Fundamentos para uma estratégia cognitivista

 

Henrique Del Nero (1992)

 

 

O objetivo de todo este trabalho é situar o problemada relação mente-corpo no âmbito da Ciência Cognitiva.

Ao contrário do que possa ocorrer em muitas áreas do conhecimento, o encaminhamento de problema da mente carece de uma posição ontológica, epistêmica e metodológica bem definidas. Neste capítulo, procuro defender a posição que chamo de Realismo pragmático ou estratégia científico-filosófica para a abordagem cognitivista. Adoto ainda duas posições específicas quanto ao problema do significado e do homúnculo.

 

I.1. O REALISMO PRAGMÁTICO.

 

O tratamento da relação entre a mente e o corpo (cérebro) e entre a Psicologia e a Neurologia são o ponto central da Ciência Cognitiva. De modo bastante simplificado pode-se dizer que essa diciplina reúne o conhecimento de várias outras num projeto que pode ser rotulado como "epistemologia empírica". Entender exatamente o que significa isso, lançando uma base doutrinária para a Ciência Cognitiva, significa exatamente adotar uma determinada rstratégia em relação ao problema mente-corpo.

De modo resumido creio haver três enfoques ou estratégias para o tratamento desse problema:

 

I) estratégia científica (EC): essa pode ser chamada a atitude do cientista despreocupado com questão de fundamentos, por exemplo o neurofisiologista que estuda junções sinápticas, o patologista que estuda lesões no cérebro, o psicólogo que estuda condicionamento operantes, etc. Abandona-se a tentativa de unificação de conhecimento sobre o físico e o mental, forjada à custa de reflexão sobre fundamentos, esperando que a massa de informação empírica tenda a diluir as fronteiras com o passar do tempo. A reflexão sobre fundamento e priori tende a ser vista como uma questão estéril ou como uma posição de gosto pessoal. Nesse ambiente não se incorre em contradição ao pesquisar potencial de membrana neuronal e se defender uma postura "espiritualista" para os impasses do mental.

 

ii) estratégia filosófica (EF): ao contrário da anterior, essa postura se preocupa exclusivamente com as questões de fundamento, de reflexão e priori acerca das perplexidades da relação entre a mente e o corpo, procurando, longe de qualquer informação acerca dos avanços atuais da Psicobiologia e de outras disciplinas afins, fazer uma reflexão puramente formal, analítica e argumentativa das descontinuidades entre mentalismo e fisicalismo, entre extensionalidade e intensionalidade, entre proposições que se referem a qualidades secundárias, i.é., sensação, percepções, etc e linguagem extensional-física.

O espirito desse tipo de estratégia é de que, na ausência de uma fundamentação clara sobre os limites que distinguem o físico e o mental, não haverá dado empírico que possa nortear o encaminhamento da solução, donde o quase comleto desprezo pelas informações que advém das ciências empíricas.

 

iii) estratégia científico-filosófica (ECF): uma terceira maneira de encarar o problema seria justamente a tentativa de unificação das virtudes, e também o abandono dos defeitos, das duas primeiras, i.é., da EC e da EF. Essa é, na minha opinião, a tônica do projeto de construção de uma Ciência Cognitiva.

 

Voltemos rapidamente às três estratégias para completar alguns pontos pertinentes:

I ‘ ) Ao contrário do que possa aparecer a estratégia científica é compatível tanto como uma forma de materialismo quanto com outras posturas metafísicas, e.g., dualismo substancial, neutralismo, etc. Simplesmente o que se faz é abandonar a tentativa de solução a priori da relação entre o corpo e a mente, estratificando o conhecimento através da unidade interna das teorias, de seu poder explicativo e preditivo, de sua coerência e consistência, de sua utilidade.

As questões que dizem respeito à natureza das entidades consideradas são simplesmente abandonadas no corpo das teorias, para no fim dos trabalhos assumirem a feição de escolha mais ou menos dogmática. Por exemplo, constroem-se teorias sobre a química neuronal, sobre a função do lobo temporal, sobre a vivência de tempo nas depressões melancólicas, sobre o comportamento dos agentes econômicos face ao lucro, sobre os períodos da história, sobre características arquetípicas de um povo em relação ao trabalho, sobre as guerras, sobre o comportamento de um sistema juridico face a uma constituição, lançando-se em seguida explicações, predições "leis", hipóteses, especulações sobre cada um desses níveis, ou sobre cada um dos objetos em questão, sem se preocupar com a questão do fundamento ontológico dos termos que ocorrem nessas teorias. Finalmente, se assim o quiser, o autor de cada uma dessas correntes propõe uma base metafísica para seu trabalho, alcunhando-se monista, dualista, emergentista para predicados e não para substâncias, "organizacionista", neutralista, etc. O que me importa sugerir é que as posições metafísicas não são internas e vinculadas às teorias (num sentido amplo) propostas. São quase preferências pessoais. Alguns autores, quando mais refinados filosoficamente, podem até mesmo defender teses de que há uma clara dissociação entre a vocação dogmático-idiossincrático-metafísica de base e as teorias propostas. À finalidade das teorias é recortar e explicar adequadamente alguma região do real ou do fenomênico. A questão de ser é outra.

Interessanre notar que nesse item podemos colocar a neurofisiologisa e a psicanálise. O behaviorimo e a medicina dos "florais" que alteram o comportamento. A alopatia e a homeopatia. Uma "psicologia" esotérica e a genética molecular. Por que? Porque os autores não incorporam no corpo de suas "teorias" a estrita observação de certos fundamentos metafísicos, como por exemplo o monismo, conferindo o estatuto epistêmico às proposições com base apenas na sua coerência e funcionalidade. Nesse sentido posso dizer que a teoria da homeopatia é coerente, consistente, ets, embora o pressuposto metafísico seja no mínimo discutível. De maneira resumida pode-se dizer que posturas que deixem a questão ontológicas como um corpo dissociado da teoria, como matéria de preferência pessoal, bem como posturas que multipliquem substâncias para explicar a relação corpo-mente, são todas más estratégias segundo minha visão. Mesmo que positivem um nível, que façam defesas apaixonadas de uma posição metafísica, há uma clara dissociação entre uma série - ontológica - e outra, chamemos teórico-epistêmica.

Esse caso, a meu ver, de grande parte das teorias que versam direta ou indiretamente sobre o problema mente-corpo ou cultura-natureza. Tememos alguns exemplos:

a) FREUD propõe claramente que algum dia haverá uma neurofisiologia que embase suas teorias. No "Projeto de uma Psicologia para Neurologistas" afirma que a finalidade do projeto é a de "estruturar uma psicologia que seja uma ciência natural" . Define então duas entidades centrais: "N"=neurônios como partículas materiais, "Q"=quantidade, enunciando então o princípio de inércia neuronal, segundo o qual os neurônios tendem a descarregar-se da quantidade. Todo o restante do trabalho fará uma cuidadosa divisão entre tipos de neurônios, tipos de descarga, etc. O que nos interessa aqui não é examinar esse trabalho, nem a obra de Freud, mas apenas destacar algumas de suas características. À concepção de descarga, de catexia, etc, são noções que empresta de algumas teorias físicas do século XIX, particularmente de Maxwell, para tentar embasar suas doutrinas. Suas concepções de neurofisiologia são absolutamente primitivas e erradas. Não há possibilidade, a meu ver, de associar o esboço de Psicologia neurofisiológica do "Projéto" com outras noções capitais tal como recalque, transferência, complexo de Édipo, etc. O que o autor faz é tentar fundamentar, como que numa profissão de fé materialista, um corpo teórico que não traz no seu interior, entenda-se - a obra como um todo -, nada que ralacione a ontologia materialista do "Projeto" e o caráter epistêmico-metodológico de sua obra, seja a primeira, seja a segunda Tópica.

b) KELSEN em sua "Teoria Pura do Direio" visa a construir uma teoria científica do direito positivo, uma teoria que descreva, por exemplo, como as proposições internas, que exprimem regras jurídicas, não são afirmações indiscriminadas, ma factuais cuja verdade pode ser empiricamente verificada. Estabelece uma diferençá radical entre causalidade, o princípio que estabelece a relação entre A e B nas ciência naturais, e imputação, ou dever ser, o princípio que estabelece a relação entre A e B nas ciências sociais:

"Somente na medida em que o Direito for uma ordem normativa da conduta dos homens entre si pode ele, como fenômeno social, ser distinguido da natureza, e pode a ciência jurídica, como ciência social, ser separada da ciência da natureza"

O autor nos faz crer que há uma radical diferença entre mundo natural e mundo social, do qual o direito faria parte, qualificando uma propriedade distintiva - vontade - que delimitaria o natural e o social.

