Esmorecer? Jamais.

 

 

 

Conta-se que os soldados de Napoleão se orgulhavam de seus feitos, dizendo: "A nós os soldados de Austerlitz, é preciso matar duas vezes - a primeira, para que morramos; a segunda, para que tombemos".

Vestibular é meio coisa para militar: a primeira derrota mata; só a segunda deveria fazer cair.

Chegando em maio, começa a faltar a empolgação inicial e ainda está longe a batalha final. Parece que o tempo ainda é longo para chegar à prova; parece que há tempo para relaxar. E ademais, há o fator desânimo pelos primeiros insucessos de alguns pontos a menos no simulado.

Vamos conversar um pouco sobre como funciona o estudo e como devemos agir para que não caiamos, ainda que pareça que a fase de lua-de-mel já passou.

Militares são gente engraçada: hora de acordar, arrumar o armário, toque da corneta, cinco minutos para o xixi, bota lustrada e assim por diante. Se você não lustrar a bota todos os dias, não arrumar o armário toda manhã, não haverá final feliz na história. Não adianta ser gênio em Matemática e dizer que não dá para ciências humanas. Cada um tem de saber um pouco (muito seria o ideal) de tudo. É uma corrida contra o tempo e contra a quantidade inúmera de assuntos.

Mas você quer ser engenheiro e não se interessa por geografia? Recentemente, num concurso de seleção para uma multinacional, após vários exames, sobraram dez candidatos. O examinador entrou na sala e perguntou quantos dos postulantes tinham lido os jornais do dia anterior. Três deles apenas tinham lido. Foram os únicos a permanecer na sala, continuando a disputa. Se você só estudar as matérias de que gosta, ou que lhe são mais fáceis, não vai chegar nem a fazer a tal entrevista daqui a alguns anos.

Maio é o mês das noivas. E também das viúvas do primeiro simulado. Eu, quando fiz o primeiro simulado há vinte anos, neste mesmo Anglo que me colocou na Pinheiros, fui procurar minha classificação. Eram listas de computador em seqüência (na época não havia ranking ainda). Procurei nos primeiros lugares. Em vão. Estava tão no fim da lista que me entreguei a fazer um cálculo: tantos alunos, tantas vagas, tal colocação...pronto. Não era capaz de pegar nem a lista de espera na pior faculdade. Me ferrei? Não, simplesmente apertei mais fundo o acelerador, estudei mais horas ainda, saí do "salto alto" de aluno geninho e percebi que a coisa era mais complicada um pouco que simplesmente ser um bom aluno. Tinha que "detonar", estudar até arrebentar, fingir que tinha cinco irmãos menores e que somente eu faria cursinho, tendo em seguida que retransmitir o conhecimento para os outros cinco menos afortunados.

Estudar sem parar não é ficar passivamente diante da apostila e da aula. É tentar ser capaz de dar a aula para si próprio, de ensinar ao colega, de formular questões inteligentes sobre o tema. Mais que qualquer hora, maio é hora de pensar direito qual o ritmo de corrida até o final do ano. Dá tempo de colocar o atraso em dia, dá tempo de sufocar o medo pelo resultado parcial, dá tempo de consertar a pretensão de ter ido bem demais numa simples primeira prova. Maio é tempo de ser noiva e viúva; alegres ambas. Noiva porque você vai entrar; viúva, porque você pode entrar pelo cano se não cair na real.

Mas cuidado porque isso não se aplica ao ansioso e ao deprimido. Será que você é ou não um deles? Basta lembrar da primeira palestra, fazer o teste com cuidado e procurar a orientação em caso de necessidade. Dá tempo para tudo, menos para perder tempo.

Não adianta ficar bravo porque eu estou mandando estudar muito. Se fiz algumas coisas na vida não foi por obra da genética que me fez ter inteligência. Inteligência sem estudo é motor sem combustível. Prefiro chegar lentamente ao meu destino pilotando um belo fusca abastecido a ficar parado numa Ferrari sem água, óleo e gasolina.

Antes de ter o glúteo flácido pela idade já o tinha quadrado de tanta cadeira. Horas de estudo a fio me colocaram na faculdade. Mas sabem que o que mais me orgulha não é ter entrado na faculdade. O que me orgulha é não ter entregado o jogo nunca, lutando sempre como se fosse a última vez. Até hoje faço isso. Faz um bem louco para a mente, para o caráter, para o país que precisa de nós que podemos estudar.

Estude sempre, engula a lágrima, saiba que nós que fomos um pouco alto já tivemos, e continuamos a ter, momentos de derrota fragorosa, de ranking negativo e vergonhas que tais. Viver não é preciso, estudar é preciso. Sempre, antes, durante e depois da faculdade. A cada instante e a cada maio de tantos anos. Afinal, em matéria de estudo devemos ter a alegria de noivas eternas. Eu e você.