl de Mondrian e van Doesburg revolucionam o design no sentido da planta livre que tem sua origem em Michelangelo, apontando que a solução no design se encontra em relações topológicas.
3) Sonho- mitos: Engloba os mundos surrealistas. Magritte abre o discurso sobre o signo.
4) Arte como objeto: Duchamp introduz seus  ready-mades (pá de escavar, urinol,etc) em1917. Enquanto proclama a posição anti-arte tradicional que qualquer coisa que o artista diz é arte é arte,ainda estáenvolvido com a questão da arte.Só quem sabe que sua pá de escavar é arte, chamá-lá-ia de arte. Já o manifesto dadaísta glorifica a beleza do cotidiano, da liberdade, da espontaneidade, da contradição, do absurdo em suma da vida. Kurt Schwitters traz vida à arte, dissolvendo as barreiras entre as duas realidades. Mitchell, Rauschenberg e Oldenburg são os principais representantes. As esculturas gigantescas de tomada de luz, hamburgers, sorvetes de Oldenburg ficaram conhecidas como arte das instalações ou esculturas no espaço cotidiano ao invés de no museu.  Jim Dine comenta que suas pinturas fazem uma declaração sobre a arte do mesmo modo que alguém fala sobre os carros de Detroit,objetivamente como um outro tipo de coisa.
5) A arte como linguagem: Arte conceitual. No canal informacional de minha dissertação de Mestrado, o pesquisador encontra material abundante para se exercitar nessa tendência. Mas novamente aqui o objeto é retirado da arte.Mel Bochner define arte= idéia  + objeto. Mel fala que nunca valorizou os objetos emsua arte e vida. O que o interessava eram as idéias, os tipos de pensamento envolvido na arte. Não há um contínuo entre mais objeto a menos objeto. Ou uma coisa é um objeto ou não!  Mas quando iniciou sua carreira no início da década de sessenta, a fórmula era arte = objeto. Os Johns, Rauschenbergs eram ‘coisas’da formação do seu pensamento. Tudo neles acentuava a fisicalidade. Gostava muito do seus trabalhos. Mas eram tão fortes quanto a memória deles.Uma vez que tinha a idéia do trabalho, ele a possuía [John76].

6) A arte contemporânea: As exposições de arte intituladas Documenta da cidade de Kassel na Alemanha que se realizamdesde 1955 de cinco em cinco anos são consideradas como indicadoras da tendência para onde vai a arte. A última delas Documenta X em 1997 organizada por Catherine David, secretária geral do MAM  e do Centro Georges Pompidou e da Galeria Nacional do Jogo de Paume em Paris incluiu a própria cidade além dos lugares de exibições tradicionais tais como o museu Fridericianum ou o Hall da documenta. O visitante tem de percorrer desde a estação ferroviária até as margens do rio Fulda, passando por galerias subterrâneas através do centro da cidade. Misturam ‘obras-de- arte’ da  Documenta X com os anúncios comerciais da cidade, de modo que é difícl saber onde começa a arte e onde pára o cotidiano. Posters em passagens subterrâneas mostram edifícios tipo ex-BNH que se encontram no mundo inteiro. Além disso, usa o Jardim Barroco da cidade para exibir um chiqueiro com o objetivo de se pensar a relação com a natureza. Aqui na Documenta X se pode ver vestígios da arte das instalações  de outras documentas tais como os ‘carvalhos’de Joseph Beuys = 7000 blocos de granito em frente ao Fridericianum, representando sua intenção de plantar 7000 árvores.

7) A arte do computador [BRR99] [http2,3,4,5,6]: Não há maior desenvolvimento por falta de se aprofundar nos processos da arte exteriorizados como linguagens descritivas. Perguntas pertinentes aqui: É a idéia emsi mesma a coisa mais importante? Ou o ato de criar? Ou sua apresentação? E a arte assume aqui a característica de evento como na artede Pollock. A idéia é as performances ocorreremem diferetnes lugares, com os artistas espalhados pelo mundo inteiro e mostrando todos os tipos de arte conectados pelo computador criando uma performance coletiva, onde as próprias pessoas são a festa ou o evento. A interação é a coisa mais importante. As pessoas são parte do enigma e tem de se envolver. Isso é Stromkunst [http99].

Passo a comentar a obra de pioneiros que diretamente contribui para romper as barreiras entre “thoughtlike” things e “rocklike” things, mostrando que a coisa e o processo são  as duas faces da mesma moeda.

II.1  A magia transacional entre “thoughtlike” things e “rocklike” things

Antes de focar a atenção no ensaio de Heidegger sobre A origem da arte [Heid52a]   chamo a atenção do pesquisador para o fato de que Heidegger a serviço de Hitler não podia se debruçar sobre a arte moderna desua época considerada como degenerada  pelo ditador nazista.  Embora admirasse Rilke a ponto de saudá-lo como o profeta da modernidade, menosprezava os seus Novos Poemas caracterizados como poesia-coisa. Curiosamente, Heidegger escreveu um livro sobre a ‘coisidade’ da coisa [Heid87]. Nem aqui nem no seu ensaio coloca a coisa como o fazem os “mestres da coisa”. E tão pouco elucida a questão como o faz Jack Sarfatti em sua nova teoria pós-quântica sobre a consciência humana.
Essa análise que passo a realizar, para evidenciar processos semióticos e hermenêuticos revelados por esses pioneiros é fundamental à natureza da arte e conseqüentemente para se chegar ao âmago do ser da “thoughlike” thing  e da “rocklike” thing. Só assim se pode refletir a transcendência numa modelagem imanente.  David Bohm fala de uma ordem implicada transformada em explicada [Lour98], [BP87].
Ou na linguagem mais acessível do poeta alemão Rilke: Erst denn war ein Ding da, erst denn war es Insel, überall abgelöst von den Kontinent des Ungewissen [Rilk55:271]. Só assim aparece a coisa, só assim se torna uma ilha em cada lugar separada do continente da incerteza.
 O meu modelo de ecodesign é uma modelagem imanente baseada na teoria do signo de Hjelmslev e o modelo de ondas primárias e secundárias do desenvolvimento  biológico de Zeeman [Lour88]. Aqui a obtenção da coisa arquitetônica por computador só se faz possível, se se revelar o processo associado à coisa que deixa transparecer a sua “coisidade”.

II.1.1  Jackson Pollock: a relação entre o “eu” e a natureza

O expressionismo abstrato de Pollock é bem diferente do abstracionismo de Kandinsky. Hans Hoffman critica Pollock: Você não se inspira na natureza. Pollock retruca:  Eu sou  a Natureza.E se apresenta como o herói existencialista. Já Kandinsky se sentia como uma marionette nas mãos de Deus e van Doesburg negava toda a  individualidade,voltando suas energias para descobrir e revelar a harmonia das leis cósmicas [Humb80].
A passagem seguinte explicita o artista como existencialista:
Num certo instante a tela começou a  aparecer para os pintores americanos como uma arena onde atuar…. O que devia ir para a tela não era uma pintura mas um evento. O pintor não mais se aproximava do pincel com uma imagem emsua mente; ia até o pincel com material em sua mão para fazer algo a aquele outro pedaço de material em sua frente.  A imagem seria o resultado deste encontro…não há ato se você já sabe o que contém… A pintura-ato ou pintura-ação é a mesma substância metafísica que a existência do artista.  A nova pintura quebrou a distinção entre a arte e a vida. A arte como ação repousa na premissa de que o artista aceita como real apenas aquilo que está no procdesso da criação…o ato na tela é uma extensão do esforço total do artista para extravasar sua experiência…a tensão dialética de um ato genuíno, associado como um risco e arbítrio.[John76]
A liberdade que Pollock abraçava era um grande fardo para ele como para o advogado de Camus que descobriu:
É um núcleo… e uma corrida de longa distância, solitária e exaustiva. Nenhuma champagne, nem amigos elevando seus copos, enquanto olham você afetuosamente. Sozinho numa sala proibida, sozinho na cadeira do réu… diante dos juízes e sozinho para decidir em face de si mesmo ou em face do julgamento de outros.  No final de toda a liberdade há uma sentença de juízo; por isso a liberdade é tão difícil de portar.[John76]
Pollock buscou a natureza do eu na natureza da pintura. Acusada de ser mero modismo na época em que foi criada, diziam que qualquer criança faria o mesmo ao brincar com pincéis e uma tela sentada no chão,a arte de Pollock provocou filas enormes no MAM de Nova York e na Tate Gallery de Londres, que exibiram uma grande retrospectiva de sua carreira. Até mesmo os cientistas se dispuseram a descobrir as causas inabaláveis de seu sucesso. Submeteram suas telas complexas a análises matemáticas. Chegaram a algumas conclusões surpreendentes. Por trás do aparente caos, o universo de Pollock tem um ritmo que segue a mesma teoria dos fractais seguida pela natureza. São variações  ordenadas e até mesmo padronizadas que encontram um eco imediato embora inconsciente no olhar humano.
Pollock  certamente atingiria a consciência supramental ao saber disso e cessaria sua angústia  existencial que o levou à morte prematura [Poll00].