"Na proposição jurídica não se diz, como na lei natural, que, quando A é, B é, mas que, quando A é, B deve ser, mesmo quando B, porventura, efetivamente não seja. O fato de o significado da cópula ou ligação dos elementos na proposição jurídica ser diferente do da ligação dos elementos na lei natural resulta da circunstância de a ligação na proposição jurídica ser produzida através de uma norma estabelecida pela autoridade jurídica - através de um ato de vontade, portanto -, enquanto que a ligação de causa e efeito, que na lei natural se afirma, é independente de qualquer intervenção dessa espécie."

O autor no entanto parece não se conformar com essa divisão radical entre mundo natural e mundo social mediadapelas dicotomias causalidade/ imputação, não volitivo/ volitivo afirmando então:

"Mas não há uma razão suficiente para não conceber a conduta humana também como elemento da natureza, isto é, como determinada pelo princípio da causalidade, ou seja, para a não explicar, como os fatos da natureza, como causa e efeito. Não pode duvidar-se de que uma tal explicação- pelo menos em certo grau- é possível e efetivamente resulta. Na medida em que uma ciência que descreve e explica desta forma a conduta humana seja, por ter como objeto a conduta dos homens uns em face dos outros, qualificada de ciência social, tal ciência social não pode ser essencialmente distinta das ciências naturais."

Àqui parece haver uma separação de regiões no fenômeno social: aquelas apreensíveis pelas ciências naturais, quase afirmando ser o homem um ser natural, e outras, embasadas pelo princípio da vontade, (vide a expressão "ser possível em certo grau"na citação acima), diversas ou não explicáveis pelas leis naturais. As perambulações ontológicas do autor, ressalte-se ser ele nome angular em toda a argumentação acerca da natureza e estatuto do Direito como ciência, culminam no seguinte ponto:

"Essa distinção...(natural-social...desaparece nos quadros de uma mundividência metafísico-religiosa. Com efeito, por força dessa mundividência, a ligação de causa e efeito é produzida pela vontade do divino Criador. Portanto, também as leis naturais descrevem normas nas quais se exprime a vontade divina, normas que prescrevem à natureza um determinado comportamento. E, por isso, uma teoria metafísica do Direito crê poder encontrar na natureza um direito natural. No entanto, nos quadros de uma mundividência científica, dentro dos quais apenas pode achar lugar uma teoria positivista do Direito, a distinção entre lei natural e proposição jurídica deve ser sustentada e acentuada com firme decisão."

Sem pretender novamente analisar a obra de Kelsen, algumas consqüência saltam aos olhos. Primeiramente, faz-se uma distinção entre científico e metafísico-religioso o que, ao meu ver, é um erro grosseiro pois nem toda metafísica é necessariamente religiosa, nem há ciência sem alguma forma de metafísica subjacente.Segundo faz-se uma concessão à possibilidade de alguns comportamentos sociais serem explicados pelas leis naturais e outros não, sem contudo explicar o que está na base dessa descontinuidade. Seria por exemplo a vontade que demarcaria essas duas regiões do social? Mas então há que ser fundamentar ontológicamente o que é a propriedade da vontade em contraposição a outros comportamentos. Terçeiro, a metafísica religiosa preserva a noção de vontade, transferindo-a para o Criador, mantendo dessa forma a unidade entre lei natural e lei social. Contrariamente a "mundividência"científica nega a continuidade-identidade, pelo menos completa, entre lei natural e lei social, inserindo sob o rótulo de "científico" noções tais como imputação, vontade, etc, sem a devida explicação de como se instanciam ontológicamente esses conceitos.

A ‘noção de ciência em Kelsen é a de suporte factual e verificabilidade empírica e não a de justificação ontológica da descontinuidade entre o natural e o social, embora insista todo o tempo em fazer afirmações que ora compatibilizam os dois mundos, ora os incompatibilizam. Creio que uma tese, como a concepção de Direito Positivo como a de Kelsen, que propõem a verificação empírica como fundamento da cientificidade, não explicando a descontinuidade entre as leis e propriedades do natural e do social, é uma tese epistemológica-instrumental e a ontologia subjacente, no caso do autor, é novamente um exemplo de preferência pessoal.

Note-se que na EC posso colocar teorias dos mais variados domínios. O que caracteriza essa estratégia é uma falta de relação uniforme e consistenye entre posturas otológicas e aspectos epistêmicos.

c) um terceiro caso que exemplificaria o que chamo de estratégia ciêntifica é o da Psiquiatria Biológica.

Descontentes com as especulações das doutrinas psicológicas e psicopatológicas ( psicanálise, doutrinas psicodinâmicas) sem teoria, leis e hipóteses fortes no sentido da explicação e predição de comportamentos, bem como descontentes com a falta de correlação sistemática entre distúrbio comportamental e estrutura cerebral subjacente, vários autores propõem a chamada Psiquiatria Biológica, assentando seu método em correlações estatísticas entre uma série de variáveis, e. g., a relação entre metabólitos de sbstâncias neuro-transmissoras (nor-adrenalina) e quadros de depressão. No entanto, continua-se a usar uma série de parâmetros descritivo-fenomenológicos para avaliar alterações comportamentais, uma série de hipóteses ambientais e contextuais para corrigir desvios de predição e explicação e uma neurofisiologia bastante simplista no que tange ao substrato de funções nervosas superiores (comportamentais). Diante das dificuldades de relacionar todos esses dados, diante da falta de suporte teórico que unifique e interrelacione esses três níveis, os autores respondem ecumênicamente às iindagações de cunho ontológico sobre cada um desses níveis: oser é bio-psicosocial. A Psiquiatria Biológica é organicista, mas não no sentido da explicação de todos esses fenômenos através do "órgão" cérebro, mas sim da "organização" cerebral . Novamente sem uma teoria da organização, sem uma teoria da relação entre todos esses níveis, "ontologias" dessa espécie são dissociadas do corpo "teórico" ou dos achados de correlações que se têm até o momento na disciplina.

Esse tipo de teoria é compatível com qualquer ontologia, dualista ou monista , por exemplo. John Eccles, um dos mais brilhantes neurofisiologistas desse século, advoga uma ontologia dualista substancial. Isso não impede que seu trabalho seja extremamente rico do ponto de vista da neurofisiologia. Pode-se assistir a debates intermináveis entre defensores de uma e de outra corrente ontológica, i.é., monismo e dualismo, porém, interessa-me mostrar apenas que, do ponto de vista das teorias e do conhecimento específico de cada área, esse tipo de dissociação entre achados empíricos e ontologia não esteriliza o trabalho. A ciência progride em certas áreas específicas apesar da inconsistência das posições ongológicas de seus protagonistas, porém para o problema da relação entre a mente e o corpo, tal atitude, EC como chamei, tende a obscurecer o debate. Para uma Ciência Cognitiva não se pode tolerar o grau de inconsistência ontológica do fazer típico da estratégia científica.

Duas são portanto as falhas do EC: primeiramente, pela falta de consistência ontológica não há nessa estratégia uma direção clara do projeto a seguir para questões complexas e, por vezes, tão-somente acessíveis interdisciplinarmente, como é o caso do problema do mental em Ciência Cognitiva. Segundo, EC não oferece um critério de distinção ontológica entre o "bom conhecimento" e o "mau conhecimento". Se tivermos uma concepção instrumental ingênua de ciência, baseada numa concepção também primária de eficácia não teremos grandes meios de distinguir entre uma doutrina dos florais e a neurofisiologia molecular. Pelo princípio de sugestionabilidade a "teoria" ignorante e antropomórfica é mais aceitável, e por vezes "mais eficaz, que a "boa ciência". Há que se lembrar que nem sempre o que é mais freqüente, mais aceito e mais "útil" é o melhor. Se assim o fosse poder-se-ía dizer que um plebiscito sobre o geocentrismo é justificável e de que o princípio de eficácia e aceitação devem nortear nossa concepção acerca dos fundamentos da ciência.

