REDUÇÃO E EMERGÊNCIA

Henrique Del Nero (1992)

 

 

 

 

II.1. Introdução

 

Reduzir uma teoria é, grosso modo, explicá-la a partir de outra teoria supostamente mais abrangente. A tese emergencista é de modo geral a afirmação que algumas propriedades dos sistemas não sãoexplicáveis através das propriedades de seus componentes.

Minha intenção neste capítulo é mostrar de forma abrangente as diversas correntes reducionistas e emergentistas, para, em seguida, justificar a adoção de uma dessas posturar que compatibiliza duas teses concorrentes da Ciência Cognitiva acerca da relação mente-corpo: redução através de redes neurais (Conexionismo) ou emergência através de arquiteturas simbólicas (Inteligência Artificial tradicional).

O debate entre essas duas correntes tem duas interpretações:

A. Pode-se considerá-las como paradigmas epistêmico-metodológicos que versam sobre teorias e não sobre propriedades. Reduzir uma teoria a outra não significa reduzir as propriedades da teoria reduzida às da teoria redutora. Os aspectos dessa primeira acepção de redução são eminentemente lógicos, i.é, versam sobre as condições de dedução entre as proposições de uma teoria às de outra.

B. Pode-se considerar a redução e a emergência como indicativos de uma determinada natureza ontológica dos objetos sobre os quais versam as teorias. No caso da relação mente-corpo seriam indicações acerca da natureza física ou não dos objetos mentais (estados, processos, etc).

A alternativa "B" é preferível nesse caso pelas seguintes razões:

1. Se entendermos redução como uma relação entre teorias devemos seguir uma outra prescrição fundamental: somente são passíveis de redução ciências em estado maduro de desenvolvimento.

2. A irredutibilidade de uma teoria, num determinado instante histórico, não significa impossibilidade lógico-empírica de que venha, no futuro, a ser reduzida por outra teoria.

3. Não possuimos, até o momento, nenhuma teoria madura no campo das Neurociências, nem no campo da Psicologia, que seja candidata à função redutora ou à reduzida.

 

A partir de l, 2 e 3 suponho que falar da redução de uma teoria psicológica a uma teoria neurológica é no momento impossível. Mais: se há possibilidade, em princípio, de redução de teorias, por que não pensar na possibilidade, também em princípio, da redução de propriedades? Portanto, meu exame das diversas correntes sobre redução e sobre emergância deve ser entendido como útil para um projeto futuro de redução de teorias e, no presente, como um indicador da possibilidade de relação entre propriedades e hipóteses teóricas.

 

Uma segunda ordem de considerações diz respeito à justificação da relação entre teorias e propriedades, fato que possibilita a estratégia atual de falar de redução de propriedades sem violar o cânone clássico que prescreve o uso do termo "redução apenas para a comparação entre teorias. No capítulo I adotei a "teoria em rede do significado". Ora, através dela não posso dissociar propriedades de suas respectivas teorias, sendo absurdo pensar que se possa refletir sobre redução e emergência de propriedades sem fazer alusao às teorias que lhes conferem significado.

É claro que o problema acima é de difícil solução. Não há um ente, ou uma propriedade, i.é. a mente ou o mental, pairando num espaço absoluto, dissociado de uma metafísica e de uma teoria, à espera que se lhe dê um estatuto ontológico. Somente há sentido em falar de propriedades, de estados, em relação a determinado arcabouço teórico. Isso, aparentemente, colocaria impasse intransponível para um projeto que versasse, provisoriamente, sobre propriedades.

 

A solução para o problema apontado acima vem de uma série de considerações:

1. Consideremos cada palavra designadora de uma propriedade, por exemplo a palavra crença, designadora da propriedade de ser um estado intencional do tipo " x crê que p ", expressa em linguagem ordinária. Hipótese: a linguagem ordinária está impregnada de teses metafísico-ontológicas acerca da natureza dos eventos. Mais ainda, sua estrutura gramatical está absolutamente adequada à dualidade entre sujeito que fala, tendo acesso direto aos seus estados mentais internos, e o interlocutor que o ouve. Para o primeiro - i.é. o sujeito - o "eu" designa a instância de acesso direto, o conteúdo mental; no segundo - i.é. o interlocutor - se supõe existir compreensão do significado das palavras intermediadoras que são veículos de estados não acessíveis.

A hipótese de que as palavras e a estrutura da linguagem ordinária adotem, como ponto de partida essa assimetria dual é dada então como base de argumentação.

 

2. Hipótese: Os eventos mentais são todos sensações, entre os quais se destacam as sensações propriamente ditas, e.g. dor, olfato, etc. Há sensações que podem ser indiscriminadas, enganadas e sem referente. Portanto os

eventos mentais podem ser enganados, indiscriminados e sem referente.

É preciso explicar melhor as razões que endossam a hipótese acima - tudo que é mental é sensação e tudo que é sensação pode ser enganada ou enganosa. Considerem-se dois casos: o da " dor no membro fantasma " e de

certos estados de mal-estar vago.

No primeiro caso, vêem-se indivíduod que, tendo tido um membro amputado, continuam a sentir dor exatamente no lugar antigo. A explicação para o fenômeno se deve à topologia das representações corporais nas áreas somato-sensoriais do Sistema Nervoso Central (SNC).

A dor vaga é um outro tipo de sensação. Certos estados de mal estar e dor são não-discrimináveis, quer quanto ao local, quer quanto à característica (pontada, aperto, cólica, contínua, intermitente). Isso advém basicamente de certos tipos de inervação e de projeções amplas em homúnculos álgicos no SNC.

Uma terceira consideração diz respeito ao problema do deslocamento espaço-temporal do estímulo. A sensação da dor se confunde com o referente da dor, i.é., com a área que manda sinais através de fibras nervosas. Há pelo menos uma dissociação, um retardamento, entre o evento doloroso e a sensação dolorosa. Salvo digamos que dor é a sensação de dor, deveremos aceitar que dor no sentido da referência é despolarização de receptores em determinados locais específicos do corpo num instante t. Sensação de dor é o estado do sistema nervoso central, consciente, que representa quer a sensação de dor quer a sua suposta localização, utilizando-se para isso de um mapa análogo de distribuição de receptores de dor pelo corpo. Assim temos: dor idêntica a referente, no caso da estimulação do receptor periférico no instante tl; dor como estado cerebral, ainda não consciente, de estimulação num instante t2 das projeções sensoriais primárias e dor, como sensação consciente de dor e de localização, correspondente a um estado do SNC num instante t3.

Nem a segunda nem a terceira têm um referente idêntico, sendo já análogos ou representações da primeira. Mais ainda, podehaver engano quanto ao local e quanto à suposta referência de D1: no caso da dor fantasma - engano quanto à referência de D1 - no caso do mal estar vago - engano quanto ao local e quanto às características da dor.

 

3. Hipótese: se os estados mentais são sensações, havendo pelo menos alguns casos em que sensações são sem referente e incorretas (dor fantasma e mal estar vago)... se há dissociação ou não- identidade entre ser dor e sentir dor...então posso assumir que há diferença entre sentir algo e ser algo.

Suponha-se então o léxico de expressões que designam estados mentais: crenças, vontade, temor, etc. Suponha-se alguns atributos ou propriedades tidas como fundamentais das entidades ou dos estados mentais: ser livre, ser consciente, ser volitivo. Posso pensar pelas hipóteses acima que se todos os estados e atributos mentais são sensações, se sensações podem ser sem referente e enganadas, então estados mentais são sentir crença, sentir liberdade, sentir vontade, sentir consciência, sentir desejo, etc., e mais podem, qual sensações, serem enganos no tocantre à referência, à qualidade, ao ser enfim.

Perguntar-se sobre o referente desse sentir algo é em vão. Perguntar-se sobre a verdade e certeza desses estados é em vão. Perguntar-se pelo ser da liberdade é confundir o que significa sentir-se livre com o que é ser livre.

Podemos perfeitamente supor que somos, do ponto de vista do ser e dos referentes, instâncias de regularidades estritas ou probabilísticas que, se conhecidas, explicariam nossos comportamentos. Seríamos, nessa acepção, totalmente regidos pelas propriedades do SNC, propriedades essas que subsumiriam tanto o determinismo do ser quanto o indeterminismo do sentir, fonte da sensação de liberdade e de vontade. Vale notar que essa dupla característica do SNC, i.é., ser capaz de gerar ser e sentir, é fundamental visto que toda a gama de significados do mental se assenta na polaridade do sentir e de sua peculiaridade no tocante à liberdade e à vontade.

Resumidamente: do ponto de vista do corpo somos um ser biológico dotado de estados cerebrais definíveis pelas propriedades da neurofisiologia. Aí está o nível do ser das propriedades. Do ponto de vista do mental somos um sentir vários estados o que carece de verdade e de referente porém têm significado. Não tem sentido portanto dizer qual é o referente para uma crença ou para a liberdade, porque enquanto sensações, podem ser enganos, mas ainda assim significativos. I.é. se perguntarmos pelo ser e pela referência da liberdade estaremos admitindo sua inconsistência porque, sua sensação, é potencialmente destituida de ser e de referência. Se nos perguntarmos, outrossim, pelo significado da liberdade estaremos aptos a descrevê-la no domínio ôntico do sentir.

A razão pela qual devemos distinguir entre ser e sentir para propriedades mentais é fundamental no tratamento do problema mente-corpo.O SNC pode executar dois tipos de funções: aquelas que se passam em D1 e em D2 são facilmente imputáveis como obedecendo a princípios de regularidade e de causalidade mecânica. É o que chamo de esfera do ser. Outras funções são as que se passam em D3, que embora também obedeçam aos princípios gerais de funcionamento elétrico do SNC, e portanto também sejam tratáveis do ponto de vista da causalidade mecânica, são mais facilmente tratáveis do ponto de vista semântico. A isso chamei esfera do sentir. Do ponto de vista da sensação podemos tomar liberdade comosignificativo.Do ponto de vista da causalidade mecânica é apenas um análogo de indeterminação ou de imprevisibilidade.

A relação entre os estados no nível físico é causal. A relação entre os estados no nível mental é simbólico-semântica. Adotamos como designador de todos os estados mentais o sentir para que possamos distinguir e correlacionar propriedades físicas e propriedades mentais: serão então ou redutíveis umas às outras ou emergentes, i.é. não redutíveis. Porém a noção de redução de redução e emergência deve atentar para o fato de que traduzir a sentençá mental "João se sente livre" não implica ou impõe descobrir a propriedade da liberdade no sistema neuronal. O referente de "sentir-se livre" é um estado cerebral que se relaciona causalmente com outros estados cerebrais. Podemos admitir que os estados mentais correlatos que se relacionam semanticamente através de regras de transformação, de leis lógicas, etc, guardam uma certa regularidade com estados físicos correspondentes. Suponha-se que façamos mentalmente um raciocínio de tipo transitivo: A implica B; B implica C; logo A implica C. As conexões que governam essa implicação não são causas físicas. São leis lógicas. Porém , deve haver uma conexão causal correlata entre os estados físicos que subjazem a A, B e C e às transformações transitivas em questão. Essa conexão causal não explica a relação simbólico-semântica em termos de identidade ou analogia de tipos ( types), mas explica em termos de identidade de sinais ( tokens) . A relação entre o mental e o cerebral, nesse caso, é uma relação de redução tipo sinal (token-reduction) e de emergência de tipo, espécie ou categoria. O que isso quer dizer ficará mais claro adiante. Por ora, basta salientar que o nível do mental subsume uma classe de sensações que podem ser enganosas, cujos referentes são não redutíveis à categorias ou tipos naturais e cuja análise requer um nível de determinação simbólico-semântica e não mecânico-algorítmico-causal. A redução dessa classe de categorias mentais, não naturais na ordem do sentir, não se reduz de maneira forte aos estados físicos do SNC (type-reduction ou correspondência um para um), mas se reduz de maneira fraca enquanto instância ou sinal (token-reduction ou correspondência um para muitos ou muitos para muitos). A relação entre categorias do sentir e categorias do ser pode ser, no limite, redutível através de classes de equivalência que mapeassem o modo como as regularidades mecânicas e elétricas de D1 e de D2 determinam as regularidades semânticas de D3.

 

 

Feitas as considerações acima é possível tentar elucidar alguns pontos subsequentes.

1. O mental seria uma sensação que opera segundo leis próprias diferentes das leis físicas? A causalidade dá lugar, no caso do mental, à conexão via regras de transformação e via relações de significação?

2. O mental faz supor existirem uma série de propriedades que são incompatíveis com os sistemas físicos, i.é., com as propriedades físicas.

3. O mental se utiliza, no mais das vezes, de uma linguagem contaminada por teses metafísico-ontológicas acerca da realidade, supondo haver entidades ou propriedades tais como a liberdade que não passam de sensações. As teses ontológicas de que falo são justamente aquelas que elegem a sensação como centro de determinação do ser e não aquelas que vêem no sentir um engano e no ser a regularidade passível de extração e tratamento legiformes.

4. Uma correta estratégia para abordar o problema mente-corpo é a de encarar as propriedades do mental (tais como a consciência) como micro-teorias do senso-comum, forjadas à custa da linguagem ordinária e de ontololgias que constituem o ser através das sensações.

5. Portanto, dentro da estratégia científico-filosófica, devemos buscar reduzir o mental ao físico, atentos no entanto para o fato de que:

A. não estaremos tentando reduzir teorias e sim propriedades.

B. o objetivo da redução é o de encurtar ao máximo as eventuais discrepâncias que ainda persistem entre as propriedades do SNC e as propriedades mentais.

C. quando não for possível reduzir devemos apontar como, por que e onde se deu a ruptura; mais: se essa ruptura significa emergência e de que tipo.

D. os sentidos de redução e de emergência são vários e portanto devemos, como em EF, estar sempre atentos ao uso preciso de cada um desses termos.

 

 

Examino a seguir vários tipos de redução e vários tipos de emergência. Isso é fundamental, visto que, embora vá adotar a teoria compatibilista de HOOKER, o esclarecimento de tão ampla gama de acepções constitui contribuição às futuras discussões acerca do tema. Muito se fala a respeito de redução e de emergência, sem contudo precisar em que sentido se está usando cada um dos termos. Poderia dizer que, ambos os termos, podem versar sobre teses lógicas, ontológicas, epistemológicas, metodológicas e pragmáticas; sobre teorias, predicados, etc. Esse primado do rigor no apontar o exato uso que se está fazendo da tese, quer reducionista, quer emergentista, é fundamental para a ECF e nos vêm, é claro de EF. O restante deste capítulo será portanto um exame tipo EF das diversas doutrinas em ambos os domínios.

 

 

Uma última consideração em defesa do uso da noção de redução e de emergência sem oferecer teorias maduras de confronto quer para o mental, quer para o físico. Herbert FEIGL afirma que a irredutibilidade pode significar não dedutibilidade a partir de um conjunto de premissas, porém pode também significar intradutibilidade (não-sinonímia, não equivalência no sentido lógico.)

Pois bem, se considerarmos as teorias como um conjunto de sentenças o significado de não-dedutibilidade estará caracterizado. Porém podemos tratar de propriedades isoladas, clarificadas quanto ao seu significado através de micro-teorias (no caso do mental, micro-teorias de senso-comum em linguagem ordinária) e nos perguntar por relações de equivalência e de sinonímia com as propriedades do SNC. Nesse caso estaremos justificados em usar redução no sentido de propriedades e não de teorias. Os capítulos 3 e 4 abordarão esses aspectos para duas propriedades do mental - consciência e representação.

 

 

 

II.2. REDUÇÃO e REDUCIONISMO

 

 

II.2.l. Redução segundo NAGEL , WOODGER e QUINE ou redução direta.

 

 

Essa concepção de redução, chamada direta, se dá quando os termos de uma teoria (redutora) são direta, ou indiretamente, relacionados aos termos da outra teoria (reduzida) e os axiomas e as leis da teoria reduzida são dedutíveis, no sentido lógico, da teoria redutora.

A noção de relação indireta é importante porque termos que não existem numa teoria devem ser relacionados aos outros através de certas condições de conexão. Esse é o caso do termo "gene" que ocorre na Genética mendelliana e não existe na Genética molecular. A definição de "temperatura" como "energia cinética média das partículas" é o caso clássico de conexão quando se faz a redução da Termodinâmica clássica à Mecânica estatística.

 

Há alguns problemas na caracterização desse paradigma de redução através da visão sintético-sistemática de Schaffner. Em outros textos encontraremos críticas severas à conjunção das condições de conectabilidade de Nagel e da noção de proxi-função de Quine. O exame desses detalhes foge dos limites deste capítulo.

NAGEL é um dos autores que adverte que redução é um problema lógico de dedutibilidade e não ontológico, i.é, que diga respeito à existência das entidades. Aplica-se portanto a teorias e não a propriedades. Importa, no entanto, salientar que no exame que faz de um caso clássico de redução, da Termodinâmica à Mecânica estatística, Nagel aponta a natureza da sentença que identifica temperatura com energia cinética média das partículas. Chama essa ligação de condição de conexão que pode ser de três naturezas distintas:

a) conexão lógica: A expressão teórica A numa ciência é logicamente relacionada (por sinonímia ou por implicação) a expressão B em outra ciência;

b) conexão por convenção: estipula-se que A se relaciona ou é equivalente a B;

c) conexão factual ou material: A ocorrência de um estado de coisas descrito por A em uma ciência é uma condição suficiente para o estado de coisas descrito por B em outra ciência.

Através do exame dessas três alternativas de estabelecimento de equivalência entre termos de uma ciência e de outra, notamos que todas elas implicam em algum grau de extra-logicidade na redução, i.é., se a relação de redução entre sentenças de um corpo teórico a outro é um problema lógico, o exame da natureza da propriedade designada por "temperatura" e sua caracterização como "energia cinética média das partículas" é possível por uma das três condições acima. Tanto sinonímia ou implicação, convenção e conexão factual, dizem respeito à interpretação do que é, ou significa, uma propriedade em relação a outro sistema de interpretação.

Creio que essa conexão reinsere, sub-repticiamente, questões ontológicas e semânticas, onde supostamente existem apenas conexões lógicas. Discordo assim, em parte, da afirmação de NAGEL de que "the supposition that, in order to reduce one science to another, some properties must be deduced from certain other properties or "natures" converts what is eminently a logical and empirical question into a hopelessly irresovable speculative one."