II.1.2  Robert Rauschenberg e a arte-coisa

Já Robert Rauschenberg quebrou os padrões do expressionismo abstrato de Pollock que dominava os salões de arte até os anos 60, estimulando a participação e análise do público através de uma arte feita comcoisas que garimpava nas ruas de Nova York. Recolhia roupas, tecidos, utensílios, pneus, latas de lixo, revistas em quadrinho, caixas de papelão e até mesmo animais empalhados. Dizia que qualquer coisa podia ser uma obra-de-arte, desde que tratada com inteligência e sensibilidade [Raus00].
O Bhagavad-Gîta as it is revela que umapessoa se auto-realiza ese chama um yogue (ou místico), quando está completamente satisfeita com a aquisição do conhecimento e sua realização. Tal pessoa situada na transcendência se auto-controla.  Vê tudo como igual – independente de se tratar de seixos, rochas ou ouro!
Igualmente o grande místico Sri Aurobindo que uniu as concepções do Oriente e do Ocidente e é considerado o verdadeiro libertador da Índia, sendo Gandhi um mero filho espiritual seu  confessa que o período decisivo de seu desenvolvimento intelectual sobreveio, quando pode ver claramente que o que o intelecto dizia era às vezes exato e às vezes não exato, que o que o intelecto justificava era verdadeiro e que o contrário também o era.Não admitia nenhuma verdade no mental, sem admitir simultaneamente seu contrário. Resultado, o prestígio do intelecto sumiu...[Sapt70].
É óbvio que Rauschenberg habita tais camadas transcendentes, conseguindo expandir os limites da arte com seu processo de criação e suas idéias.  Encarna bem o desprezo dos yogues pela arte decorativa ocidental. Chegou a inventar a arte performática. Tão zen-budista!  Exemplificando, a pessoa se instalava dentro de dois pneus colocados em pé um paralelo ao outro. Aí rolava  como um pneu...se reificando em pneu!
Ou então colocava rodas numa cama, retiravam o colchão e o artista performático se movimentava de pé através da sala enfiado nela!  Ou então imitava uma lagarta deitado numa prancha com rodas e se movimentava através do apoio dos braços no chão.
Sri Aurobindo fala que para se atingir a consciência supramental basta silenciar o mental. É óbvio que os exercícios da arte performática visavam esse objetivo. Uma vez transposta essa barreira, a seguinte estrofe de Fernando Pessoa  da  poesia Guardador de Rebanhos se realiza:
O essencial é saber ver
Saber ver sem estar a pensar
Saber ver quando se vê
Nem vê, quando se pensa.
Um crítico perguntou a Rauschenberg como começava uma obra. Respondeu que dentro dele tinha um cara chamado Rauschenberg.  Ia ao estúdio, começava a andar e olhar as coisas. Aí eu o ajudava a montar algo. Ou a litogravura Acidente se intitula assim, porque a impressora quebrou a pedra, enquanto ele passava tinta. É assim que ele trabalha. Aproveita o que acontece e aplica. Ganhou um prêmio e elevou  as litogravuras a uma grande forma de arte. Antes eram feitas em papel.  Depois dele,eram feitas de alumínio,  espelho, tecido ou papelão.  Trabalha na lacuna entre a arte e a vida.  Embora suas gravuras pareçam simples e que qualquer um as faria são incrivelmente complicadas e comum impacto visual profundo devido à maneira como joga com as cores eo modo cuidadoso como coloca as coisas.   Não escolhe nada aleatoriamente.  Escolhe especificamente o uso de imagens, formas e cores.  É um desafio.  Não é uma obra para se olhar passivamente. É preciso reagir de algum modo e alguns reagem horrorizados ou enojados.  Rejeitam completamente. Como se pode chamar de pintura roupas velhas ao acaso penduradas na parede do museu? Não se fica passivo.  Alguma reação desencadeia,pois nos envolvemos com sua obra totalmente.

Rauschenberg quer que a arte crie um novo modo de ver e com um novo modo de ver , espera que haja um estímulo para se pensar de modo novo.  Leibniz já negava a importância dos sentidos e até mesmo a arte e esperava obter também um novo modo de pensar. Há muita relação entre a filosofia do infinito de Leibniz e a obra do artista gráfico Maurits C. Escher analisada na secção
Os artistas também podem contribuir no modo como apóiam as causas sociais e políticas. Tenho consciência de que não só o artista pode influir na transformação sócio-político-econômica como qualquer pessoa consciente disposta a mudar o status quo. Acredita que os artistas podem ser um fator importante na mudança de atitudes arraigadas. Hoje em dia quando o princípio da cidadania se torna realidade, qualquer cidadão muda atitudes arraigadas. Benedita da Silva nasceu em favela e hoje é vice-governadora do  Rio de Janeiro além de senadora e candidata a prefeita.
Mostrou suas exposições até na ex-URSS e Cuba. Sua arte não conhece fronteiras.  Seu precursor Duchamp dizia que o artista tem 50% da responsabilidade ao mostrar o trabalho.Mas a outra só se completa com a reação retornada do espectador, transformada pela experiência. E é isso que faz da comunicação em artes visuais uma outra lingaugem e algo em que há sintaxe e vocabulário pictóricos e todas as coisas que associamos com a escrita.
Rauschenberg põe o mundo em seus quadros.  Por ocasião de sua exibição no Jewish Museum no início de sua carreira, os seus combinados (combines = escultura + pintura) com galinhas empalhadas ecaixas e tiras de jornal, pedaços de revistas provocaram o furor dos críticos.  Estaria fazendo pouco caso da arte.  Um escândalo.  Monograma causou controvérsia.  Um insulto matar uma cabra. Mas Rauschenberg  apenas resgatou uma cabra empalhada numa loja de móveis usados.  Depois a lavou, penteou e desfez os nós de sua pelagem, pôs um pneu em sua volta, encheu de tinta o focinho e a instalou em um jardim:  uma colagem feita a partir de materiais encontrados na rua. Fala que é uma alusão à agricultura e à pecuária.
Seus quadros podem ter a rainha da Inglaterra, um hidrante um ao lado do outro.  Quer dizer que não sabe distinguir entre eles? Não! Explica seu filho Christopher Rauschenberg. Seu pai é divorciado. Significa que o mundo tem coisas cuja importância vemos e coisas importantes e bonitas que não reconhecemos. Talvez só queremos perceber a Rainha, mas há quem ande por aí e só perceba o hidrante. Se prestar atenção ao que está acontecendo e procurar coisas belas ao ir a um museu, verá mais beleza no caminho do que lá dentro.
Rauschenberg diz: Não tenho nada em que pensar, enquanto trabalho a não ser deixar minha mente vagar. Conheço o meu trabalho.E tecnicamente escolhi este modo de trabalho em que tenho o máximo de falta de controle. Para que ocorra algo em que não pensei.  Você está numa situação que é  séria.   Há aqueles que querem alguns centímetros a mais para a frente ou para trás de modo que o trabalho fique abordável, mas fora de alcance.
Como artista é preciso continuar sempre avançando.  Seu trabalho como artista é ser explorador e ir a algum lugar onde ninguém jamais esteve. Seu trabalho como artista não é fazer um trabalho comum.
Vasculhava as revistas atrás de fotos de fatos atuais que combinava com ícones da história da arte e suas próprias fotografias.  Mandou produzir silkscreens com essas imagens que aplicava com rolo em seus enormes quadros,  recobrindo tudo com exuberantes pinceladas impressionistas à distância. Freqüentemente eram vistos como abstrações.  Se não se está acostumado a sua estéticas e visões,a sua arte é difícil de classificar.  Parece uma mixórdia de coisas.  Olhando a fotografia só se vêem os blocos de prédios.  Se não se está acostumado às imagens pode ser confuso.  Mas se se está e olhá-lhas individualmente veráporque estão reunidas ou como se relacionam e interagem. Pode-se  entender a conversa entre as imagens que têm lugar numa visão mais complexa. Diz-se que usa objetos e imagens para falar de nós mesmos.   Quando se vê um trabalho de Bob é como girar em volta da Terra num rápido piscar de olhos. Vê-se o que acontece na Terra. Bob nos dá idéia do que é o desdobramento da humanidade.
No contexto de desenvolvimento sustentável, o ideal de sistemas bio-integrados imitando a natureza onde a emissão de poluição tende a zero devido ao reaproveitamento dos resíduos de um sistema pelo outro é genialmente expressa em Monograma. E causou furor!
E a questão é:  quem é louco? Quem é capaz de viver com 25 centavos por dia para comer, apenas poder andar a pé, pagar 25 dólares de aluguel e se contentar com pão de cebola velho de três dias mais manteiga de amendoim para poder chegar a apresentar o Monograma acima em museu ou quemaceita o mundo desenvolvimentista e que gasta ¾ dos recursos e energia da Mãe Terra tendendo a transformá-la num gigantesco depósito de lixo a céu aberto?  Isso justifica a necessidade de se criar estações espaciais na busca por mais espaços.  A mentalidade colonialista não é abandonada nunca...E é pena que de fato um meteorito não caia bem em cima desses indivíduos...Assim pensam que não precisariam se preocupar com mais nada...
O que fez Rauschenberg agüentar essa situação eu não sei, mas o fato de estar vivendo com apenas um salário mínimo enviado por meu ex-marido, enquanto aguardava a transição para o pós-doutorado e me recusar a dar aulas na FAU ou na Unicamp de desenho técnico,  AutoCad e etc não seria possível sem uma visão global das coisas.  Assim vi como previ  o despencar dos salários para metade em termos da única moeda que conta que é o dólar.  Os recentes protestos na França  dos insuportáveis preços do petróleo e a ameaça da volta da inflação... Isso é uma guerra e como mostram os psicólogos, o índice de suicídio numa guerra é muito baixo...Mas o que faz com que eu me satisfaça com essa visão de mudança dos valores, enquanto todos voltam seus esforços desesperados para continuar com a velha ordem mundial?
Gadamer confessa que nada é tão aterrador como o exercício de capacidades geniais para o mal.  Evidentemente todo esse ensaio visa jogar luz sobre o fenômeno da arte.  Está se tornando evidente que ser artista  por si só não significa ser capaz de expressar a verdade, o bem e o belo em plenitude à imagem e semelhança de Deus. Mas não se pode negar que a arte neste século como um todo parece imbuída de atingir esse ideal.
Fica também evidente que os processos cognitivos ligados à criatividade não se revelam apáticos à reflexão ética.  Aristóteles apresenta a penetraçãoe a tolerância.  Tem boa penetração de espírito aquele que julga  reta e eqüitativamente.  A pessoa que possui boa penetração de espírito está disposta a reconhecer o direito da situação concreta do outro. Porisso se inclina em geral também à compaixão e ao perdão.  Porisso o homem compreensivo não sabe nem julga a partir de um simples estar postado frente ao outro de modo que não é afetado, mas a partir de uma pertença específica que o une com o outro, de modo que é afetado por ele e pensa com ele [Gada  ].