Creio que se uma ontologia fortemente comprometida com a atividade teórico-experimental não temos como resolver impasses fundamentais como o problema corpo-mente. Portanto a ciência progride em EC mas a falta de intercâmbio entre ontologia e eistemologia, que é característica dessa estratégia, torna certos impasses do conhecimento questão de fé e não de ciência e de boa filosofia.

 

 

ii’) Em EF encontramos uma forma de reflexão diametralmente oposta à natureza da relação corpo-mente.

Bem certo está que devemos inicialmente colocar o problema da seguinte forma: há diferença entre termos, entidades, estados e processos mentais e físicos? A questão se reveste de múltiplas respostas porém podemos inicialmente dizer que há dois aspectos em jogo: sentido e referência. A impossibilidade de traduzir expressões mentais em expressões físicas, sem que com isso se perca o significado das primeiras parece ser fato aceito por todas as cdorrentes. A questão da referência dos estados mentais e dos estados físicos parece ser outra. Aqui há clara distinção entre aqueles que propões haver unicidade de referentes, i.é., os referentes para ambas as expressões seríam de uma determinada natureza e outros que propõem haver também multiplicidade de referentes, i.é., referentes de variadas naturezas.

Um caso exemplar e clássico na literatura para se entender o problema da relação entre sentido e referência é o conjunto de expressões "A Estrêla da Manhã é a Estrêla da Manhã", "A Estrêla da Manhã é a Estrêla da Tarde" e "A Estrêla da Manhã e a Estrêla da Tarde são o planêta Vênus". A primeira expressão é verdadeira em virtude de sua forma (analítica), não dependendo de inspeção empírica. A segunda é verdadeira em virtude de inspeção empírica ingênua. A terceira é verdadeira em virtude de uma forma de inspeção empírica mais sofisticada, científica, que nomeia astros, que os ordena em sistemas e que mais ainda prevê sua descoberta em função de um conjunto de necessidades antes mesmo que tenham sido observados. A distinção entre sentido e referência é simples. Embora o referente para as três expressões seja o planêta Vênus o sentido das expressões é diferente.

Para o caso da distinção entre o mental e o físico afirma-se geralmente o seguinte: tome-se por exemplo a expressão "João sente dor na nuca" e "João tem um estado elétrico "A" ocorrendo em suas fibras nervosas no instante t". Suponha-se que a exata natureza do processo doloroso de João esteja corretamente descrita pela proposição fisicalista, sendo o referente de ambas as expressões o mesmo. Há contudo que notar que João sabe se sente dor ou não, se a primeira proposição verdadeira ou falsa, devido ao "acesso privilegiado" que tem a seus estados mentais, sem no entanto ter qualquer condição de saber falso ou verdadeiro o que se passa em suas fibras nervosas.

Devemos portanto ressaltar que uma das grandes fontes de discussão em EF provém da defecção entre referência e significado, i.é., daquilo que decorre quando duas expressões são co-extensionais porém não são sinônimas. Do ponto de vista lógico a co-extensionalidade me garante que falo do mesmo objeto, porém cada sentença tem um modo particular e diferente de interpretação à luz do seu valor da verdade, daí a assinonímia.

A diferença entre referência e significado me parece estar na base de grande parte do debate atual sobre a relação mente-corpo na EF. É uma diferença que se situa no interior de duas linguagens, sendo portanto melhor chamá-la de relação mentalismo-fisicalismo e deixar claro que o problema em questão é eminentemente semântico.

 

 

Enfoques Filosóficos Da Relação Mente-Corpo

 

Faço a seguir um breve resumo das soluções do problema mente-corpo no interior do que chamo de estratégia filosófica.

Podem-se dividir esquematicamente as abordagens em dois grandes grupos: M- Solução monistas (há apenas uma substância, um unico ser, que embasa o físico e o mental) e D- soluções dualistas (há mais de uma substância).

 

Para M ou monismo psico-físico temos:

 

M1. Idealismo, panpsiquismo, fenomenismo.

A substância que referenda todas as sentenças é a mental. Não haveria outra substância, como a matéria, porque dos objetos temos apenas representações em nossas mentes.

 

M2. Monismo neutro, teoria do duplo aspecto.

O físico e o mental são aspectos, manifestações ou descrições linguísticas de uma única entidade que não é nem física nem mental. A diferença entre mental e físico - e particularmente sua irredutibilidade no que tange ao sentido das proposições fisicalistas e mentalistas -, se deveria a problemas de linguagem.

 

M3. Materialismo eliminativo e Behaviorismo.

Os termos ou estados mentais seriam destituídos de referente , seriam destituídos de referente , seriam pseudo-problemas, ou não recortariam espécies ou tipos naturais. Nesses casos a impossibilidade de indentificação de espécie ou tipos mentais em relação à espécies ou tipos físico-neurais se deveria ao fato de que os "tipos" mentais não são tipos naturais. Seriam recortes arbitrários, úteis para uma Psicologia de senso-comum porém não delimitariam regiões homogêneas da natureza.

Propõe-se aqui a reformulação das categorias mentais de tal sorte que as tornassem tradutíveis e identificáveis com as categorias físico-neurais, ou simplesmente sua eliminação. Há ainda a ipótese de que não se pudesse jamais expandir semanticamente a linguagem dos eventos mentais (mentalismo) de tal sorte a torná-la identificável e tradutível na linguagem dos eventos físicos (fisicalismo) pois o mentalismo estaria irremediavelmente comprometido, nas suas bases, co teses metafísicas dualistas. Assim, a linguagem mental, embora útil para a comunicação humana e para uma psicologia de senso-comum, constituiria barreira a ser eliminada se se quiser construir uma Psicologia científica. A versão behaviorista propõe considerar proposições mentalistas e internas como destituídas de sentido e reduzir todo o significado das expressões mentais e sinais externos.

 

M4. Materialismo fisicalista ou reducionista.

Partindo do primado das ciências físicas sobre as outras defende-se a unidade da ciência numa mesma linguagem - a saber, a linguagem da Física - ou num mesmo corpo de propriedades, i.é., as propriedades básicas da Física.

Todos os anunciados das ciências seriam tradutíveis e explicáveis através do fisicalismo ou de certos predicados como por exemplo coordenadas espaço-tempo ou das propriedades e leis da Física.

Os impasses que há na unificação da própria Física, bem como a idéia de redução de instâncias (type-reduction) ou redução de propriedades (type-reduction) será abordado em outros pontos desse trabalho.

 

M5. Materialismo emergentista.

O mental é um conjunto de funções e atividades emergentes de cérebro, i.é., embora haja aceitação de que o processo é físico, de que se realiza num sistema físico, não há como explicar os processos mentais pelas leis, propriedades e linguagem da física pois há que se considerar o tipo peculiar de organização do sistema e a possibiloidade de que um mesmo estado lógico pode ser realizado por diferentes estados físicos (funcionalismo).

 

Para D ou dualismo psico-físico temos:

 

D1. Autonomia completa de físico e do mental.

De uma certa maneira não há sentido em falar de substâncias. Devemos tomar cada recorte do conhecimento independentemente e procurar nos limites daquele sistema e daquela linguagem resolver-lhe os problemas. Nessa ocepção o problema mente-corpo é sem significado. Uma coisa é a mente e outra é o corpo.

 

D2. Paralelismo psico-físico.

De acordo com uma harmonia pré- estabelecida (normalmente pelo Criador) as duas séries - i.é. os eventos mentais e os eventos físicos - se comportariam como dois relógios que em nada interagem mas que marcam sempre a mesma hora. A sicronização dos eventos mentais e dos físicos se deveria a uma harmonia universal entre as duas séries. Não haveria interação entre um e outro.