A explicação para essa concepção eminentemente formal de redução me parece ser fruto da postura nominalista-instrumentalista que adotam certos autores. Nagel, em especial, afirma que fora do domínio de alguma teoria não é possível falar sobre o comportamento de qualquer elemento, e mais, mesmo dentro de uma rede teórica, falaríamos sobre fatos de observação e não sobre a natureza dos elementos.

Dessa posição podemos depreender então duas consequências fortes. Primeiro: Se as teorias fornecem a compreensão do que significam as entidades, deve haver uma teoria que justifique a relação de propriedades numa teoria e em outra (as condições de conexão). Segundo: a compreensão das "teorias" psicológicas de senso-comum e do mentalismo somente se dá, se supomos existir uma teoria que embase a compreensão desses termos. A teoria, a meu ver, é aquela que subjaz à linguagem ordinária, permitindo ainda justificar certas condições de conexão entre termos porque fundante - ela, a teoria da linguagem ordinária - de nossa percepção, representação e decisão conscientes. Ora, é pela decisão consciente que aceitamos a sinonímia, a convenção e a conexão factual.

A afirmação acima fica clara quando examinamos uma das três condições de redução em Quine, i. é. a noção de proxi-função que relaciona numa metateoria termos da teoria reduzida a elementos da teoria redutora.

O estatuto e função dessa metateoria é o que embasa minha concepção de que podemos tomar propriedades como micro-teorias e supô-las impregnadas pela teoria da linguagem ordinária e do senso-comum. Mais ainda, a questão da relação intensional ou extensional entre elementos de uma teoria e de outra se faz graças a uma metateoria de nossa percepção, representação e decisão conscientes. A metateoria que embasa a condição de conexão é a "teoria" da vida mental e dos processos cognitivos; parte dessa teoria está entranhada nos significados da linguagem ordinária, parte talvez seja não linguística, e.g. imagética, porém seus referentes são estados mentais e sua tradução em causalidades mecânico-neurofisiológicas subjacentes somente pode se dar através da redução de sinal (token-reduction) ou de classes de equivalência. Lembre-se, no entanto, que as regras de conexão para fatos mentais não simbólico-semânticas, nem sempre idênticas à causalidade física do SNC subjacente. Tem-se então, para estabelecer as condições de conexão, que examinar a natureza das propriedades, quer do mental, quer do físico (SNC). Como não existem propriedades sem teorias devemos estipular que, a teoria teoria subjacente às decisões quanto à conexão de termos, sejam metateorias da representação mental e da linguagem ordinária.

Completando a argumentação de que deve haver alguma forma de teoria de que subjaz às condições de conexão e de que essa teoria examina relações de significado e propriedades, KEMENY e OPPENHEIM, ao descreverem o papel dos bi-condicionais na relação "temperatura" se e somente se "energia cinética média das particulas", afirmam: "There is some suggestion on the parts of both Nagel and Woodger that the biconditionals be ‘tested’. It is very difficult to see how such biconditionals could be tested in general without using other theories.

 

II. 2 . 2. Redução segundo KEMENY e OPPENHEIM ou redução indireta

 

A noção defendida por esses autores, i.é. de redução indireta, é simples. Ao contrário de compararmos diretamente teorias, reduzindo uma à outra, comparamos mesmos domínios de predição, supondo, obviamente, que o conjunto de predições da redutora seja maior que o da reduzida.

Uma das características fundamentais dessa concepção de redução indireta repousa sobre os seguintes argumentos:

a) como vimos acima o "teste" da equivalência entre termos seria impossível para esses autores, sem com isso ter que se aludir a uma outra teoria. Porém, na minha leitura, a noção de conexão em Nagel e de proxi-função em Quine subsumem um nível meta-teórico que endossa a relação. No caso da relação corpo-mente esse nível seria o que chamo de representação mental;

b) uma segunda característica dessa noção indireta de redução repousa sobre o estatuto dos termos teóricos. Kemmeny e Oppenheim defendem, juntamente com a noção de redução indireta, que os termos teóricos podem ser eliminados uma vez que podemos substituir teorias sem que certos termos da teoria reduzida tenham que necessáriamente reaparecer da teoria redutora.

 

A idéia dos autores acerca dos termos teóricos tem uma série de implicações para o problema mente-corpo:

1) Podemos nos perguntar se os termos mentais designam entidades observáveis ou teóricas? Para alguns autores a introspecção é uma forma de acesso direto, logo os estados mentais são observáveis. Para outros os termos mentais são entidades teóricas. Minha posição é algo complexa, conforme já abordado em outros pontos desse trabalho. Enquanto sensação o mental é diretamente acessível, válido enquanto forma, porém designador de propriedades e de conteúdos inconsistentes, e.g. liberdade. Enquanto teoria acerca do ser dos estados mentais, são eles termos teóricos, impregnados pela metafísica dualista do senso-comum e da linguagem ordinária.

2) Se tivermos situações absolutamente distintas para uma mesma "entidade", e.g. o mental, uma em que há acesso direto (o sujeito) e outra em que o acesso é sempre indireto ( no caso das outras mentes), teremos reinserido uma dualidade que, para uma mesma classe de estados, diferencia condições epistêmicas de acesso a eles. Pelo princípio de Leibniz, ou princípio da identidade dos indiscerníveis, creio que não poderemos manter a identidade entre todos os eventos que são intensionalmente ou extensionalmente definidos como mentais, se os diferenciarmos quanto a uma característica, no caso o problema do acesso. As consequências são complexas: i) ou há dois tipos de menta e portanto os termos da linguagem que a eles se referem cometem uma simplificação quando os tomam como iguais; ii) ou então devemos torná-los todos termos teóricos, de acesso indireto, munindo-nos de uma teoria que dê conta da diferença entre "ser diretamente acessível enquanto sensação" e "ser indiretamente acessível enquanto ser", válido na forma, porém enganoso no conteúdo, nas propriedades e nos tipos e categorias que recorta.

3) A noção de acesso direto é problemática porque a introspecção é percepção interna e, como toda percepção está impregnada por "teorias" que engendram expectativas, modelos, etc. i) Como defendo que a teoria que embasa nossa percepção, e portanto nossa introspecção, é uma teoria dualista do senso-comum e da linguagem ordinária. ii) Como a noção de observabilidade em epistemologia, de uma certa forma, supõe a noção de percepção, então devemos reformular a noção de termo observável para todos os objetos, e não apenas para os "objetos mentais", nomeando-os termos teóricos sem teoria explícita e específica envolvida, porém impregnados pela teoria da representação mental da espécie humana. Então um dos grandes problemas seria o de responder se essa teoria é universal ou se varia de acordo com o contexto cultural. Por ora, digo apenas que, como a noção de representação que adoto é baseada na estrutura e na função do SNC do H.sapiens, existe uma gama ampla de fenômenos regulares e legiformes na hipotética teoria da representação mental do homem.

 

 

II.2.3. Redução segundo POPPER, FEYERABEND e KUHN

 

 

Na visão de alguns este enfoque de redução poderia ser visto como uma negação de sua possibilidade, i.é. da possibilidade de redução de teorias.

Schaffner defende que há, na verdade, um aspecto substantivo na posição dos autores acima que os habilita a figurar dentro de uma perspectiva de redução. A teoria reduzida não se relaciona logicamente com a redutora. Ao contrário, a teoria redutora, em muitos casos, é a condição de explicação do porque a teoria reduzida "funcionava" num determinado domínio.

A colocação desses três autores sob o mesmo paradigma é discutível. POPPER propõe uma solução metodológica para o trilema de Fries, i.é. a conjunção de três aspectos da justificação dos enunciados: regressão infinita (procuro justificar enunciados por outros enunciados e assim por diante), dogmatismo (fixo um ponto dogmático de justificação) e psicologismo (os enunciados seriam justificados também pela sua base percentual).

"Se exigirmos justificação através de

argumento que desenvolva razões,no

sentido lógico, seremos levados à

concepção segundo a qual enuncia -

dos só podem ser justificados por e -

nunciados. A exigência de que todos

os enunciados devam ser logicamen-

te justificados (a que Fries se refere

falando em ‘predileção por demons -

trações’) tende, portanto,a conduzir

a uma regressão infinita. Ora, se qui-

sermos evitar o perigo do dogmatis -

mo,ao mesmo tempo que a regressão

infinita,aparentemente não restará ou

tro recurso que não o psicologismo ,

isto é, a doutrina de acordo com a -

qual enunciados podem encontrar jus

tificação não apenas em enunciados ,

mas também na experiência perceptu

al."

Popper assentará sua solução para o trilema em preceitos metodológicos. Para ele, qualquer polarização em um dos três pólos do trilema seria indesejável. Portanto, apenas fracamente, poderíamos dizer que em Popper se encontra um paradigma de redução em que uma teoria redutora explica como outra funcionava, uma vez que a relação entre elas, qual enunciados, é incompatível com a justificação plena, salvo nos atenhamos à noção pragmática de justificação, i.é. aquela que resolve metodologicamente o trilema.

FEYERABEND sua crítica ao que chama de os dois postulados do empirismo moderno: (1) redução e explicação devem ser feitos por derivação (ou dedução) e (2) o significado dos termos observacionais são invariantes com respeito tanto à explicação quanto à redução.

Do ponto de vista da relação mente-corpo afirma ser impossível traduzir sentenças mentais, como "João sente dor", em sentenças fisicalistas, como "João tem um estado a em suas fibras C no instante t", sem perda ou variação de significado.Feyerabend defenderá, a partir desses chamados postulados do empirismo moderno, a tese de que o mental é não redutível ao físico e que portanto a doutrina monista deve adotar o que chama de "materialismo eliminativo" ou eliminação dos termos mentais.

Finalmente KUHN poderia ser citado dentro do mesmo paradigma porque sua noção de revolução e de mudança de paradigma é muito mais no sentido da substituição que da redução-incorporação. Importa-me salientar que o problema do significado volta a ser crucial: em Popper resolvemos o impasse por regras metodológicas, em Feyerabend eliminamos o mental em Kuhn aguardamos a substituição de paradigmas através de uma revolução científica.

 

 

II.2.4. Redução segundo SUPPES

 

Segundo o autor a redução de uma teoria a outra se dá quando mostramos que de um modelo, no sentido lógico, da teoria reduzida é possível construir um modelo isomórfico na teoria redutora.

Para se compreender a noção de redução de Patrick Suppes é preciso entender noções como predicado conjuntista, axiomatização de uma teoria e modelo de uma teoria.

Axiomatizar uma teoria é definir um predicado em termos das noções de teoria dos conjuntos. Um predicado assim definido é chamado de predicado teórico-conjuntista. Importante ressaltar que no trabalho axiomático muitas outras teorias são assumidas sem questionamento, e.g. parte da Lógica, partes da Matemática, etc. Se não se proceder assim, deveríamos axiomatizar todos os ramos assumidos, o que seria impensável.

Definição de modelo: na axiomatização definimos um predicado teórico-conjuntista e chamamos, de modelo, a entidade que satisfaz o predicado.

A noção de isomorfismo de que falamos é complexa e o próprio autor diz ser difícil, senão impossível.

O interesse do exame dessa forma de redução é particularmente situar as várias acepções do termo modelo, e de como também esse termo padece de uso ligeiro e pouco fundamentado. Acrescentaria, às três acepções de modelo de Suppes, uma quarta noção que, por vezes, gera confusão. Como foi visto, a axiomatização e a redução através de modelos isomórficos é uma estratégia eminentemente lógica, porém às vezes se usa o termo modelo no seu sentido mais trivial, que é o de artefato de teste. No caso da Ciência Cognitiva afirma-se paradigmaticamente que os computadores são modelo de atividade cognitiva. No sentido de "artefato de teste" isso quer dizer que são um artefato físico que mostra similaridades funcionais e comportamentais com o homem. No sentido forte, i.é. na concepção de Suppes para a redução, a teoria dos autômatas, base da Inteligência Artificial, se devidamente axiomatizada, conteria modelos isomórficos aos de uma teoria psicológica ou neurológica, devidamente axiomatizadas.

O apelo nesse paradigma é mostrar o quanto noções como modelo, isomorfismo e outras são usadas em voz corrente sem atentarem para os requisitos que as definem.Do ponto de vista de teorias que dessem conta da relação ou redução do psicológico ao neurofisiológico, ou da mente ao corpo, podemos dizer que, se não temos teorias maduras, no sentido do requisito de Nagel, para compreender a redução, muito menos temos idéia de como axiomatizá-las.

 

 

II.2.5. Redução segundo SCHAFFNER

 

SCHAFFNER, após analisar os quatro tipos de redução expostos acima, propõe sua solução atentando para os dois problemas cruciais, quais sejam o da dedutibilidade simples e o da invariância de sentido para termos equivalentes na teoria redutora e na teoria reduzida.

O exame de sua proposta foge um pouco dos limites deste trabalho. Basicamente sugere que a teoria reduzida deva ser transformada de tal sorte que possa ser comparada à redutora, mantendo-se no entanto, para cada passo, quer de dedução, quer de conexão, uma estrita obediência a certas prescrições formais.

 

 

II.2.6. Outros sentidos de redução

 

Uma tese comum a muitos autores que tratam do problema da redução de uma ciência a outra é a chamada "Unidade da Ciência". Quando nos perguntamos o que vem a ser ela, uma série de sentidos de redução aparecem, justificando a tese de que haja uma ciência que reduza todas as outras. Historicamente esse ideal provém de uma certa hegemonia da Física em relação às outras disciplinas. O desenvolvimento de diversas áreas da Física e a impossibilidade até o momento de unificação da Teoria da Relatividade e da Mecânica Quântica colocaram sérias da plausibilidade de dúvidas a respeito tal empreitada. Há que se distinguir no entanto uma série de versões em que se apóia a propalada "Unidade da Ciência":

 

 

 

 

 

 

A. Unidade de linguagem ou de vocabulário

Haveria uma única linguagem que descreve todas as ciências. Por exemplo, poder-se-ia pensar numa hegemonia do fisicalismo ou do mentalismo. Bem certo está que, por trás da redução, há quase sempre uma ontologia materialista e, portanto, a redução é da Psicologia à Física e não ao contrário. Para efeito da relação corpo-mente, de seus desdobramentos na relação Psicologia-Neurociências e finalmente como suporte para a Ciência Cognitiva, essa versão seria considerada como dizendo respeito à redução de todos os enunciados ou sua tradução em enunciados fisicalistas. Nesse item aparecem as condições de tradução que podem ser do tipo identidade ("temperatura"="energia cinética média") ou analiticidade ("casados" = "não solteiros").

 

B. Unidade de Leis ou de princípios explicativos

Essa versão, mais forte que a anterior, propõe que as leis da ciência unificada são capazes de subsumir leis de todas as ciências especiais. Por exemplo, as leis de Pareto em Economia seriam casos particulares de uma lei unificada geral.

 

C. Unidade Conectada de Leis ou versão forte de B

Embora vago esse ideal propõe que haja redução às leis de uma só ciência, redutora ou unificadora, e que as leis dessa ciência redutora mantenham uma unidade ou conexão entre si.

 

D. Unidade de método

Uma outra idéia freqüente no projeto de unificação da ciência é a chamada unidade de método. A "redução" nessa versão fraca seria apenas impor que todas as disciplinas científicas fossem "reduzidas" a um só conjunto de métodos "científicos". Isso pode ser representado pela tese que todas as "ciências empíricas empregam os mesmos meios de explicação, de significação, de evidência, etc."

 

E. Redução a dados sensíveis (sense-data)

Basicamente representada pela tentativa de CARNAP de definir todos os termos de predicados de sensações.

 

F. Redução a observáveis

A redução nesse caso seria mais ampla, e menos restritiva que a anterior e visaria reduzir todos os termos a predicados que se referissem a qualidades observáveis das coisas físicas.

 

 

II.2.7. Redução segundo CAUSEY ou redução uniforme estrutural

 

Embora a tese desse autor se pareça em parte com a tese de Hooker há uma série de comentários do último que a tornam diferente. Causey propõe uma tese de estabilidade estrutural e a partir dela executa uma redução do todo para as partes através de fórmulas do tipo substância implica substância + estrutura, estrutura implica estrutura, propriedade implica propriedade, estado implica estado, etc. Hooker vê problemas nessa tese apontando: a) os casos de que Causey se utiliza são todos de redução uniforme como indica o conectivo implica; b) a redução de uma estrutura à outra é feita através de uma micro-redução uniforme, porém a estabilidade das estruturas não é um requisito trivial pois "is demonstrated by the fact that one of the major motivations of the passage to quantum theory from classical theory was the demonstration that classical theories could not explain the stability of atomic or molecular structures. Moreover, the corresponding stability problems for molecular structures are still very much unsolved today."

 

 

II.2.8. Redução segundo HOOKER ou redução uniforme sistêmica

 

A tese defendida por esse autor pode ser chamada de redução de instâncias (token-reduction) através de redução uniforme sistêmica. Esse trabalho se constitui uma das bases de minha argumentação, sendo portanto abordado no final deste capítulo. Além de merecer análise mais detalhada, deve ser antecedido por um exame dos argumentos emergentistas, visto tratar-se de uma tese que compatibiliza argumentos de ambas as tendências.

 

 

II.2.9. Redução segundo GOTTLIEB ou redução ontológica

 

Essa tese compatibiliza a noção de redução de entidades e de teorias. O autor afirma que as sentenças problemáticas podem ser substituidas por outras que desempenham o mesmo papel teórico e que os predicados podem ser traduzidos por sentenças abertas que preservem a forma lógica.

"Since the medium of ontological reduction is translation, I shall

speak both of reducing (one group of) entities to (another group

of) entities and of reducing one theory to another".

Dois requisitos governam a idéia de redução ontológica: (a) a redução ontológica de T a T’ deve preservar a estrutura epistêmica da linguagem da teoria mais compreensiva; (b) a redução ontológica de T a T’ deve preservar os traços essenciais dos papéis epistêmicos das sentenças de T.

 

 

II.2.10. Redução segundo SELLARS

 

Essa versão parece bastante próxima da que Schaffner atribui ao paradigma Popper, Feyerabend e Kuhn. A ênfase na concepção behaviorista-nominalista das propriedades torna-as simplesmente predicados. A idéia básica é de que os predicados da teoria redutora simulam os predicados da teoria reduzida. Quando a simulação é bastante boa os novos predicados, i.é. os da teoria redutora, podem assumir todos os papéis linguísticos dos antigos que são, então, abandonados. A identidade que se obtém entre predicados de uma teoria e os de outra é, segundo Sellars, construida e não descoberta. No final das contas segundo o autor não há genuina comparação interna de teorias, mas apenas comparação externa. A noção de redução deve ser trocada pela de substituição de teorias.