Na revista Psychologie Heute de abril de 2000, os cientistas mostram que os processos cognitivos para se saber se algo está certo são os mesmos envolvidos em fazer a coisa certa. Porisso que a pessoa burra não consegue perceber, quando alguém realiza uma tarefa melhor do que ela.
O conselho a seguir para que grandes massas tenham acesso à arte é o desenvolver da humildade. A humildade como insiste Tagore é um estado. Ou se é ou não se é humilde. Ou se percebe que o astro rei, o Sol, é o que ele é porque as enzimas oxigenadoras da lama produzem oxigênio em tal quantidade, permitindo o fenômeno da luz ou não se percebe. O sol percebe e agradece às enzimas por seu esplendor visto da Terra. Será que as enzimas são humildes?
O poeta Rilke certamente nos auxilia a quebrar o ego e entrar nesse doce estado da humildade.

II.1.3  Rilke: Kunstwerk x Kunstdinge (obra-de-arte x coisa-da-arte)

A seguir continuo tentando mostrar através de Rilke quão complementares são todos os aspectos envolvidos no objetivar da experiência. O escopo da ciência é objetivar a experiência até que fique livre de qualquer momento histórico. Num e noutro caso a objetividade ficaria garantida pelo fato de que as experiências que jazem ali poderiam ser repetidas por qualquer pessoa.Ou no caso das ciências do espírito o procedimento completo tem de ser passível de controle. Faz parte do contexto da experiência no entanto a sua eterna abertura à verdade.  E a verdade é infinita e desabrocha em míriade de aspectos tal como as pétalas da flor do lótus cujo núcleo parece ser uma fonte inexaurível de pétalas por abrir.
É óbvio que sem essa objetivação da experiência,   o captar dos aspectos transcendentes que deverão se introjetar na coisa enquanto aspectos puramente imanentes portanto objetivos faz com que a modelagem não seja  possível.Ou não se chega a nenhum consenso.  Rodin em suas discussões com Rilke fez com que percebesse essa mudança radical no modo de pensar e agir. E se não entro diretamente na magia do mundo de Rilke é porque estou preparando o caminho para que o pesquisador não fique ofuscado pela luz de Rilke e continue nas trevas.
O  comentário a seguir de Duchamp revela um pensar fragmentário que o impede de se identificar à situação.  Escreve a Hans Richter em 1962: Esse Neo-dada que chamam de novo Realismo,  Art Pop, colagem, etc é um jeito fácil e se alimenta do que o Dadaísmo fez.  Quando descobri os ready mades, pensei desencorajar a estética.  Esse Neo-Dada tomaram meus ready-mades  e encontraram beleza estética neles. Joguei o urinol e o cabide de pendurar garrafas em suas faces como desafio e agora os admiram por sua beleza estética.
Através desse comentário  se percebe que Duchamp continuou vivendo no nível 2 da mente e que os artistas incorporaram o seu desafio, apesar de que ele não percebeu isso.Infelizmente não há tempo aqui para relatar os vários tipos de arte, passando pela arte minimalista, ótica, cinética, ambiental e conceitual que mergulhando na coisa acabaram por transcender a sua materialidade e penetraram nos doces mistérios dos processos  dinâmicos imanentes a ela associados.
Espero que fique claro ao pesquisador da forma como os artistas rompem com as barreiras entre os níveis 1, 2 e 3 da consciência descritos na mecânica pós-quântica.  O desdobrar dessa visão holística revela um leque de dimensões conceituais,  a saber, o artista, a obra-de-arte, o produto, a coisa, o processo, a máquina, o artesanato (know-how), etc como  partindo de uma origem comum.
Trata-se aqui de descobrir e revelar uma concepção tão abstrata e abrangente quanto a de Leibniz na Monadologia na querela sobre a continuidade:
A divisão do contínuo não deve ser considerada como  a da areia em grãos,mas como a de uma folha de papel ou de uma túnica em dobras, de tal modo que possa ter aí uma infinidade de dobras, umas menorres que as outras sem que o corpo se dissolva jamais  em pontos ou minima [BC93:56].
Mais ainda Leibniz coloca corajosamente que não se trata apenas da separação entre dois domínios (o finito, o objeto de experiência e o infinito, realidade transcendente), mas também entre dois tipos de inteligibilidade:
Ainda que sejamos seres finitos, podemos saber muitas coisas sobre o infinito, por exemplo sobre as linhas assintóticas, isto é, aquelas que prolongadas ao infinito se aproximam cada vez mais sem jamais coincidir;  sobre os espaços cujo comprimento é infinito e cuja superfície não ultrapassa a de um espaço finito dado, sobre a soma de séries infinitas.[BC93:49] De outro modo não teríamos nenhum conhecimento certo de Deus. E uma coisa é conhecer a propriedade de um objeto, outra coisa é compreendê-lo, isto é, possuir todo o seu conteúdo escondido.
Percebe-se aqui como essa colocação de Leibniz é feliz e cria uma ponte entre os dois domínios e os dois tipos de inteligibilidade. E assim descarta os paradoxos, mostrando que quando esses aparecem adquirem uma função de laboratório conceitual.  As dificuldades surgem de princípios mal fundados (há um ponto na extremidade de uma linha) que desempenham o papel como tantos outros pressupostos no raciocínio de uma mistura de gêneros sobre o qual não se tem domínio: raciocina-se sobre a linha como se fosse composta por pontos, sobre a superfície como se fosse composta de linhas. Não misturar os gêneros, esta é a regra principal, se se quiser ter uma chance de resolver e mesmo dissolver os paradoxos. Eis aqui a precisão e a amplitude de visão de um matemático e metafísico, demonstrando que não há a menor incompatibilidade entre religião e ciência. Pelo contrário, o irromper em vários domínios nos aproxima dos segredos da criação [BC93:54].
Para o artista gráfico Escher, a preocupação com o infinito é toda a sua vida. Mas o aborda do ponto de vista meramente geométrico e acaba revelando  toda uma consciência geométrica baseada nos grupos de simetria do plano e do plano sem ponto. Os grupos de simetria de similaridade e de simetria conforme são fractais. Assim não interessa chegar a um consenso necessariamente. Interessa é despertar os nossos potenciais para desvendarmos meios mais eficientes para se revelar a verdade.  E a arte de obra dá esse recado, gerando menos atrito na comunicação do que a filosofia com certeza. Ou se entende uma obra de arte ou não se entende, mas ninguém nega a beleza da obra de Escher.  O Michel Spira no IMPA em 1996 por ocasião da Escola de Álgebra quis impor sua autoridade de matemático à minha percepção sem entraves e afirmou categórico que estava enganada. As imagens de Escher não passavam de mera fantasia e não tinham nada a ver com fractais. Hoje essas fantasias estão classificadas matematicamente em minha tese de doutorado. De fato não tenho formação acadêmica em matemática mas se a tivesse eu tenho certeza que meu lado artístico me impediria de fazer afirmações semelhantes que revelam um espírito nada científico e portanto bem longe da justiça.
Certamente poderá haver censura por parte da FAPESP o fato de  eu não ter papas na língua, mas o que dizer da recente manifestação artística na Alemanha em que os artistas saíram às ruas com máquinas de lavar roupa numa demonstração de se exigir transparência e pureza na política? Ao relatar ao Mário Covas o jeito que certos professores da UFRJ e da USP me tratam concluiu que era caso de se instalar uma CPI!!
Então lavemos roupa suja em casa que é bem mais saudável e veremos que produz milagres a nível político, social e econômico pois elimina entraves à introdução de aproximações que tem profundo impacto na qualidade de vida humana.
Agora acredito que o terreno já está bem preparado para entrarmos numa relação de desconstrução do ensaio de Heidegger, coisa que nem o filósofo deconstrutivista Jacques Derrida se aventurou.
No curso da História da Verdade sobre o sujeito do ser, as três maneiras de definir o ser-coisa compreendem a coisa como:
1) suporte de qualidades marcantes
2) unidade de uma multiplicidade de sensações
3) matéria informe.