 

D3. Epifenomenalismo.

A mente seria um sintoma da atividade física, compar’vel à fumaça de uma máquina a vapor. Haveria total dependência da mente em relação à cadeia causal de eventos físicos, sendo os eventos mentais apenas sub-produtos, i.é. intermediários ou de segunda categoria.

O mundo físico sería um sistema autônomo e regular, portanto seria possível, em princípio, dar conta de todos os eventos do mundo, incluindo aqueles ditos mentais, simplesmente usando leis e propriedades físicas.

D4. Animismo.

A mente anima, controla ou afeta os objetos físicos, sendo responsável por algumas de suas qualidades intrínsecas. A explicação do mental deve portanto atentar para o fato de que há algo intencional e teleológico no comportamento dos objetos materiais.

D5. Interacionismo.

Há interação entre o mental e o físico, através de conexões de causalidade, embora sejam de naturezas diversas. Em descartes a essência da substância mental é ser uma coisa que pensa e a essência da coisa física é ser algo dotado de extensão no espaço. Porém não é preciso aceitar a noção de substância mental para ser interracionista. Um exemplo interessante relaciona estados mentais e eventos metereológicos. Podemos dizer que eventos metereológicos causam alterações no clima, embora saibamos que o clima nesse sentido não é nenhuma espécie de substância. Da mesma forma, eventos físicos causariam alterações mentais, e vice versa, sem que isso implicasse ser o mental uma substâncias.

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As doutrinas resumidas acima são exemplos, em muitos casos, do que chamo de estratégia filosófica (EF). Aqui vemos a predomonância de um árduo trabalho analítico, linguístico e formal no sentido de estabelecer alguma solução para o problema. Não pretendo ser ingênuo em minha crítica mas EF parece abordar o problema por um ângulo que talvez o torne não-analisável, uma espécie de anomalia. Seja pseudo-problema ou não, nenhuma corrente jamais ofereceu solução satisfatória.

Vejo EF como tendo a virtude de abarcar o debate filosófico sério, o fazer "ontologia" e relacioná-la a outras esferas (epistêmicas, metodológicas, linguísticas) de modo sofisticado, porém, em que pese o amor pela reflexão pura, parece-me que a estratégia tem contra si o fato de não ter dado respostas mais claras para o problema mente-corpo. Mas ainda, e aqui situaria uma das pedras angulares desse trabalho: os dados científicos de que se utilizam a maioria dos autores em EF são primários. Minha posição é de que a Filosofia (EF) deve contribuir de modo refinado na organização, análise e fundamentação do dado científico (proveniente de EC), porém se EC quando faz ontologia o faz de modo pedestre, EF quando trabalha com ciência, no que diz respeito à relação mente-corpo, o faz como se o operador "cérebro" fosse uma termo simples de análise. Pode-se dizer que a informação empírica não pode resolver nem aclarar questões tão fundamentais, porém se as teorias co-evoluem, se existe auxílio e enriquecimento mútuo entre diferentes teorias sobre um mesmo objeto, podemos pensar que possa haver co-evolução entre teorias científicas sobre o cérebro e o problema mente-corpo.

Desse conjunto de comentários podemos seguir para ECF que será algo parecido com uma condensação de EC e de EF, uma espécie de fazer ciência, filosoficamente orientado, sem previlégios ou primado para nenhum dos dois pólos, ou se houver, que seja para o primado da fundamentação de todo e qualquer conjunto de afirmações dentro de um corpo amplo, coerente e concatenado de hipóteses, mas que ainda assim possa ela - a nova estratégia - conter mecanismos através dos quais a experiência e os achados possam verificar, refutar e remodelar.

 

iii’) A estratégia que chamo científico-filosófica ou ontológica tem um exemplo claro nos dias de hoje. A chamada Ciência Cognitiva é uma área inter-diciplinar que reune os seguintes campos: filosofia, neurociência, inteligencia artificial, psicologia, linguística e antropologia. Seus objetivos são basicamente os seguintes:

a) resgatar a noção de mental como processo intermediário entre os aportes sensoriais e as respostas comportamentais;

b)criar modelos explicativos, i.é. máquinas reais ou abstratas, através do uso da Inteligência Artificial, que simulem ou dupliquem o comportamento superior (psicológico) do homem;

c) propiciar a co-evolução das teorias nas diciplinas participantes. Por exemplo, se há uma função no cérebro e a consigo reproduzir em um modelo computacional, o resultado pode me levar a rever a neurofisiologia que embasa aquela função, atentando para o tipo de arquitetura que realiza a simulação.

 

A noção de co-evolução de teorias é fundamental nesse item. Clifford HOOKER, o autor de um dos mais importantes trabalhos sobre teoria da redução que fundamentará grande parte dessa dissertação, inspirado por Wimsatt, afirma "redução é uma estratégia científica positiva e produtiva, não apenas um preciosismo de filósofos." o exemplo da termodinâmica e da mecânica estatística, um dos preferidos quando se pedem exemplos de redução e da co-evolução:

"Finally, the thermodynamics-to-statistical mechanics reduction dysplays another widespread and important feature: mutual evolutionary feedback between reducing and reduced theories. First, the mathematical development of statistical mechanics has been heavily influenced precisely by the attempt to construct a basis for the corresponding thermodynamical properties and laws, E.g., it was the discrepancies between the Boltzmann entropy and thermodynamical entropy that led to the development of the Gibbs entropies, and the attempt to match mean statistical quantities to thermodynamical equilibrium values which led to the development of ergodic theory. Conversely, however, thermodynamics is itself undergoing a process of enrichment through the injection ‘back’ into it of statistical mechanical constructs, e.g., the various entropies can be injected ‘back’ into thermodynamics, the differences among them forming a basis for the solution of the Gibbs paradox."

 

Entenda-se, portanto, que noção de redução e a de coevolução caminham juntas. A ECF deve trabalhar dentro de uma perspectiva monista reducionista porque: a) a tentativa de redução da mente ao corpo, ou da Psicologia às Neurociências, faz com que ambas as áreas co-evoluam, como no exemplo de Hooker, de tal sorte que se não houver redução completa, terá havido enriquecimento mútuo das teorias de cada nível; b) a solução reducionista é mais difício porque, ao mesmo tempo que unifica a substância, tem que dar conta de todos os impasses tradicionais da relação entre a mente e o corpo. Isso, ao contrárioda solução trivial imediata de postular rupturas entre o mental e o físico, obriga-nos a reduzí-las ao mínimo e, se persistirem ainda assim, apontar onde, como e porque ainda persistem.

 

Um outro exemplo de c-evolução é o da redução da genética Mendelliana à genética molecular. Em que pese o argumento de alguns autores de que esse é um falso caso de redução, Hooker defende duas posições:

a) não é um caso de micro-redução mas sim de redução de instâncias e redução uniforme sistêmica (tipos de redução que serão abordados no capítulo II).

b) o exemplo da co-evolução mostra claramente que alguns princípios tais como operon, cistron, etc, são introduzidos na genética Medelliana para dar conta de certas questões colocadas pela genética molecular. Alguns mecanismo gênicos são de segunda ordem não resultando imediatamente características macro-fenotípicas. Dependem para se desenvolver de certas condições ecológicas. O papel e a especificação do ambiente na produção de uma caracteristicafenotípica final é o grande enriquecimento da genética Mendelliana através da genética molecular.