Hooker aponta para o caráter sedutor dessa visão e aceita que, em última instância, possa ser esse o processo pelo qual se dão as reduções, porém uma tentativa de penetrar para além do binômio entrada/saída da concepção behaviorista, descortinando a intimidade interna das relações, pode se mostrar mais realista, permitindo identificar problemas íntimos capitais. Voltaremos a isso mais adiante.

 

Esse exame rápido de várias estratégias redutivas tem, a meu ver, importância fundamental, em que pese o caráter sintético e compilatório.Basicamente, visa a advertir aqueles que falam de redução com um certo primarismo: redução é um tópico difícil e de múltiplas formulações. O mesmo objetivo está presente na abordagem sucinta dos enfoques emergentistas.

 

 

 

II. 3 . EMERGÊNCIA e EMERGENTISMO

 

 

Convém fazer inicialmente algumas considerações acerca da doutrina da emergência. O fato de que algumas propriedades dos complexos, dos agregados, do todo, não são explicáveis, preditíveis ou dedutíveis a partir das propriedades dos elementos que os compõem é o que embasa expressões tais como: propriedades emergentes, entidades emergentes, novidades emergentes. Há que notar antes de mais nada que a emergência diz respeito a propriedades, ou a arranjos de elementos, sendo portanto uma concepção ontologicamente monista. Em outras palavras, a emergência não introduz novas entidades no sentido de novas substâncias, como se o espírito fosse uma substância diversa da matéria e emergente em relação a ela. Não, a partir de um solo mono-substancial, e. g., de umametafísica materialista, propõem-se limitações ao conhecimento prévio de todas as propriedades que esses arranjos dos átomos individuais exibirão. A explicação, no sentido de dedução, das propriedades do todo a partir do conhecimento das propriedades das partes é portanto impossível. Tomemos por exemplo a propriedade da transparência da água. Não se pode prevê-la ou explicá-la a partir das propriedades dos átomos de hidrogênio e de oxigênio. A transparência seria então uma propriedade emergente da água, sem contudo negar-se que a natureza dos elementos e dos agregados, i.é., coisas físicas, persista. Falamos então de uma doutrina que nos dias de hoje propõe, de um lado, o monismo substancial e, de outro, o dualismo de predicados.

Uma segunda ordem de impasses que desembocam na doutrina da emergência é o problema das qualidades sensíveis. Devido à impossibilidade de traduzir sentenças mentalistas do tipo "João sente cheiro de maçã" em sentenças fisicalistas que dêem conta de todos os elementos e leis que constituem uma macã, bem como de todos os elementos que constituem a neurofisiologia das sensações, costuma-se situar o território do mental como emergente em relação ao físico. Entenda-se emergente no que diz respeito à explicação e à predição. Encontra-se aqui o problema já abordado da relação entre redução e manutenção do significado. A tese emergentista, nesse tocante, pode simplesmente afirmar que a explicação não será tão sensível a ponto de preservar o significado das expressões. O gosto de maçã pode ser entendido como um significado que as qualidades secundárias, e.g. o gosto, permitem ao sujeito pelo contato direto (acquaintance) com um objeto, no caso uma maçã, que é não explicável pelo significado de cada parte dos objetos.

Obviamente é um contra-senso imaginar que pudéssemos dizer que um átomo é transparente para que nos fosse permitido deduzir a propriedade da transparência de um agregado de átomos. Porém, se tivermos sentenças intermediárias que conectam a propriedade da transparência às propriedades dos átomos e das ligações, a emergência poderá dar lugar à explicação e, portanto, teremos reduzido a propriedade do todo a um conjunto de sentenças acerca das propriedades das partes.

Há porém que se considerar o lugar que teriam propriedades abstratas e qualidades sensíveis no esquema descrito acima. Seriam as categorias e os conceitos emergentes em relação aos elementos que subsumem? Seria a intensão emergente em relação à extensão? Finalmente, seriam as propriedades da sensação emergentes em relação ao conjunto dos elementos físicos que as embasam? Talvez a questão se reduza simplesmente a uma defecção epistêmica que resulta da intradutibilidade e conseqüentemente na impossibilidade da dedução. Vista sob esse enfoque, a emergência simplesmente renomeia o velho problema do significado e de sua relação com os objetos referentes.

 

Resumo das variantes de emergência acima expostas:

 

a) Emergência por desconhecimento de leis e de propriedades: para a questão da emergência de propriedades, tais como a transparência do composto em relação aos átomos, a impossibilidade de explicação pode decorrer de uma falta de conhecimento acerca das propriedades dos elementos;

b) Emergência de significados, no sentido de intradutibilidade do mental ao físico: essa questão pode estar incorretamente encaminhada na medida em que devemos ter uma correta relação entre referente e significado; neste ítem se situa o problema das qualidades secundárias.

c) Emergência categorial: essa variante de emergência é aquela que confunde intensão e extensão, categoria e elemento categorizado, etc: a universidade de São Paulo é o conjunto de seus prédios? Na sentença "A USP é depositária de ideais" será o significado de Universidade de São Paulo ou sua propriedade de "ser depositária de ideais", uma propriedade emergente?

d) Emergência abstrata: talvez a única variante realmente defensável do ponto de vista absoluto. Ao contrário do caso a não parece residir numa ignorância provisória de elementos explicativos. Há um exemplo bastante sugestivo para essa forma: considere-se um conjunto de geradores elétricos que produzem uma corrente elétrica alternada com uma flutuação de aproximadamente 10%. Isoladamente a variação de frequência de cada gerador é de l0%.Quando agrupados em uma rede, esses geradores esboçam variações de frequência menores que 10%. Por que? Simplesmente porque, do ponto de vista estatístico, as flutuacões de fase de cada um deles compensam flutuações dos outros e vice versa. O sistema como um todo, do ponto de vista da entrada e da saída, funciona como se fosse um único gerador de frequência menos que a dos geradores que o constituem. A isso, os engenheiros de controle chamam "governador virtual". Se alguém indagar onde está o governador virtual ou a propriedade de ser virtualmente governado, a resposta deverá fatalmente remeter ao todo e a nenhuma parte.

 

A questão portanto da emergência, dos seus múltiplos significados e da possibilidade de "reduzir" de alguma forma propriedades emergentes sem negar-lhes, no entanto, a condição de "emergentes" é o que me interessará na quarta parte deste capítulo quando tratar da teoria da redução de Hooker. Vejo, porém, a necessidade de, como fiz com o tópico "redução", dar alguns dos sentidos de emergência. A exposição como a anterior é sintética, porém procura ser abrangente.

II. 3 . l . Emergência segundo LUCRÉCIO

 

Ao contrário do que muitos intérpretes possam pensar creio que os ecos da noção de emergência já se encontram no materialismo antigo. A afirmação de que o choque entre os átomos ocorre por um pequeno desvio em sua trajetória (doutrina do clínamen) reafirma a noção de que a vontade e sensibilidade são propriedades não explicadas pelos átomos e nem pelo seu arranjo.

Tomemos algumas passagens "Da Natureza"de Lucrécio:

" Ora, o que é necessário é que cada

elemento leve sua propriedade escon-

dida e invisível, para que não domine

coisa alguma que possa ser obstáculo

ao conjunto e impeça que tenha o seu

caráter próprio tudo aquilo que se -

cria...(sobre o clínamen)...quando os

corpos são levados em linha reta atra-

vés do vazio e de cima para baixo pe -

lo seu próprio peso, afastam-se um -

pouco da sua trajetória, em altura incer

 

ta e em incerto lugar, e tão-somente o

necessário para que se possa dizer que

se mudou o movimento...Finalmente,se

todo movimento é solidário de outro e

sempre um novo sai de um antigo, se -

gundo uma ordem determinada, se os e

lementos não fazem, pela sua declina -

ção, qualquer princípio de movimento

que quebre as leis do destino, de modo

a que as causas não se sigam perpetua-

mente às causas, donde vem esta liber -

dade que têm os seres vivos, donde

vem este poder solto dos fados, por in

termédio do qual vamos aonde a von -

tade nos leva e mudamos o nosso mo-

vimento não em tempo determinado e

em determinada região, mas quando o

espírito o deseja? É sem dúvida na von

tade que reside o princípio de todos es-

tes atos; daqui o movimento se dirige a

todos os membros... Ora, é necessário

aceitar que haja o mesmo no germe das

coisas, que haja para os movimentos u-

ma causa distinta do choque e do peso:

dela nos viria este inato poder, visto

que, já o sabemos, nada pode vir do na

da. De fato, o peso impede que tudo se

faça por meio de choques, como por

uma força externa. Mas, se a própria -

mente não tem, em tudo o que faz,uma

fatalidade interna, e não é obrigada,co-

mo contra a vontade, à passividade -

completa, é porque existe uma peque-

na declinação dos elementos, sem ser

em tempo fixo, nem em fixo lugar.

Tanto a idéia do desvio (clínamen), quanto a afirmação do caráter próprio de tudo o que se cria dão conta de que, apesar de estarmos num sistema de átomos indivisíveis, de parcelas mínimas da natureza que se combinam e formam os compostos, ainda existe assim mesmo alguma característica ou propriedade nos agregados que não se explica pelos átomos e nem localiza o ponto e a inclinação da reflexão que subsume a propriedade da vontade.

Uma segunda ordem de idéias de Lucrécio diz respeito à irredutibilidade das qualidades sensíveis, parecendo novamente uma antevisão do problema contemporâneo da intradutibilidade do mentalismo ao fisicalismo (caso b. emergência de significados ):

"Mas não deves julgar que os elementos só estão despojados de cor:

também não possuem temperatura alguma, nem o tépido nem o frio-

nem o calor, e são estéreis de som e privados de sabor, e não lançam

do corpo nenhum cheiro próprio...E agora, quanto aos corpos que -

vemos terem sensibilidade, é necessário confessar que, no entanto, -

são compostos de princípios insensíveis...segundo o que digo,podem

seres vivos nnascer de corpos insensíveis...é de grande importância,-

primeiro a pequena quantidade do que cria o sensível,depois a forma

de que os elementos são dotados, finalmente os movimentos, as or-

dens, as posições...Mas é seguro que não podem as partes do corpo

serem sensíveis por si próprias: todas as sensações dos membros -

vão a outros pontos; a mão separada de nós ou qualquer outra par -

te do corpo, quando isolada, não conserva sensibilidade alguma. -

Resta, portanto, assimilá-las a seres vivos inteiros."

Tem-se, aqui, o exemplo de uma propriedade, a sensibilidade - antes tínhamos a vontade -, que são propriedades dos arranjos. A questão de serem elas redutíveis às propriedades das partes é fato questionável. No sentido do exemplo sobre "governadores virtuais" (caso d. emergência abstrata) podemos entender que são redutíveis e ao mesmo tempo são emergentes.

A razão da presença dessas passagens de LUCRÉCIO é mostrar que os ecos do emergentismo já se encontram presentes em textos antigos, e mais, que a emergência não é uma doutrina apenas comum nas versões holistas do materialismo mas também em suas versões atomistas.

 

 

II.3.2. Emergência segundo J.S.MILL

 

 

Mill distingue dois modos diversos de combinação de elementos, o mecânico e o químico, introduzindo para o segundo a noção de emergência.

O modo de combinação mecânico permite que se faça dedutivamente e, a priori, a predição sobre o comportamento do sistema. A isso chama de princípio de composição das causas: o efeito do sistema como um todo é igual à soma dos efeitos individuais dos elementos que o constituem. Porém, o modo químico de combinação é incompatível com o princípio acima:

"This principle, however, by no means prevails in all departments

of the field of nature. The chemical combination of two substan -

ces produces, as is well known, a third substance, with properties

different from those of either of the two substances separately or

of both of them taken together. Not a trace of the properties of

hidrogen or of oxygen is observable in those of their compound,-

water...This explains why mechanics is a deductive or demonstra

tive science, and chemistry not."

 

MILL afirma, no final, que se a Química não é uma ciência demonstrativa, muito menos o são aquelas ciências que se ocupam das "leis da vida", escrevendo uma passagem que serviria de credo para um emergentista:

"All organized bodies are composed of parts similar

to those composing inorganic nature, but the pheno

mena of life, which result from the juxtaposition of

those parts in a certain manner, bear no analogy to

any of the effects which would be produced by the

action of the component substances considered as

mere physical agents. To whatever degree we

might imagine our knowledge of the properties of

several ingredients of a living body to be extended

and perfected, it is certain that no mere summing

up of the separate actions of those elements will

ever amount to the action of the living body it-

self."

 

II.3.3. Emergência como evolução cosmogônica

 

Essa versão da concepção de emergência vem a reboque principalmente da doutrina da evolução em oposição ao credo preformacionista. A aparição não previsível e temporalmente localizada de espécies as mais diferentes endossa a impossibilidade de dedução, explicação e previsão.

É fato que as duas máximas da evolução Darwiniana se concentram na idéia do acaso que cria a variação e de agentes externos que a selecionam. O critério de adaptação é assim contingente a uma determinada situação.

 

As críticas no entanto que poderiam ser levantadas a essa concepção são da seguinte ordem:

 

A. A noção de espécie, em algumas doutrinas posteriores a Darwin, entra em colapso, dando lugar à noção de individuação. Embora a questão da previsão seja impossível em todos os sistemas, a noção de determinação assume variados matizes. Pelo fenômeno da homoplasia temos a possibilidade de um mesmo traçó fenotípico ser devido a diferentes genes. Portanto, análises que privilegiam traços fenotípicos serão distintas, impossibilitando a redução do fenótipo ao gene. Mais ainda, há doutrinas que permitem o tratamento etiológico da variação de qualquer sistema de informação em movimento no tempo, sujeito portanto à evolução, ao êrro e à seleção. Não se pode então reduzir a variação ao elemento físico concreto, i.é. à mutação, mas sim à variação em sentido amplo.

Embora o campo resumido acima seja excessivamente técnico, não temos claro se o problema da emergência para a Biologia é apenas uma questão de ausência de aparato matemático para a previsão - a ordem de probabilidade supera para certos processos a casa do setilhão -, ou se ela revela intrinsecamente uma crençá na variação das leis universais que regeriam certos fenômenos físicos. Tomadas as unidades constitutivas da determinação gênica, e as condições iniciais, num céu de Laplace, poderíamos prever qualquer traço fenotípico. Porém a questão da variação entre fenótipo e genótipo, o fato de que um mesmo traço observável pode ter duas causas gênicas diversas (homoplasia), etc., podem colocar o problema da evolução criativa dentro do mesmo padrão que analisaremos como paradigma funcionalista da emergência.

B. Uma segunda ordem de objeções advém do fato de que devemos, pelo princípio da parcimônia, supor que a quantidade dos elementos primordiais é em número finito e pequeno, sendo apenas o seu arranjo estrutural diversificado e numeroso. Conhecidos os elementos, as leis que governam a combinação, as condições iniciais e uma correta descrição da relação estrutura-função teríamos então uma explicação possível. O que abala o esquema redutivo é a possibilidade de assimetria dos tipos e das categorias, algo que endossa o paradigma funcional, e que encontraria na doutrina da evolução criativa sua expressão na dissociação relativa entre gene e traço fenotípico.

 

Arthur LOVEJOY resume os sentidos de emergência enquanto evolução cosmogônica da seguinte forma:

"(1) Instances of some generaltype of change...common to both phases (the present state of the world called ‘Ph.N.’ and any prior phase called ‘Ph.A.’ ... (e.g., relative motion of particles), of which instances the manner or condition of occurrence could not be described in terms of, nor predicted from, the laws which would have been sufficient for the description and...the prediction of all changes of that type occurring in Ph.A. of this evolutionary emergence of laws one, though not the only conceivable, occasion would be the production, in accordance with one set of laws, of new local integrations in matter, the motions of which, and therefore of their component particles, would therefore conform to vector, i.e., directional, laws emergent in the sense definided.. (2) New qualities..attachable to entities already present, though without those accidents in Ph.A. (3) Particular entities not possessing all the essential attributes characteristic of those found in Ph.A., and having distictive types of attributes (not merely configurational) of their own.

(4) Some type or types of event or process irreducibly different in Kind from any occurring in Ph.A. (5) A greater quantity, or number of instances, not explicable by transfer from outside the system, of any one or more types of prime entity common to both phases."

II.3.4. Emergência substancial ou ontológica

Embora segundo minha leitura seja um contra-senso falar em emergência substancial, como se o espírito fosseemergente em relação a matéria, sendo no entanto duas substâncias diversas, há uma série de usos do termo emergência que acabam por tomar sub-repticiamente esse caminho. Obviamente a questão do ser e das substâncias é de dificil definição. Muitos filósofos preferem abandonar o termo substância definindo "ser assumido como entidade é, pura e simplesmente, ser reconhecido como o valor de uma variável." Podemos desse ponto de vista abandonar a idéia de substância e alocar a esfera do ser, sem termos de existência, a partir das substituiçõespossíveis em variáveis ligadas. Porém, ainda assim encontraremos em muitos textos confusão entre multiplicidade substancial e emergência. Uma citação que me parece inspirar esse tipo de apelo é do Evangelho segundo São João:

"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o verbo era Deus...Mas a todos que receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome, que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o verbo se fez carne e habitou entre nós."

Embora cheio de metáforas o texto bíblico mostra que no corpo co-existe a natureza divina e, pelo recebimento de Seu nome, ocorre a emancipação substancial. Não estranhe o leitor a citação por vezes inusual em texto filosófico. Grande parte dos equívocos dualistas provêm dessa fonte. Uma série de sistemas filosóficos são tentativas de compatibilizar o esquema mecânico com a doutrina da criação e da existência de Deus. Falamos então, de modo a meu ver arrevezado, de emergência substancial pois o animado e o vivo surgem do inanimado e o espírito, pela graça e pela fé, emerge do corpo vivo. Há emergência porque a substância espírito, pelo menos no que tange ao seu destino imortal, não está assegurada a priori contra a morte do corpo mas, em muitos sistemas teológicos, adquire a prerrogativa da imortalidade pelas obras do corpo ou pela graça dada ao corpo. Resumindo: de determinadas configurações do corpo material e vivo emerge a imortalidade da alma. Nessa formulação, ao contrário da prévia existência de duas substâncias, há um modo de comportamento do corpo físico que faz emergir uma nova propriedade para o espírito que habita em nós: a vida eterna.