Estas interpretações se combinaram. Essas combinações reforçaram sua extensão de modo a ser válida para a coisa, o produto e a obra-de-arte. E assim se formou a maneira predominante de conceber não apenas as coisas, os produtos e as obras mas todo o ser (étant, being) em geral na filosofia.
Antecipa toda a apreensão imediata do ser. Liga todo o esforço para meditar o ser de cada gênero em seu desdobramento (étant).
Na filosofia, os conceitos de coisa reinantes nos impedem o acesso ao caráter de coisa das coisas, bem como o caráter de produto do produto, sem falar do caráter obra-de-arte da obra-de-arte afirma Heidegger [Heid52c].
A introdução acima de como ocorreu o desdobramento da consciência artística deste século reflete essa problemática, incentivando a total subversão de categorias rígidas. Na nova ciência da computação essa indefinição se torna ainda mais problemática ao se tentar modelar artefatos (produtos) e processos de software através do paradigma orientado a objetos. Cria-se aqui um mal-estar por não se ter competência para se entender os sistemas computacionais abertos que estão sendo elaborados tais como os de Patrick Stey
capazes  de modelar qualquer gênero do desdobramento do ser. O próprio sistema computacional aberto é uma coisa ou é um processo?
Felizmente o poeta Rilke parece jogar luz nessa controvérsia. O mesmo diria da mecânica pós-quântica de Sarfatti.
Para Rilke [Maso64], uma concepção quase mística das ‘coisas’ lhe foi muito importante desde cedo. Desde 1899, o Deus do Livro das Horas foi tratado por Du, Ding der Dinge (Tu, Coisa das Coisas). Desde 1902, Rilke tendeu a relacionar esse conceito da coisa também com as atividades dos artistas.  Assim falava de preferência de Kunstding em vem de Kunstwerk. Kunst significa arte em alemão. Em vez de obra-de-arte falava de coisa-da-arte.
No livro sobre o famoso escultor moderno Auguste Rodin [Rilk   ], Rilke elogiou a escultura que em sua demanda pela  ‘coisidade’simples (Dingwerdung, thingness)  realizava desejos  e receios.
Rilke colocava ao lado da já discutida transformação de todo o ‘exterior’em  interioridade (Innerlichkeit) um outro, não menos importante, mas processo contrário através do qual a ‘interioridade’  por intermédioda ARTE se transformava em ‘exterior’, em coisa (Dinge).
Ambos esses processos se complementam reciprocamente e devem sersempre vistos juntos.
Nos Novos Poemas publicados  em 1907 e 1908  em duas séries, Rilke se torna um pintor ou escultor da natureza. O poeta terno, mimoso da interioridade se torna monumental. Influenciados pelo convívio com o escultor Rodin e pela descoberta da pintura de Cézanne, estes poemas representamummarco divisórioemsua obra e não deixamdeinterferir na poesia existencial dos últimos anos e até mesmoemvários dos Sonetos a Orfeu. Neles ocorre a convesão de Rilke ao objetivo e ao concreto, sua passagem do mundo dos estados de alma, sentimentos e impressões ao mundo das coisas [Camp94].
A propósito dos novos poemas, Angelloz fala de uma concepção poética naqual o sujeito se deixa absorver pelo objeto e lembra aindaa expressão cunhada por Oscar Walzel, Entichung der Lyrik (desegoização da lírica) para designar esse lirismo novo de onde o Eu é ausente, onde ich (eu) é substituído pelo er (ele) [Ange52]. Assim os Novos Poemas nasceramde sua experiência emParis Kunstdinge (coisas da arte).
Até Heidegger condenou essa parte que pareceria a menos rilkeana aos apegados ao poeta inspirado. É no entanto Rilke estimado por João Cabral de Mello Neto,o engenheirode nossa poesia comosepode ler na composição Rilke nos Novos Poemas de Museu de Tudo:
Preferir a pantera ao anjo,
Condensar o vago em preciso:
Nesse livro se inconfessou:
Ainda se disse, mas sem vício.
Nele, dizendo-se de viés,
Disse-se sempre,porémlimpo;
Incapaz de não se gozar
Disse-se, mas sem onanismo.
Der Panther (A pantera), encarna prototipicamente essa poesia-coisa. Foi elaborada após Rodin ter lhe advertido de que ele não sabia olhar. De fato, Cézanne que também o influenciou nessanova tendência se posicionava: Há duas coisas no pintor: o olho e o cérebro. Os dois devem cooperar; deve-se trabalhar para o desenvolvimento de ambos, mas como um pintor: do olho através do ver a natureza, do cérebro através da lógica de sensações organizadas que providenciamo meio de expressão.  E mais ainda: Não se é nem muito escrupuloso,nem demasiadamente sincero nem muito submisso à natureza; mas se é mais ou menos mestre do próprio modelo e, acima de tudo, do meio de expressão. Vá ao coração do que está diante de você e continye a se expressar tão logicamente quanto possível.[John76]. Visão, idéia, criatividade, sentimentos estão entrelaçados.
Eis a linda poesia-coisa  A Pantera
De tanto olhar as grades seu olhar
Esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na Terra.
Grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
Em círculos concêntricos decresce,
Dança de força emtorno a um ponto oculto
No qual um grande impulso se arrefece

‘De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio; Uma  imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração

Der Panther

                   (Im Jardin  des Plantes,Paris)

Sein Blick ist vom Vorübergehen der Stäbe
So müde geworden, dass enrich mehr halt.
Ihn ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
Und hinter tausend Stäbe keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
Der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
Ist nie ein Tanz im kraft um eine Mitte,
Ín der betäubt ein grosser Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
Sich lautlos auf – Dann geht ein Bild hinein,
Geht durch der Glieder angespannte Stille
Und hört im Herzen auf zu sein.

Não escreveu esses versos diretamente. Primeiro escreveu um esboço emprosa, em que uma leoa ia e vinha ao redor de um leão moribundo. Essa prosa já continha os elementos essenciais da poesia definitiva, mas não com a concisão aí expressa [Maso64].
Imitando Guimarães Rosa (eu oncei) , diz-se  que Rilke se pantera. Introscreve-se nos seus modelos. Faz com que o eu desapareça para que, através da captação da figuralidade essencial do outro, com um mínimo de adjetivação em máximo de concretude aflore uma dramaticidade imanente, insuspeitada sob o olho sensível e a pena justa de Rilke, o inanimado se anima e o animado se humaniza.
Escreve a Lou Andreas Salomé que foi noiva de Nietzche, amante de Rilke e a amiga mais íntima de Freud: No mundo,  a coisa é determinada, na arte ela o deve ser mais ainda: subtraída a todo o acidente,libertada de toda penumbra, arrebatada ao tempo e entregue ao espaço, ela se torna permanência, ela atingea eternidade. Uma aparece; a outra é; ela ultrapassa indizivelmente seu modelo, ela constitui a lenta e progressiva realização do querer ser, que se desprende de toda a natureza. A arte não é, então, como sepensa, a mais caprichosa e a mais vã  das indústrias, mas um humilde mister, regido por leis rigorosas. E mais adiante:
Quero viver como se meu tempo fosse limitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes,vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem.  As pessoas que me procuram não podem me ajudar: elas não compreendem. O mesmo se passa comos livros: demasiado humanos ainda.... As coisas, só elas, me falam. As coisas de Rodin,as das catedrais, as da antigüidade. Todas as coisas que são perfeitas. Elas me apontaram os meus modelos: um mundo de movimento e de vida, na pura simplicidade de seu desígnio, que é o de deixar nascer as coisas [Camp94].
Obviamente Rilke critica o mundo mental e valoriza a fisicalidade das coisas comomais inteligível. Corrobora as visões de Sri Aurobindo, Pollock e Rauschenberg.A Morte do Poeta e o Poeta em Neue Gedichte (Novos Poemas) registram a tensão de Rilke em busca dessa almejada introjeção nas coisas e do seu correspondente desgarramento do mundo subjetivo, alegorizados pela identificação com  a natureza.
Dentre os derradeirso poemas Die Frucht O Fruto de fevereiro de 1924 identifica a perseverança em Rilke do desejo de dizer as coisas que poderiam servir de modelo de Dinggdichte  (poesia-coisa) tal o radicalismo de sua despersonalização e objetividade.
A disciplina e o rigor a que Rilke submeteu as forças tumultuárias do seu transe poético para transformar a angústia em coisa constituem uma peripécia exemplar [Camp94:15-16].
Esse delírio representado pelo conhecimento do domínio em todas as áreas de atuação humana tem de ser domado e transformado em modelo dependente do domínio tal qual o esforço realizado em [Lour88] e [Lour98]. Isso demanda alta densidade vocabular, precisão e concisão, o rompimento de barreiras entre o nível semiótico da coisa, do fenômeno e o nível hermenêutico do ser inteligente.
Para quem tem dúvida da adequação de minha aproximação é só comparar a concisão do meu modelo de ecodesign com A linguagem de padrões  de Alexander, matemático e arquiteto. Mais ainda enquanto Alexander não desenvolveu o correspondente modelo geométrico da sua linguagem e por isso mesmo fracassou em sua implementação , eu apresento um modelo geométrico robusto que simula a liberdade e a criatividade implicadas no ato do design. E o modelo computacional imita a sua natureza hermenêutica e autopoiética.  Embora A linguagem de padrões  tenha inspirado  The design patterns de Erich Gama et al e também pertença à computação hermenêutica, é igualmente prolixo. Enquanto a molécula de ADN exibe apenas quatro bases, as descrições humanas dela ultrapassam facilmente as mil páginas.
O segredo do meu sucesso consiste na minha capacidade de imitar a natureza da poesia  que é essencialmente concisa e captar a natureza dupla da luz que se introjeta na problemática coisa-ser, a ponto de elaborar modelos de aspectos transcendentes e imanentes.
O livro de Rilke sobre o escultor moderno Auguste Rodin bem como qualquer coisa que escreve sobre o processo de criação deixa transparecer que o caráter do artista se reflete na modelização: O trabalho de artesanato nasce,mas parece ser um trabalho para a eternidade, tão amplo, sem início nem fim e concebido para estar sempre aprendendo. A paciência estava lá – não se permitia nenhum salto, sempre a dura obstinada vontade do Poder-do-fazer (Machen-Könnens) [Rilk55:271].
Mas o caminho não surgiria se o amor não interviesse : o amor a todos esses ideais, desde o mais baixo até o mais estreito, - esse grande amor clarividente pela natureza, que só se desenvolve nos esforçados, que nasce do trabalho como o calor  na forja.
Assim tudo se tornou saber a ponto de se incorporar em seu trabalho.
Concreta e arrebatadora sabedoria. Não se deixou inebriar pelos aspectos fáceis das coisas, mas a chamou a si e as portou até sentir sua carga transformada em trabalho artesanal – sempre nesse “Um”. Sob seu peso ficou claro, que no caso das KunstDingen ( coisas da arte) não é possível efetuar nada através da aparência:  ao contrário, trata-se de gut gemacht zu sein (fazer bem feito).
Dieses Gut-Machen (fazer as coisas), esse trabalhar com o mais puro saber: isso era tudo.
Plasmar uma coisa – significa: ir a cada lugar, - nada ocultar, deixar desapercebido, nada fraudar; todas as centenas de perfis  conhecer, todas vistas interiores e exteriores – cada entrelaçamento.
Erst denn war ein Ding da, erst dann war es Insel, überall abgelöst von dem Kontinent des Ungewissen.
Só então surge a coisa, só então ela é ilha, separada em cada lugar do continente da incerteza.

