Carta convite para a realização de seminário sobre Internet, Mente e Sociedade realizado em 1995 pelo IEA-USP

Henrique Schützer Del Nero

O objetivo deste seminário é reunir variada gama de personalidades que discorrerão e debaterão de maneira sucinta sua visão acerca das transformações em curso nesta virada de milênio.

A estrutura de intervenções rápidas, micropalestras (de 15 a 20 minutos cada) obedece a duas lógicas: primeiramente, poucos de nós poderiam discorrer em profundidade e em longa peroração sobre o futuro. Mais que trabalho de especialistas no que há de vir nesta virada de milênio, o pouco tempo de exposição reflete espaço adequado para que se exponham apenas idéias, sugestões, temores e perplexidades. Segundo, uma das características do acesso quase irrestrito à informação é de que se pode ver muita coisa em pouco tempo. Troca-se o tema na tela do computador com a facilidade e a veleidade que lhe aprouver. A quantidade de boa informação pode ser benéfica, porém pode também enganar o incauto que não percebe que informação sem trabalho, sem reflexão, sem aprofundamento e sem tempo de maturação está muito longe de gerar conhecimento. O painel do seminário reúne mais de 30 "telas" de reflexão relevante sobre o futuro. Ao final da jornada estafante há de sobrar em cada interlocutor a sensação de que ouviu e viu temas vitais, porém, cansado, pensará: cada expositor mereceria discorrer horas sobre o tema, seguindo-se estudo e pausa para assimilação. Tal fosse uma mensagem de 30 segundos em televisão, a informação veiculada deve impressionar, porém, subliminarmente, deve suscitar reflexão acerca da Internet: será bom passar tão rápido e por temas tão diversos, ainda que todos de relevância inquestionável? Será que isto aumentará nosso conhecimento, ou o fará declinar?

Internet, antes de objeto específico, rede de computadores que de per se merece ampla discussão e conhecimento, funciona aqui como mote para que se discutam as potenciais alterações no panorama público e privado, ensejadas pela velocidade e universalização do acesso à informação. Se, à primeira vista, isso constitui avanço, não há que se negar potenciais danos envolvidos; ambos fatos - progresso e retrocesso - que norteiam este seminário.

Antes de recepção em clima de festa, cumpre apontar soluções, problemas e inquietações advindas de todos os setores- amplos, diga-se de passagem- alí representados e certamente, no futuro, afetados. Nosso país é tão rico de contrastes que se torna quase estéril o debate sobre o futuro. Discute-se o ser virtual, a nova antropologia, porém a Internet está sendo adiada para uso irrestrito por motivo prosaico: se nossa precária infra-estrutura telefônica mal comporta ligações convencionais, imagine o caos que se estabelecerá quando cada casa passar a usar a linha por horas a fio?

Cremos estar prestando serviço à sociedade com tal debate, o que talvez para muitos setores da sociedade não signifique muito, mas certamente para público mais engajado tocará na apreensão e no enigma com que olhamos para o futuro.

Não há especialidade sobre o que há de vir. Cumpre à inteligência elaborar experiências de pensamento, hipóteses e cenários, discorrendo sobre eles, não como coisa em si, mas como porvir que não deve após se fazer presente, engendrar discussão apressada e arremedo.

Alguns fatos chamaram a atenção quando da escolha do tema e da reunião que está por concretizar-se.

As listas anônimas, o aliciamento e a perversão ganham agora velocidade e poder de reunião antes desconhecidos. Após o atentado de Oklahoma houve listas reunindo exércitos de racistas, manuais de fabricação de bombas caseiras e outros tantos fóruns de conteúdo duvidoso e, a meu ver, reprováveis.

No recente atentado ao metrô de Tóquio soube-se que a seita Ensino da Verdade Suprema arregimentava, via Internet, seguidores fanáticos para que participassem na forja de seu ideal apocalíptico. Ápice do temor que expresso, não em tom ingênuo que supõe que isso nasça da Internet, mas que nela tem poderoso meio de amplificação, recentemente houve lista que descrevia ritual de sevícia e mutilamento de menores, dando detalhes operacionais e descrevendo o prazer que gerava.