 

 

II.3.5. Emergência como fato lógico ou vinculada a teorias

 

NAGEL recoloca o problema da emergência nos mesmos termos que defendia para redução: a emergência é relativa a sentenças, significando não dedutibilidade a partir de um corpo de sentenças, podendo, outrossim, ser deduzida de outro conjunto de sentenças. O que é emergente para uma teoria pode não ser para outra. Portanto, a doutrina da emergência deve ser entendida como apontando certos fatos lógicos acerca das relações formais entre sentenças, ao contrário de afirmar qualquer fato experimental ou "metafísico" acerca das propriedades dos objetos.

 

II.3.6. Emergência segundo BUNGE

 

Nesse autor encontraremos duas justificações diversas para o problema da emergência. A primeira delas se faz à custa de um exame do problema da conservação dos traços fundamentais da causa nos traços do efeito. A emergência seria então totalmente ininteligível à luz da causalidade estrita, mas compreensível à luz da totalidade das categorias de determinação, incluindo a da causalidade.

Uma segunda acepção de emergência no autor surgirá num texto em que analisa a relação mente-corpo.

"Emergentist materialism holds that the Central Nervous System, far from being a physical entity- in particular a machine- is a biosystem, i.e., a complex thing endowed with properties and laws peculiar to living things and, moreover, very particular ones, i.e., not shared by all bio-systems. (example 1: Spontaneous or self-started activity, conspicuous in nerve cells, is unfrequent elsewhere. Example 2: Lateral inhibition, typical of nervous tissue, seems not to occur in physical systems, where every disturbance propagates: Mental function would thus be CNS functions and, far from being purely physical processes, they would be emergent relative to the physical level.)

The emergence claimed for the mental indouble: the mental properties of a

CNS are not possessed by its cellular components but are systemic properties and,moreover, nonresultant ones; and they have emerged at some point in time in the course of a long biotic evolutionary process. (There is prebiotic, e.g., molecular evolution, but it does not satisfy exactly the same laws.) Consequently, although physics and chemistry are necessary to explain CNS functions, they are insufficient. Not does general biology suffice: we need to know the specific emergent properties and laws of the CNS, not only those it shares with other subsystems of the animal, such as the cardiovascular and the digestive systems.

Emergentist materialism rejects ontological reductionism or the bulldozing of qualitative variety: in fact it is ontologically pluralistic with regard to properties and laws. But it embraces epistemological reductionism- albeit only moderately, for, while it holds that the mental can be explained in scientific terms, and that physics and chemistry are necessary for such explanation, it also claims that new concepts, law statements, and theories, referring specifically to the CNS- though of course compatible with physics, chemistry, and general biology- are necessary to explain the mental in a scientific manner. That is, one can (hope to) ‘reduce’ the molar properties of the brain to the properties of its microcomponents and their links. But such an explanation- which is yet to be provided- does not accompany an ontological reduction, i.e., the bulldozing of qualitative variety.

Explained vision is still vision, explained imagination is still imagination, and explained consciousness is still consciousness. Therefore ontological reductionism (or leveling) is just as utenable in the matter of mind as it is in matter of matter."

A posição de Bunge é uma coleção de vários enfoques de redução e de emergência. Primeiramente, ao tomar evolução como origem da diversidade qualitativa é condizente com a emergência como evolução cosmogônica.

Segundo, ao dizer que aceita parcialmente a redução epistêmica, usa o critério no sentido de uma redução de método de análise do tipo científico.

Terceiro, ao afirmar que um traço, e.g., consciência, ainda que explicado continua sendo uma entidade qualitativamente significativa, parece remeter ao tipo de emergência baseado em critérios de significação, i.é., mesmo que se tenha a explicação de uma propriedade não se pode garantir que a tradução de uma linguagem em outra é completa. Essa parece ser a única interpretação para a afirmação, algo retórica e nebulosa, de que uma propriedade explicada ainda é uma propriedade.

Claro está que em todo o seu texto o enfoque tradicional de emergência enquanto irredutibilidade de propriedades e de leis está presente.

Finalmente, o terceiro sentido de emergência que vemos no texto, qual seja, emergência de significado ou impossibilidade de redução com preservação de significado carece de um exame mais detalhado.

 

 

II.3.7. Emergência de significados e qualidades secundárias

 

Uma das ocepções freqüentesde emerg6encia diz respeito às qualidades secundárias e ao significado de suas respectivas sentenças. Pode-se imaginar que atráves de uma teoria altamente sofisticada possamos prever todas as características ditas emergêntes de uma substância, por exemplo da amônia, mas essa teoria jamais será capaz de prever o gosto ou cheiro da amônia para um determinado indivíduo. A sentença "X sente cheiro de amônia" seria então intradutível em linguagem fisicalista. Uma das razões para isso é simples. Ainda que tivessemos uma teoria que desse conta de todos os processos que ocorrem em meu corpo quando sinto cheiro de amônia, eu sei que "eu sinto cheiro de amônia" é verdadeiro ou falso e, ao mesmo tempo, nada sei acerca das sentenças que descrevem os processos que se passam em mim quando sinto cheiro de amônia. A emergência assume então o caráter de impreditibilidade quando a qualidade secundárias (sensações) e de intradutibilidade das sentenças mentalistas em sentenças fisicalistas.

O contra-argumento pode ser de duas espécie:

(a) Nagel propõe que essa impreditibilidade decorre do fato de que, sentenças dizendo respeito a qualidades sensíveis, não ocorrem nas teorias e portanto sua não-dedutibilidade decorre de um fato lógico. O mesmo se passa com outras propriedades da matéria, como as óticas e as elétricas, quando se tenta deduzí-las diretamente da Mecânica. Em nenhuma dedução podemos derivar uma sentenças que contenha determinadas expressões sem que as premissas também não a contenham.

(b) Um segundo contra-argumento para esse tipo de emergência viria da "teoria em rede do significado". As sensações, ao contrário de serem "observáveis", seriam termos teóricos. Se tivessemos a teoria correta, a questão da intradutibilidade desapareceria. Embora seja tentadora essa formulação creio ser algo mais complexo o problema, pois suponho que nossa percepção está recortada pela linguagem ordinária e portanto não há como nos livrarmos de certos recortes muito precoces que fazemos do mundo através da percepção. Vale complementar que a linguagem ordinária nesse sentido é dualista e suas categorias não são tipos naturais, portanto mesmo uma tentativa de erigir algo como uma lei geral da sensação para qualidades secundárias estaria fadada ao fracasso, ou pelo menos o que se notaria é que os tipos da linguagem não são equivalentes aos tipos físicos. A noção de classificação ortogonal ou "cross-classifying" tornará mais clara essa hipótese.

Pode-se depreender do exposto acima que: (I) para que haja tratamento legiforme devo percorrer tipos naturais; (ii) como o mental não recorta tipos naturais, nem a linguagem tampouco; (iii) ou não há leis para o mental e para a linguagem (algo do tipo gramática gerativa) ; (iv) ou as leis do mental e da linguagem entrecruzam as leis físicas, i.é., alguns intervalos de ambos são idênticos, outros não. Essa seria uma das versões de classificação ortogonal.

 

 

II.3.8. Emergência segundo BERTALANFFY

 

A Teoria Geral dos Sistemas de L. von Bertalanffy é um caso interessante de emergência. Embora o autor afirme que não há como analisar certas propriedades dos complexos em termos da propriedades das partes (redução vertical) propõe um tipo de análise redutiva horizontal que haja equações diferenciais comuns a todos os sistemas das mais variadas naturezas. A fundamentação da emergência para certos fenômenos decorre basicamente da hipótese de que os seres vivos, qua sistemas termodinâmicamente abertos, têm certos comportamentos que não se explicam pelo enfoque analítico, somativo e maquinal. É preciso, para analisar esses comportamentos, que investiguemos propriedades da organização das partes num todo e sua dinâmica. Não se nega que haja certos domínios de fenômenos de um ser vivo que sejam passíveis de análise redutiva. Os sistemas termodinamicamente abertos têm situações estacionárias em que se comportam como se fossem sistemas fechados. É desse duplo jogo entre aberto e fechado, dinâmico e somativo, que necessitamos para analisar fenômenos complexos do ser vivo.

Uma ultima consideração vital do autor diferencia ainda os seres vivos da maior parte dos sistemas físicos. A noção de equifinalidade mostra que, enquanto para a maior parte dos sistemas físico o conhecimento do estado inicial possibilita a previsão do estado final, os seres vivos se comportam de tal sorte que um mesmo estado final pode ser alcançádos de diferentes condições iniciais. A isso Bertalanffy chama equifinalidade.

Há uma série de pontos de analogia possível nessa explanação. Devem ficar mencionados para posterior desenvolvimento:

(a) a noção de coexistência entre comportamento mecânico e holístico. Sabe-se que há em muitas de nossas atividades mentais um direcionamento que vai do todo para a análise das partes, da pragmática e da semântica para a sintaxe, do esquema mediato para a análise dos átomos imediatos. Ao contrário do que muitos podem pensar, o direcionamento da ação no sistema nervoso se faz como se o todo comandasse as partes, se a teoria prévia governasse o exame dos dados imediatos. Por essa razão creio que há certos esquemas gravados nas operações mentais que, se as torna não-analisáveis em termos físicos.

(b) A noção de equifinalidade é condizente com duas outras formas de apresentação da doutrina da emergência: caos determinístico e teoria dos estados funcionais.

(c) Apesar do que chamo de emergência vertical, temos redução por homomorfismo entre os diversos sistemas (homologia) no esquema da T.Geral dos Sistemas. Isto é, como veremos mais adiante, a noção de emergência e de redução não são necessariamente incompatíveis.

 

II.3.9. Emergência absoluta

 

Arthur PAP defende a tese da "emergência absoluta" que pode ser resumida como sendo a afirmação de que as qualidades secundárias são absolutamente emergentes, na medida em que somente por contato direto se pode investí-las de significado. A noção é portanto praticamente a mesma examinada no item "emergência de significados e qualidades secundárias". É o que chamo de bloco semântico dos argumentos emergentistas.

 

II.3.10 Emergência provisória

 

Esse uso do termo emergência é comum e diz respeito à relação de uma propriedade e da teoria em que ocorre. O que pode ser "emergente"para uma teoria T1 pode ser redutível em outra teoria mais abrangente T2. Importante notar que o termo "provisório"alude à possibilidade de que em um tempo futuro haja uma teoria mais abrangente que reduza aquilo que ainda é atualmente emergente. Ao contrário de se constituir numa trivialidade, ou mera repetição do princípio da dependência teórica de uma propriedade, a noção de "provisoriedade" introduz a complicada idéia de que algo pode "em princípio" ser explicado. A amplitude metafísica do "em princípio" é enorme, tornando a tese da "provisoriedade"não apenas um truismo prático mas a adesão a um esquema metafísico específico.

Uma segunda implicação da noção de emergência provisória é de natureza prescritiva. Por vezes devemos aceitar que a redução somente é possível entre teorias avançadas e maduras, portanto devemos nos consolar com as "descontinuidades emergentes" dos níveis e amplificar a força de nossas teorias.Em relação ao problema mente-corpo creio que temos exatamente o inverso. É justamente pela falta de caracterização do que significam emergência e redução que não conseguimos avançar na compreensão de certos fenômenos. Como não avançámos não conseguimos forjar teorias sólidas e portanto não podemos falar de redução de teorias. Daí uma das razões de se tentar trazer o binômio redução/emergência do nível tradicional das teorias, e da relação lógica entre elas, para o nível das propriedades, de sua relação funcional e da noção de redutível "em princípio" o que delimita ontologicamente algumas coações necessárias para o desenvolvimento posterior de teorias. Por exemplo, devemos pensar numa emergência do mental em relação ao físico e construir nossas teorias psicológicas através do uso de idiomas intencionais e testá-las através de modelos computacionais digitais ou devemos pensar numa redução ëm princípio" e construir teorias com base em arranjos estruturais, relações de pesos de conexão e similaridade à arquitetura do SNC, testando a teoria através de "redes neurais"?

 

 

II.3.11. Emergência categorial

 

A relação que existe entre as edificações que constituem a Universidade de São Paulo não é substituível, em termos de tradução, na sentença "A Universidade de São Paulo é depositária de ideais". Nessa acepção de emergência haveria impropriedade categorial em tratar extensionalmente o que tem significação intensional. De maneira simples poder-se-ia dizer que certos termos nos remetem a categorias que não são varridas pelo exame de todos os elementos que pertencem ao conjunto. Há algo de platonismo nessa concepção pois o significado remete às formas ideais e os casos concretos são versões "corrompidas" daqueles. Vários problemas estão no vértice da noção de emergência categorial:

a) o problema da indução: como inspecionar todos os casos concretos de uma categoria?

b) como lidar com categorias que se superpõem?

c) devemos admitir uma noção fixa ou móvel de categoria? Apriorista ou arbitrária e convencional? Devemos admitir que há representantes mais legítimos e menos legítimos de uma categoria?

c) devemos abandonar a noção de significado, como propôs Quine em certo momento, ficando apenas com a noção de referência?

A noção de emergência categorial está no âmbito da interpretação semântica e tem ligação direta com a noção de significado por experiência direta (acquaintance), o que resulta também em repercussão imediata com a noção de emergência absoluta para qualidades secundárias. É no entanto mais radical, em algumas de suas versões, visto situar o significado de certas categorias no mundo das formas ideais. Creio que a recusa do psicologismo em Lógica e Matemática acaba por situar as categorias dessas disciplinas numa esfera ontológica diversa da "natural". Nessa interpretação poderia dizer-se que ocorre "emergência substancial".

 

 

II.3.12. Emergência funcionalista ou intencional

 

Essa concepção de emergência é seguramente a mais importante, justificando o paradigma simbólico-funcional, base da linha de pesquisa em Ciência Cognitiva que se utiliza de arquiteturas digitais (tipo von Neumann). Duas de suas formulações mais clássicas serão aqui apresentadas:

 

A. Funcionalismo segundo PUTNAM

Deve-se a Hilary PUTNAM a formulação inicial do que se chamou subsequentemente de funcionalismo. A idéia central desses primeiros trabalhos era a de que estados psicológicos tais como "desejar que p", " crer que p", etc, são simplesmente "estados computacionais" do cérebro e de que a melhor maneira de entender o cérebro é considerando-o como se fosse um computador digital. Nossa Psicologia seria então como que um programa desse computador, i.é, sua "organização funcional". De acordo com essa concepção os estados mentais poderiam ser definidos como estados de uma máquina capaz de realizar uma computação universaal, no caso a máquina de Turing. A relação entre o nível físico e o nível algorítmico-computacional dar-se-ia então apenas no nível do sinal. Mas a partir do conhecimento de que um mesmo estado lógico pode ser alcançado pelos mais diversos estados físicos se poderia agora afirmar que a relação entre eles é emergente: o estado lógico não se reduz ao estado físico, apenas se realiza ou "atualiza"em um dos seus estados físicos possíveis.

As consequências dessa doutrina foram várias:

1. Elegeu-se um vocabulário simbólico e regras de derivação e interpretação para estados computacionais que eram: símbolos, conectivos, leis do cálculo de predicados de 1a. ordem e uma semântica intencional permeada de imputações às máquinas de "estados" do tipo "crença", "desejo", "meta", etc.

2. Elegeu-se o computador digital como paradigma de reprodução de estados mentais, ignorando-se sua total dissimilaridade arquitetural com o cérebro humano, visto que o nível físico em que se processa a função simbólica é secundário porque variado.

Com o tempo surgiram muitas versões de funcionalismo. Cito particularmente NELSON que, em um artigo célebre, aponta para certas precariedades da doutrina enumerando por exemplo seis acepções de "função":

"The trouble winth functionalism, of course, lies in the term `function`. There are at least six philosophically relevant uses of `function`and `functional state`, and all of them get thoroughly muddled in functionalist discussion. In this section I will discuss functional states. Sometimes `functional state` seems to mean `disposition`, and at other times `roleplayer`, and at still others `logical state`. Functional systems contain functional states in all three senses of the word and may contain functional relations (in the strict mathematical sense) besides. So we will have to dissociate mathematical functions fron the others by consistently referring to them as `maps`or `transformations`. The fifth usage is `function`meaning behavior, and the sixth is `function`referring to some kind of mathematical structure, as in `functionally isomorphic`."

NELSON faz uma análise datalhada de todos esses aspectos e de como ocorrem nos mais diversos tipos de funcionalismo. Reconhece que alguns pontos que Putnam aponta são fundamentais, porém alguns dos desdobramentos da doutrina do funcionalismo mereceriam uma "boa dose de literatura computacional, começando com Turing e von Neumann e terminando com qualquer tratado geral para estudantes de engenharia computacional."

Não pretendo me deter em todos os argumentos e desenvolvimentos do funcionalismo. A doutrina parece levar a certos impasses. PUTNAM em seu último livro "Representation and Reality" abandona a tese que criou, dizendo ser a pessoa mais autorizada, porque inspirador inicial, para dize-la não procedente. O livro trata de todos os problemas concernentes à falta do elemento ambiental nas formulações, ao problema do significado e do tipo de tradução que o funcionalismo fornece. Voltaremos ao problema quando tratarmos da teoria da redução de HOOKER. Importa, por ora, salientar a tese principal do funcionalismo e o fato de que alguns de seus autores já localizaram problemas de difícil superação. Como foge a este trabalho o exame da falência do funcionalismo, tomê-mo-lo, sinteticamente, na "versão Putnam" como o que foi escrito acima.

 

B. Funcionalismo segundo FODOR

Jerry Fodor se utiliza das idéias de Putnam e propõe em um livro seminal a razão porque não se deve pensar em redução do mental ao físico, nem "em princípio". A redução é impossível, sendo portanto a doutrina funcional-emergentista-intencional o fundamento para a construção de uma linguagem que dê conta da atividade cognitiva. É a chamada "linguagem do pensamento" proposta por Fodor que deve servir de base para a Psicologia especulativa, para a experimental e para a construção de modelos computacionais simuladores da função mental. O autor faz ainda um ataque dirigido à tese da "unidade da ciência" e uma defesa do estatuto não- redutível das ciências especiais à ciência física.