 

Em Ciência Cognitiva podemos citar alguns trabalhos como exemplos parciais de ECF no encaminhamento problema mente-corpo:

a) o trabalho sobre visão de David MARR, fundamental para guiar a pesquisa neurofisiológica sobre a visão, bem como assentar algumas bases para a discussão entre sentencialista e adeptos da teoria das múltiplas representações (particularmente imagética).

b) Os trabalhos de JOHNSON-LAIRD e de KAHNEMAN e TVERSKY, fundamentais para uma revisão da noção de que nossos processos mentais e cognitivos se comportam de acordo com as leis do cálculo de predicados, como apontam alguns autores da corrente "representacionalista-simbólica" da mente, particularmente PYLYSHYIN e FODOR. A noção de racionalidade única se vê abalada, de um lado com certos desenvolvimentos da lógica desse século, e de outro, com certos achados experimentais, entre os quais estão os trabalhos citados acima.

c) Gerald EDELMANN lança a hipótese de que haja seleção, nos moldes da seleção natural, entre os neurônios cerebrais. Através de uma série de argumentos reforça sua teoria, acabando por consolidá-la com simulações em computador que mostram a verossimilhança da hipótese (darwinismo neuronal). O trabalho, entre outras virtudes, toca num dos problemas angulares da filosofia - o binômio inato/adquirido. Toca no, entanto, sob o prisma de uma trabalho que reune virtudes de uma EC já à caminho de ECF.

d) Os trabalhos em redes neurais, como citava anteriormente, representam particularmente o que chamo de ECF: procuram construir máquinas similares estruturalmente ao sistema nervoso central; simulam processos que dão conta de tarefas tais como apreddizado, estabilização numa determinada direção de conduta, etc. Mais introduzem hipóteses que, por vezes, fazem os neurocientistas voltarem ao SNC à neurociência de base. Finalmente teorias como a da harmonia de SMOLENSKY têm conseqüências cruciais para o conhecimento: a noção de transformação via regras sintáticas dá lugar à transformação via vetores, matrizes, equações diferenciais. A noção de estabilidade, ou relaxamento, de uma determinada estrutura em redes neurais pode explicar a concepção naturalista ou prototípica dos conceitos-categorias (aquela que vê as categorias como quase-conjuntos com representantes mais e menos típicos e com contornos não tão bem delimitados), enquanto que a representação digital da Inteligência Artificial tradicional dá melhor conta da concepção clássica de conceitos-categorias (aquela que estabelece uma propriedade essencial para eles).

Os dois caminhos acima, concepção naturalista das categorias e redes neurais/concepção clássica das categorias e IA tradicional tem repercussões vitais do ponto de vista de fundamentos para a relação mente-corpo: devemos nos fixar em teorias que privilegiam a representação de formas perfeitas ou devemos pensar que as formas são arranjos mais ou menos estáveis, atendendo a requisitos contingentes de oressão ambiental?

A resposta pode seguir a via EC e acumular uma montanha de dados científicos, sem no entanto ter o devido arsenal filisófico para a análise de como os dados apontam para uma solução ou para outra. Pela via EF corre-se o risco de privilegiar a coêrencia argumentativa das hipóteses sem contudo atentar para onde aponta a evidência empírico-científica.

 

A estratégia científico-filosófica além de reducionista, pelas razões já apontadas, deve ser multidisciplinar. Por que? Simplesmente porque o problema mente-corpo gerou problemas e soluções em inúmeras disciplinas e portanto há que se resgatar todos as perspectivas particulares no afã da redução e da unificação.

Imaginem-se áreas menos problemáticas do conhecimento: EC eEF deram soluções mais do que satisfatórias porém, para problemas como o da relação entre corpo e mente, psicologia e neurociência, vemos uma produção de séculos que parece não ter apontado senão para soluções genéricas. Quando digo que sou "holista"devo contextualizar o termo, mostrar o porque de continuidades e rupturas entre mental e físico. Devo inserir na teoria o exato limite da redução e o exato ponto em que a emergência aparece. Somente assim se pode eliminar a aparente idiossincrasia na escolha de uma posição em detrimento da outra. É justamente porque os problemas cruciais de uma certa forma afetam todas as ciências envolvidas em certos projetos multidisciplinares que vejo necessária a colaboração entre elas sem "status" preferencial para nenhuma.

 

A estratégia científico-filosófica pode levar a se ter o pior dos mundos cognitivos: associação "fecunda" entre pseudo-ciência e pseudo-filosofia. Digo fecunda pois muita pesquisa pode levar a resultados práticos de valor inestimável, como é o caso da aplicação das lógicas nebulosas (fzzy-logic) no processo de escolha entre roupas mais ou menos sujas em lavanderias industriais. Importa-me, no entanto, afirmar que do ponto de vista de uma perspectiva naturalizada não há mais primado da epistemologia sobre os outros ramos do conhecimento. Portanto, todas as disciplinas geradoras de forma e de conteúdos de conhecimento deve encontrar meios de mútua colaboração, enriquecimento e sobretudo, de refutação.

Creio que ECF pode oferecer uma unidade para o conhecimento que, se não assentar sobre uma redução de todo conhecimento à Física, pelo menos exigirá de todos os ramos uma unidade de coerência, de consistência e de método.

Essa unidade em relação à Física no sentido amplo, e não no sentido estrito, com quiz a tese radical da "Unidade da Ciência", pode ser bem entendida através da distinção que faz Herbert FEIGL a respeito de dois sentidos para o termo "Físico":

"By ‘physical 1 terms’ I mean all (empirical) terms whose specification of meaning essentially involves logical (necessary or, more usually, probabilistic) connections with the intersubjective observation language, as well as the terms of this observation language itself. Theoretical concepts in physics, biology, psychology, and the social sciences hence are all-at least-physical 1 concepts. By ‘physical 2’ I mean the Kind of theoretical concepts (and statements) which are sufficient for the explanation, i.e., the deductive or probabilistic derivation of the observation statements regarding the inorganic (lifeless) domain of nature.

If my conjecture is correct, then the scopes of theoretical ‘physical 1’and ‘physical 2’ terms are the same. If, however, there is genuine emergence, i.e., logical underivability, in the domains of organic, mental, and/or social phenomena, then the scope of ‘physical 2’ terms is clearly narrower than than of ‘physical 1’theoretical terms".

A definição de "físico 1" é suficiente para garantirmos que a unidade de método e o tipo de teoria de ECF será o que chamo de "bom conhecimento". A redução forte seria afirmar que o mental se reduz ao "físico 2". A ECF não carece de uma definição drástica. Basta que se garanta o que FEIGL aponta como "termos cuja especificação de sentido envolve conexões lógicas com a linguagem intersubjetiva". Reduzir o mental ao físico 1 numa estratégia científico-filosófica significa manter a unidade de método do "bom conhecimento": conexões lógicas bem constituídas e apêlo forte à verificação e à refutação empíricas.

 

Uma prescrição importante para ECF é a de permitir que intuições sejam válidas ainda que careçam momentaneamente de fundamentação e de formalização. Em EC creio termos uma certa licença para a regra de deixar que as intuições desempenhem papel explicativo, pelo menos no que tange a certos domínios teóricos e a certa estruturações que chamaria meta-teóricas ou ontológico-fundamentais. Em EF creio haver o problema oposto, pois em certas escolas filosóficas, aquelas que reputo de verdadeira filosofia, o primado do rigor formal e argumentativo esteriliza intuições que podem ter valor heurístico. A ECF deve portanto procurar um balanceamento entre essas duas posições: a repetição incansável de experiências verificadoras sem a fundamentação metafísica embasante é destituída de valor (EC), porém a intuição que precisa, desde o início, se defender como se fosse teoria pronta, jamais se confrontando com a experiência também é preciosismo esterilizador do avanço do conhecimento (EF, particularmente aquela que apela para a justificação à luz da História da Filosofia).

No que tange ao papel da intuição na mútua colaboração entre disciplinas Alain CONNES dá um exemplo magnífico do processo de normalização em Física. Mas ainda, mostra como a mútua colaboração entre disciplinas pode, além do papel intrumental, ter aspectos diretivos e substantivos no encaminhamento de soluções.

 

Uma última consideração acerca da ECF: é possível distinguir uma tese ou uma teoria cientifica de uma filosófica? Creio que em EC e em EF a distinção pode ser clara. Na ECF assumo a colocação como sem sentido, aguardando autor que possa indicar os desvarios de tão atrevido sincretismo.

 

 

I.2. Psicologia, Significado e Homúnculo

Além do problema da estratégia, devemos fixar algumas bases para uma reflexão acerca da Ciência Gognitiva. Uma segunda ordem de considerações introdutórias diz respeito a três problemas: Psicologia dos estados mentais x Psicologia das faculdades; o problema do significado e do papel da linguagem nas teorias; o problema do homúluco.