Um pouco antes vimos o perigo que correm os sistemas financeiros devido à migração instantânea de capitais (negociação de derivativos) da ordem de trilhões de dólares, capazes de desestabilizar bancos centrais. Os fluxos migratórios, antes coloniais e exploradores, agora virtuais e velozes, podem romper a tradição e a estabilidade de sistemas nacionais, quer em sua faceta monetária e cambial, quer na própria noção abstrata de valor e soberania.

A uniformização dos costumes e credos, antes de ecumênica, pode resultar mediocrização e alienação. Se esse fenômeno já aparece em larga escala desde o advento das telecomunicações, creio, agora, ganha força redobrada. Sabemos, mais uma vez, que se a informação pode libertar- fato que mostra o papel da Internet na resistência ao golpe frustrado contra Gorbatchev na ex-URSS (através da rede, usada então pelos pesquisadores soviéticos, pôde o mundo ter notícias censuradas)- também pode inserir comparação precoce que amplifica o mal-estar e até a patologia. Após a unificação das duas Alemanhas aumentaram de maneira assombrosa os suicídios entre alemães orientais que, expostos à comparação com seus "irmãos" ocidentais, viram a diferença de poder aquisitivo e de condições de vida no seio de um povo então reunido sob a mesma bandeira. A comparação precoce e entre mundos díspares é desejável para que se persiga o bom, porém indesejável, quando cria falsa ilusão, expectativa sem base para ser preenchida, e finalmente humilhação, subserviência e sensação de menos valia.

O que esperar do menino do sertão, neste país que tem um pé na modernidade e outro - bastante maior- na segregação histórica, social , econômica e política, que agora pode ver um mundo antes inimaginável. Se isso pode abrir-lhe portas, pode também sepultá-lo de vez. Se a tecnologia pode emancipá-lo, também pode substituí-lo, porque incapaz de acompanhar-lhe os passos, privado que foi e é de nutrição e educação formal. Há "privilegiados" que, tendo estudado em escolas públicas, hoje aviltadas e destruídas, completam o segundo grau e são incapazes de realizar mínimas tarefas que requeiram familiaridade com tecnologia. Não raro vemos multidão de pessoas correndo descontar cheques na padaria por medo ou apreensão do caixa-eletrônico. Se pitoresco, o fato também é símbolo de um tempo em que o trabalho vira mecanização. CHAPLIN nos mostrou um homem mecanizado pelo trabalho repetitivo na fábrica. Imagem mais forte ainda - talvez TEMPOS PÓS MODERNOS - nesta América Latina de tanta atraso e dor, seria uma máquina apertando porcas e um pobre homem tomando sopa rala, distribuída pela benesse caritária, chorando o trabalho perdido para um robô industrial.

Antes de fazer pregação apocalíptica e tecnofóbica, esperamos contar com debate amplo, painel que contemple prós e contras, primeiro de uma série de seminários que deverão suceder-se quase como marcação dos estertores deste segundo milênio.

A estrutura sugerida deste seminário obedece à seguinte ordem:

Cada mesa contará com número variável de expositores. Sugerimos que a apresentação de cada um seja de 15 a 20 minutos, coordenador incluso, seguindo-se de debate e perguntas abertas ao público.

Caberá ao coordenador de cada mesa zelar para que o horário seja observado, visto tratar-se de programa amplo.

As mesas da manhã e da tarde serão mais direcionadas, enquanto as duas da noite terão mais de um tema central, painel multifacetado, o que, se por uma lado pode dar a impressão de sobrevôo, por outro lado cumpre, pace novos tempos, o papel de apresentar informação variada para posterior direcionamento em seminários específicos.

Visamos com esse seminário apresentar alternativas ecléticas e plurais de discussão sobre o novo tempo que desponta, unindo universidade, empresas e sociedade dum debate conjunto.

T.S. Elliot vaticinando sobre o novo tempo, perguntava o que haveria de ser do conhecimento em meio a tanta informação? Acresceu-se-lhe aposto: e o que será da sabedoria em meio ao conhecimento que se há de gerar?

Não pretendemos ter acertado no formato deste seminário. Esperamos apenas ter contribuído no reunir grande número de tendências que, tenho certeza, têm muito a falar de Internet stricto sensu e Internet, dístico que prenuncia o novo tempo.