De maneira breve pode se dizer que o argumento de Fodor se calca inteiramente na noção de intencionalidade. Podemos ter para diferentes operadores intencionais ("creio que p", "desejo que p", "pretendo que p", "temo que p", etc) mesmos conteúdos intencionais "p" com modos mentais diversos e condições de satisfação também diversos. Devido à peculiaridade da intencionalidade poder representar mesmos conteúdos com modo mental diverso e diferentes condições de satiafação, a análise de um predicado em ciências intencionais implica numa disjunção não-enumarável de predicados físicos que a reduziriam. Tomemos, por exemplo, o caso de uma formulação em ciência economica como a lei de Gresham que diz o que pode acontecer nas trocas monetárias sob certas condições. Seria vão procurar uma lei física similar a ela porque a realização física di predicado "ser um sistema monetário" envolve uma disjunção não-enumerável de objetos físicos que podem, por convenção e crença, ser tratados como moeda.

O impasse é gerado pelo fato de que certos elementos, como moeda, estão calcados num sistema contingente e intencional. Ora, os modos físicos de apresentação de algo que, para um ser capaz de crer, seja tomado como moeda é gigantesco. Mais ainda, se fossemos capazes de executar essa brutal inspecção dos objetos físicos que são moeda, teriamos ainda que enumerar os que podem vir a ser. Feito isso, para liquidar o argumento: a classe de todos os predicados físicos achados deve se constituir num "tipo" ou "espécie" física. A redução é portanto impossível, e o que aceitam esses autores é uma forma leve de identidade entre o físico e o mental: ao contrário da identidade entre as classes de tipos ou espécies ("type-identity" ou identidade de propriedades ou de predicados) aceita-se a identidade de instãncias, de realizações, ou "token-identity".

Não se recusa portanto o materialismo mas a redução fisicalista se torna impossível pelo exposto acima. Dois conceitos são fundamentais para complementar a visão intencionalista do funcionalismo: a noção de "tipo ou espécie" e a noção de classificação ortogonal (cross-classifying). A redução é impossível porque os predicados mentais, embora instãnciais físicas, sinais físicos, se "atualizam" através de predicados físicos tão diversos que não foram um "tipo ou espécie" física. Os predicados mentais classificam ortogonalmente os predicados físicos e não há equivalência entre as duas classes. Essa noção de classificação ortogonal e de type-identity ou token-identity será fundamental na teoria da redução de Hooker como veremos adiante. Vale portanto situar com clareza o que Fodor entende por tipo ou espécie:

"Every science implies a taxonomy of the events in its universe of discourse.In particular, every science employs a descriptive vocabulary of theoretical and observation predicates, such that events fall under the laws of the science by virtue of satisfying those predicates. Patently, not every true description of an event is a description in such a vocabulary. For example, there are a large number of events which consist of things having been transported to a distance of less than three miles fron the Eiffel Tower. I take it, however, that there is no science which contains `is transported to a distance of less than three miles from the Eiffel Tower` as part of its descriptive vocabulary. Equivalently, I take it that there is no natural law which applies to events in virtue of their instantiating the property is transported to a distance of less than three miles from the Eiffel Tower (though I suppose it is just conceivable that there is some law that applies to events in virtue of their instantiating some distinct but coextensive property).

By way of abbreviating these facts, I shall say that the property is transported...does not determine a (natural) kind, and that predicates which express that property are not (natural) kind predicates."

Argumentando então contra o reducionismo, e portanto em defesa do funcionalismo intencionalista, Fodor afirma que a classe de generalização que se pretende nas ciências especiais tem descrições físicas não extensionalmente delimitadoras de um tipo físico, i.é. suas instâncias físícas de realização são desinteressantes. Lembre-se de que a versão forte de redução, segundo Fodor, obriga que todos os tipos mentais sejam co-extensíveis com os tipos físicos. Mais ainda, o exame das descrições físicas subsumidas por um tipo mental é inteiramente irrelevante para o exame da verdade de generalizações intencionais, de seu grau de confirmação ou de suas propriedades epistemologicamente importantes.

Finalmente a razão da não-equivalência ou identidade de classes de predicados mentais e de classes de predicados físicos, tais que se pudesse identificar e reduzir tipos ou espécies está na noção de classificação ortogonal:

"I am suggesting, roughly, that there are special sciences not because of the nature of our epistemic relation to the world, but because of the way the world is put together: not all the kinds (not all the classes of things and events about which there are important, counterfactual supporting generalizations to make) are, or correspond to, physical kinds. A way of stating the classical reductionist view is that things which belong to different physical kinds ipso facto can have none of their projectable descriptions in common: that if x and y differ in those descriptions by virtue of which they fall under the proper laws of physics, they must differ in those descriptions by virtue of which they fall under any laws at all. But should we believe that this is so? Any pair of entities, however different their physical structure, must nevertheless converge in indefinitely many of their properties. Why should there not be, among those convergent properties, some whose lawfull interrelations support the generalizations of the special sciences? Why, in short, should not the kind predicates of the special sciences cross-classify the physical natural kinds? (As, by the way, the predicates of natural languages quite certainly do. To assert that the taxonomies employed by the special sciences cross-classify physical kinds is to deny that the special sciences, together with physics, constitute a hierarchy. To deny that the sciences constitute a hierarchy is to deny precisely what I take the classical doctrine of the unity of science to assert insofar as it asserrts anything more than token physicalism.)

Physics develops the taxonomy of its subject matter which best suits its purposes: the formulation of exceptionless laws which are basic in the several senses discussed above. But this is not the only taxonomy which may be required if the purposes of sciences in general is to be served: e.g., if we are to state such true, counterfactual supporting generalizations as there are to state. So there are special sciences, with their specialized taxonomies, in the business of stating some of these generalizations. If sciences is to be unified, then all such taxonomies must apply to the same things. If physics is to be the basic science, then each of these things had better be a physical thing. But it is not further required that the taxonomies which the special sciences employ must themselves reduce to the taxonomy of ohysics. It is not required, and it is probably not true."

Eis um panorama da fundamentação do funcionalismo de Fodor e alguns de seus argumentos mais fortes. Veremos, ao discutir a teoria da redução de Hooker, que a noção de hierarquia e de classificação ortogonal de tipos é realmente um impasse aparentemente intransponível para a redução forte mas que, ainda assim, pode-se propor uma redução de instâncias (token-reduction). Percebe-se que o correto exame do argumento de Fodor é fundamental porque a própria redução que proporemos é compatível com ele, ou talvez devessemos dizer ser uma versão de redução bem mais fraca, porque a noção de hierarquia de tipos não-equivalentes impede a redução forte (type-reduction).

 

 

 

II.3.13. Emergência em redes neurais, sistemas dinâmicos não-lineares e em teoria da informação

 

Uma última noção que deve governar o uso de emergência advém de certas peculiaridades de arquiteturas conexionistas (redes neurais), sistemas abertos com variação de entropia, teoria da informação e sistemas dinâmicos não-lineares.

Obviamente não há como deixar de notar que nesse caso certas propriedades são não preditíveis ou não-explicáveis apenas em função de propriedades antecedentes ou das partes físicas que constituem o sistema. O que importa nesse tópico é o fundamento do que se possa qualificar como propriedade emergente. Como vimos atrás, a decisão quanto à impossibilidade em princípio de uma redução completa pode ser fundamental para o direcionamento posterior das teorias e das pesquisas.

Façamos então, de maneira brevíssima, uma exposição dos sub-itens e de suas interrelações.

 

A. Arquiteturas conexionistas/ redes naturais / PDP

Uma das mais recentes áreas de pesquisa em Ciência Cognitiva é a construção de arquiteturas computacionais que se comportam estruturalmente como o cérebro humano. Abandonando-se alguns dos paradigmas da Inteligência Artificial tradicional, (e.g., processamento serial, processador central, memória declarativa e "procedural", sistema simbólico e sistema semântico dissociados do nível do implemento físico, cálculos de predicado de 1a. ordem como lei da transformação simbólica, estados binomiais tipo 0 ou 1 das conexões, emergência funcionalista do mental em relação ao físico), adota-se nas redes neurais outros tipos de paradigmas: processamento em paralelo, assincronia, ausência de representação puntiforme declarativa e sim representação num espaço vetorial, ausência de processador central e de memória declarativa, estados entre as conexões-neurônios abstratos- que podem assumir múltiplos valores com funções não-lineares e com limiares de ativação, cálculo diferencial e transformação vetorial como lei da transformação entre junções, estados de energia máxima e energia mínima do sistema global e de certas configurações locais, etc..

Não pretendo explicar todos os termos utilizados mas apenas resolver alguns equívocos freqüentes no que tange à noção de emergência. Em alguns trechos pode-se encontrar uma visão simplista das redes neurais como se, pelo fato de reproduzirem a arquitetura do cérebro humano, fossem portanto elas próprias modelos de redução do mental ao físico. Isso não é totalmente correto.As arquiteturas conexionistas têm um grau bastante maior de similaridade com a arquitetura física do cérebro humano e alguns de seus processos são diretamente redutíveis. No entanto, para certos processamentos adota-se um nível chamado sub-simbólico ou computacional que, se não é tão "dissociado" do físico como na IA tradicional, também não é diretamente redutível ao físico. Uma das abordagens tradicionais nos modelos em Ciência Cognitiva adota quatro níveis: nível neuronal básico, nível de processamento paralelo conexionista acima do neuronal, um nível simbólico e um nível semântico. Esse esquema é válido para arquiteturas tradicionais e para arquiteturas conexionistas. O que faz usarmos o termo emergente para a passagem do nível neuronal para o conexionista é que, ainda que não estejamos trabalhando com um paradigma eminentemente simbólico, a previsão e explicação da realização de um algoritmo numa rede conexionista é difícil pelo simples exame das conexões (nível neuronal ou físico). Em segundo lugar, temos nas arquiteturas unidades neuronais, peso de conexão entre elas, fatores de ativação, etc. Porém a função de uma arquitetura, a imputação a cada conexão de uma letra, de um traço, de um conceito, etc, já se dá num nível não-explicável ou discriminável pelo exame apenas das características físicas do sistema.

Interessa mostrar que por vezes a noção de emergência pode aparecer nesses sistemas, não apenas através da interpretação que se dá para cada conexão (o que diz respeito ao bloco semântico de concepções emergentistas, excluidos os argumentos de qualidades secundárias), mas pela própria noção de sistema dinâmico não-linear, assincrônico e simétrico com múltiplas unidades (neurônios) interconectadas. A tendência que esses sistemas têm de procurar configurações de energia mínima onde adquirem estabilidade estrutural faz alusão ao problema da física da informação e da emergência em sistemas não-lineares. Vejamos rapidamente porque essas noções são interconectadas e porque a existência de conexões, com limiar de resposta ou resposta tipo função sigmóide, endossariam a presença de emergência nas redes neurais, i.é., no nívelconexionista-computacional, ainda não simbólico, tornando o nível conexionista sub-simbólico, não preditível e não explicável pelo nível das conexões.

Para que se possa entender a exata noção de propriedade emergente em redes neurais é preciso consultar um artigo de HOPFIELD: "Neural Networks and physical systems with emergent collective computational abilities".

O autor mostra que podemos associar a tendência à generalização ou categorização como um ponto de energia mínima. A partir dessa característica das redes é que obtemos generalizações. Essas características seriam emergentes na visão de HOPFIELD porque:

"In physical systems made from a large number of simple elements, interactions among large numbers of elementary components yield collective phenomena such as the stable magnetic orientations and domains in a magnetic systems or the vortex patterns in fluid flow. Do analogous collective phenomena in a system of simple interacting neurons have useful ‘computational correlates’? For example, are the stability of memories, the construction or categories of generalization, or time-sequential memory also emergent properties and collective in origin?...In many physical systems, the nature of ths emergent collective properties is insensitive to the details inseted in the model (e.g., collisions are essential to generate sound waves, but any reasonable interatomic force law will yield appropriate collisions). In the same spirit, I will seek collective properties that are robust against change in the model details...A study of emergent collective effects and spontaneous computation must necessarily focus of the nonlinearity of the imput-output relationship. The essence of computation is nonlinear logical operations. The particle interactions that produce true collective effects in partcle dynamics come from a non-linear dependence of forces on positions of the particles...The network of cells we describe performs an abstract calculation and, for applications, the inputs should be appropriately coded...The present modeling might then be related to how an entity or Gestalt is remembered or categorized on the basis of inputs representing a collection of its features...In the model network each `neuron` has elementary properties, and the network has little structure. Nonetheless, collective computational properties spontaneously arose. Memories are retained as stable entities or Gestalts and can be correctly recalled from anyreasonably sized subpart. Ambiguities are resolved on statistical basis. Some capacity for generalization is present, and time ordering of memories can also be encoded. These properties follow from the nature of the flow in phase space produced by the processing algorithm, which does not appear to be strongly dependent on precise details of the modeling. This robustness suggests that similar effects will obtain even when more neurobiological details are added.

Much of the architecture of regions of the brains of higher animals must be made from a proliferation of simple local circuits with well-defined functions. The bridge between simple circuits and the complex computational properties of higher nervous systems may be the spontaneous emergence of new computational capabilities from the collective behavior of large numbers of simple processing elements."

Brevemente, a noção de informação em física da comunicação é função de um grau de probabilidade, sendo portanto função da estrutura (probabilidade mínima no espaço de fase) e de estados de entropia mínima (probabilidade mínima no espaço de fase). Pode estar presente em diferentes meios físicos, vivos ou não. Portanto, se supomos que a informação é a marca do mental, ainda que a tomemos como emergente, deveremos supor que o não-vivo, o mineral, a sílica, etc, também são dotados de mente. Por outro lado, se supomos que a marca do mental é a decodificação de informação presente em muitos meios, devemos entender o que significa um sistema que decodifica informação. Tanto mais estável a estrutura, tanto menor o gradiente de energia ou entropia, tanto maior a generalização, categorização ou informação. A generalização e a Gestalt do sistema são propriedades intrínsecas de um padrão mínimo inicial, de uma estrutura mínima inicial. Com a entrada da informação e a não-linearidade temos uma produção de caos e em seguida a organização numa estrutura estável. O caos determinístico é típico de certas funções extremamente sensíveis às condições iniciais, o resultado numérico para certos intervalos de entrada é imprevisível, caótico, porém a regra ou o algorítmo permanecem estáveis. Para uma função computacional com não-lineridade temos produção de caos, entropia crescente, informação decrescente. O sistema como mostrou Hopfield tende a estados de energiamínima. Ato contínuo aumente a informação, aumenta a categorização.

Talvez algumas conseqüencias saltem aos olhos ficando porém para trabalho posterior o seu encaminhamento.

(a) Se o sistema como um todo fosse uma rede neural, com pouca estrutura ou estrutura mutável, como dissociariamos a noção de informação da noção de precessador ou descodificador de informação? talvez a conseqüência seja eliminar o mental sob pena de ter que aceitá-lo também para a mais ínfinita estrutura de um cristal a 0° k.

(b) De outra maneira, se se aceita que cada configuração estável é um sistema decodificador, como posso imaginar que haja estabilidade ou perenidade no significado de cada informação?

(c) Uma pergunta básica seria então: há identidade entre categoria, padrão de energia mínima e padrão de informação máxima? Se houver apenas uma relação entre elas de outra natureza, qual implica qual? Ou será que são níveis semânticos diversos para um mesmo objeto, o que redundaria em perguntar qual o estatuto real do objeto? Ou será que mental é apenas um nível semântico e não uma classe de processos?

(d) Se mantemos a regra numa função não linear e temos para certos intervalos a aparição de saídas desordenadas, caóticas, não seráessa uma boa analogia para a aparente dicotomia emergência/ redução, qualidade secundária/ extensionalidade, mental fenomênico/ neurológicodeterminista, isto é, não há contradição: qua mental determinista neurológico, e há emergência, qua metal fenomênico. Ou como defendo, a emergência e o indeterminismo são facetas da esfera do mental sensação, irredutíveis ao físico enquanto tais, devido à intensa labuta de uma ordem que fez o mental ser sensação e se pensar ser.

 

 

II.4. A TEORIA GERAL DA REDUÇÃO DE HOOKER

 

Uma discussão sobre redução e emergência desemboca fatalmente no texto de Hooker. Por que? Por duas razões: (a) é uma solução compatibilista e (b) é um texto de uma verticalidade, concisão e conteúdos invejáveis. Resumir a posição do autor é literalmente impossível. Não creio que seria exagero dizer que naquele artigo há bem mais que uma tese. Ainda que decidíssemos tratar apenas da teoria de Hooker ainda assim teríamos de situar o debate em algum ponto de seu trabalho. Portanto a estratégia que adotarei é a de fazer uma exposição simplificada do argumento, passando em seguida ao exame de alguns tópicos, acompanhados de citações, no corpo do texto ou no Apêndice. Com isso espero clarificar parcialmente a posição da redução de instâncias (token-reduction ou TR).

 

II.4.1. Apanhado resumido da Teoria

 

A teoria da redução de Hooker pode ser chamada de "redução de instâncias (token-reduction) com apelo à redução sistemática uniforme (via manejo das relações entre função/estrutura e dinâmica do sistema. Por simplicidade chamaremos apenas de "token-reduction" (doravante simplesmente TR) em oposição às "type-reduction".

TR é uma teoria que afirma serem, em certos domínios, impossíveis as reduções fortes, i.é. aquelas que garantem o mapeamento de todos os tipos de uma teoria reduzida pela teoria redutora (redução de propriedades). O que impede, segundo Hooker, é a mesma classificação ortogonal que vimos no exame das idéias de Fodor. Para todos os efeitos, considere-se suficientemente defendida a posição de irredutibilidade devido à não co-extensionalidade dos tipos de cada disciplina.

Pois bem, aceita essa tese, mostra-se que pelo exame de certas peculiaridades dos mecanismos, dos sistemas e das condições iniciais podemos identificar uma propriedade, supostamente emergente, explicando-a, embora estejamos dando apenas uma explicação de uma instância da propriedade, i.é. sobre o seu tipo. Essa redução, embora bem mais fraca, permite explicar, sem no entanto eliminar, uma instância emergente. Mais ainda, pelas prescrições de Hooker, forçamos durante a tentativa de TR, uma mútua co-evolução das teorias, da redutora e da reduzida; podemos e devemos, assim, redefinir termos em ambas, de tal sorte a enriquecê-las semanticamente, tornando a dedução viável, ou no mínimo, ambas as teorias mais poderosas. Essa prerrogativa de TR, antes de se constituir violação "ad hoc" do estatuto cognitivo das teorias, coloca-se numa situação crucial extremamente enriquecedora. A distinção entre redução e substituição de uma teoria por outra é, assim, uma matéria de análise quantitativa. No limite, não importa se o que se passou foi uma redução genuina, uma substituição ou simplesmente um enriquecimento de ambas durante o confronto. Podemos ter as três situações presentes, porisso a noção é quantitativa e não qualitativa.