Encaminhei de forma sucinta três diferentes "soluções" e escolhas para esses p0roblemas de tal sorte a tornar melhor situada a estratégia de meu trabalho.

 

I.2.1. Psicologia dos estados mentais x Psicologia das faculdades.

 

Constitui fato interessante que as tentativas de explicação de fenômenos mentais em termos neurofisiológicosadota invariavelmente uma tentativa de "localização" desses em determinadas estruturas cerebrais. Ainda que devamos dizer que a tese localizacionista sofre de uma série de males, um "holismo" desenfreado pode levar a identidades genéricas e vácuas de significado científico. Suponha o leitor que duas pessoas chegassem ao consultório de um médico se queixando respectivamente de desânimo e tremor nas mãos e a segunda de compulsão alimentar ansiosa com ganho de peso patológico. Diagnosticada a primeira como portadora de uma forma de doença de Parkinson e a segunda com uma forma de bulimia seguida de repercussões nefastas para seu sistema cardio-circulatório (devido ao ganho de peso e à hipercolesterolrmia resultantes), responderia o médico: como sou "holista" e toda e qualquer função ou disfunção comportamental se relaciona "funcionalmente" com o cérebro, devo adotar uma das duas estratégias a seguir: procurar uma droga que atinja o cérebro como um todona sua produção de funções ou disfunções ou recusar a possibilidade de que algo que haja numa parte possa ter repercussão no todo.

O exemplo acima é caricatural mas visa a lançar alguma luz sobre a impropriedade de um "holismo" inconseqüente. Sabe-se hoje que há um misto de abrangência funcional no Sistema Nervoso Central. Graças a isso podemos, no primeiro caso, usar análogos de dopamina que repõem parcialmente a quantidade deficitária desse neuro-transmissor no sistema nigro-estrital (porção anatômica e funcionalmente localizada no cérebro). No segundo caso usamos benzodiazepínicos que se ligam a receptores específicos,combatendo paliativamente a ansiedade,drogas tricíclicas com atividade serotoninérgica (serotonina é um neuro-tansmissor. Neuro-transmissores são substâncias que são secretadas pelos neurônios na junção sináptica, despolarizando o neurônio seguinte e fazendo o impulso elétrico se propagar) para um combate à ansiedade estrutural (que no caso obedece a certos critérios distintivos da ansiedade contextual ou psíquica) e um anfetaminóide leve que inibe centros do apetite no hipotálamo (outra porção localizada anatômica e funcionalmente no cérebro).

Podemos agora introduzir as duas estratégias habituais, i.é. EC e EF. Os neurocientistas em geral trabalham dentro do estilo EC, com localização intensa, com discriminação de vias anatômicas, de mecanismos sinápticos, com repercussão de drogas em receptores específicos e atuantes em sistemas mais ou menos conhecidos. Trabalham no mais das vezes com aspectos funcionais macro-fenomenais, procurando bases neuro-fisiológicas para o humor, para o juízo, para a ansiedade, para a dor (vide o caso dos receptores para morfina no SNC), etc. Os filósofos, por outro lado, trabalham preferencialmente num modo que chamei de EF, privilegiando aspectos do mental que julgam identificáveis ou não com o neurofisiológico. Adotam então um vocabulário eminentemente intencional, como sendo a marca do mental, vocabulário esse que torna estados tais como o de desejo, crença, expectativa, etc, tradutíveis ou não em termos de linguagem e/ou propriedades cerebrais. Outras modalidades de trabalho privilegiam sensações de um sujeito, particularmente a dor, e sua impossibilidade de tradução radical numa linguagem físico-extensional.

Essa característica me parece vital pois podemos montar um quadro amplo que chamaria de "propriedades do físico" e "propriedades do mental".

 

Fazendo uma clara opção por não parar muito tempo numa distinção entre entidades, estados, processos, eventos, etc, tomemos a seguinte forma geral: Para todo x, se x é @ então x é uma propriedade Física ou x é uma propriedade Mental. Neurônios seriam assim "propriedades" físicas, i.é., através de propriedades físicas posso descrever um neurônio ou uma sinapse. Desejos seriam propriedades mentais, i.é, através delas é que se instância o desejo, e assim sucessivamene. A colocação visa a não adentrarem na complicada relação entre predicados, propriedades, estados, etc. Chamo essa formulação de uma ontologia das propriedades, onde todos os "seres são propriedades de uma certa espécie, mental ou física. Óbvio está que o esforço redutivo ou emergente deverá situar a correlação entre essas duas séries de propriedades.

 

A seguir colocarei de forma sucinta um quadro dos níveis que vão do físico ao mental, dando algumas "propriedades de cada nível".

 

Físico: espaçó, tempo, "plenum".

Elétrico, eletromagnético: corrente, campo, etc.

Neuroembriologia: ovo, mórula, ectoderma, tubo neural, etc

Neurogenética: cistron, DNA, dominância, transcriptase-reversa, inibição alostérica, telômero, HLA, etc.

Neuroquímica: mielina, serotonina, ácido gama-amino-butírico, nor-epinefrina, receptor sináptico, endorfinas, etc.

Biofísica de membrana: gradiente osmótico, canal de cálcio, mono-amino-oxidase, recaptura pré-sináptica

Neuroanatomia: neurônios, células gliais, astrócitos, trato meso-límbico

Neurofisiologia l: potencial inibitório pós-sináptico, potencial excitatório, inibição colunar, omni-conexão,

Neurofisiologia 2: plasticidade, maturação, atenção, pulso sincrônico

Neuropsicologia: organização neuro-cortical, sistemas sensoriais, assimetria, síndromes disconectivas, memória, linguagem, emoções, aprendizado, etc

Neurologia: coma, prosopagnosias, afasias, amnésias, síndromes frontais, temporais, epilepsias temporais e conteúdos místicos, dor fantasma, etc

Neurofarmacologia: opióides, dopamina, alucinógenos

Neuropsiquiatria: depressão endógena, psicose síndrome do pânico, demência de Alzheimer, alteração hipocampal e amnésia de fixação.

Psicofarmacologia: tricíclicos, bloqueadores de mono-amino-oxidase, neurolépticos, benzodiazepínicos, carbonato de lítio

Psicopatologia descritiva: consciência, memória, humor, afetividade, juízo, crítica, conação, psicomotricidade, senso-percepção, pensamento, volição, orientação

Psicologia: reforçó, condicionamento, inteligência, personalidade, introspecção, etc.

Mental: desejos, crenças , sensações, percepções, consciência, acesso privilegiado, solipsismo

 

Da lista acima podemos extrair algumas perguntas e tirar algumas conclusões:

a) será que esses domínios são uma geniuna hierarquia ou simplesmente são perspectivas diferentes? Assumo serem uma hierarquia.

b) A análise da relação do mental ao físico, unindo praticamente os dois níveis extremos é lícita? A resposta é difícil. Creio que para EC é pouco importante a hierarquia como um todo, embora muitas teorias versem sobre mais de um nível. Para EF é lícita, tem produzido posições de intensa sofisticação, porém não deu ainda uma solução satisfatória para o problema. Assumo então que para a estratégia científico-filosófica devemos considerar a hierarquia acima e estabelecer as condições de conexão de um nível com o outro.

c) O que temos em cada nível são "propriedades" e "teorias". A relação tipo redução ou tipo emergência versa sobre propriedades ou sobre teorias? Assumo que não há compreensão de grande parte do significado das propriedades senão no contexto das teorias em que ocorrem. Assim a reflexão deve estar centrada nas propriedades com as teorias fazendo o papel de agentes de significação para aquelas.

 

Finalmente devo esclarecer que trabalhei com algumas acepções ou propriedades do mental, quais sejam, consciência e representação. Porém não faço nem a análise tipo EF nem será este trabalho uma reedição de uma neuropsicologia da relação entre faculdades e substrato anatômico. A análise trata portanto, como ficará claro adiante, dos aspectos ligados a essas duas acepções ou propriedades do mental, e de algumas sufestões sobre sua relação entre teorias em cada nível, nem uma análise do tipo EF por exemplo da relação entre mentalismo e fisicalismo.