Pedimos que cada expositor encaminhe um subtítulo de sua intervenção, acompanhado de um breve currículo (apenas posição, títulos relevantes e endereço de correspondência) para que o coordenador da mesa possa apresentá-los e para que possa constar de publicação provisória disponível já no dia do evento.

Uma vez que haverá publicação provisória, distribuída aos participantes, pedimos que o mais breve possível nos seja encaminhado resumo de no máximo uma lauda com as principais idéias a serem apresentadas. (ESSE MATERIAL PODE SER MANDADO POR FAX PARA O IEA-USP OU POR CORREIO, PORÉM POR TRATAR-SE DE 1 LAUDA - EM TORNO DE 20 LINHAS - APENAS, PEDIMOS A MÁXIMA PRESTEZA, NO MÁXIMO ATÉ DIA 20 de junho.)

Além da publicação impressa, disponível no dia, deverá seguir-se publicação mais consistente, quiçá caderno de jornal que trancreva os debates ou livro, além de resumo que circulará via Internet.

Os debates serão gravados em vídeo e em gravador. Se algum dos presentes tiver qualquer óbice, bastará avisar-nos quando da assinatura de termo de autorização para a gravação.

Estas fitas serão incorporadas ao acervo do Instituto de Estudos Avançados da USP e replicadas, a pedido, convertendo-se eventual ganho que gerem em recurso para o Instituto.

O custo do ingresso foi estipulado em R$ 200 incluíndo almoço e intervalos para café. Somente na última hora conseguimos patrocínio em dinheiro. A IBM nos deu R$ 20.000 Outros apoiadores darão somas em torno de R$ 5.000, porém sob a forma de equipamento, software, livros e impressão de material.

O custo do seminário está orçado em torno de R$ 24.000. Comprometemo-nos a ratear execedente que possamos gerar da seguinte forma: a) remuneração dos debatedores (aqueles que preferirem, poderão declinar por escrito, doando sua parte para o IEA-USP) b) publicação, c) apoio a outros eventos do Grupo de Ciência Cognitiva do IEA-USP.

A Telesp até aqui prometeu equipamento no local, inclusive linha telefônica especial e terminais de video-conferência. Para aqueles que pretenderem usar a Internet "on-line" esses recursos, espero, serão o que de melhor nossa infra-estrutura permite. Além desses equipamentos outros tantos estarão no local, tais como vídeo, retroprojetor, tela, e video-projetor. Havendo necessidade de qualquer equipamento especial, pedimos a gentileza de avisar-nos para que providenciemos em tempo.

As cotas de patrocínio e apoio, bem como os ingressos cobrados serão todos geridos pela FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo). Além de garantir incentivo fiscal aos doadores, isto nos permitirá transparência absoluta na gestão dos recursos.

Se lograrmos excedente com os patrocínios, apoios e ingressos teremos caixa para outros eventos como o II Colóquio de Ciência Cognitiva a realizar-se em setembro e novo seminário sobre Internet a realizar-se em novembro no Anfiteatro da Reitoria da USP, para o qual já firmamos convite, de tal sorte a propiciar, brevemente, evento semelhante a este, porém gratuito e de acesso à comunidade acadêmica e a todos quantos não possam pagar o ingresso deste seminário de junho. A filosofia que norteia este evento, e outros semelhantes, é realizá-los sempre aos pares: o primeiro pago e patrocinado, eventualmente fora do campus ; o segundo, melhorado pela experiência do primeiro, no campus, gratuito e em anfiteatro que comporte de 200 a 500 pessoas.

BREVE DESCRIÇÃO DO ELO ENTRE OS CONVIDADOS:

MEIO FÍSICO E MEIO VIRTUAL:

Nesta mesa esperamos introduzir duas facetas do problema das comunicações, Internet stricto sensu. Do ponto de vista físico, três engenheiros especialistas em telecomunicações, 1 da universidade, 2 da Telesp, discorrerão sobre o estado atual do meio físico que dá suporte à revolução das comunicações, quer no mundo, quer no Brasil (o que nos interessa, visto estarmos debatendo Internet, maravilha da tecnologia, num país em que uma linha telefônica custa no mínimo 40 salários mínimos!)