A impossibilidade da tradução de certas propriedades em propriedades mais elementares pode dever-se a fatores que não a emergência. Para essas propriedades mistas, causais-ontológicas, a estratégia redutiva é simplesmente a redifinição sincategoremática, meio pelo qual se tornam identificáveis com as propriedades mais elementares.

A importância do trabalho de Hooker, talvez seja o exame exaustivo das duas estratégias, redução forte e emergência, sua clarificação e compatibilização num esquema que permite o tratamento de certas questões como a relação mente-corpo, ou Psicologia-Neurologia, em termos de exame das teorias, de suas estruturas, dinâmicas e funções seguidas ainda de uma redefinição sincategoremática de algumas de suas propriedades e de uma amplificação semântica de ambos os domínios teóricos.

 

II.4.2. Excertos comentados de TR

 

Hooker propõe nas partes I e II de seu trabalho uma versão de redução através do uso de identidade. Lembre-se do exemplo de temperatura de um gás = energia cinética média das particulas que compõem os gases. Para ele a passagem de um termo a outro tem de se fazer à custa de identidade por uma série de razões. Mais ainda, durante o esforço de redução ocorre uma co-evolução das teorias, i.é., as teorias quando confrontada visando à redução de uma pela outra, por vezes, ampliam seu corpo próprio de termos e de significados. O caso da Termodinâmica é típico pois a redução via Mecânica Estatística fez aparecer naquela, além da entropia de Boltzmann, novas formulações como a entropia de Gibbs. Portanto, a redução para Hooker embora situada no paradigma de tradução e definição de termos via identidade, visto aceitar e prescrever que as teorias co-evoluam, poderia ser encarado como um exemplo de substituição mútua de teorias. A diferença entre redução e substituição de teorias é uma questão quantitativa e contínua, não havendo descontinuidade qualitativa que diga quando termina uma e começa a outra.

Na parte III do trabalho é que Hooker tratará do aspecto que nos interessa na relação corpo-mente, qual seja a redução do segundo ao primeiro ou a redução da Psicologia às Neurociências.

"Any theory of reduction that goes so far as carried in Parts I and II does only half the job. Prima facie at least, there are cases of would-be reductions which seem torn between two conflicting intuitions. On the one side there is a strong intuitions.On the one side there is a strong intuition that reduction is involved, and a strongly retentive reduction at that. On the other side it seems that the concepts at one level cross-classify those at the other level, so that there is evidence to suggest that there will be no unique mental state/neural state association that can be set up...Similarly one hopes that neurophysiology allied with the rest of natural science will render human experience and behaviour explicable.

Lying behind these examples are two more general cases: the reduction of whole systems properties to component properties and the redction of logical (functional, programming) machine (e.g., computer) states to structural states. Once again it is held by some that in both these cases there are, e.g., infinitely many different ways of realising a computer that will perform a certain logical operation and it is plausible to add: indefinitely many ways. Similarly for whole systems properties."

O autor faz, em seguida, uma distinção radical entre classificação ortogonal interna e externa.

Classificação ortogonal interna :

"Every determinable property cross-classifies its determinates in this sense: every distinct determinate in which it is contained is ipso facto diverse from every other (otherwise the determinates would not be distinct). Thus things instantiating `is shaped` in distinct shape determinates are unlike in shape, though like in beling shaped, and things instantiating `is charged` id deffering quantitative values of charge are unlike in their charges, though like in being charged. This is one sense of cross-classification in which a determinate/determinable hierarchy entails cross-classification."

A noção de classificação ortogonal interna não coloca problemas sérios para a redução segundo o autor. A forma crucial é a Classificação ortogonal externa :

"The is another general source of cross-classification distinct from this latter: at any given determinable level the predicates of some determinate/determinable hierarchy will in general cross-classify things (states, processes, etc.) classified by the predicates of any other distinct determinate/determinable hierarchy (It would be a cosmic accident if two such hierarchies happened to be everywhere co-extensional, or the rarest Kind of nomic quirk- and there is not a single case of it to my knowledge.)"

A alusão simples à classificação ortogonal não impede a redução, pois pode se tratar de classificação ortogonal interna. No caso da externa teremos dificuldades na redução, podendo então falar de "emergência". Por que? Hooker aponta dois aspectos vitais na c.o. externa que apontam no sentido acima exposto:

"First, notice that it is typical of relatively determinable properties in science that they have infinitely, even non-denumerably infinitely, many determinates. Thus `has velicity` has non- denumerably many determinates of the form `has velocity V` where V ranges over the real numbers. It is only of importance for theory that the class of determinates be analitically definable (in the mathematical sense) ...Secondly, insofar as the ascription of a particular energy to a system does not itself decide among these non-denumerable infinity of possible realisations, there are indefinitely many realisations. Notice, though, that this indefiniteness obtains only relative to a particualr description. Relative to the entire theory there is no indefiniteness. Moreover, another source for an intuitive feeling that the instance are indefinite may be the absence of explicit predicates, on either side of the reduction, at some level of generality; but this too can be corrected in principle and does not affect the account given above. Another irrelevant sense of indefiniteness of the reducing class occurs when, in a historically-dependent system, it is not Known, say from an instantaneous state specification, what the past history was and hence the future behaviour will be."

O conhecimento da história de um sistema e de suas condições iniciais é vital para certos tipos de estrutura. De posse de certos elementos como esses podemos pensar não apenas numa redução explicativa, como também numa redução preditiva substantiva. Uso o termo substantivo porque a previsão de certas características em sistemas dinâmicos não lineares é fundamental uma vez que significam pontos de estabilização insuspeitáveis e incomuns. Isso tem importância capital, nos dias de hoje, na construção de sistemas especialistas, principalmente em arquiteturas do tipo rede.

Hooker passa então a dar um exemplo artificial de um sistema que satisfaz à exigência de conhecimento de condições iniciais para a redução, dado seu caráter histórico-dependente. Não é preciso salientar que o comportamento psicológico é ao que tudo indica um sistema desse tipo.

"Consider a machine capable of performing N different kinds of operations with sequences of k different kinds of devices, let the jth sequence for performing the kth operation be S of length L (Sjk). (The machine might have at its diposal a drill press, screwdriver, 4-position turntable, etc., etc., and, by deploying the appropriate sequences of these, be able to perform different constructionoperations.) Now suppose the machine is fed a batch of orders each requiring it to carry out a sequence of operations and imagine that it has a guiding computer designed to select sequences to perform each operation on the following principles: maximise the number of component devices operating simultaneously, minimise the lenght of the sequences needed to perform each operation, minimise wear of the component devices according to awear weighting function W (ki) defined on the k devices, given priority of constraint in the order stated. This is a straightforward linear programming problem and, for any actual case, it will have a definite solution. But it does issue in the consequence that the sequence assigned to perform any given operation varies from time to time as a function of the previous history of orders given to the machine.Another way of saying this is to say that, a prediction of the next state of the machine given its existing state requires essentially the introduction of a boundary or initial condition specifying its relevant history.

In general then, a given system may be governed by a set of system-specific laws whose forms are functions of the initial or boundary conditions of the system."

A continuação do exemplo artificial é longa, mas ressalte-se o presumível realismo desse exemplo para qualquer modelo que procure retratar um sistema de representações mentais, geral ou restrito à história do próprio indivíduo. Qualquer construção de uma Psicologia geral, a meu ver será nesses moldes, bem como a previsão de comportamentos de indivíduos-sujeitos psicológicos em situações específicas.

"Now suppose that the machine occured naturally in nature and its laws were investigated. Then, laws may turn up of the sort: If the machine is fed an order to perform an operation OJ, then, with probability Pjk the machine performs Oj using the sequensce Sjk. But of course here the probabilities Pjk would arise out of an amalgam of statistical regularities in the history of input orders and the machine selection laws built into the selector computer. If the historically-dependent character of the machine had not been realised, or if engineering was bent on forcing theory into an instantaneous state form, such claims would be made as that `the class of internal machines states corresponding to a given operation is indefinite`, `The is no reduction possible of operation states to machine states because from occasion to occasion the same operation is realised by different sequences of machine states`, and so on. Very similar things as those above have been said about the reduction of mental states to neural states and computational states to computer hardware states. While these claims certainly find their mark in naive versions of the reduction, they do not by any means show that a reduction is impossible."

A resposta ao paradigma funcionalista de Putnam é clara na passagem acima. As formas de redução ingênua deixam de apontar o caráter histórico-dependente de certos sistemas, bem como sua sensibilidade às condições iniciais. Se assim se proceder teremos fatalmente um funcionalismo à Putnam. Do contrário, poderemos encontrar regularidades redutivas. O mesmo argumento se aplica àqueles que vêem nos pontos de bifurcação uma violação do determinismo, construíndo hipóteses apressadas acerca de auto-organização. A teoria ergódica pode ser uma resposta para eles, como o é o texto acima para a versão ingênua de funcionalismo emergentista.

"Consider the situation a little more closely. Given only fairly generic a-historical generalisations about the machine, there is no way in which to select a set of machine states to correspond to a given operational states, and this suggests that no reduction is possible. But given a deeper theory of machine operation, one on whicch a specification of structure combined with a fundamental theory of the structural elements entails the machine laws relating input history to choice of sequence Sjk` then two things happen simultaneously: (I) There is perceived the necessity of a semantical reconstrual of descriptive predicates-specifically, from `-has order o`to `-has order o in input sequence of kind S`- if the appropriate nomic generalisations are to be properly realised. (ii) Fundamental theory entails a nomic mapping from the set of possible histories to time t into the set of sequences of machine states selected at t, hence making the hitherto indefinite correspondence definite and precise. Call this fundamental machine theory Fm`o."

A construção de uma teoria fundamental para a máquina pode resolver grande parte dos impasses supostamente emergentes, porém essa teoria terá níveis e neles sempre continuará a residir algum traço de emergência:

"More precisely, there are three levels of theory roughly distinguishable. L1: the pure input/output level, characterised by the use of predicates such as `is performing (has performed) the operations O1 ... On`. L2: the operational mechanism level, characterised by predicates such as `is performing the sequence Sjk` with the sequences characterised purely in terms of the kind of operation involved. L3: the level of basic physical theory in which derivative machine laws are constructed from specifications of machine constitution and structure. I shall call these descrptions `engineering systems description` for convenience. Predicates at each level externally cross classfy those at the other two levels. What I have claimed so far is that the upper two levels of cross-classification can be fully explained at the level L3 by invoking the history-dependent character of the machine laws."

Hooker adverte que, a despeito da dificuldade de reduzir hierarquia em que ocorre classificação ortogonal externa, devemos completar a descrição do sistema acima mencionada com o nível L`3:

"Level L2 should not be confused with the derivative specification of machine mechanisms in L3, call it level L`3. Mechanisms in L2 are externally determinable with respct to those L`3. E.g., a component operation specified in L2 might be `drills a hole`: in L`3 the drilling would be specified as removal of material by rotating gouge. On the other hand levels L1 and L2 may be combined into a single functional theory- e.g., an automata-theoretic model for the system. The existence of the derived or constructed level L`3 is crucial to the explanation of the L1 and L2 levels, since it is in L`3 that the functional generalisations of levels L1 and L2 are to be reconstructed and thus explained. It is in general both difficult and pragmatically incovenient to construct L`3, perhaps this accounts for why it is often ignored."

A justiça para o uso desse modelo de redução para a relação corpo/mente é a seguinte:

"One of the cases of most interest is that of claiming, roughly: The minds of humans are identical with human nervous systems. Psychological-cum-commonsense theories can be understood as a species of levels L1/L2 functional theory- at least in significant measure. The objective is to give an account of how they may be reduced to neuronal theory despite external cross-classifying relations between them. What I claim is that if the cross-classifications can be explained at the basic level then reduction is warranted.

The basic idea for handling function-to-structure + dynamics reductions is simple enough: on wants to define predicates desingnating functions at the structure (L`3) level and then reductively identify each functional property (L1 +L2) with the designatum of one of these predicates will in general be constructed as dynamical sequences of structural states conditioned on initial or boundary conditions. These constructions may be exceeding complex, because in general the conditional relation between initial or bondary conditions and the dynamical sequences followed will be by the entire theory of the system concerned. E.G., in the machine discussed above the law which relates initial conditions to sequence followed involves a statement of the four selection criteria, their order of importance and the physical realisation of the selection process, together with the theory of the execution processes themselves.

For the human nervous system, supposing an appropriate biochemical dynamics (L3) and functional neurophysiology (L`3) to exist, these relations will have to capture the full complexity of the intenal information processing choices available to humans. Because human behaviour is so `stimulus-free`, an adequate theory of these latter choices will have to include a full representation of the cogntive state, including future possibilities, gambles on these, the values-preferences-goals-interests complex and so on. Needless to say no one can yet do much of this, even at the psychological level, let alone the neurophysiological level. The important thing here is to see how tha reduction `goes`, at least in principle."

Ao prescrever como pode dar-se a redução, ao menos "em princípio", Hooker adverte, porém, de que certos imasses ínsitos à noção de classificação ortogonal externa não podem ser eliminados; portanto, a única redução que se pode almejar é a de instâncias (token-reduction) e não a versão forte de redução de propriedades (type-reduction).

"The fact that the external cross-classifications can be explained does not mean, however, that they can be eliminated, for the fact remains that the particular machine, or class of like level L3 machine, only form a sub-class of instances of the level L1/L2 theories. Thus suppose that, because of statistical regularities in input order, a purely functional, i.e., input/output stochastic theory Sm` o of machine operation can be given. Then this particular machine will not only be an instance of that theory, it remains possible that many other instsances of the very same theory could be constructed, each utilising different internal structures and kinds of material but in the end realising the same input/output stochastic laws. As remarked, this would remain true even if the theory were enriched by specifications of the level L2 sequences Sjk involved.

What seems clear, however, is that if the external cross-classifications can be explained at a basic level then that is a sufficient reason to claim a token-to-token reduction. By a token-to-token reduction I understand the following claim: Systems of type S of class T are contingently token/token identical with systems of type S` in class T*=df every instance (token) of a type S system externally classified as in class T is contingently identical with an instance (token) of a type S` system externally classfied as in class T*. In the present case, S is the predicate `satisfies the theory Sm`o` and T the extension of some predicate designating either this machine or some class of machines to which it belongs (e.g., `solid state digital computer series 7000`). T* is the extension of a classifying predicate at the basic level (e.g., `is comprised of transistored flip-flops, diodes and conducting wires`) and S` is the derivative L`3 level predicate `satisfies Fm`o`."

Em uma importante nota Hooker adverte que toda essa interpretação é válida para processos estocásticos clássico-deterministas. Neles o ignorar certas interpretações simplesmente aumenta a dificuldade epistêmica da redução. Para processos estocásticos quânticos, no entanto, as coisas se complicam profundamente. E certamente esse tipo de impasse deverá ser resolvido numa redução bem sucedida visto que certos efeitos quânticos desempenham papel na teoria neurofisiológica, particularmente ao nível da interação sináptica.

"The basis for claiming a reduction is this: the external cross-classifications can be susperseded entirely by shifting to the level of basic theory, they are a phenomenon solely of the nonbasic level of bdescription offered. At the basic level there are only the benign kinds of cross-classification. Of course, within the basic level, L’3’ operational-level descriptions can be constructed which are co-extensive with the relevant functional descriptions in the (sub) class of cases concerdned and these will still cross-classify their more basic level descriptions. But the nomic structure of the pattern of cross-classifications (its dependence on history) will also be constructible, so that these cross-classifications will be purely derivative at the basic level."

Uma importante constatação é de que o processo de classificação ortogonal de hierarquias é uma marca da "funcionalização" e não uma decorrência peculiar dos idiomas intencionais. Se o argumento de FODOR parece mais burilado que o de PUTNAM é preciso entender que o do segundo émais geral e mais condizente com a leitura da classificação ortogonal que faz HOOKER:

"It is often argued that, e.g., cognitive psychology cannot be reduced to neurophysiology because the former cross-classifies the latter; any number of different systems (from brains to machines to leprechauns passing notes) could realise the same functional or computational theory. It helps to remove the intellectual dazzle of this fact to realize that this is trueof any functionally characterised systems. The same cross-classifications turn-up within such prosaic fields as electrical engineering (cf. ‘his a high energy electron source’ vis-a-vis quantum specifications). In these cases the issue is not whether reduction is possible, but how it goes. The same applies, I hold, between theoretical domains as well."

Agora HOOKER dá mais uma importante chave para o problema da redução. Certas anomalias intradutíveis, devem ser redefinidas para que possam permitir a tradução e a dedução. Termos sincategoremáticos não são diretamente tradutíveis no nível inferior, devendo portanto ser redefinidos. Isso muito provavelmente é o que subjaz aos termos mentais.

"The basic strategy within L’3 is to ape L1+ L2 function with L’3 mechanism and then contingently identify. But in some cases at least this will require not merely displaying L1 + L2 generalizations as ‘surface’ features of complex mechanisms, but actually resisting putative L1 + L2 semantics. Suppose for my machine example there is a predicate in terms of a set of inbuilt preferences over sequences, but this would be a mistake. There is a choice process but it is not constructed in this manner. The missing key to understanding it is dependence on (perhaps accidental) regularities of input history. Rather, recalling that the predicate occurs at the functional level L2, it must be syncategorematically construed such that the semantically fused unit ofwhich it is a component refers as a whole to imput/output relations. Thus ‘M prefers-to-use-Sxy -over-Sab’ has a semantic analysis something like: ‘There is some internal choice mechanism C such that C causes the ratio of cutputs to total input orders performed by Sxy to be greater than the ratio of outputs to total input orders performed by Sab’. Such semantic reconstruals are complementary to reconstruing predicates of L1 + L2 in L’3 can dependent ao that L’3 can explain away L1 + L2 descriptions and laws.

Under these conditions, for any particular instance of a functional theory, say Sm`o of the machine M, the following claim is justified each property of this instance, M, is either (I) directly identifiable with a property specified in Fm`o` either synonymously (e.g, location) or contingently (e.g., specific heat), or (ii) its instantiation in M is contingently identical with an instance of some property specified in Fm`o (e.g., `is deciding what sequence to use` ® `contrlo computer going through switching sequence C`) or (iii) the occurrence of the predicate in Sm`o is treated syncategorematically and semantically fused with its context, the resulting predicate then falling under (I) or (ii)."