Esse trabalho da modelagem é igual em tudo o que o homem faz, e deve ser feito humilde, delicado, submisso, abandonado, sem escolha de rosto, mão ou corpo, demodo que a menor censura não mais esteja presente, de modo que se forme sem saber o que brotar espontaneamente, como a minhoca uq cava seu caminho no escuro de lugar a lugar. Quando um rosto não é resultado de um preconceito, uma limitação da gigantesca imensidão da forma, o rosto é a expressão de relações mutantes inesgotáveis. O criador não temo direito de escolher, silencioso e aquiescente deve ser seu trabalho, hermético também em toda a confiança a forma se entra e se modela em seus dedos, para pura e revigorada impregnar seu trabalho.
E numa verdadeira atitude zen-budista, a identificação com a coisa é tal que: Não havia uma luz sequer que se movimentasse como ele queria, era  a luz daquela coisa que lhe pertencia, como se irradiasse a partir dele [Rilke55:271-272].
Antes de abordar Heidegger, vou  expor em traços gerais a teoria pós-quântica de Sarfatti pois essa apreende melhor a relação entre “thoughtlike” things e “rocklike” things.  Joga luz numa discussão sobre a coisa e o ser da coisa de um modo imprevisto pelo primeiro.

II.1.4  Jack Sarfatti: thoughtlike things versus rocklike things

Acredito que Heidegger emseu ensaio A origem da obra de arte [Heid52c] e no livro Die Frage nach dem Ding [Heid87] (A questão da coisa) ao invés de  ou se basear em conhecimentos  científicos ou estar mais atento ao modo de ser da arte permanece profundamente arraigado à tradição filosófica e acaba perdendo o fio condutor do pensamento que o levaria a uma visão mais balanceada entre o ser e sua manifestação imanente como coisa, produto ou obra-de-arte. Citando Bachelard, perdeu assim a visão que se tem ao entrar num mundo em miniatura onde imediatamente as imagens começam  a surgir, então cresceme escapam. O grande surge do pequeno,não atravésda lei lógica da dialética dos contrários, mas graças à liberação das obrigações das dimensões, uma liberação que é uma característica especialda atividade da imaginação. Essa latitude psíquica elacionadaao tipo de liberdade interior do que é “local”, onde as fronteiras se abrem à imaginação sem exigir  que se esteja compulsoriamente se movendo, oferencendo dimensões de uma viagem ao exaustivo presente e a imagens persistentes com profundezas ilimitadas de ruminação.
Mas felizmente a mecânica quântica de Sarfatti parece exercer o papel dos  tanmatras da teoria Pinda-Brahmanda, de modo que a circularidade inerente ao Absoluto que se transmuta em coisas e portanto aí jaz adjacente se recupera.
Como explica Bohm, o aspecto essencial dessa ordem mecanística fragmentária “explicate” é que o mundo é visto como constituído por entidades (coisas) que estão fora de cada uma,no sentidoque existem independentemente em diferentes regiões do espaço e tempo e interagem através de forças que não causam mudanças em suas naturezas essenciais. Esta ilusão de fragmentação é catastrófica e responsável pelo status quo atual do mundo socio-político-econômico-cultural (educacional) e acaba impedindo de se analisar até os aspectos imanentes da coisa.  A linguagem de padrões de Alexander está mais para uma ordem explicada que implicada.  Já o meu modelo emerge de acordo com uma ordem implicada.
Na mecânica quântica o princípio de incerteza de Heisenberg é devido à influência inevitável do observador nas partículas nucleares. Em sistemas ecológicos e humanos é causada pela enorme complexidade e variabilidade.  Cada dia mais vem se percebendo que esse princípio se introjeta em qualquer sistema.  Mas para se percebê-lo é necessário se olhar as coisas a partir de uma ordem implicada. A ordem explicada impede essa visão.
A idéia de Bohr da realidade quântica é fundamentalmente thoughtlike, mas colapsa para coisas rocklike .  De Broglie mostrou o que Planck descobriu para a luz também era válido para a matéria. Essa é a dualidade onda-partícula.Planck e Einstein mostraram que a luz ondulatória clássica tinha propriedades de partículas quânticas. De Broglie então mostrou que as partículas clássicas  tinham propriedades de ondas quânticas.  A versão de Bohm da realidade quântica mostra que esta tem propriedades thoughtlike e  rocklike sem colapso. Isto é,a força quântica de Bohm  é a força  de uma coisa thoughtlike  numa coisa rocklike, e uma vez que a mecânica quântica não permite de modo algum a contra-força da coisa rocklike   na coisa  thoughtlike , então é necessário a teoria física pós-quântica de Sarfatti onde a ação de reação (back-action) é essa contra-força da atual posição da partícula num momento do tempo para mecânica das partículas ou da configuração do campo clássico sobre todo o espaço num momento no tempo em teoria de campo quântico na sua onda thoughtlike associada.  As propriedades de onda quânticas das partículas são causadas por um novo tipode quantum potencial dependente de forma não –local. Assim  é que o pensamento plasma a matéria do cérebro.  As propriedades de partículas quânticas dos campos clássicos são causads por um potencial superquântico  similar. O fóton é um exemplo disso.
Há uma diferença entre as ondas clássicas rocklike e as ondas quânticas thoughtlike. As ondas rocklike  são locais no espaço 3D rocklike  ordinário. Incluemas ondas eletromagnéticas de maxwell. Emcontraste, as ondas quânticas thoughtlike são locais num espaço de configuração em mais altas dimensões o que as fazem NÃO- LOCAIS em espaço 3D rocklike ordinário de largura, altura e espessura.
Uma outra concepçãoimportante no contexto da mecânica pós-quântica é a informação ativa de Bohm.
Basil Hiley mostra que o elétron é de fato uma partícula com uma posição bem definida x(t) que varia continuamente e é causalmente determinada. Observe que o caminho x(t) da partícula rocklike é causalmente determinada em mecânica quântica.  Em contraste, com  a back-action  pós-quântica (i.é., o Espírito Santo, o Sopro de Deus, usando imagens leigas), a partícula agora ligada à onda piloto quântica thoughtlike se torna ativa e participa na sua auto-determinação até mesmo opondo as pressões seletivas  naturais Darwinianas não-auto determinadas em alguns casos robustos. Começa-se a explicar os milagres.
Essa partícula nunca se separa de um novo tipo de campo quântico que fundamentalmente o afeta... este também muda continuamente e é causalmente determinado.
Pesquisa recente na IBM em quantum teleportation sugere que o padrão de onda piloto quântico thoughtlike  da informação implicada de Bohm pode ser “teleportado” entre partículas diferentes rocklike.  Assim,umcérebro pode experimentar a experiência atual de um outro cérebro distante dele no tempo  e no espaço! Observe que também para a partícula, a determinação causal da onda se transforma em auto-determinação do ser vivo, quando a back action  predomina. A partícula rocklike  e sua onda piloto associada thoughtlike alimenta a informação de correção do erro prá diante e prá trás  entre as duas para se tornar um sistema adaptativo pós-quântico autodeterminado consciente.
O ponto importante para se compreender aqui é que isso não é possível em mecânica quântica. Bohm explica porque:
Finalmente deve ser apontado que diferentemente do que acontece com as equações de Maxwell por exemplo, a equação de Schrödinger para o campo quântico não tem fontes, nem tem um ouro modo qualquer pelo qual o campo pode ser diretamente  afetado pelas condições das partículas.
Esta é a observação mais importante na obra de Bohm [Bohm51:30].
Esta é a semente a partir da qual a física pós-quântica do século XXI vai nascer.  O que Bohm diz é que a mecânica quântica tem ação de retorno zero.  Back action  significa justamente o contrário. O campo pós-quântico (ou onda piloto) temfontes e é diretamente afetado pelas condições pelas condições das  partículas.. Portanto há uma relação bilateral entre a onda quântica e a partícula clássica ou a posição da partícula na física pós-quântica.  Em contraste, há apenas uma força unilateral na onda quântica sobre a partícula clássica na física quântica.
Bohm insiste que isto constitui uma diferença importante entre campos quânticos e outros campos até aqui usados.
Os físicos da ciência da consciência entram nesse ponto em calorosos debates e utilizam conhecimentos que exigem domínio da mecânica quântica e teoria de relatividade de Einstein. Mas espero que o pesquisador perceba a minha intenção em mostrar que os conhecimentos científicos já habilitam uma discussão sobre  o ser e a coisa em que a visualização  costumeira como antagônicos não resiste. Já Einstein tinha demonstrado a relação e a conversão entre energia e matéria. Agora já se ataca de frente as propriedades do ser ou da alma.