Os três outros debatedores representarão o que chamamos de "meio virtual". Alí, professor da universidade falará de redes de mensagem, gênero que inclui como caso particular a Internet, e outros dois falarão de dois projetos grandiosos: a torre da Avenida Paulista e o projeto IBM-Vaticano, inventário virtual da biblioteca do Vaticano que cedo estará disponível para o mundo.

NOVA MÍDIA E NOVO PÚBLICO:

Uma das grandes características da revolução tecnológica que está em curso é a mudança na chamada mídia, possibilitando informação "on-line", edição eletrônica, onde talvez o leitor possa, no futuro, escolher seus articulistas, desaparecendo, pelo menos parcialmente, a idéia estrita de jornal impresso e com equipe fixa. A possibilidade de mescla de material e a inserção da figura do "patrocinador" sob a forma de propaganda, certamente afetarão tanto a concepção de jornal, revista, etc. quanto aqueles que hoje se utilizam de meios impressos e televisivos para veicular "marketing" de seus produtos.

Será que as redes de computadores sofrerão nova coação pelos grupos que detêm o poderio econômico na veiculação de propaganda em jornais, revistas, rádio e televisão? Ou será que na verdade a igualdade universal de acesso à informação e à exposição de idéias poderá, através destes meios, alicerçar a grande democracia virtual, onde um novo público, uma nova forma de organização possam escolher e fomentar o que bem lhes aprouver e não o que lhes seja impingido pelos terríveis "índices de audiência e popularidade"?

A INTERNET NA BIENAL INTERNACIONAL DE VENEZA 95

A Bienal de Veneza em sua edição de 1995, acontecendo estes dias, está realizando debate de três dias sobre a Internet. Cada dia será abordado um tema, segundo relato que nos chegou por E.mail. Listas anônimas, nova arquitetura- cidade virtual e, finalmente, nova biologia.

Para enriquecer o seminário, o arquiteto Carlos Leite de Souza está em Veneza participando da Bienal, em nome do Grupo de Ciência Cognitiva do IEA, colhendo material para apresentar neste pequeno tutorial sobre o tema.

GLOBALIZAÇÃO E TRANFORMAÇÃO CULTURAL

O Grupo de História Cultural do IEA-USP estará representado nesta mesa, debatendo variados matizes relacionados com o problema da globalização, ou mundialização como prefere um deles, e com as tranformações dela decorrentes. Uma das grandes contribuições do pensamento contemporâneo foi a forja de uma nova visão da história, lida através da análise do espaço da vida privada. Se essa história contém elementos bastante significativos para a análise de uma série de fatos do passado, o que será dos limites entre o público e o privado na medida em que a velocidade e o acesso à informação tornarão cada terminal doméstico de computador uma extensão do mundo e, ao mesmo tempo, através das listas anônimas, o mundo se tornará uma extensão do segredo e do domínio privado de cada um?

Se através das listas anônimas pode-se lançar privacidade num espaço público virtual e, em princípio, não identificável, o que será da noção de público e privado com a globalização e as transformações que podem inaugurar a era da história virtual? Se Fukuyama declarava o fim da história com o triunfo do liberalismo, talvez haja um novo tempo por nascer, onde público, privado, direita, esquerda, organização política, estamentação e segmentação social sejam conceitos que ressurjam moldados pela realidade instantânea de comunicação entre os agentes sociais.

DIREITO: PROPRIEDADE, PRIVACIDADE E CENSURA

Uma extensão da mesa anterior, agora visitada sob a ótica da norma positiva e de uma nova realidade que, surgindo, pode modificar a natureza das coisas, jusnaturalismo virtual, requer debate sob diferentes enfoques.

Os problemas jurídicos estão presentes em vários domínios neste momento de transição. Questões ligadas à propriedade da informação e da idéia (por vezes materializada em software), à privacidade (cada casa, cada banco de dados pode ser acessado e manipulado), à censura (como manter o ideal de liberdade, resguardando no entanto as pessoas da proliferação de seitas anônimas com finalidade racista, bélica, etc?) são alguns exemplos.