Como decorrências fortes desse esquema podemos citar o fato de que é a interconexão nomológica entre os níveis que fornece o poder explicativo da redução:

"To identify an instance of a property 0 (operational) with an instance of another property F (fundamental) I propose, as a necessary and sufficient condition, the satisfaction of (I) coextensiveness (vacuous), (ii) sameness of properties, in this kind of instance, (iii) sameness of nomic role, in this kind of instance...Further, theory will in general entail two infinite classes of other nomic statements involving other instances of the same L1 + L2 and L’3 properties in other contexts, the first class concerned with other identities for other instances of the L1 + L2 properties, the second class with other dynamical sequences into which the L’3 properties instances can enter...it is this additional nomic interconnection that provides thereal explanatory power of the reduction...According to the realist theory of properties in Part II I have developed there will be no properties at the fundamental level corresponding to case (iii) predicates. Rather, at the fundamental levels (L3 + L’3) it must be explained why it is pragmatically convenient and/or epistemically natural to introduce predicates which fail to designate properties except as syncategorematic components of their semantically fused contexts. Similary, there are no properties corresponding to predicates falling under case (ii) above if by this is meant a single property common to all instances of a particular predicate (i.é., a property as a predicate-type). Each instance of a predicate may be distinct from each other instance. The instanced predicates (e.g., P-at-t1p1 , a predicate-token property) do, however, designate properties, but those properties are predicate-type designated only by predicates in L3. Since at L`3 level functional relations at the L1` L2 levels can be reconstructed-cum-expalined away, the use of these predicates at the L1` L 2 levels can be explained and their putative ontic commitments explained away."

Hooker dá em seguida o que seria a causa, ou o ponto de geração, da classificação ortogonal: estaria ela no fato de que temos anomalias ou dissemetrias na formação conceitual através de nosso aparato cognitivo. Em seguida faz nova correlação de suas teses e aplicação possível para o problema mente-corpo.

"I conjecture that the only contexts requiring token/token (instance/instance) reductions are those in which there are two broad levels of theoretical description standing to each other in essentially the relation of external-functional to internal-structural theory. There is a good reason why the token/token reduction is reasonable here: apart from the fact that the predicates involved might, for all that is entailed by the functional theory, apply to other cases of diverse constitution, there is nothing about the nature of entities involved which prevents directly reducing them to the (identifying them with the) appropriate internal structurally-specified (engineering) systems. It is merely and solely an epistemic barrier deriving from the roots of concept formation in sensory experience and practical action which prevents direct type/tipe reductions.

There are no other kinds of cases I can see which support the same kind of argument. Part of my strategy would be to argue that the mind/brain case also falls into the function? structure class. Because many have tried to parlay this formal/conceptual diference into an ontological difference and deny all token/token reductions, it is important to understand that token/token reductions differ from type/type ultimately only for epistemic reasons (e.g., because we have epistemic access to the exterior of a machine or animal but not its interior)... What I have tried to do to date is undermine the basis for any argument that there are radical cross-classifications in the central cases of reduction in science of the sort that argue against these reductions... I have also at least launched an argument to the effect that cross-classifications in themselves may carry no objectionable implications for reduction provided either that they can be shown to be appropriately internal or that there are more basic laws which both explain the cross-classifying and ultimately allow it to be superseded. I have also launched an indirect attack on the idea that there are category differences which prevent reduction; in particular that the functional/structural diferences-the only plausible cases known to me-prevent reduction (though they do force token/token reductions)."

Uma última consideração que deverá ser feita segundo HOOKER é a de que na análise dos sistemas complexos devemos proceder a reconstruções sincategoremáticas parciais na teoria a ser reduzida. Com isso então completaremos toda a estrutura da redução de instâncias ou TR:

"However, before all aspects of reduction for theories of complex systems can be handled, one further move must be more systematically discussed: selective syncategorematic reconstrual of the to-be-reduced theory. Such reconstruals are in fact a part of theory co-evolution, justified in which particular case by the larger pattern of theoretical unification achieved. Along the way the problem of so-called `whole-systems` properties and emergence can be treated.

One case of permissible semantic reconstrual of this kind has already been encountered: the predicates of Sm`o` functionally describing the machine M above, could be reconstructed so as to be syncategorematic components of predicates relativising machine function to input history. If this is done then Sm`o can be re-cast so as to obviate the need for statistical considerations internally to machine description, they can be confined to the input descriptions. Though this brings Sm`o more into line with Fm`o it does not of course eliminate the need for token/token, rather than type/type, reductions between them; what it does is explain the classes of type/type reductions which can be achieved within the overal tokentoken reductions."

A discussão que faz HOOKER a seguir é do caso citado no tópico sobre emergência, qual seja o de "serum governador virtual" Lembre-se que quando nos perguntávamos se "ser um governador virtual" era uma propriedade emergente ou irredutível aos geradores que compõem o sistema, a resposta era sim e não. Vejamos do ponto de vista da chamada reconstrução semântica parcial como tratar o problema:

"The virtual governor enters discussion only at the level of input/output theory; at the level of component, structure and mechanism it has disappeared. Thus talk of a virtual governor is systematic misleading because it presupposes that sentences with the phrase `virtual governor` in them are to be analysed in terms of the properties of some distinctive thing-the virtual governor- whereas in fact there is no such thing. Introduction of this misleading language is made possible only by the isomorphism, under particular circumstances, of two input/output theories-that of single generator and that of the network of generators. But input/output isomorphism does not entail structural/mechanistic (process) isomorphism. And in fact the former isomorphism holds only under the conditions specifying this particular system structure; change the structure and not only may this particular isomorphism be broken, it may well be the case that the input/output theory cannot be modelled as that of a single generator at all."

O autor define agora a classe de propriedades dos sistemas que devem receber redefinição para que possam permitir a redução:

"In truth, talk of virtual governors confuses the issue because the property of having a virtual governor is really a mixed causal/ontological property. Thus sentences containing the phrase `virtual governor` are to be analysed syncategorematically. E.g., `X has a virtual governor of realiability r in state o` is to be analysed, not as: `There is a y such that y is a virtual governor of reliability r, y is a component of X and y is in state o`, but rather roughly as: `There is some causal process within X such that X`s output has characteristics C(o,r)`, where C(o,r) includes a circuitry specification of frequency reliability r... The truth conditions of the former sentence require a real object, instantiating a real property, namely the virtual governor and its state property o, those of the latter sentence do not, they require only that a `mechanism` be specified, related to output. Search for reductive bases of the former sentence would be futile, there is no object, nor any property, of the required kinds. Search for the relevant mechanisms is rewarding. I assert that all examples of mixed causal/ontological properties are reducible only to heterogeneous complexes of mechanisms, hence structures, never to a thing."

HOOKER faz então uma inversão de uma distinção clássica: ter a capacidade ou a habilidade de executar algo é ter a disposição para tal. Ao contrario, defende o autor, ter a disposição para fazer algo em certas condições é ter a capacidade para fazer esse algo e também o desejo de iniciar a feitura desse algo. A conseqüencia é forte: disposições, capacidades, etc, devem ser analisadas sincategorematicamente pois seriam propriedades misto ontológico/causais.

"Notice three consequences of this thesis: (I) Sentences containing expressions referring to mental states and/or properties are in general to be analysed syncategorematically, their truth conditions requiring only appropriate internal causal processes and output (behavioural) characteristics. (ii) Functional mental states and properties `disappear` at the neural systems level in favour of component states and properties, structure and causal processes (mechanisms). (iii) Mental states, like virtual governors, by and large cannot be localised more closely than the entire person...What the foregoing anlysis does is pull emergence apart from reduction. They may of course be strongly emergent properties in the sense of properties subserving nomic behaviour which cannot be explained by any relatively more basic theory. But these cases aside (which are anyway open to empirical testing), I conjecture that all other cases of whole system properties are of the sort of Dewan`s virtual governor: emergent in some epistemic sense, irreducible to system components alone, but (possibly token/token) reducible to systems components, system structure and initial/boundary conditions."

HOOKER termina fazendo algumas considerações sobre a oposição entre redução e emergência:

"The foregoing considerations lead to a final reflection on emergence and reduction. Reflecting on the nature of the (co-) evolution of reduced and reducing theory we notice that: It is quite possible for a whole-system property P to be emergent for system S in the sense that, from the theory for S`s components, restricted to experimentally supported laws employing only components singly, the nomic role P cannot be deduced. At the same time the nomic role of P cannot be deduced. At the same point the nomic role of P may be readily deducible from the full blown theory and P reducible to component properties plus structural relations. A simple example is provided by the development of electromagnetic theory. If experimentation is restricted to charged masses taken singly then no laws of interaction can be experimentally tested and supported. Only after spatio-temporal structures are introduced to experimentation can the full-blown electro-magnetic laws be investigated. An important part of the `bite` of this position is illustrated by the actual historical evolution of electro-magnetic theory. There was a time when electrical theory was divorced from magnetic theory and both theories essentially confined to statics. Under these conditions, no account could be offered of the electro-dynamical properties of complex systems- in the epistemological sense under discussion, they would have all been emergent. Relative to the developed and unified dynamical theory, however, they are all non-emergent, reducible properties."

 

Com isso terminamos essa revisão das posições emergentistas e reducionistas. No próximo capítulo procurarei fazer uma revisão de características do mental, e colocá-las sob o prisma funcional. Ainda que não possamos dizer que isto se constituirá numa redefinição de termos tal que permita a redução, parece-me ser a via essencial para entender que certas acepções precisam ser tratadas sincategorematicamente visando à redução, embora sua eliminação seja nefasta porque representam termos primitivos para outras teorias, por exemplo para a Sociologia. A inflexão de que fala HOOKER quanto à genese da classificação ortogonal, situando-a nas peculiaridades de nosso aparato conceitual/cognitivo, parece-me requerer um complemento: a linguagem ordinária recorta funcionalmente categorias mentais que classificam ortogonalmente as categoris neurofisiológicas. Se o faz deve ter boas razões, porém gera impasses, a meu ver de cunho dualista emergentista. Não cabe eliminar as categorias da linguagem porque é do recorte que propiciam que nos utilizamos na forja da Psicologia de senso-comum que dirige nossas atitudes sociais. Portanto, os próximos capítulos são um exame do que pode haver de relação entre significado, estrutura e função do mental, pensando ser esse tipo de indagação um primeiro passo para uma redução "à HOOKER".

 

APÊNDICE DE TEXTOS DO CAPÍTULO I I

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

II.1.

 

"Essentially this account of reduction can be characterized as direct reduction - in which the basic terms (and entities) of one theory are related to the basic terms (and entities) of the other, (assuming that the reduced theory is an adequate one) and the axioms and laws of the reduced theory are derivable from the reducing theory. The last assertion must be expanded somewhat, for quite often in intertheoretic explanation terms appear in the reduced theory which are not part of the reducing theory, e.g.,the term ‘gene’does not appear in organic chemistry. Thus we have to conjoin additional sentences to the reducing theory which associate these terms of the reduced or secondary theory with combinations of terms from the vocabulary of the reducing or primary theory." ( in SCHAFFNER 1967 pg.l38 )

 

II.2

 

"We must therefore not be misled by the convenient habit of thinking of the various atomic theories as representing a progress in our knowledge concerning a fixed set of submicroscopic objects. This way of describing the historical succession of atomic theories easily generates the belief that atoms can be said to exist and to have ascertainable ‘inherent natures’, independent of any particular theory that postulates the existence of atoms and prescribes what properties they possess. In point of fact, however, to maintain that there are atoms having some definite set of characteristics is to claim that a certain theory about the constitution of physical objects is warranted by experimental evidence. The succession of atomic theories propounded in the history of science may indeed represent not only advances in knowledge concerning the order and conection of macroscopic phenomena, but also a progressively more adequate understanding of the atomic constitution of physical things. It nevertheless does not follow that, apart from some particular atomic theory, it is possible to assert just what can or cannot be predicted from the ‘natures’of atomic particles". (NAGEL,E. 1961 pg.370)

 

II.3.

 

"This third condition is that we be able to specify what I shall call a proxy function: a function which assigns one of the new things, in this example a pure number, to each of the old things- each of the impure numbers of temperature. In this example the proxy function is the function ‘how many degrees centigrade’ - the function f such that f (noC)=n. It is not required that such a function be expressible in the original theory 0 to which ‘H’ belonged, much less that it be available in the final theory 0’ to which ‘Hc’ belongs. It is required rather of us, out in the metatheory where we are explaining and justifying the discontinuance of 0 in favor of 0’, that we have some means of expressing a proxy function. Only upon us, who explain ‘H (x,alfa)’ away by ‘Hc (x,n)’ does it devolve to show every alfa that was inteded in the old 0 determines an n of the new 0’." (QUINE,W. 1964 pg.204-205).

 

 

II.4.

 

"I have sought to establish the following main points: I.A crucial aspect of mind is captured in the notion of an ‘internal model’, and such a model is not adequately representable in colloquial language. A more adequate-but still inadequate- representation would use a programming language that uses intentional descriptions- even in describing a robot-, but does so in a sufficiently detailed way to allow causal explanations that possess extensional translations. II. `Utterances` are but samples of the states of such an `internal model`, and thus share with all samples the risk of being unrepresentative. Some aspects of `mental states` are sufficiently germane to action to merit `awareness’, and the ability to express these verbally is then to be seen as a secondary property. III. The slide-box metaphor suggests that the internal representation of an activity within the brain is correlated with the spatial extent of the object it represents, and that this correlation demolishes the problem of the secondary qualities." (in ARBIB, M. 1972 pg. 590-591)

 

II.6.

 

"This is due to the work of J. Kemeny and P. Oppenheim on reduction, and might be termed a paradigm of indirect reduction, since one does not obtain a theory T2 from T1 in the usual case of reduction, so reducing T2 by T1; rather one obtains identical observable predictions from both theories (though T1 may predict more). An example of this type of reduction might be the explanation, by Lavosier`s oxidation theory, of all the observable facts which the phlogiston theory explained. Notice in this case we would not be able to define `phlogiston` in the terms of the oxidation theory". (in SCHAFFNER, K. 1967 pg. 138)

 

II.7.

 

"Anything that we want to say about actual observations can be said without theoretical terms, but their introduction allows a much more highly systematised treatment of our total knowledge. Nevertheless, since theoretical terms are in a sense a luxury, we want to know if we can get along without some of them. It is, then, of considerable interest to know that a set of theoretical terms is superfluous since we can replace the theories using these by others in which they do not occur, without sacrificing the degree of systematization achieved by science to this day." (KEMENY, J e OPPENHEIM, P. 1956 pr. 12)

 

II.8.

 

"A reduction will be termed a Kemeny/Oppenheim reduction instance if and only if: (1) T2 has among its primitive terms, terms which are not in T1. (2) Any part of the observational data associated with T2 is explainable by T1. (3) T1 is at least as well sistematized as T2. (The notion os `systematized` is that of a measure which combines streght with simplicity. A theory which is more complex, but wich is more powerfull than a comparable theory is said to be better systematized. The notion is apparently an intuitive one." (in SCHAFFNER, K. 1967 pg. 140)

 

II.9.

 

"I do believe that there are good reasons for considering it a different approach to the problems of reduction, and an approach which is not totally negative.

The claim made in this paradigm is not that T2 is derivable from T1 in any formal sense of derivable, or even that T2 can have its primitive terms expressed in the language of T1, rather T1 is able to explain why T2 `worked`, and also to `correct` T2. The relation between the theories is not one of strict deduction of T2 from T1. Nevertheless in certain cases one can obtain T2 from T1 deductively: if one conjoins to T1 certain contrary to fact premises which would in certain experimental contexts (relative to the state of a science) not be experimentally fasifiable, one can obtain T2.

A relatively uncomplicated example of such a `reduction` is the Galilean law of free fall: that the distance an object has fallen is proportional to the square of the time of its descent, by the axioms of Newtonian mechanics plus the law of universal gravitation. The Galilean law is not exactly derivable- rather a more complicated law is derivable which gives experimental results which are quite close to the predictions of the Galilean law. The sentences expressing these laws are still different, however, and could only be said to be formally identical if the earth`s radius were infinitely large, which is not. Consequently the reduced theory is only derivable approximately from the reducing theory- and `approximation` introduces serious complications for any general formal analysis of reduction." (in SCHAFFNER, K 1967 pg. 138-139)

 

II.10.

 

"Qual a nossa posição agora, com respeito ao trilema de Fries? Os enunciados básicos em que nos detemos, que decidimos aceitar como satisfatórios e como suficientemente aprovados pelas provas, têm, reconhecidamente, o caráter de dogmas, mas apenas na medida em que desistirmos de justificá-los por argumentos outros(ou por outras provas). Essa espécie de dogmatismo é, todavia, inócua, pois que, surgida a necessidade, os enunciados podem facilmente ser submetidos a provas complementares. Admito, em princípio, que isso torna infinita a cadeia de deduções. Contudo essa espécie de `regressão infinita` é também inócua, uma vez que, em nossa teoria, não se coloca empenho em tentar provar, por meio dela, qualquer enunciado. Finalmente, no que concerne ao psicologismo, admito que a decisão de aceitar um enunciado básico e dá-lo por satisfatório está causalmente relacionada com nossas esperiências- em especial, nossas experiências perceptuais. Não tentamos, porém, justificar enunciados básicos através de recurso a essas experiências. As experiências podem motivar uma decisão e, conseqüentemente, a aceitação ou rejeição de um enunciado, mas um enunciado básico não pode ser juustificado por elas- não mais do que por um murro na mesa... Parece-me que a concepção aqui sustentada mais se aproxima das concepções da escola `crítica` (ou kantiana)- talvez como representada por Fries, do que das concepções do positivismo. Fries, em sua teoria a propósito de `nossa predileção por demonstrações`, enfatiza que as relações (lógicas) entre enunciados diferem muito das relações vigentes entre enunciados e experiências sensóriais. O Positivismo, de sua parte, procura abolir a distinção: ou bem toda a ciência é tornada parte do meu saber, de `minha` experiência sensória (monismo de dados sensoriais); ou bem as experiências sensórias se tornam parte da rede científica objetiva de argumentos- na forma de enunciados protocolares (monismo de enunciados)". (in POPPER, K. 1974 pg. 112-113)

 

II.11.