A distinção entre estados psicológicos e faculdades é fundamental. A relação entre Psicologia e Neurologia costuma versar sobre faculdades. Daí o resultado que conhecemos como Neuropsicologia. Por exemplo uma correlação entre teorias psicológicas da memória e teorias neurológicas da memória. A precariedade do projeto de uma Neuropsicologia desse tipo é claro. Devemos primeiramente atentar para certos estados mentais, como a crença ou como a consciência, que apresentam dificuldades enormes numa relação com propriedades físicas. Se mantivermos a idéia de relação entre Psicologia e Neurologia, estaremos saltando o âmago da questão e comparando apenas teorias rivais. Esse seria mais um enfoque de Filosofia da Ciência e não de ECF para uma fundamentação de uma Ciência Cognitiva.

O preço pago, no entanto, por essa estratégia é alto: de um lado fala-se de redução de propriedades o que, num certo panorama, é absurdo, visto que só se podem reduzir teorias e não propriedades. Por outro lado, é difícil trabalhar com a concepção de propriedades do mental, como consciência, sem ficar absolutamente devassado à crítica de EF e sem grande material de EC no que tange a teorias já maduras. Temos quando muito algumas correlações empíricas.

 

 

 

 

I.2.2. O problema do significado

Para fins de resposta a determinados impasses que surgem das relações entre mente e corpo, onde alguns julgam que haja identidade de referência para estados mentais e físicos (monismo) e outros julgam que há referência diversa (dualismo), porém todos julgam ser impossível a tradução de uma sentença mental

em uma sentença física sem que com isso haja alteração do significado, devemos adotar uma teoria do significado que possa ser a inspiradora da ECF.

A teoria em rede me parece ser uma boa posição em relação ao problema, afirmando que o significado de um termo ou sentença depende das teorias subjacentes. pois então podemos pensar em ECF que uma correta caracterizaçãoda relação entre propriedades e teorias dos diversos níveis do físico ao mental acabará por tornar os significados tradutíveis, ou eliminar alguns termos, ou expandir semanticamente teorias de um nível para que possam ser traduzidas em teorias de outro nível. Vimos atrás o papel da co-evolução de teorias. Creio que o problema do significado entendido da forma acima permite dar uma resposta ao problema da conservação ou não de significado quando da tradução de uma sentença mental em uma sentença física. Assumo portanto uma teoria em rede do significado em ECF, e mais, assumo que os problemas de perda de significado apontados em EF decorrem, em parte, do saldo que fazem do mental ao físico, sem caracterizar a relação entre as teorias e as propriedades de cada nível intermediário.

 

I.2.3. O problema do homúnculo

 

O problema do homúnculo é fundamental pois toda vez que pensamos na noção de significado, de compreensão em oposição a explicação (DILTHEY e outros), de manipulação sintática de sentenças ou de termos, de estados internos ou externos, nos deparamos com o terrível argumento homuncular: se há um intérprete para cada sentença quem interpreta as sentenças do intérprete? Se aceitamos esse desafio seremos levados a uma regressão ao infinito. Para efeito de ECF assumo como solução do problema do homúnculo a noção de estrutura de dados proposta por DENNETT.

De maneira sucinta o que o autor propõe é que se separem funções em nível crescente de complexidade, como que numa hierarquia, e que cada nível tenha funções discretas e digitais do tipo sim ou não. Dennett procura mostrar que no topo de hierarquia terá sido realizada toda a gama de "interpretações" de representação, sem que tenha havido apêlo a um entidade oculta que tudo interpreta. Mais ainda, o exemplo é bom para ECF porque não é especulação pura mas o típico exemplo de uma sugestão que têm defesa em EF e realismo em EC, visto ser um modelo real. Creio que há ainda um ponto que merece atenção nessa solução de Dennett: a noção de intérprete é similar à noção de compreensão. Creio que o mito essencialista de que somos capazes de compreender nossas representações porque assim o sentimos por introspecção é um erro. Se obtivessemos um ser que tudo fizesse como se compreendesse todas as perguntas que lhe fizessemos não teríamos como dizer se compreende ou não. A noção

de compreensão deve ser entendida numa rede semiótica, aonde o mental de cada um está aberto para os outros e para a linguagem intersubjetiva. Sem esses elementos não há compreensão. A introspecção sugere que temos compreensão interior, mas o engano se dá justamente porque esse sistema semiótico externo já se incorporou à nossa consciência pela via da linhagem ordinária. Compreensão é ação qualificada. Nesse sentido creio que a noção de homúnculo de Dennett e a resposta ao problema do quarto chinês de SEARLE são ambas um tributo disfarçado ao behaviorismo.

 

I.3. CONCLUSÃO

 

Ao ter lançado o que chamei de estratégia científico-filosófica como modo de fundamentar Ciência Cognitiva, resta uam pergunta: por que utilizei a expressão Realismo pragmático? O desenvolvimento dessa posição fugiria dos limites deste trabalho, mas sugiro ao leitor os pontos modais de sua estrutura:

a) Nossas teorias são constructos mentais. São passíveis de serem tratadas apenas por um critério de verdade pragmática ou quase-verdade. Isso significa que são sempre verdadeiras em determinados domínios. A psicanálise talvez tenha sido, seja e sempre será a teoria adequada para o tratamento de certos distúrbios. É quase-verdadeira no sentido da correspondência porque, quando transportada para outros domínios, constitui teoria cheia de inconsistências. Não vai daí que exijamos de um paciente a sofisticação de ECF, nem de grande parte dos psicanalistas.

b) O realismo advém do fato que sentenças muito simples que dizem respeito aos fatos comuns da observação são verdadeiros no sentido da verdade como correspondência. Daí podermos dizer que há cotejamento com a realidade e de que há pragmatismo, no sentido da teoria enquanto constructo quase-verdadeiro,ou verdadeiro para um dado domínio.

c) A estratégia científico-filosófica pretende dessa forma ser um Realismo pragmático pelo fato de construir teorias, delimitar domínios,eleger os instrumentos formais para a relação entre os dados e finalmente ter um forte apêlo ao aspecto da verificação e da refutação, esses sim, na arena da verdade enquanto correspondência.

 

 

 

APÊNDICE DE TEXTOS

 

 

I.1.

 

"Mais un article de physique ne se réduit pas à sa seule expression mathématique. Le physicien utilise souvent des hypotheses qu’il ne précise pas et qui ont pour origine ce qu’on appelle ‘l’intuition physique’. Elles lui permettent, en particulier, de négliger certaines quantités ou de faire des approximations que le mathématicien aurait bien du mal à deviner. Par exemple, il a fallu une vingtaine d’annés, entre 1930 et 1950, pour que les physiciens arrivent à élaborer la méthode de renormalisation en théorie des champs. Elle consiste à effectuer un calcul perturbatif dont tous les termes, à partir du deuxieme ordre, donnent des intégrales divergentes. Les physiciens, motivés par l’extraordinaire précision des résultats expérimentaux de la spectroscopie de la fin des annés 40 (structure fine des raies du spectre d’émission des atomes), ont désepérément cherché à tirer un résultat fini de ces intégrales divergentes. Pour cela, ils ont restreint le domaine d’intégration aux énergies de l’ordre de MC2, ou M est la masse de l’électron et C la vitesse de la lumiere. Moyennant des soustractions non justifiées, ils ont obtenu un résultat fini qui se rapproche beaucoup du résultat expérimental. Cette technique a été progressivement améliorée, par Tomonga, Schwinger, Feynman et Dyson, jusqu’a un accord avec les résultats expérimentaux qui corresponde à l’épaisseur d’un cheveu sur la distance Paris-New York. Quel fut le rôle de l’intuition physique dans leur raisonnement? Le mécanisme de renormalisation consiste, au cours des calculs, à changer la masse de l’électron et et à la remplacer par une quantité qui dépend de l’ordre de grandeur des énergies considérées, mais diverge quand l’ordre de grandeur tend vers l’infini. Pour prendre une comparaison trés simple, si un ballon gonflé d’hélium quitte le sol à un instant T=0, le calcul de son accélération par la poussée d’Archimede ne donnera pas le résultat que l’on observe expérimentalement. En effet, la présence d’un champ, l’air ambiant, équivaut à remplacer dans les calculs la masse réelle du ballon par une masse effective beaucoup plus grande. S’appuyant sur cette comparaison, on peut comprendre que l’électron, placé dans le champ électromagnétique, possede une masse effective bien différente de sa masse ‘réelle’, c’est-à-dire de celle qui rentre dans l’équation mathématique. Grâce à cette intuition les physiciens ont pu développer une méthode celle de la renormalisation, qui, bien sur, se formule en langage mathématique, mais que les mathématiciens confrontés au même probleme, auraient été bien en peine de décrouvir. Cette intuition physique les autorise d’ailleurs à prendre des libertés avec le rigueur mathématique. Par example, l’intégrale de Feynman ne correspond pour le moment à aucun objet mathématique précis. C’est pourtant le pain quotidien des physiciens théoriciens.

