Quando a mente emperra e o aluno se ferra

 

 

Vamos conversar um pouco de emperramento mental ou do distúrbio comumente conhecido como "dar branco". Vamos examinar as circunstâncias que cercam os chamados motivos de "branco" e como fazer para combatê-los. Afinal a hora da prova está chegando e ninguém quer jogar fora tudo o que fez nesse ano e nos outros tantos anos de suas vidas.

As causas de emperramento mental são várias, indo desde a culpa, ao otimismo excessivo, passando por algumas situações de descontrole.

Se você é daqueles que acham que sabem exatamente o que é a mente, pode deixar de lado o restante do artigo. De maneira sucinta, a mente é o resultado de três fatores básicos: do processamento cerebral, da condução pessoal sobre as alternativas da vida e sobre o modo como se traja sua personalidade social. Ou se você preferir o exemplo de um carro, a mente é o conjunto de três coisas: motor (cérebro), motorista (mente acessível diretamente) e carroceria (personalidade). Você consegue ter idéia plena do papel do motorista. O papel do motor, você somente percebe quando sai fumaça, embora haja milhões de situações de desregulagem mecânica que requerem gente especializada (psiquiatras) e que não costumam curar com chazinho e maracujina; muito menos com maracutaia (e olhe que está cheio delas por aí). A personalidade, essa parece também fácil de entender e mudar. Trinta brincos no nariz, orelhas e língua, duas cores de cabelo e um estilo inconfundível de sabe-tudo, podem indicar na direção de um pequeno desvio de mente-carroceria, embora talvez bem intencionado pela roupagem da provocação. Livro fechado e excesso de culpa pela conquista da 2a opção podem ser patologias muito maiores que os trinta brincos.

Vamos então passear rapidamente por algumas desregulagens, da mente- motor, da mente-sujeito e da mente-atuação e sugerir alguns remédios.

Examine cuidadosamente cada um dos casos e veja qual a melhor maneira de aproveitar o tempo que resta para preparar a sua mente para as provas.

Emperramento mental: chame o médico; emperramento confiante: chame o livro; emperramento normal: chame os dados; emperramento moral: chame o perdão.

Emperramento mental: chame o médico

Comum diante de situações de stress continuado, a ligeira desregulagem cerebral pode fazer com que seu rendimento não corresponda ao adequado. Examine seu sono, seu apetite, sua concentração e seu humor. Refaça o teste de avaliação que foi distribuído nas palestras durante o ano. Se estiver tendo insônia, perda de rendimento abrupto em provas, fadiga excessiva, memória falhando e uma sensação de ruína e funil eminentes, chame logo o coordenador e trate de procurar um remedinho prescrito por qualquer psiquiatra da rede privada ou pública, porque o motor está aquecido demais e isso pode resultar perda de rendimento na hora "H".

Se você não examinou o teste dado durante as palestras do início do ano, é bom começar a se mexer que é para isso que gasto alguns sábados conversando com vocês sobre saúde mental.

Emperramento confiante: chame o livro

Chamo de emperramento confiante uma série de atitudes que se costuma observar no final do ano. O aluno que estudou bem até uma certa altura, de repente, perde o gás na reta final. É bom saber que qualquer tempinho pode ser bem gasto, sem com isso cometer o desatino de rever um ano de matéria em meia hora que antecede a prova. Esse aluno sofre de confiança excessiva de que vai se dar bem. Pois é, morrer na praia pode ser uma pena.

Outros têm também uma tremenda confiança...de que vão se ferrar. Não estudaram tanto, matéria atrasada desde a apostila primeira, sua autoconfiança é exemplar: somente a reprovação lhes cabe.

Vamos devagar com as certeza, boas ou más. Ainda dá tempo de racionalizar um estudo seguindo a máxima de que, a quantidade de matéria dividida por umas 10 horas/dia de estudo por y dias que faltam para a prova (por favor, parem um dia antes e não consultem os malditos resumos de véspera), podem fazer alguns pequenos milagres. Não ressuscitam mortos, mas aplacam muita falta de energia e podem gerar vagas ou uma atitude de arranque que preludia um ano seguinte diferente.

Emperramento normal: chame os dados

Existe uma ansiedade de fundo, um friozinho na barriga do aluno bom e zeloso que não tem certeza do que vai acontecer. Sossegue, ninguém sabe o que vai acontecer. Excesso de confiança ou desconfiança são danosos. Um pouco de cautela e respeito às estatísticas confirmam uma atitude ponderada e racional. O vestibular seleciona mais ou menos bem. Se você está preparado, deve haver uma certa coerência entre a seleção e o seu nome. Mas cuidado porque isso não é uma prova de morte. É um concurso. Antigamente se tentava várias vezes para se entrar nos locais mais disputados: magistratura, Itamarati, etc. Não é muito diferente do que se passa agora, particularmente em relação às escolas tradicionais.

O vestibular não deve ser visto como uma prova que lembra aquele episódio de um filme inglês em que o guerreiro tem de passar por uma ponte onde um guardião o aguarda, pronto para formular uma pergunta fatal. Se o postulante acertar, segue em frente. Se errar, é imediatamente desintegrado. "Qual é a sua cor predileta", pergunta o guardião, para espanto do cavaleiro. Hesitante, responde "Azul...não, rosa..",puff! lá se vai o cavaleiro.

O vestibular vai te encher de perguntas desse tipo que provocam hesitação pela roupagem tudo ou nada que vocês teimam em vestir nele. É só uma prova e os dados, desde que você não trema ou hesite como o cavaleiro ridículo, devem permanecer mais ou menos justos.

Emperramento moral: chame o perdão

Eu gosto muito de falar sobre a mente humana porque ela não é apenas o local onde se dá o pensamento, a inteligência e o equilíbrio, agora batizado com o pomposo nome de "inteligência emocional". Se a inteligência são muitas, intelectual, emocional, físico-desportiva, empresarial (olha só ignorância e a maracutaia batendo à porta), que tal falar de "inteligência moral"?

A mente é o resultado de diferentes operações do cérebro sobre o corpo e sobre os valores sociais. Estudar é um ato moral, porque significa ultrapassar a preguiça e vislumbrar um futuro melhor para si e para os outros que dependem da gente. Mas a mente engana quando falha. Costumamos ter uma sensação de peso diante do insucesso. Às vezes antes mesmo de acontecer, se é que vai acontecer.

A mesma mente que promove o trabalho, o raciocínio e o estudo, que promove o sucesso e a culpa, é capaz de promover o perdão, o dar de ombros e partir para outra. Se você está com uma sensação de medo diante do insucesso, diante do imponderável do futuro, consulte um pouco o que é exato e não mente – sua consciência.

Você fez o que podia, tentou ir até onde dava, foi responsável com o presente que a vida lhe deu de poder estudar para fazer um mundo mais justo amanhã? Se você fez tudo isso, parabéns, porque no quesito inteligência moral você já passou. Se não fez, consulte os itens anteriores, perdoe-se e faça um amanhã diferente. Não apenas na melhor escola, mas a cada dia nas melhores escolhas.

Comece a examinar que colocação você tiraria na prova de "inteligência moral", devidamente armada com a arma do perdão, porque essa é mais básica que a intelectual que pode deixar a gente a pé ou fazer supor o que não se é.