Um novo direito deve estar antevendo a realidade futura, para que, se possível, a tipificação não aguarde que ocorram primeiramente os fatos, para que aí então se faça um novo tribunal de vencedores, Nuremberg da era virtual. Creio que a tipificação de um sem-número de delitos, crimes e deveres que o novo tempo pode trazer, requer que se discutam primeiramente quais fatos novos podem surgir.

A preocupação desta mesa e o convite a tres representantes da Faculdade de Direito da USP visa a preencher lacuna comum, quando, ao debater o que parece justo, pensa-se estar debatendo o que é direito. A organização do sistema jurídico formal é condição fundamental nestes tempos para que inúmeras situações sejam previstas e o mais breve se tenha lei ou jurisprudência sobre elas.

CAPITAL, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA

Esta mesa, bem como a próxima, mescla tres aspectos relevantes ligados ao tema do seminário. Se a globalização propiciada pelas telecomunicações gera novas parcerias no cenário político e econômico e se a divisão internacional do trabalho pode redesenhar o panorama mundial da produção e do consumo, também cria fluxo frenético de capitais que, migrando instantaneamente, pode desestabilizar sistemas nacionais.

O conceito de moeda, de nação, de lastro, podem ser alterados com esse fluxo de capitais e com as novas parcerias no cenário internacional?

Mais ainda, que situações podem, na era da informação quase ilimitada, fazer ressurgir o problema estratégico da "segurança nacional", quando o estado nacional está sendo redesenhado pela formação dos blocos econômicos e pela homogenização dos agentes que agora contactam e contratam instantaneamente?

O problema da educação também deve ser lembrado, visto que o aparato tecnológico e o acesso à informação podem reclamar por uma nova concepção de ensino, mormente em momento que o governo promete um aparelho de TV em cada escola do país! (E nós estaremos discutindo terminais de computador, modem, Internet e ciberespaço!)

MENTE E SOCIEDADE

Última mesa do seminário, pretende abrir frentes variadas de debate. A contra cultura dos anos 60 tem relação com a nova cultura da era da informação que surge no final dos anos 90?

A escola tradicional será substituída ou melhor aparelhada pela tecnologia que estamos em vias de atingir?

Haverá relação entre outros momentos de "crise" histórica, de ruptura de paradigmas, e o momento por que passamos? Ou será que o ciclo de semelhanças entre diferentes fases da história tem na era da informação elemento novo e fatos inesperados?

As relações de significado que brotam dos agentes capazes de produzir linguagem e símbolos podem ser modificadas pelo surgimento de um meio virtual que comunica seres que, agora sintáticos e semânticos (pela tela do computador), podem perder a parcela pragmática da comunicação de sentido via contexto?

Finalmente, haverá uma nova mente, uma nova gama de distúrbios psíquicos que podem surgir desta nova versão de comunicação entre os homens, agora ser virtual, consciência pulverizada em cada nó da terra, mais sopro divino (em bits) do que nunca e cada vez menos res extensa, corpo-matéria? Numa época em que toda a ciência se prepara para recepcionar o milênio em que finalmente a mente será devolvida ao cérebro humano (isto é ciência cognitiva), a tecnologia pulveriza essa mente, distribuíndo em cada terminal um pouco de sentido, um bit de mensagem, uma unidade de pensamento.

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O longo texto acima é apenas um conjunto de idéias que nortearam a escolha dos temas e a estrutura do seminário. Não nos caberia ensinar a pessoas do porte que convidamos coisa alguma, mormente porque estamos todos ansiosos por ouvir, mais que por falar.

Espero que as idéias acima possam auxiliar cada um a entender o que se passou na idealização deste seminário. Certamente a realidade concreta dos resumos que solicitamos e das apresentações dia 30 ultrapassará de muito o guia que procurei fazer.

Desde já, reitero, em nome do Instituto de Estudos Avançados da USP, e da comissão organizadora do evento meus votos de apreço e de profundo agradecimento pelo aceite de nosso convite e pelo enriquecimento que sua presença há de propiciar.

Henrique Schützer Del Nero

Coordenador do Grupo de Ciência Cognitiva IEA-USP e um dos organizadores do seminário