Pourtant on aurait tort de croire que les mathématiques ne jouent vis-à-vis de la physique que le rôle de langage exprimant de résultats. Lorsqu’on modélise une theorie qui en est à un stade assez primitif, le mathématiques ont bel et bien cette fonction. Mais à un stade ultérieur d’élaboration, comme dans les cas de la mécanique quantique, le caractere génératif des mathématiques finit par jouer un rôle crucial. Comment ne pas être troublé par la possibilité de retrouver le tableau périodique des éléments de Mendeléev à partir de l’équation de Schrodinger et du principe d’exclusion de Pauli? C’est pouquoi le mathématicien peut croire reduire la physique à un certain nombre d’équations. Bien souvent, cependant, cést l’intuition du physicien qui lui permet de comprendre ces équations"(in CHANGEUX,J.P. e CONNES,A. 1989 pg.2l-23)

 

I.2.

 

"Armstrong has recently argued that a viable theory of contingent property identify requires a fundamental distinction between predicates and properties and a realistic -as opposed to nominalistic or conceptualist- theory of properties. I think he is correct and I want first to develop this important argument...Predicates are linguistic affairs, in the now common usage of the term, and their identity conditions are widely held to be semantically fixed. Equally widespread is the view that properties are directly individuated by predicates. If these two assumptions are combined there results an identity criterion of this sort; predicates P and Q designate the same property if and only if P is synonymous with Q." (in HOOKER,C. 1981 pg.215

 

I.3.

 

"What someone means by an utterance depends on the related beliefs that he has, and in turn the content of his beliefs is a function of what he means bey certain expressions, in one big ball of wax (in Quine’s ‘Word and object). The meaning of an expression for an individual is a function of the role that expression plays in his internal representations economy- that is, of how it is related to sensory input and behavioral output and of its inferential/computational role within the internal economy. Sparing the niceties, this is the network theory of meaning, otherwise known as the holistic theory or the conceptual-role theory...Translation is accordingly a matter of finding a mapping between alien representations and one’s own such that the network of normal and material inferences holding among the alien representations closely mirrors the same network holding among our own. It is possibel that representational economies may be so different that translations are not possible.

Meaning is therefore relational in the sense that what an expression means is a function of its inferential/computational role in the person’s internal system of representations, his cognitive economy. This is not to say that an expression has meaning only if someone interprets or translates it as having a particular meaning. However, it does imply that isolated expressions do not somehow sheerly have meaning and that mentality cannot somehow magically endow an utterance with intrinsic meaning. What it does deny is that meaning is an intrinsic feature of mental states and that a state has the meaning it has regardless of the wider representational system. Moreover, it contrasts with a theory of meaning that says that the meaning of a word is the set of objects it is true of and that the meaning of a sentence is to be identified with the state of affairs that makes it true" (CHURCHLAND,P 1986 pg.344).

 

I.4.

 

"For instance, it seems (to many) that we cannot account for perception unless we suppose it provides us with an internal image (or model map) of the external world, and yet what good would that image do us unless we have an inner eye to perceive it, and how are we to explain its capacity for perception? It also seems (to many) that understanding a heard sentence must be somehow translating it into some internal message, but how will this message in turn be understood: by translating it into something else? The problem is an old one, and let’s call it Hume’s problem, for while he did not state it explicitly, he appreciated its force and strove mightly to escape its clutches. Hume’s internal representations were impressions and ideas and he wisely shunned the notion of an inner self that would intelligently manipulate these items, but this left him with the necessity of getting the ideas and impressions to ‘think for themselves’.The result was his theory of the self as a ‘bundle’ of (nothing but) impressions and ideas. He attempted to set these impressions an ideas into dynamic interaction by positing various associationistic links, so that each succeding idea in the stream of consciousness dragged its successor onto the stage according to one or another principle, all without benefit of intelligent supervision. It didn’t work, of course. It couldn’t coceivably work, and Hume’s failure es plausibly viewed as the harbinger of doom for any remotely analogous enterprise. On the one hand, how could any theory of psychology make sense of representations that understand themselves, and on the other, how could any theory of psychology avoid regress or circularity if it posits at least one representation-understander in adition to the representations?

Now no doubt some philosophers and psychologists who have appealed to internal representations over the years have believed in their hearts that somehow the force of this argument could be blunted, that Hume’s problem could be solved, but I am sure no one had the slightest idea how to do this until Artificial Intelligence and the notion of data-structures came along. Data structures may or may not be biologically or psychologically realistic representations, but they are, if not living, breathing examples, at least clanking, functioning examples of representations that can be said in the requisite sense to understand themselves.

How this is accomplished can be metaophorically described (and any talk about internal representations is bound to have a large element or metaphor in it) by elaborating on descriptions of AI as top-down theoretically inquiry. One starts, in AI, with a specification of a whole person or cognitive organism- whato I call, more neutrally, an intentional system- or some artificial segment of that person’s abilities (e.g. chess-playng, answering questions about baseball) and then breaks that largest intentional system into an organization of subsystems, each of which could itself be viewed as an intentional system (with its own specialized beliefs and desires) and hence as formally a homunculus. In fact, homunculus talk is ubiquitous in AI, and almost always iluminating. AI homunculi talk to each other, wrest control from each other, volunteer, sub-contract, supervise, and even kill. There seems no better way of describing what is going on. Homunculi are bogeymen only if they duplicate entire the talents they are rung to explain. If one can get a team or committee of relatively ignorant, narrow-minded, blind homunculi to produce the intelligent behavior of the whole, this is progress. A flow chart is typically the organizational chart of a committee of homunculi (investigators, librarians, accountants, executives); each box specifies a homunculus by prescribing a function without saying how it is to be accomplished (one says, in effect: put a little man in there to do the job). If we then look closer at the individual boxes we see that the function of each is accomplished by subdividing it via another flow chart into still smaller, more stupid homunculi. Eventually this nesting of boxes within boxes lands you with homunculi so stupid (all they have to do is to remember whther to say yes or no when asked) than they can be, as one says, ‘replaced by a machine’. One discharges fancy homunculi from one’s scheme by organizing armies or such idiots to do the work.

When homunculi at a level interact, they do so by sending messages and each homunculus has representations that it uses to execute its functions. Thus typical Ai discussions to draw a distinction between representation and representation-user: they take the first-step of the threatened infinite regress, but as many writers in AI ave observed, it has gradually emerged from the tinkerings of AI that there is a trade-off between sophistication in the representation and sophistication in the user. The more raw and uninterpreted the representation- e.g., the mosaic of retinal uninterpreted the representation- the more sophisticated the interpreter or user of the representation. The more interpreted a representation- the more procedural information is embodied in it, for instance- the less fancy the interpreter need be. It is this fact that permits one to get away with lesser homunculi at high levels, bey getting their earliers or lower brethren to do some of the work. One never quite gets completely self understanding representations (unless one stands back and views all representations in the system from a global vantage point), all homunculi are ultimately discharged. One gets the advantage of the trade-off only by sacrificing versatility and universality in one’s subsystem and their representations, so one’s homunculi cannot be too versatile nor can the messages they send and receive have the full flavor of normal human linguistic interaction." (in DENNETT 1986 pg.122-124).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

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