I 1.5  Martin Heidegger: a coisa, a obra-de-arte, a verdade e o Poema

A incapacidade de Heidegger de apreender a coisidade (thingness) da coisa e depois a coisidade do produto e da obra-de-arte faz com que tome um desvio. E passa a raciocinar a partir da obra-de-arte para apreender a sua coisidade. No entanto se Heidegger fracassa na sua busca da relação entre a coisa e a obra-de-arte tão evidenciada na obra de Rauschenberg,  Rilke e Pollock , é extremamente bem sucedido ao relacionar a obra-de-arte com a verdade. E conclui que a essência da obra-de-arte é um advir e um devir da  verdade.  Embora não tenha trabalhado os aspectos imanentes do que significa isso, ao colocar que a verdade surge então como Poema e que a arte é portanto  essencialmente Poema abre as portas para se ver o mundo das coisas e dos fenômenos como informação.
Não só se aproxima das teorias de consciência como indica o caminho do modelamento. Ou seja até uma obra-de-arte é modelável.  Afirma  Mas a língua não é – e sobretudo não prioritariamente – a expressão oral e escrita do que deve ser comunicado. É mais que a simples manifestação do que jaz escondido, ou significado como tal em palavras ou frases: pois é exatamente a linguagem  que faz advir o Sendo enquanto Sendo à tona [Heid80:82-88].
Enquanto Peirce e Hjelmslev explicam o nível semiótico dascoisas em suas teorias sobre o signo, a contribuição de Heidegger se aproxima mais da teoria geral do signo de Peirce [Cola87] que é raramente conhecida e permite discernir com clareza os níveis transcendentes que operam na consciência humana (analisada na próxima secção).
A  contribuição de Heidegger é fundamental, embora não holística como a de Rilke ou Rauschenberg’s thingness.
Heidegger afirma que para determinar a coisidade da coisa, não é suficiente recorrer ao suporte de qualidades, ou então à multiplicidade dos dados sensíveis em sua unidade ou ainda ao complexo forma-matéria representado por si e que é tirado do ser produto. Coloca o produto no intervalo entre coisa e obra-de-arte.  O produto é feito pela mão do homem e estaria mais próximo da obra-de-arte.  Esquece que o produto pode ser manufaturado pela máquina e aí estaria próximo da coisa.  A arte contemporânea usou pneus, pás, caixas de papelão, etc portanto produtos para expressar a obra-de-arte e a própria arte como coisa.  Na mecânica pós-quântica , a continuidade é enfatizada tal como mostrado na Figura 1.
Curiosamente  insatisfeito com a caracterização da  coisidade da coisa, Heidegger acredita que se o debruçar-se sobre a coisa que dará peso e medida à interpretação da coisidade deve partir e e ir em direção à pertinência das coisas à Terra de novo conduz a equívocos.  Bem situar as coisas no Nível 1 da matéria geometria soa bem,mas ignorar que aqui também é o domínio  dos campos elétricos, magnéticos e gravitacionais, etc apenas enfatiza a concepção platônica da Terra como algo inerte.
E leva à seguinte dicotomia na discussão. Os dois traços fundamentais da obra-de-arte são segundo ele instalar, revelar ou erigir um mundo implantado na terra (no caso da arquitetura) e enfatizando a terra que se desdobra na matéria ou material de que é feita a obra-de-arte.
Heidegger argumenta que o ser-acabado (être-fini, das Fertigsein) do produto e o ser-criado (*das Geschaffensein) da obra-de-arte têm em comum sua dependência de uma produção.  Na criação da obra-de-arte, o desafio consiste em ter de tirar a terra de sua obscuridade enquanto se retira em si mesma.  Tem de se fazer uso dela.Mas é um uso que longe de usar ou abusar da Terra como de um material, a libera precisamente a ela mesmo.  Este uso da terra é como um trabalhar (oeuvrer)  com ela que tem o ar de uma utilização engenhosa do material.  Daí a aparência segundo a qual a criação que realiza uma obra seria uma atividade artesanal e manual. Mas isso ela não é jamais. A descrição de Rilke sobre o modo de trabalhar de Rodin  esclarece esse aspecto.  A criação é sempre um uso da Terra para revelar a verdade na confecção da obra. Em revanche, a fabricação do produto não é jamais imediatamente a realização do advir da verdade. Quando o produto está acabado, é uma matéria informe pronta para a utilização.  Este ser acabado do produto significa que este é abandonado a si mesmo, à sua utilidade.  Bem vimos como Duchamp começou a questionar isso desde 1917. Também comoRilke, Rauschenberg e Pollock quebram as barreiras entre a coisa e a arte, a coisa e o ser humano. E até mesmo a natureza e o ser humano (Pollock).   Até que finalmente o aparecimento da arte ambiental denuncia o uso da Terra, enquanto mero material e recipiente passivo levando à degradação do meio ambiente. Igualmente as novas teorias sobre espaço e tempo conforme relatado logo a seguir mostram a dinamicidade real dos fenômenos.
Desde 1° de junho até 31 de outubro na EXPO2000 em Hanover, Alemanha cujo tema é Homen, Natureza e Técnica várias obras-de-arte espalhadas ao acaso no Parque da EXPO2000 expressam a função de uma obra-de-arte de acordo com a constatação de Heidegger no sentido de fazer aflorar a terra. Só que essas obras-de-arte se manifestam através do produto como coisas!
Passeando pela EXPO2000, o visitante encontra uma cabine telefônica onde anarquicamente peixinhos se instalaram, transformando-a num lindo aquário. Ou um carro com uma gigantesca árvore como que brotando do meio dele lhe atravessa o caminho, diferentemente das obras-de-arte que estão bem comportadinhas em museu. Ou o convite para  mergulhar num poço de 4 metros de profundidade para se visitar a Oitava Maravilha do Mundo! Quem realizou a experiência atesta a sua beleza. É ao mesmo tempo um convite à introspecção, processos cognitivos característicos do fazer artístico [Expo00].
Também na Expo2000 é a primeira vez que os 53 países e organizações  que construíram seus próprios pavilhões tiveram que se submeter às limitações da ecologia com respeito à arquitetura como cartão de visita superdimensional: o princípio de sustentabilidade, no sentido da Agenda 21 deverá estar em primeiro plano para as  construções, como também esteve para o planejamento geral da EXPO.
Esta norma  prioritária para construções ecológicas que poupem os recursos naturais e que sejam construídas com materiais reutilizáveis estimulou os arquitetos do mundo inteiro a produzir projetos arrojadíssimos etotalmente novos.  O Japão não só apresenta seu origami gigante construído pelo famoso arquiteto Shigeru Ban mas também o seu carro elétrico construído em papelão.  O pavilhão tem 3600 metros quadrados todo em papelão reciclável [Deut00].
O golpe do petróleo pelos árabes forçou a preocupação com a Mãe Terra desde o início da década dos setenta, acentuando o seu lado energético. Na sua famosa equação E = mc2, Einstein assegura que toda a matéria é essencialmente energia concentrada e não-liberada e que ambas eram dois lados diferentesda mesmaúnica entidade cósmica.
A demanda estética para a simplicidade encontra em Laugier ressonância no século XIX. Busca na pequena cabana rústica o modelo sobre o qual projeta toda a magnificência da arquitetura. Segundo Milizia a cabana humilde, a primeira construção do homem continha o gérme dos mais magníficos palácios mas tambémo modelo que a arquitetura devia imitar, pois estava o mais próximo do estado da natureza [Tzon76].
Deixar o que está sob as coisas transparecer expressa um desejo de recuperar os elementos essenciais da vida, revelar e trazer à tona as qualidades autênticas daqueles aspectos escondidos da realidade que pertencem às coisas mesmas.  Esse amor à infraestrutura da matéria significa um anseio pela integridade, libertar a alma que pertence à essência.
O desgosto com as afetações da civilização, fez com que o design da paisagem nos EUA mergulhasse no que é fundamental, entrando nos recessos mais íntimos de um chão fundamental, uma selfa ainda misteriosa e livre, selvagem  e perigosa como todas situações liberadoras,ainda aberta a possibilidades que foram todas excluídas de um mundo domado e sofisticado.
A palavra natureza envolve uma espécie de substrato ontológico abaixo da superfície, vinda da palavra latina natus e se refere primariamente a funções vitais e às forças dascoisas, ao seu caráter, disposição e tendências inatas, em suma , à sua essência, ao caráter essencial de coisa, às qualidades que a tornam o que é.
Se Heidegger não é feliz em perceber o caráter ativo e regenerativo da terra, Henry Plummer [Plumm89] capta que a casa “natural” na sua forma mais genuína não apenas reproduz as aparências naturais, mas penetra e causa o nascer deuma outra realidade. Torna-se um canal aberto à terra, quando evita apenas se misturar e ser engolida pela paisagem, e ao invés retira  e revela a matéria prima da vida. Tal casa “jorra” da terra, libera a terra e se integra ao fluxo da vida do corpo do planeta.