 

"A reduction will be termed a PFK reduction instance if and only if: (1) Of the primitive terms q1...qn of T2 there is at least on q1 which cannot be identified or correlated with a p1 of T1, or any combination of p’s of T1 without asserting a self-contradiction or a false statement. (2) Nevetheless theory T2 can be ‘explained’ by T1 in the nonformal sense (not the Hempel-Openheim sense) that T1 can yield a deductive consequence T2* which may result in predictions numerically ‘very close’ to the predictions of T2. (3) T2* should ‘correct’ T2 in the sense of providing more accurate experimentally verifiable predictions than T2; it should also point out why T2 was incorrect (e.g., that it ignored a crucial variable, and T2* (or T1 for that matter) should indicate why T2 worked as well as it did." (in SCHAFNER,K.

op.cit.pg.140)

II.12.

 

"Many of the problems formulated in connection with the question of reducing one science to another may be formulated as a series of problems using the notion of a representation theorem for the models of a theory. For instance, the thesis that psychology may be reduced to physiology would be for many people appropriately established if one could show that for any model of a psychological theory, it was possible to construct an isomorphic model within physiological theory...To show in a sharp sense that thermodynamics may be reduced to statistical mechanics, we would need to axiomatize both disciplines by defining appropriate set theoretical predicates, and then show that given any model T of thermodynamics we may find a model of statistical mechanics on the basis of which we may construct a model isomorphic to T." (SUPPES,P.cit.in SCHAFFNER, K.op.cit.pg.139)

 

II.13.

 

"A second meaning of ‘model’ for mathematical economists is closely related: the model for a theory is the set of all models for the theory in the ‘logicians’ sense. What the logicians call a model is labeled structure...The third meaning of ‘model’, the one most popular with empirical science, is what we have meant by ‘theory’ in preceding pages. In this sense, to give a mathematical model for some branch of empirical science is to state an exact mathematical theory. In such empirical contexts the word ‘theory’ is often reserved for non-mathematical, relatively inexact statements about the fundamental ideas of a given domain of science. The important difference between the first two senses of model and the third is that only in the third sense are models linguistic entities. When theories are formalized in first-order logic, theorems relating different models for the theory are necessarily metamathematical in their statement and proof. In contrast, theorems comparing various models for a theory may be stated in direct mathematical fachion, when the theory is axiomatized by defining a set-theoretical predicate." (in SUPPES, P.1969 pg.253-254)

 

II.14.

 

"A satisfactory general definition is isomorphism for two set-theoretical entities of any kind is difficult if not impossible to formulate. The standard mathematical practice is to formullate a separate definition for each general kind of ordered n-tuple. When the n-tuples arel complicated as in the case of models for the theory of particle mechanics, it is sometimes difficult to decide exactly what is to be meant by two isomorphic models; but for algebras or simple relation structures the choice of the appropriate conditions is clearer...The notion of isomorphism has important applications in all domains of modern mathematics. When the special situation obtains that any two models for a theory are isomorphic, then the theory is said to be categorial...When a theory is not categorial, an important problem is to discover if an interesting subset of models for theory may be found such that any model for the theory is isomorphic to some member of this subset. To find such a distinguished subset of models for a theory and show that it has the property indicated is to prove a representation theorem for the theory. Such a theorem may be proved for groups; namely, every group is isomorphic to a group of transformations."(SUPPES,P.op.cit.pg.262-263)

 

II.l5.

 

" A reduction will be termed a Suppes type reduction instance if and only if: For any model M2 of the reduced theory, we can find a model M1 of the reducing theory such that one can construct a model M1* (M1* may be M1) such that M1* is isomorphic to M2" (SCHAFFNER,K. op.cit.pg l4l). Para uma definição de isomorfismo SCHAFFNER lança mão da definição de CHURCH: "Two models of a system of postulates are said to be isomorphic if there is a one-to-one correspondence between the two domains of individuals used in the two models such that the values given in the two models to any particular free variable occuring in therepresenting forms of the postulates always correpond to each other according to this one-to-one correspondence. I.e., if in the first model the value a is given to the individual variable a , and in the second model the value a’ is given to a, then a must correspond to a’in the two domains of individuals; and if in the first model the value 0 is given to an n-ary function variable f, while in the second model the value 0’ is given to f, then the propositional functions 0 and 0’ must be so related that, whenever the individuals a1, a2,...an of the first domain of individuals correspond in order to the individuals a1’, a2’,...an’ of the second domain, the value 0 (a1,a2,...an) is the same as the value 0’ (al’,a2’,...an’)".(CHURCH,A. CITADO in SCHAFFNER,K. op.cit. pg l4l).

 

II.16.

 

"Reduction occurs if and only if: (1) All the primitive terms q1...qn appearing in the corrected secondary theory T2* appear in the primary theory T1 (in the case of homogeneus reduction) or are associated with one or more T1’s terms such that: (a) it is possible to set up a one-to-one correspondence representing synthetic identity between individuals or groups of individuals of T1 and T2* or between individuals of one theory and a subclass of the groups of the other, in such a way that a reduction function can be specified which values exhaust the universe of T2* forarguments in the universe of T1; (b) all the primitive predicates of T2*, i.é., any Fni are effectively associated with an open sentence of T1 in n free variables in such a way that Fn I is fulfilled by an n-tuple of values of the reduction function always and only whn the open sentence is fulfilled by the corresponding n-tuple of arguments; (c) all reduction functions cited in (a) and (b) above be specifiable, have empirical support, and in general be interpretable as expressing referential identity. (2) Given the fulfillment of condition (1) that T2* be derivable from Tl when T1 is conjoined with the reduction functions mentioned above. (3) T2* corrects T2 in the sense of providing more accurate experimentally verifiable predictions than T2 in almost all cases (identical results cannot be ruled out however), and should also indicate why T2 was incorrect (e.g., crucial variable ignored), and why it worked as well as it did. (4) T2 should be explicable by T1 in the non-formal sense that T1 yields a deductive consequence (when supplemented by reduction functions) T2* which bears aclose similarity to T2 and produces numerical predictionswhich are ‘very close’ to T2’s. Finally (5) The relations between T2 and T2* should be one of strong analogy- that is (in current jargon) they possess a large ‘positive analogy’. " (in SCHAFFNER,K.op.cit.pg.144)

 

II.17.

 

"Consider a set of electrical generators G, each of which produces alternating current electrical power at 60 Hz but with fluctuations in frequency of 10% around some average value. Taken singly the frequency variability of the generators is 10%. Taken joined together in a suitable network, their collective frequency variability is only a fraction of that figure because, statistically, generators momentarily fluctuating behind the average output in phase are compensated for by the remaining generators and conversely generators momentarily ahead in phase have their energy absorbed by the remainder. The entire system functions, from an input/output point of view, as a single generator with a greatly increased frequency reliability, or, as control engineers express it, with a single, more powerfull, ‘virtual governor’. The property ‘has a virtual governor of relibility f ‘ is a property of the system as a whole but of none of its componentes. Does this render it irreducible? Yes, and no. For, once the mechanism of the system operation is understood, it is seen that this property’s being a property of the system is entailed by the conjunction of laws for the individual generators plus specification of system structure. Its being so is not, however, entailed by the laws of the component generators alone. In this sense the property is irreducibly a property of the whole system- the system structure obtaining is essential to its obtaining. But from an ontological point of view there is nothing to the system over and above its components and the physical relations between them (however physically realised). This latter point is driven home by inquiring ‘what thing is the virtual governor?’ (a real governor, one on each component generator, is an actual physical device), ‘where is the virtual governor?’and so on. The answers must be that, in the sense of the questions, there is no thing which is the virtual governor, so ‘it’ isn’t anywhere, and even the property of being virtually governed cannot be localised more closely than the system as a whole. (This is why engineers refer to it as a virtual governor.)" (in HOOKER,C.1981 pg.508-509)

 

II.18.

 

"Now, if we happen to know what would be the effect of each cause when acting separately from the other, we are often able to arrive deductively, or a priori, at a correct prediction of what will arise from that conjuct agency...This condition is realized in the extensive and important class of phenomena commonly called mechanical, namely, the phenomena of the communication of motion from one body to another...I shall give the name of the composition of causes to the principle which is exemplified in all cases in which the joint effect of several causes is identical with the sum of their separate effects...This principle, however, by no means prevails in all departments of the field of nature. The chemical combination of two substances produces, as is well known, a third substance, with properties different from those of either of the two substances separately or of both of them taken together. Not a trace of the properties of hidrogen or of oxygen is observable in those of their compound, water...This explains why mechanics is a deductive or demonstrative science, and chemistry not...If this be true of chemical combinations, it is still more true of those far more complex combinations of elements which constitute organized bodies, and in which those extraordinary new uniformities arise which are called the laws of life. All organized bodies are composed of parts similar to those composing inorganic nature, and which have even themselves existed in an inorganic state, but the phenomena of live,which result from the juxtaposition of those parts in a certain manner, bear no analogy to any of the effects which would be produced by the action of the component substances considered as mere physical agents. To whatever degree we might imagine our knowledge of the properties of several ingredients of a living body to be extended and perfected, it is certain that no mere summing up of the separate actions of those elements will ever amount to the action of the living body itself." (in MILL,J.S.1950 pg.204-206)

 

II.19.

 

"Corresponding to the procedure in physics, the attempt has been made in biology to resolve the phenomena of live into parts and processes which could be investigated in isolation. This procedure is essentially the same in the various branches of biology. The organism is considered to be an aggregate of cells as elementary life-units, its activities are resolved into functions of isolated organs and finally psycho-chemical processes, its behaviour into reflexes, the material substratum of heredity into genes, acting independently of each other, phylogenetic evolution into single fortuitous mutations and so on. As opposed to the analytical, summative and machine theoretical, viewpoints, organismic conceptions have evolved in all branches of modern biology which assert the necessity of investigating not only parts but also relations of organisation resulting from a dynamic interaction and manifesting themselves by the difference in behaviour of parts in isolation and in the whole organism...Gestalt psychology has demostrated the existence and primacy of psychological entities, which are not a simple summation of elementary units, and are governed by dynamical laws...Behaviour as a whole and summative behaviour, unitary and elementalistic conceptions, are usually regarded as being antitheses. But it is frequently found that there is no opposition between them, but a gradual transition from behaviour as a whole to summative behaviour... The consideration of open systems is more general in comparison with that of closed systems; for it is always possible to come from open to closed systems by equating the transport terms to zero, but not vice versa. In physics, the theory of open systems leads to basically new, and partly revolutionary, consequences and principles. In biology it accounts, first, for many characteristics of living systems which have appeared to be in contradiction with the laws of physics, and have been considered hitherto as vitalistic features. Secondly, the consideration of organisms as open systems yields quantitative laws of basic biological phenomena, such as metabolism and growth, form development, excitation, etc.

In the case in which the variations in time disappear, systems become stationary...Open systems may, provided certain conditions are given, attain a stationary state...This is called steady state...Living systems are the most important examples of open systems and steady states... In most physical systems the final state is determined by the initial conditions...Vital phenomena show a different behaviour. Here, to a wide extent, the final state may be reached from different initial conditions and in different ways. Such behaviour we call equifinal." (in BERTALANFFY,L. 1950 pg.134-165)

 

II.20

 

"If to say that quality Q (or relation R) is absolutely emergent is to say that the law correlating Q (or R) with quantitative physical conditions is a priori unpredictable, it follows that absolute emergence is relative to a system of semantic rules. In this respect the concept of absolute emergence turns out to be surprisingly analogous to the concepts of indefinability and indemonstrability.

Is the relativist, then, wrong in denying the existence of absolutely emergent qualities? He is wrong if he denies the semantic truism that some descriptive terms must be given meaning by ostensive definition if it is to be possible to give meaning to any descrisptive terms by verbal definition. Perhaps he is right, on the other hand, in his claim that no descriptive term is, by some obscure kind of necessity, definable by ostension only." (in PAP,A. 1952 pg.310)

 

II.21.

 

"Gresham’s law says something about what will happen in monetary exchanges under certain conditions. I am willing to believe that physics in general in the sense that it implies that any event which consists of a money exchange (hence any event which falls under under Gresham’s law) has a true description in the vocabulary of physics and in virtue of which it falls under the laws of physics. But banal considerations suggest that a physical description which covers all such events must be widely disjunctive. Some monetary exchanges involve strings of wampum. Some involve dollar bills. And some involve signing one’s name to a check. What are the chances that a disjunction of physical predicates which covers all these events (i.e., a disjunctive predicate which can form the right hand side of a bridge law of the form ‘x is a monetary exchange <=>, if and only if,...) expresses a physical kind? In particular, what are the chances that such a predicate forms the antecedent or consequent of some proper law of physics? The point is that monetary exchanges have interesting things in common; Gresham’s law, if true, says what one of these interesting things is. But what is interesting about monetary exchanges is surely not their commonalities under physical description. A kind like a monetary exchange could turn out to be coextensive with a physical kind; but if it did, that would be an accident on a cosmic scale.

In fact, the situation for reductionism claims not only that all kinds are coextensive with physical kinds, but that the coextensions are nomologically necessary: bridge laws are laws. So, if Gresham’s law is true, it follows that there is a (bridge) law of nature such that ‘x is a monetary exchange <=> x is P’is true for every value of x, and such that P is a term for a physical kind. But surely there is no such law. If there where, then P would have to cover not only all the systems of monetary exchange that there are, but also the systems of monetary exchange that there could be; a law must succeed with the counterfactuals. What physical predicate is a candidate for P in ‘x is a nomologically possible monetary exchange iff Px ‘? (in FODOR,J. 1975 pg l5-l6)

 

II.22.

 

"For example, we can now characterize the respect in which reductionism is too strong a construal of the doctrine of the unity of science. If reductionism is true, then every kind is, or is coextensive with, a physical kind. (Every kind is a physical kind if bridge statements express nomologically necessary property identities, and every kind is coextensive with a physical kind if bridge statements express nomologically necessary event identities.)...I now want to suggest some reasons for believing that this consequence is intolerable. There are not supposed to be knock-down reasons; they couldn’t be, given that the question of whether reductionism is finally and empirical question. (The world could turn out to be such that every kind corresponds to a physical kind, just as it could turn out to be such that the property is transported to a distance of less than three miles from the Eiffel Tower determines a kind in, say, hydrodynamics. It’s just that, as thing stand, it seems very unlikely that the world will turn out to be either of these ways.)

The reason it is unlikely that every kind corresponds to a physical kind is just that (a) interesting generalizations (e.g., counterfactual supporting generalizations) can often be made about events whose physical descriptions have nothing in common; (b) it is often the case that whether the physical descriptions of the events subsumed by such generalizations have anything in common is, in an obvious sense, entirely irrelevant to the truth of the generalizations, or to their interestingness, or to their degree of confirmation, or, indeed, to any of their epistemologically important properties; and (c) the special sciences are very much in the business of formulating generalizations of this kind." (in FODOR,J. op.cit. pg.14-15).

 

II.23.

 

"A further consideration differentiates our models..(conexionistas)..from those inspired by the computer metaphor-that is, the constraint that all the knowledge is in the connections. From conventional programmable computers we are used to thinking of knowledge as bein stored in the state of certain units in the system. In our systems we assume that only very short-term storage can occur in the states of units; long-term storage takes place in the connections among units. Indeed it is the connections- or perhaps the rules for forming them through experience- that primarily differentiate one model from another. This is a profound difference between our approach and other more conventional approaches, for it means that almost all knowledge is implicit in the structure of the device that carries out that task rather than explicit in the state of units themselves. Knowledge is not directly acessible to interpretation by some separate processor, but it is built into the processor itself and directly determines the course of processing. It is acquired through tuning of connections as these are used in processing, rather than formulated and stored as declarative facts...A second class of constraints arises from our beliefs about the nature of human information processing considered at a more abstract, computational level of analysis. We see the kinds of phenomena we have been studying as products of a kind of constraint-satisfaction procedure in which a very large number of constraints act simultaneously to produce the behavior. Thus we see most behavior not as the product of a single, separate component of the cognitive system but as the product of large set of interacting components, each mutually constraining the others and contributing in its own way to the globally observable behavior of the system." (RUMELHART,D. in POSNER,M.1989 pg.135-136)

"As far as public visibility goes, the modern era in neural networks dates from the publication of this paper...The standard approach to a neural network is to propose a learning rule, usually based on synaptic modification, and then to show that a number of interesting effects arise from it. Hopfield starts by saying that the function of the nervous system is to develop a number of locally stable points in state space. Other points in state space flow into the stable points (called attractors). This allows a mechanism for correcting errors, since deviations from the stable points disappear. It can also reconstruct missing information since the stable point will appropriately complete missing parts of an incomplete initial state vector...The dynamics of evolution of the system state follows a simple rule and is asynchronous. An element, chosen at random, looks at its inputs, and changes state, depending on whether or not the sum of its input is above or below threshold. It can be seen from the form of the energy term that a state change leads either to a decrease in energy or to the energy remaining the same. The updating rule is, therefore, an energy minimizing rule. Modifications or element activities continue until a stable state is reached, that is, a energy minimum is reached." (in ANDERSON,J. e ROSENFELD,E. 1989 pg.457-458)

 

II.25.

 

(a) "A stronger, but still epistemic, sense of indefiniteness of the class of instances is given by any case where the reducing theory cannot provide explicit analytic descriptions of its system behaviour. If the mechanical n-body system is unsovabel in this sense, most micro-mechanical reductions will be examples of this kind of indefiniteness. But these situations provide no case for refusing to reduce the behaviour of a system to the behaviour of its constituents, it is rather simply a case of the logical inaccessibility of certain kinds of description of that behaviour. Where analytic functions are required as reduction functions this reduction must rest content with relatively more determinable property identities."

(b) "There is a sense in which explanation of the most specific events is limited, for the specific events which constitute the actual history of our world are not uniquely determined by general laws, in present theory, but by these in conjunction with unexplained initial conditions. In this sense, events are only explainable relatively to other events.This limitation perhaps explains the feeling that explanations are not truly general in the relevant sense, shich in tur may underlie the feeling that there are only specific, as opposed to (not instances of) general identities. Not until a categorial theory is developed, i.e. one which determines a particular condition of the world as the only nomicly possible one, will this limitation be escaped. This of course may neve happen (it is not even obviously internally coherent). What should be clear however is that there is a matching limitation on both sides of the reduction and that it is irrelevant to the nature of the reductive identity relation." (in HOOKER,C. o.cit. pg.52l)

 

 

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