De acordo com Heidgger, essa revelação é a função primeira da arte da arquitetura, a qual ao erigir um mundo não causa o desaparecimento do material mas faz com que se torne a terra remodelada, glorificando abertamente o mundo do trabalho.
Ao erigir um mundo, a obra-de-arte expressa a terra...O trabalho move a terra por si mesma, à abertura de um mundo e a mantém aí.  A obra-de-arte deixa a terra ser a terra.
Essa tendência parece ter percorrido os pavilhões da EXPO2000.Bambu, papelão, cortiça, vidro, “enchido de areia”, trabalhados através da techne, um método criativo abrangendo arte e artesanato, não uma prática profissional ou operação técnica no sentido moderno, mas um “modo de saber”, um ver e liberar a verdade das coisas a partir de seu estado oculto, um descobrir de ‘seres’ se aproximam do ideal de arte desenvolvido por Rodin e tão bem captado por Rilke.  Assim os pavilhões se tornam...um poema no espírito emancipado da cortiça, do papelão e do bambu.
Os elementos arquitetônicos são esculpidos de modo a revelar a estrutura inata e o padrão de cada galho da árvore, liberando forças internas que estavam lá desde o início, dando forma a poderes subjacentes em latência no material, não impondo objetivos que ferem os princípios de auto-sustentabilidade da Mãe Terra,  onde há emissão zero de poluição.
Respeitar a madeira, significa “ouvir”o que o material quer ser por si mesmo, deixá-la dizer o que fazer.
Brancusi, escultor moderno, se afina com esse modo de ser e acrescenta: é enquanto você esculpe..que você descobre o espírito do seu material e as propriedades peculiares a ele. Sua mão pensa e segue os pensamentos do material.
Essa penetração e liberação da anatomia imanente da madeira acompanha outro tipo de emancipação, uma mineração e liberação dematéria prima no inconsciente humano, abrindo as portas para a zona fronteira da realidade psíquica que foi tão bem mapeada pelas descobertas psicoanalíticas de Freud, Jung e dos artistas surrealistas.
O Homem nu, em pé no deserto, sua cabeça abrasada pelo sol e atgenta ao espaço infinito – o egoísmo se foi. Torna-se um globo ocular; o nada; vê tudo; as correntes do Ser universal circulando através dele; o homem é parte ou parcela de Deus.
Talvez seja assim que o trio de arquitetos holandeses Nathalie de Vries, Winy Maas e jacob van Rijs esteja sentindo ao propor o Sanduíche ecológico compacto como é conhecido o Pavilhão Holandês da Expo2000. O homem destrói a natureza e, quando esta se torna um elemento vital como no caso da Holanda, construída abaixo do níveldo mar, o sonho de Heidegger se realiza e a obra-de-arte revela um mundo que tornou a própria terra  transformada num sistema biotecnológico e de fato expressa o edifício não só como remodelagem da superfície da terra mas também como gerador de energia. Heidegger nunca imaginaria um edifício como uma unidade autopoiética. E porisso a sua visão da terra no seu ensaio sobre a Origem da Arte [Heid52c] é essencialmente platônica. Jamais conceberia que as relações poderiam se inverter ou seja ao se revelar a terra em seus aspectos imanentes como no meu modelo de ecodesign, esse provoca um novo modo de pensar e uma nova relação com o conceito de revelar um mundo. O Pavilhão Holandês é uma demonstração de produto-arte. Tem a finalidade de mostrar a importância de se revelar a terra de uma forma autopoiética brilhante  e abre possibilidades de novos modos de pensar como se vai inserir o ser humano nesse espaço em harmonia com a natureza. Mas não realiza isso na EXPO2000.
A figura 2 mostra esse pavilhão de oito andares e 40 metros de altura, onde se intensifica o edifício e a paisagem  para que as condições de vida na Holanda permaneçam toleráveis [Mele99].
Reúne em si todos os tipos de paisagens da Holanda: dunas de areia, estufas de plantas, bosques mistos,um lago com ilha, uma tapada e um parque de cata-ventos em cima do teto, produzindo energia.  Este panorama de camadas sobrepostas no menor espaço possível, oriundo do país com a maior densidade demográfica, possui um sistema próprio de abastecimento de energia e circuito de água fechado. Muitos novos tipos de geradores de energia aqui estão integrados. Um parque de cataventos está montado no teto, o edifício está equipado com células fotovoltaicas, a energia é gerada, queimando biomassa cultivada dentro do edifício e o calor  é reciclado. Essa concentração de tecnologias é bem sucedida para tornar o edifício auto-suficiente.  O surplus devia beneficiar a comunidade. Todavia, os arquitetos assumiram que têm a liberdade de usar a energia gerada no edifício pelo edifício para seus próprios propósitos.  Assimexploram as tecnologias avançadas geradoras de energia paraq realizar uma de suas fantasias, um edifício sem fachadas.
A forma aberta como paradigma do Movimento Modeno levada ao extremo. Cortinas de ar e uma abóbada que repele a chuva e o frio sem necessidade de fronteiras visíveis. A enorme quantidade de energia requerida para tornar essa aproximação possível é gerada por meios ambientalmente benignos. O pavilhão parece consumir uma quantidade de energia enorme mas isso não é relevante, uma vez que não consome nenhum tipo de energia fóssil insubstituível.
Sacode as convenções, produzindo uma verdade inovadora e desafiadora. A integração eficiente de instalações geradoras de energia num edifício influencia a aparência exterior do edifício, mas ao mesmo tempo oferece ao arquiteto tremenda liberdade.  Torna-se possível desenvolver novas formas que são simbólicas da nova função e portanto da era da sustentabilidade e das tecnologias aplicadas.  Esse edifício tanto pode se suprir de energia quanto vender energia elétrica.
O corte da figura 3 mostra que o pavilhão gera eletricidade  de vários modos: o parque de cataventos no teto, as células fotovoltaicas no segundo andar e a biomassa é cultivada e incinerada no térreo.  O terceiro andar é separado da atmosfera ambiente por uma cortina de ar comprimido e a abóbada de ar do teto é usada para projetar o andar do teto da chuva.
A figura  4 mostra que a água tem funções diferentes em cada andar. Desce em pequenas quantidades a partir da fonte no teto, assumindo uma forma diferente e preenchendo uma função diferente em cada andar.  Atua como uma fachada, mas também é usada para resfriar o auditório e para dar descarga nas toiletes. Finalmente é coletada em pântanos onde é purificada, pronta para ser bombeada de volta à fonte do terraço do teto.
A estrutura vertical do edifício tem o mérito de deixar uma grande proporção do terreno do pavilhão livre, não impedindo o abastecimento do aquífero.  Esse projeto economiza espaço, energia e água [Mele99].
O novo assentamento de Flintenbreite na cidade de Lübeck no mar Báltico na Alemanha está implementando um conceito sanitário integrado com toilets à vácuo, esgoto à vácuo e uma usina de biogás para águas negras (blackwater).
A principal tarefa do saneamento além dos altos padrões higiênicos é manter o solo fértil. O saneamento com a mistura de ciclos de comida e água carrega todas as substâncias que são extremamente prejudiciais para o mar devido à acumulação e extremamente necessárias na terra (diminuição de fertilidade e recursos fósseis).
Os novos sistemas de gerenciamento e reciclagem integrados respeitam asdiferentes qualidades de matéria dos assentamentos humanos: águas negras com bio-resíduos, água cinza, águas pluviais e resíduos não-biodegradáveis.
Mais ainda as descobertas cada vez mais abrangentes da astronomia, física, ecologia deixam transparecer que a Terra (o terreno) é o universo inteiro.  Para se criar um punhado de terra tem de se inventar o universo.  Um milésimo de segundo depois do big ban a uma atemperatura de trilhões de graus celsius, a energia se transformou em quarks e outras partículas exóticas.  Depois de um segundo, neutrons e prótons nasceram de quarks a dez bilhões de graus celsius.  Depois de três segundos, hélio e outros núcleos de átomos nasceram de prótons e neutrons a dez milhões de graus celsius.  Depois de 300 mil anos, os átomos começaram a se formar e galáxias a se condensarem a 3000 graus celsius.
Acredita-se que a terra e outros integrantes do sistema solar se formaram há cerca de  4 000 milhões de anos por condensação a partir de uma nuvem de gás e poeira.  Esta se contraiu devagar, originando o sol primitivo no seu centro – uma nova estrela- cercada de uma massa de gases cósmicos na qual condensações locais geraram os planetas.  A terra primitiva fria se aqueceu através da matéria acumulada e decadência de materiais radioativos.  O calor fundiu alguns constituintes e não podia escapar da massa comprimida.  A matéria mais pesada desceu para o centro da terra devido à  gravidade.  Esta adquiriu um núcleo, um manto e uma crosta externa.
Um perfil geológico num terreno, revela sua evolução a partir da era arqueozóica (1910.106 anos atrás) à era cenozóica, o período quaternário.

Enquanto a superfície da terra esfriava, a água começou  a se juntar na supefície para formar os oceanos embrionários.  A atmosfera se formou nos últimos 1000 milhòes de anos, quando a vida vegetal começou a se estabelecer e contribuir com o oxigênio para as emanações vulcânicas de um estágio anterior.
Um perfil geológico da Grécia mostra que em cada período, o solo que se forma acima dos depósitos é cada vez mais fino e menos desenvolvido e capaz de suportar vegetação.
Como pode o homem para esse comportamento entrópico em relação ao terreno? A tríade de temperatura, razão do potencial de evapotranspiração e precipitação anual total média em mm determina uma gama de zonas de vida natural ou ecossistemas em termos de formações de plantas.
E é exatamente a noção de gravidade que nos permite superar as noções passivas sobre a terra concebidas por Platão.  A gravidade controla os movimentos de estrelas e galáxias. Mas o que a gravidade faz quando toda a matéria numa estrela é esmagada, quando esta explode como uma supernova e seu remanescente colapsa num buraco negro?  Enquanto não se fundir a teoria de relatividade com a mecânica quântica, não pode haver uma teoria de gravidade quântica.
Na mecânica quântica, a gravidade é concebida como contínua transmissão e absorção de gravitons pelas massas.
Uma incongruência emerge aqui. As teorias que tratam as forças como partículas assumem um background imutável de espaço e tempo. Assim o graviton se tornava ator e palco simultaneamente. Um graviton entraria no palco do espaço-tempo , mas ao fazer isto, curvá-lo-ia, como se esse fosse de gel.  Então uma teoria apropriada da gravidade quântica permitiria ao espaço evoluir e mudar em resposta a forças ou à presença de massa.  A teoria das supercordas é uma união  da teoria da relatividade geral com a mecânica quântica. Tenta mostrar que a gravidade e todas as outras forças são apenas manifestações diferentes de uma força ancestral – uma força unificada e que existiu na aurora do tempo.
Ashtekar [Bart93] introduziu em 1986 uma aproximação sobre como a gravidade pode atuar, quando se examina fatias do espaço cada vez menores. Sente-se o espaço  como um meio uniforme e contínuo. É uma ilusão como as mesas sólidas. Ashtekar, Rovelli e Smolin acreditam que o espaço é construído por laços, unidades discretase separadas, cujo diâmetro é de um minúsculo 10-33 cm (um milhão-bilhão-bilhão-bilionésimos de um cm). É uma medida do comprimento de Planck – o tamanho de um gráo mínimo concebível no nosso universo, derivado daunidade mínima de energia. Se um ‘átomo fosse explodido até atingir o tamanho de nossa galáxia, que cobre 100 000 anos-luz, um desses laços (loops) quânticos não seria maior que a célula humana.  O que é um laço quântico? Pode ser pensado como o equivalente gravitacional de uma linha de força gravitacional.   Nada existe dentro ou fora de um laço nem mesmo o espaço vazio; o loop define por si mesmo o espaço. Smolin diz que não se pode falar das propriedades de uma laço do espaço, como não se pode falar de temperatura ou densidade de um único átomo. Então o espaço que nos é familiar emerge apenas devido a números incontáveis de  laços se interconectando por polegadas, milhas e anos-luz.  Cada laço do tapete espacial seria separado e distinto ainda ligado a seus vizinhos.   Rovelli construiu um modelo tridimensional, uma malha de círculos metálicos usando centenas de anéis-chave. Aqui se pode imaginar um graviton como um único laço bordado num ponto da rede. Uma grande coleção de gravitons distorceria a tecelagem, como a massa distorce o espaço-tempo. Uma teoria de gravidade quântica bem desenvolvida faria nossas idéias sobre o big ban parecer tão ridículas quanto o modelo de Ptolomeu da terra como centro do sistema solar [Lour95].
O que entristece nas teorias arquitetônicas hoje em dia é exatamente essa falta de visão integrada. Os desconstrutivistas concordam que é necessário mudar as coisas mas é só dar uma olhada no jeito como fazem isso, completamente longe de uma perspectíva científica e o desânimo seria esmagador, se não fosse possível o exercício interdisciplinar.
Mesmo que Heidegger não tenha percebido o assomar das teorias de auto-organização, afinando e precisando a nossa experiência real dos fenômenos que nos cercam, foi feliz ao expressar que a arte é o revelar da verdade numa Gestalt. Agora pode-se ler aqui Gestalt  como imagem, coisa, figura geométrica, objeto, artefato, projeto, etc.
É o que advém pela criação como produção da revelação ou eclosão do sendo (becoming).  A verdade, esclarecimento, reserva do sendo surge então como Poema. Toda arte é essencialmente um Poema no sentido amplo da palavra.
Assim a arte revela a Verdade como Poema. Deve-se aquiescer a ela e deixá-la reinar.Em essência, poema não significa prosa. As descobertas da física atômica revolucionaram não só a pintura de Kandinsky mas também a poesia moderna.  Nomeu mestrado, mostrei através do poeta Haroldo de Campos que fez uma incursão ao mundo oriental para mostrar que a poesia se assemelhava à língua chinesa que para se considerar a arquitetura uma linguagem essa só podia se assemelhar ao chinês (Lour85].  Mais tarde para criar o modelo computacional correspondente ao modelo de ecodesign criado, o primeiro necessariamente tinha de captar a natureza hermenêutica e autopoiética do último. E o paradigma orientado a objetos através do seu mais novo ramo o protótipo satisfaz a expectativa [Lour97a].
Vou deixar o crítico de arquitetura Henry Plummer [Plumm89] explicar o que é poesia moderna. Assim o pesquisador vai perceber que  a natureza do paradigma orientado a objetos baseado em protótipo é radicalmente difeente de tudo o que se fez até hoje em inteligência artificial e na engenharia de software que orbita ao redor da linguagem de programação procedural C.
Sob a influência dos novos conceitos de física atômica, em 1913 Ezra Pound  já dizia que a coisa que interessa na arte é um tipo de energia, uma força que transmuta, funde e unifica.  Perdeu-se o mundo radiante onde um pensamento se sobrepões ao outro com uma fronteira definida. Em seu lugar surge um mundo de energias que se movimentam...magnetismos que se transmutam em forma (ondas clássicas rocklike) que são visíveis e ou tangenciam o visível.
Charles Olson também transformou o poema num campo, e em forma aberta, suas palavras arranjadas em matrizes densas de relações temporais e espaciais que simplesmente aboliram a sintaxe linear.
Entendia que a busca compulsiva  americana por paisagens alpinas, tornando a paisagem um órgão da consciência e troca cultural principal da experiência pessoal, forçando artistas a abandonarem o Hudson Valley passando pelo Parque Nacional Yosemite até atingir o Monte Hood no Oregon da costa oeste tinha acabado. Para se manter auto-criativo a busca tinha de se voltar para dentro, explorar as fronteiras do lugar local onde se está no aqui e no agora, entrar num tipo de eternidade elástica, uma ressureição perpétua no presente.
Aqui não há entradas fixas, meios e pontos finais, mas antes acumulação de acontecimentos que mudam e evoluem continuamente, desvendando trilhas e emergindo de acordo com o jogo hermenêutico do olho e da mente.
Tal poema deve  em todos os pontos ser um construct  de alta energia e também de descarga de energia.
Essa composição de ‘campo’ se consegue reunindo percepções cinéticas e liberadoras, uma composição onde uma percepção deve imediatamente e diratamente levar a uma percepção mais adiante. Os ecólogos também tiraram proveito dessa idéia de campo e elaboraram  novas teorias de ecossistemas[Joer92].
As convenções que a lógica forçou na sintaxe são rompidas e todas as partes do discurso de repente na composição por campo (de energia) são frescas para o som e o uso.
Os verbos perdem seu tempo preciso, sua cronologia rígida, conduzindo a história ao prsente.  Os substantivos se tornam tensos carregados de energia do inconsciente.Assim todas as formas componentes se tornam cinéticas (era interessante o pesquisador dar uma olhada em arte cinética e ótica) e são impedidas de se fecharem,  de se congelarem num rigor cadavérico, assumindo qualidades animais vivas.  Ao invés das palavras se subordinarem à hierarquia do todo,as partes ganham valor independente e movimento, democratizando a estrutura linguística que agora é  altamente plural e cujas partes são individualmente ativas.  Associações fragmentárias e puramente locais emergem em planos múltiplos, dando origem a uma nova ordem que Olson chamou a sintaxe de aposição, uma ordem igual a de um mapa, antes que a de uma equação ou lei que deve ser seguida, onde a lógica governa sobre as partes e as ajusta a um esquema sistemático [Plumm89:190-191].
Do ponto de vista da construção de um modelo dependente do domínio ou do modelo computacional tal tratamento da verdade como poema nos situa no nível dos processos de pensamento, contribuindo para indicar a necessidade de uma estrutura de linguagem que permita o livre fluir da imaginação.
Intuo que a teoria geral do signo de Charles Saunders Peirce nos auxilia a transitar livremente nas fronteiras entre a imaginação, o  pensamento e o conhecimento ou seja a nadar no mar da informação.